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Breve introdução às pesquisas sobre eficácia escolar

No documento christianecruzpereira (páginas 77-80)

2 ANÁLISE DOS PROCESSOS DE GESTÃO E DAS CARACTERÍSITCAS

2.1 Breve introdução às pesquisas sobre eficácia escolar

O enfoque na eficácia escolar justifica-se pela centralidade que o tema assume, explicitamente, na política educacional em estudo, tanto nos documentos oficiais que a estruturam quanto no documento orientador do modelo de gestão escolar, TESE.

O nascedouro das pesquisas educacionais sobre escolas eficazes e implementação de programas educacionais orientados por estas pesquisas é a Inglaterra, ao passo que o referencial de estudos sobre escolas eficazes perpassa as pesquisas de Sammons, Hilman e Martimore (1995). No Brasil, se verifica o desdobramento do estudo sobre o tema nas pesquisas de Franco e Bonamino (2005) e de Polon (2009) embora estes últimos autores apontem que há um fator de limitação das pesquisas no contexto educacional brasileiro que diz respeito à falta de autonomia exercida pela escola, o que compromete a relação entre eficácia escolar e autoridade deliberativa das escolas, nessa direção.

Isto posto, como consideração inicial da pesquisa bibliográfica realizada sobre eficácia escolar, é necessário situar o leitor acerca da controvérsia do contexto deste debate. As principais críticas de outras correntes de pesquisas educacionais denunciam que as pesquisas sobre eficácia escolar possuem limite de evidência científica, baixa teorização, metodologias questionáveis e, portanto, não consideram válido esse modelo de pesquisa.

Os críticos à pesquisa em eficácia escolar defendem a necessária independência entre pesquisa e demandas da esfera estatal, podendo ser sintetizadas suas formulações na afirmação de Elliot (1996) de que a pesquisa em eficácia escolar se orienta por “metodologia mecanicista, visão instrumentalista dos

processos educacionais e a crença de que os resultados educacionais podem e devem ser descritos independentemente de tais processos”.

Sammons (2008) assim como Franco e Bonamino (2005) e Polon (2009) por sua vez, refutam a análise de crítica prescritiva, utilitarista instrumental e não contextual de implementação de políticas educacionais orientadas pela organização de programa de melhoria educacional e não contextual. Afirmam que é necessária a aproximação entre estudos sobre eficácia escolar e melhoria escolar e que os métodos de pesquisa avançaram significativamente em técnicas que permitem aos pesquisadores consistência na medição do efeito escola.

Para a pesquisador, mesmo considerando possíveis desvios de rumos e intencionalidades da pesquisa, parece contrassenso dissociar o interesse da pesquisa educacional às demandas governamentais por estudos que apontem melhoria da educação. Seria ingenuidade desconsiderar possíveis intencionalidades no desvio de pesquisas dessa natureza, por parte da esfera estatal, dado seu contexto político. Defende-se, portanto, que há de se pensar na aproximação da pesquisa às demandas educacionais dos agentes públicos, por acreditar que, se a pesquisa acadêmica não se aproximar dos contextos reais de formulação e implementação de políticas, que, por sua vez, ocorrem na esfera governamental, a que serviria a pesquisa se não para contribuir para a melhoria da educação? Há, assim, um evidente embate de tradições acadêmicas sobre como promover educação de qualidade que é estruturada, sempre, sob a forma de políticas públicas.

Contextualizada, pois, a tensão acadêmica do debate – o que não interessa, neste estudo, aprofundar – é recorrente a defesa de Polon (2009) do posicionamento de autores como Reynolds (1994), sobre o diálogo entre eficácia escolar e melhoramento escolar, ou seja, a pesquisa como base para a formulação de diretrizes de políticas educacionais.

E é sob essa orientação que os estudos de Sammons (2008) consolidaram padrões internacionais de eficácia escolar, sintetizados em onze características observadas em escolas eficazes: liderança profissional, objetivos e visão educacional compartilhados, ambiente de aprendizado organizado, atraente e intelectualmente desafiador, clima institucional concentrado no ensino e na aprendizagem com maximização do tempo de aula, ênfase acadêmica e foco centrado no desempenho dos alunos e na qualidade dos resultados, ensino e objetivos claros, cultura escolar de altas expectativas, de entusiasmo e otimismo

acerca de todos que a compõem, incentivo positivo, monitoramento do progresso, direitos e deveres dos alunos, parceria família-escola-comunidade e, por fim, escola como organização orientada à aprendizagem.

Neste estudo, relacionam-se as características organizacionais e processuais das escolas, associadas à gestão pela percepção autolegitimada da gestão escolar das quatro escolas, analisando-as a partir do referencial teórico supracitado.

Para tanto, Polon (2009) faz uma revisão de literatura de Sammons, Hilman e Mortimore (1995) e de Franco e Bonamino (2005), para ampliação e contextualização do debate no cenário educacional brasileiro. E é desse construto acadêmico, que fundamenta-se a questão da pesquisa da dissertação.

Da contribuição dos dois últimos autores, duas considerações iniciais são pertinentes para iniciar as reflexões desta seção. A primeira diz respeito ao caráter não classificatório das escolas, “mas, sim, de identificar as características escolares promotoras de eficácia escolar” (FRANCO e BONAMINO, 2005 apud POLON, 2009, p. 88). E sob essa pretensão, Polon busca outras leituras para contribuir com o debate, como as de Lee, Bryk e Smith (1993 apud POLON (2009) que trazem conceitos como o de organização interna na escola, estrutura escolar, organização da gestão nas funções de gerir, mediar e liderar e a organização formal do trabalho. E foi exatamente sob essa perspectiva de análise que se orientou a pesquisa de campo da dissertação ao investigar as características organizacionais e os processos de gestão das escolas pesquisadas.

A segunda contribuição de Franco e Bonamino (2005, p. 87) para situar sob que concepção de eficácia escolar se investiga, define eficácia escolar como a escola em que “o aprendizado de seus alunos vai além do aprendizado típico de escolas frequentadas por alunos de origem social semelhante”.

Indiscutivelmente, é bastante complexa a combinação de variáveis presentes nas características organizacionais e nos processos de gestão da escola, por abrangerem, tanto aspectos de ordem técnica, política quanto os de dimensão relacional imbricados nas ações de gerir, mediar, liderar e organizar o trabalho escolar. Assumindo o desafio e visando atender aos objetivos e desenvolvimento da pesquisa, apresenta-se na seção seguinte, a análise acadêmica a partir do conteúdo manifesto e conteúdo latente dos achados da pesquisa.

2.2 A percepção da gestão escolar sobre si: conteúdo manifesto e conteúdo

No documento christianecruzpereira (páginas 77-80)