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Karina Luiza da Silva Fernandes [1]; Jorge Megid Neto [2]

[1] Prefeitura Municipal de Campinas; [2] Universidade Estadual de Campinas

A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem por finalidade a formação integral da criança e o desenvolvimento de propostas educativas através da interação e brincadeiras. Ao mesmo tempo, pode-se iniciar processos de exploração de fenômenos das mais diversas naturezas, estimulando gradualmente a aquisição da linguagem e a compreensão do funcionamento do mundo natural e social. As crianças pequenas demonstram interesse, observam, elaboram ideias e perguntas sobre o meio, o que contribui para a aprendizagem de fenômenos das mais diversas naturezas. Contudo, as políticas curriculares e os programas oficiais de melhoria da educação escolar voltada para a infância têm privilegiado o letramento em língua materna e matemática, em detrimento de abordagens interdisciplinares com participação de várias áreas de conhecimento, como Ciências da Natureza, História, Geografia, Arte entre outras.

Nesse contexto, esta pesquisa buscou oportunizar o desenvolvimento sociocognitivo de crianças da educação infantil, tendo por objetivo elaborar, desenvolver e avaliar um conjunto de atividades envolvendo a exploração de fenômenos com água de modo lúdico, investigativo e interdisciplinar. Buscamos tratar o seguinte problema de pesquisa: qual a potencialidade de brincadeiras e de explorações de fenômenos com água para o desenvolvimento sociocognitivo de crianças da educação infantil?

O trabalho foi realizado com 30 crianças de 3 a 5 anos, de uma escola pública da Rede Municipal da cidade de Campinas. Consistiu em uma pesquisa de natureza interventiva, em que a professora-pesquisadora interfere propositalmente nas práticas pedagógicas realizadas com um grupo de crianças e avalia os efeitos dessa intervenção. A sequência de ensino envolveu diferentes fenômenos relacionados à água (flutuação, fontes e usos da água, ciclo da água, filtração entre outros) e foi planejada gradualmente ao longo do processo de investigação, levando em consideração os interesses e resultados que as crianças foram manifestando no decorrer do trabalho. Dessa forma, a abordagem do tópico água aconteceu de modo a integrar diferentes áreas de conhecimento e em perspectiva múltipla (social, cultural e histórica).

Através de uma situação fictícia de um barco pirata que afundou, iniciamos o projeto de ensino que envolveu a exploração da flutuação/imersão de objetos na água e o incentivo a pensar sobre o ambiente e a água, bem como sobre a água e nossa relação com este elemento em diferentes épocas. Tais propostas aconteceram por meio de rodas de conversa, leituras, desenhos, atividades experimentais exploratórias e investigativas envolvendo caráter lúdico, imagens, música, escrita coletiva e comunicação com a comunidade escolar. Os dados foram coletados por intermédio de diário de campo, filmagem, fotografia e desenhos elaborados pelas crianças. Elencamos enquanto categorias de análise a “brincadeira”, o “conhecimento” e a “interação/mediação” a partir das explorações sobre fenômenos com água.

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ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS, 10., 2020, Campinas. Anais [...]. Itapetininga: Edições Hipótese, 2021.

Consideramos que as atividades desenvolvidas favoreceram: a argumentação das crianças; a interação criança-criança e crianças-professora; situações lúdicas, de brincadeira, em que notamos o envolvimento interessado e curioso das crianças, a investigação, a imaginação, a imitação e a construção de conhecimentos/capacidades como levantar hipóteses, observar, classificar, comunicar, investigar, ouvir, além de preconceitualizações sobre os fenômenos estudados. Numa perspectiva interdisciplinar, as atividades envolveram assuntos de Ciências da Natureza, História, Arte, Português, Geografia e Matemática e abrangeram também uma perspectiva de Educação Ambiental.

No decorrer da pesquisa, tivemos indícios de que a atividade de brincar e de investigar aconteceram de maneira articulada; assim, enquanto brincavam, as crianças investigavam; enquanto investigavam, também brincavam. Durante a brincadeira ou por meio dela, as crianças vivenciaram processos investigativos, ampliando conhecimentos e repertórios. Nos desafios propostos observamos que foi possível manter características do “brincar”, como: a não-literalidade, o efeito positivo, a prioridade no processo de brincar (quando as próprias crianças determinam as ações), bem como integrar estas características aos elementos do “conhecer em ciências”, por exemplo, a elaboração de hipóteses, a observação, a atitude interrogativa, dentre outros.

A partir de nossas análises, evidenciamos que as brincadeiras podem se constituir em espaço privilegiado para estimular o conhecer/investigar em Ciências e denotam ser situações ricas para o desenvolvimento da linguagem, para as interações e para a compreensão dos processos científicos. O trabalho mostrou que a exploração de fenômenos naturais e sociais (ou fenômenos socioambientais), por meio de brincadeiras e atividades investigativas é uma possibilidade a ser estimulada nas escolas para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças, não a partir da transmissão de um “rol de conteúdo”, mas a partir da realidade vivencial dos pequenos, da brincadeira, da investigação e das várias possibilidades de interação/mediação. Tais estratégias têm grande potencial na escola de Educação Infantil para desenvolver os objetivos já propostos para a educação na infância: o brincar, a interação, a linguagem oral, a exploração e o acesso aos conhecimentos.

Acreditamos que as crianças têm muitas perguntas acerca do mundo que observam e vivenciam e ressaltamos que a interação/mediação na Educação Infantil trata de planejar momentos ricos de exploração (interação criança-fenômeno). Deve- se, no entanto, valorizar o papel do professor que organiza situações de ensino- aprendizagem de caráter exploratório e investigativo, observa os interesses das crianças, mesmo quando os pequenos não os verbalizam (pode-se notar o que procuram, com o que se envolvem, o que causa encantamento e espanto). Assim, elabora novas mediações (criança-professor) por meio de perguntas, leituras, investigações, evidenciando o conhecimento construído pelas crianças durante todo o processo. Vai, ao mesmo tempo, ampliando o repertório conceitual das crianças, trazendo informações e terminologias científicas apropriadas ao momento de interação com os fenômenos e à faixa etária das crianças, estimulando uma pré- alfabetização científica.

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ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS, 10., 2020, Campinas. Anais [...]. Itapetininga: Edições Hipótese, 2021.

Consideramos, assim, que esta pesquisa pode contribuir para os projetos pedagógicos desenvolvidos nas Unidades de Educação Infantil, ampliando as possibilidades do trabalho com as crianças pequeninas, levando-as a interagir com a Ciência e a construir outros significados para sua compreensão de mundo, através das brincadeiras e explorações com fenômenos.

Palavras-chave: Educação Infantil. Brincadeira. Ensino de Ciências. Ensino por

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ENCONTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS, 10., 2020, Campinas. Anais [...]. Itapetininga: Edições Hipótese, 2021.

CATEGORIZAÇÃO DE TRABALHOS APRESENTADOS EM UMA FEIRA DE

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