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Bronislaw Malinowski

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CAPÍTULO II: Folkcomunicação e teoria social funcionalista

1. Características funcionalistas

1.1. Análise Funcional e analogias orgânicas

1.1.2. Bronislaw Malinowski

Malinowski, assim como Durkheim, trabalha o funcionalismo tendo, muitas vezes, como modelo de entendimento, aspectos biológicos. O estudioso dá à cultura espaço de destaque em suas pesquisas, inclusive tentando criar uma análise cultural funcionalista, a qual ele imaginou como uma teoria científica da cultura. Na elaboração dessa teoria, ele tratou de temas como função, instituição, satisfação, necessidade, cultura, estrutura social etc. Ou seja, mostrou e explicou os itens e o raciocínio que devem ser levados em consideração em uma pesquisa de caráter funcional.

O autor (1970, p.140) resume o funcionalismo em cinco axiomas:

A. A cultura é essencialmente uma aparelhagem instrumental pela qual o homem é colocado numa posição melhor para lidar com os problemas específicos concretos que se lhe deparam em seu ambiente, o curso da satisfação de suas necessidades;

B. É um sistema de objetos, atividades e atitudes, no qual cada parte existe como um meio para um fim;

D. Essas atividades, atitudes e objetos são organizados em torno de tarefas importantes e vitais, em instituições tais como a família, o clã, a comunidade local, a tribo e as equipes organizadas de cooperação econômica, política, legal e atividade educacional;

E. Do ponto de vista dinâmico, ou seja, no tocante ao tipo de atividade, a cultura pode ser analisada numa série de aspectos tais como educação, controle social, economia, sistemas de conhecimento, crença e moralidade, e também modos de expressão criadora e artística.

A cultura se refere às pessoas, que mantêm relações umas com as outras e são organizadas através de artefatos e de simbolismos. Ou seja, para o autor, o processo cultural possui três dimensões: artefatos, grupos organizados e simbolismo. O primeiro se refere a objetos de uso direto, aos bens de consumo. O segundo ao meio social, pois “nenhum item isolado de cultura material pode ser compreendido por referência a um único indivíduo; pois onde quer que não haja cooperação [...] há pelo menos a única cooperação essencial que consiste na continuidade da tradição” (1970, p.141). E o último, às formas comunicativas (verbais, gestuais ou por objetos) que agem em processos de condicionamento, como ocorre, por exemplo, em rituais, em que um estímulo, dependendo do contexto, gera certa resposta.

Malinowski relaciona a cultura aos aspectos biológicos dos indivíduos, pois o ser humano, como animal que é, cria meios para satisfazer necessidades básicas para a sobrevivência das pessoas e dos grupos. E essas necessidades resultam em respostas culturais: a reprodução (necessidade básica) resulta em parentesco (resposta cultural); saúde em higiene; segurança em proteção; confortos corporais em abrigo. E tal ligação entre biologia e cultura tem como consequência algo que é fundamental para Malinowski: ter postura científica. Pois, desse modo, ele infere que é possível encontrar leis universais, o que dá segurança a algo que pretende ser (ou que é, conforme o autor) uma teoria científica.

Porém, para o autor, as ações humanas não são puramente fisiológicas, pois aquelas ocorrem dentro de um ambiente culturalmente determinado, criando necessidades derivadas, as quais são fortes como o determinismo biológico e submete as pessoas à dependência cultural, ou seja, esta impõe novos determinismos ao ser humano (ressalte-se que a conexão homem-biologia não se extingue – ela continua a existir em diferente grau). Malinowski (1970, p.161) explica isso com um bom exemplo: “Tão logo a satisfação dos impulsos sexuais se transforma em coabitação, a criação de filhos resulta num lar permanente, novas condições são impostas, cada uma delas tão necessária à preservação do grupo como é qualquer fase do processo puramente biológico”. Assim como a necessidade básica gera resposta cultural, os imperativos culturais formam respostas culturais, como, por exemplo, a “organização política” sendo uma resposta ao imperativo de que “a autoridade dentro de toda instituição

deve ser definida, aparelhada com poderes e meios de executar pela força de suas ordens” (MALINOWSKI, 1970, p.119).

No funcionalismo de Malinowski (1973, p.58), a “unidade real de análise cultural” é a instituição, a qual é gerada por princípios de integração (problemas universais encontrados em todas as culturas). A tabela abaixo (MELLO, 2011, p.252; MALINOWSKI, 1973, p.65-67)23 mostra a classificação:

TABELA 3: Relação entre princípios de integração tipos de instituição

Princípios de integração Tipos de instituição

1. Reprodução (laços de sangue definidos

por um contrato legal de casamento e estendidos por um princípio especificamente definido de linhagem no esquema genealógico)

A família, a organização da corte, o grupo doméstico extenso, o clã, o sistema de clãs aparentados etc.

2. Territorial (comunidade de interesses

devidos à propinquidade, contiguidade e possibilidade de cooperação)

Os grupos de vizinhança, o município, aldeias, cidades, metrópoles, o distrito, a província, a tribo.

3. Fisiológico (distinções devidas a sexo,

idade e estigmas ou sintomas corporais)

Grupos sexuais totêmicos primitivos; grupos de idade, divisão de funções por sexo etc.

4. Associações voluntárias Sociedades secretas primitivas, clubes, equipes recreativas, clubes de beneficência etc.

5. Ocupacional ou profissional (A

organização de seres humanos por suas atividades especializadas para fim de interesse comum e plena realização de suas capacidades especiais)

Sacerdotes, mágicos, xamãs, oficinas, corporações, escolas, igrejas, indústrias, lojas etc.

6. Posição (rank) e status Estados e ordens de nobreza, clero, burgueses, camponeses, servos, estratificação por etnia etc.

7. Totalizador (A integração pela

comunidade de cultura ou pelo poder político)

A tribo como unidade cultural correspondente à nacionalidade em níveis mais altamente desenvolvidos. Minorias estrangeiras, o gueto, os ciganos. A unidade política

Para Malinowski (1970, p.46), “a cultura é um conjunto integral de instituições em parte autônomas, em parte coordenadas”, e, na análise funcionalista, o pesquisador deve observar as instituições e todos os aspectos culturais de determinado sistema social, com as

23

Por motivo de síntese, foi utilizada a tabela elaborada por Luiz Gonzaga de Mello, acrescidas de algumas informações presentes na composição original. A classificação completa pode ser vista em Malinowski,1973, p. 65- 67) e as explicações das categorias da página 59 à 65.

funções sendo “interdependentes e mais ou menos completamente integradas” (TIMASHEFF, 1973, p.271).

No livro Argonautas do pacífico ocidental ([1922] 1984), na análise do Kula24, pode ser percebida a questão da sociedade como um todo coerente, em que, para ser entendida, o pesquisador deve verificar todos os componentes que fazem parte de determinado objeto de estudo. No caso do Kula, Malinowski observou a região, os habitantes, as regras, os mitos, as magias, as canoas, as cerimônias, as expedições, as trocas, entre outros aspectos. A análise funcional atua ordenando todas essas informações e permitindo que o sistema seja observado em todas suas inter-relações, cabendo ao etnógrafo elaborar o esquema e descobrir as leis das instituições estudadas. O contexto deve ser observado, e todas as partes de uma cultura devem ser investigadas e unidas.

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