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Metodologias funcionalistas

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CAPÍTULO II: Folkcomunicação e teoria social funcionalista

1. Características funcionalistas

1.2. Metodologias funcionalistas

Tomando metodologia como um “guia para um estudo sistemático do enunciado, compreensão e busca de solução do referido problema” (RUDIO, 1997, p.15), é perceptível

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“1) Localização dos participantes da norma, dentro da estrutura social – participação diferencial; 2) Consideração dos modos de comportamento alternativos, excluídos pela ênfase sobre a norma observada (isto é, a atenção não somente ao que ocorre, mas também ao que desprezado em virtude da norma existente); 3) Os significados emotivos e cognitivos conceituados pelos participantes da norma; 4) Uma distinção entre as motivações de participação da norma e o comportamento objetivo incluído na norma; 5) Regularidades de comportamento não reconhecidas pelos participantes, mas que sejam não obstante associadas com a norma central de comportamento” (MERTON, 1968, p.127).

que os autores funcionalistas aqui em análise possuem diferenciações, mas também pontos em comum, especialmente alguns derivados do positivismo comtiano.

Augusto Comte mostrou sua visão do que é ciência quando desenvolveu seu raciocínio sobre o “estado positivo”. Para esse autor, o conhecimento humano obedeceu ao que ele chamou de “lei dos três estados”, afirmando que ele passa por três fases diferentes: teológico, metafísico e positivo, as quais são mutuamente excludentes. De acordo com o autor (1978, p.4), “a primeira é o ponto de partida necessário da inteligência humana; a terceira, seu estado fixo e definitivo; a segunda, unicamente destinada a servir de transição”.

Na fase teológica, a atenção é voltada a questões insolúveis, a questões que se concentram nas causas essenciais dos fenômenos. Essa fase é dividida em três partes: a primeira é o fetichismo, que “consiste sobretudo em atribuir a todos os corpos exteriores uma vida essencialmente análoga à nossa, mas quase mais enérgica, em virtude de sua ação geralmente mais poderosa” (COMTE, [s.d.], p.16-17); como exemplo, temos a adoração aos astros. A segunda é o Politeísmo, quando a vida não é mais vista em objetos materiais, mas em seres fictícios. E a última é o monoteísmo (a existência de um único ser sobrenatural), que tem início no começo do declínio da teologia, e é uma fase marcada pelo decréscimo intelectual, restringindo as etapas anteriores e deixando de ser desenvolvido o sentimento universal da “sujeição necessária de todos os fenômenos naturais a leis invariáveis” (COMTE, 1978, p. 45).

A metafísica é a transição para a fase positiva. Ela possui similaridade com a teologia ao tentar explicar “a origem e o destino de todas as coisas, o modo essencial de produção de todos os fenômenos” (COMTE, [s.d.], p.21), mas as diferenças começam a surgir principalmente por ela não mais utilizar agentes sobrenaturais para a explicação de fatos, substituindo-os por abstrações personificadas. Assim,

Não é mais então a pura imaginação que domina e não é ainda a verdadeira observação; mas o raciocínio adquire nessa fase grande extensão e se prepara confusamente para o exercício verdadeiramente científico. Deve-se aliás notar que sua parte especulativa se acha a princípio muito exagerada, em virtude dessa obstinada tendência a argumentar em vez de observar, que, em todos os gêneros, caracteriza habitualmente o espírito metafísico, mesmo em seus mais eminentes órgãos. (COMTE, [s.d.], p.21)

O positivismo28 seria a última fase, na qual a imaginação se subordina à observação, constituindo um estado lógico.

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O termo “positivo” tem sete significados: O primeiro significado de positivo é Real, em oposição a quimérico, ao fictício, dando primazia às investigações acessíveis à inteligência, ao que de fato existe. O segundo é Útil em oposição ao ocioso, ou seja, a filosofia positiva visa o melhoramento do homem e da humanidade, não devendo

Numa palavra, a revolução fundamental que caracteriza a virilidade de nossa inteligência consiste essencialmente em substituir por toda parte, à inacessível determinação das causas propriamente ditas, a simples pesquisa das leis, isto é, das relações constantes que existem entre os fenômenos observados. (COMTE, [s.d.], p.24)

Dessa forma, os estudos científicos deveriam desvendar leis universais, as quais sujeitam quaisquer fenômenos, e por elas é possível fazer previsões. “Ver para prever” e encontrar as leis invariáveis29 fazem parte do espírito positivo. Essa previsão pode ser feita através da observação direta ou pela observação das ligações estáticas (quando os objetos coexistem) ou dinâmicas (quando os objetos se sucedem historicamente), pois “a previsão científica convém evidentemente ao presente, e mesmo ao passado, assim como ao futuro, consistindo sem cessar em conhecer um fato independentemente de sua exploração direta, em virtude de suas relações com outros já conhecidos”. (COMTE, [s.d.], p.30).

Para Comte, as análises da sociedade poderiam ocorrer através de dois grupos: Sociologia Estática e Sociologia Dinâmica, divisão essa extraída da biologia, (TIMASHEFF, 1973, p.40). O primeiro se refere à observação de instituições permanentes e presentes em todas as sociedades: religião, governo, linguagem, família e propriedade. Pelo segundo observa-se a evolução histórica das sociedades, dos cinco elementos da Sociologia Estática (LACERDA, 2004, p.66). “A estática é a teoria da ordem, da harmonia entre as condições de vida do homem em sociedade, enquanto a dinâmica é a teoria do progresso social, do desenvolvimento básico ou evolução da sociedade” (TIMASHEFF, 1973, p.40).

objetivar apenas satisfazer alguma curiosidade estéril. O terceiro significado de positivo é Certeza, em contraposição a indecisão, mostrando que essa filosofia é contrária a discussões sobre “dúvidas indefinidas e desses debates intermináveis que o antigo regime mental devia suscitar” (COMTE, [s.d.], p.47). Outro significado é Preciso em oposição a vago, ou seja, que os conhecimentos sejam precisos, apoiados em compreensões embasadas, não em afirmações vagas, como as baseadas em discursos sobrenaturais. Mais um significado (que não entra na lista dos sete) trata o Positivo como contrário de negativo, no sentido de que ela existe para organizar, não para destruir. O quinto significado é Relativo, em oposição ao absoluto, o qual defende que o conhecimento é relativo, é variável por questões históricas e contextuais. O sexto é Orgânico, referindo-se “tanto à visão de conjunto quanto à preocupação e construir e preservar, em todo caso evitar a mera destruição” (LACERDA, 2010, p.85). E o sétimo é Simpático, no sentido de altruísmo, de preocupação com outrem.

29“[...] o caráter fundamental da filosofia positiva é tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais

invariáveis, cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor número possível constituem o objeto de todos os nossos esforços, considerando como absolutamente inacessível e vazia de sentido para nós a investigação das chamadas causas, sejam primeiras, sejam finais” (COMTE, 1978, p.7).

“Os diversos ramos essenciais do estudo do mundo ou do homem desvendam-nos uma multidão crescente de leis diferentes, que hão de permanecer constantemente irredutíveis entre si, apesar das frívolas esperanças que no princípio inspirou nossa gravitação planetária. Conquanto a maior parte dessas leis seja ainda ignorada, muitas devendo, até, sê-lo sempre, já temos verificado um número bastante grande delas para tornar inabalável o princípio fundamental do dogma positivo, a sujeição de todos os fenômenos quaisquer a relações invariáveis. Dá-se à ordem que por toda parte resulta do conjunto das leis reais o título geral de destino ou de acaso, conforme essas leis nos são conhecidas ou desconhecidas. Esta distinção há de conservar sempre uma grande importância prática, pois que a ignorância dessas leis monta tanto, para a nossa conduta, como se não existissem, impedindo-nos toda previsão racional, e, portanto, toda intervenção regular” (COMTE, 1978, p.205).

Comte também trata dos métodos histórico e dogmático. Pelo primeiro, os acontecimentos vão sendo expostos cronologicamente; já pelo dogmático, “apresentamos o sistema de ideias tal como poderia ser concebido hoje por um único espírito que, colocado numa perspectiva conveniente e provido de conhecimentos suficientes, ocupar-se-ia de refazer a ciência em seu conjunto” (COMTE, 1978, p.27). Por exemplo, o estudo das produções teóricas pode ser feito pelo método histórico, porém seria deveras trabalhoso recuperar todos os pensamentos cronologicamente de autores vinculados com o pensamento em estudo. Porém, pelo método dogmático, um estudo mais recente pode ser utilizado, pois ele já é resultado do acúmulo dos conhecimentos anteriores.

O positivismo se diferencia da teologia por esta enfatizar as vontades sobrenaturais como meio de se obter verdades, enquanto que aquele opta pelas leis universais e pela previsão racional. Comte diz que a teologia e a metafísica são individualistas e egoístas, pois, por meio delas, cada crente pensa apenas em valores individuais. Também nelas, a sociedade é vista somente como a reunião casual de indivíduos, que “é quase tão fortuita como passageira, os quais [os crentes], ocupados cada um com sua própria salvação, não concebem a participação na salvação de outrem, a não ser como meio poderoso de melhor merecer a sua, obedecendo às prescrições supremas que impuseram essa obrigação” (COMTE, 1978, p.77). A metafísica, derivando da teologia, sempre teve em foco o estudo do indivíduo, nunca da espécie.

A superação da teologia e da metafísica por Comte também se dá pela prevalência do empirismo, no sentido de que o conhecimento provém da experiência (não da simples coleta de dados), de não ceder à livre especulação, de ser baseado em teoria e de ser racionalista (ARANA, 2007).

Conforme Timasheff (1973, p.38-39), o método positivo é composto por quatro processos: observação, experimentação, comparação e método histórico. O primeiro se refere ao uso dos sentidos físicos, que deveriam ser guiados por uma teoria; o segundo, ele sabia que era muito difícil de ser feito na sociedade, mas o termo experimento também podia significar observação controlada; a comparação poderia se dar entre sociedades coexistentes e entre humanas e animais – o autor francês via a sociedade “como um organismo em que o todo é mais conhecido do que as partes” (TIMASHEFF, 1973, p.39); por fim, o método histórico se dava pela verificação da variação da opinião pública e pela utilização de fatos históricos em sua argumentação.

De acordo com Tiski, mesmo o método positivo utilizando “em geral a observação e o raciocínio”, cada uma das sete ciências30 definidas por Comte possui características metodológicas próprias:

[...] a matemática, apesar da sua origem indutiva (segundo Comte ela se baseia em induções espontâneas: esta coisa, estes dois seres, estas formas / figuras destas coisas etc., são visuais), é feita sobretudo pela dedução (junta- se, abstrai-se, tira-se conseqüências, analisa-se propriedades); em astronomia só se dá a observação propriamente dita, por causa da distância; a física é o campo próprio da experimentação; em química Comte chama a nuance metodológica de “nomenclatura” (localização, descrição e nomeação de elementos químicos); a biologia faz comparações; a sociologia tem como nuance metodológica própria o método histórico (“filiação”: pode-se ver sobre isso no nosso artigo A história em Comte31); a moral, por sua vez, usa o método subjetivo ou construtivo. O método subjetivo é aquele que coloca o objeto do ponto de vista do homem, mesmo tendo que conformar a subjetividade à realidade. Ele pode idealizar os objetos reais em vista de um aperfeiçoamento, pode criar “meios subjetivos”, seres fictícios, etc., conforme a utilidade para o homem individual e ou coletivo. (TISKI, ([s.d.]) Várias dessas características metodológicas do positivismo comtiano são encontradas em autores funcionalistas, como a busca por leis universais, a indicação da importância da observação direta dos fenômenos, a importância da objetividade, o uso do método histórico, a indicação de análise das instituições permanentes da sociedade.

Malinowski, em Uma teoria científica da Cultura ([1922] 1970), por exemplo, buscou por uma lei universal, algo que Durkheim também tentou encontrar em As formas elementares da vida religiosa ([1912] 2008). Esse autor, também, fez várias críticas, assim como Comte, à especulação, afirmando que pelo uso dela o pesquisador conseguiria apenas opiniões provisórias e hipotéticas, as quais sempre estariam sob suspeita (DURKHEIM, 2008, p.440).

Embora existam marcas semelhantes, também há discordâncias e assuntos tratados por uns e não observados por outros. Um exemplo se dá nas questões sobre o uso de um olhar histórico, que é indicado por Comte, utilizado por Boas, aceito e criticado por Malinowski32 e

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Comte dividiu as ciências existentes em sete, partindo da menos para a mais complexa, e consequentemente da mais geral para a menos. Elas são: matemática, astronomia, física, química, fisiologia (biologia), física social (sociologia) e moral. Uma ciência influencia outra, pois elas fazem parte de um processo histórico, com as mais gerais/menos complexas (sendo o ponto de partida a matemática) sendo fundamento para a compreensão das mais específicas/mais complexas (sendo o ponto final a moral). Conforme Comte (1978, p.34-35): “Concebe-se, com efeito, que o estudo racional de cada ciência fundamental, exigindo a cultura prévia de todas aquelas que a precederam em nossa hierarquia enciclopédica, não pode fazer progressos reais e tomar seu verdadeiro caráter a não ser depois dum grande desenvolvimento das ciências anteriores, relativas a fenômenos mais gerais, mais abstratos, menos complicados e independentes dos outros. É, pois, nesta ordem que a progressão, embora simultânea, necessitou ter ocorrido”.

31 TISKI, Sergio. A história em Comte. Boletim – Revista do CLCH da Uel, Londrina, nº 56, p. 9-46, jan./jun.

2009.

32 Afirma que “O funcionalismo, eu gostaria de declarar enfaticamente, não é hostil ao estudo de distribuição

rejeitado por Durkheim em As regras do método sociológico ([1895] 2002), mas utilizado em As formas elementares da vida religiosa. Esse autor, inclusive, no uso de comparações (como pode ser observado em Da divisão do trabalho social ([1893] 2013) e em As Formas elementares da vida religiosa: para entender o direito – encontrando o penal e o restitutivo – e a religião, respectivamente), propõe o uso do método genético33, que consiste em comparar a forma de uma instituição social nos diferentes povos do presente e do passado.

Um dos assuntos comumente questionados é de o funcionalismo recusar análises subjetivas34, visto o exemplo de Durkheim e a definição de fato social – este que se caracteriza por ser coercitivo, exterior ao indivíduo, geral na extensão de uma sociedade e que possuem realidade própria (DURKHEIM, 2002, p.11) – como o ponto a ser analisado. Essa indicação de Durkheim resulta em alguns pontos fixos em seu pensamento: 1) Os fatos sociais são independentes dos indivíduos. A sociedade é que deve ser analisada, não os indivíduos; 2) A sociologia deve ser explicada por processos sociais, não por psicológicos:

[...] existe entre a psicologia e a sociologia a mesma solução de continuidade que entre a biologia e as ciências físico-químicas. Por conseguinte, todas as vezes que um fenômeno social está explicado diretamente por um fenômeno psíquico, pode-se estar certo de que a explicação é falsa. (DURKHEIM, 2002, p.91)

Contudo, se vamos a Malinowski, percebem-se indicações contrárias à de Durkheim, pois esse autor leva em consideração fatores subjetivos dos sujeitos, como em sua análise sobre os nativos das Ilhas Trobriand. Ele também fez estudos de estudos de psicologia, como criticando Freud e o complexo de Édipo em Estudios de psicologia primitiva: el complejo de Edipo ([1949] 1963), obra essa citada por LB em sua tese. Malinowski também fez uso da ideia de que as respostas são geradas por estímulos, a qual se remete ao behaviorismo, essa que já é mais objetivista.

defende que os fenômenos culturais devem ser definidos de acordo com a forma e a função para não sermos “levados a esquemas evolucionários tão fantásticos como os de Morgan, Bachofen ou Engels, ou ao tratamento fragmentário de itens isolados, tais como os de Frazer, Briffault e até Westermarck” (MALINOWSKI, 1970, p.165). A intenção de Malinowski ao elaborar uma maneira de fazer antropologia, era por buscar um caminho diferente do que era tomado pelos evolucionistas, como Lewis Henry Morgan; ele quis mostrar o “aqui e agora” das sociedades estudadas.

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“Por conseguinte, não se pode explicar um fato social de alguma complexidade senão sob a condição de seguir-lhe o desenvolvimento integral através de todas as espécies sociais. A sociologia comparada não é um ramo particular da sociologia; é a própria sociologia, na medida que deixa de ser puramente descritiva e aspira a explicar os fatos” (DURKHEIM, 2002, p.121).

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Como disse, por exemplo, Luis Ramiro Beltrán (BELTRÁN, 2000, p.110): “Se pensó sinceramente que los objetos no susceptibles de medición rigurosa caen fuera del dominio de la ciencia. Muchos científicos sociales consideraron que tales objetos pertenecen al territorio vago y movedizo de las impresiones y preferencias personales ‘subjetivas’ de las cuales no se pueden obtener generalidades válidas y confiables. Al pensar de esta manera, reclamaban para sí la virtud de la ‘objetividad’ suponiendo en el observador científico una habilidad para desgajarse por completo de sus valores cuando realiza la investigación”.

Para contextualização e conceituação do behaviorismo, John B. Watson (1879-1958)35 se refere a ela como uma psicologia objetiva do comportamento, que evita introspecção como método e análises que levem à especulação. Ou como disse Skinner (2003, p.181), citando Watson, é “um ramo puramente objetivo-experimental da ciência natural”. O behaviorismo metodológico (vertente de Watson tal como denominada por Skinner) é a ciência que estuda o comportamento objetivamente observável.

Essas elaborações foram de grande valia para Malinowski, especialmente no que se relaciona ao método de pesquisa de campo, pois, para ele (1970, p.69), a ciência deveria se referir a experiências humanas que podem ser observáveis e recorrentes:

Quer usemos a psicologia introspectiva e digamos que compreensão significa identificação dos processos mentais, ou quer, como behavioristas, afirmemos que sua reação ao estímulo integral da situação segue linhas que para nós são familiares na base de nossas próprias experiências, isso não modifica profundamente a argumentação. Em última análise e como um princípio de método em pesquisa-de-campo, eu insistiria na abordagem behaviorista, porque ela nos permite descrever os fatos que podemos observar. (MALINOWSKI, 1970, p.72-73)

Malinowski sofria grande influência do seu professor em Leipzig Wilhelm Wundt (MELLO, 2001, p.244), que “já fora mestre de Durkheim e Boas”, autor de Völkerpsychologie (obra de 10 volumes sobre psicologia cultural, que levou 20 anos para ser elaborada, com o último volume sendo publicado em 1920) e que teve grande papel nas pesquisas de psicologia experimental, a qual se baseava em “metodologia científica”, isto é, de fisiólogos do século XIX (GOODWIN, 2005, p.112), e recusava a introspecção como prática científica. Entre os psicólogos, Malinowski diz que o behaviorismo de Edward Thorndike, por exemplo, o ajudara no trabalho de campo. Este é considerado unido à psicologia funcional (GOODWIN, 2005), tendo feito estudos sobre psicologia e educação e, juntamente com Woodworth, substituiu o modelo de estímulo-reação pelo de estímulo- organismo-reação, defendendo que os psicólogos deveriam não apenas entender “o estímulo e a reação, mas também o organismo (O) que está entre eles, o que implicava o estudo daquilo que motiva ou impulsiona o organismo” (GOODWIN, 2005, p.248).

A aprovação da Psicanálise não desmerece de maneira alguma da grande importância que o behaviorismo promete adquirir como Psicologia básica para o estudo dos processos sociais e culturais. Por behaviorismo quero designar os mais novos desenvolvimentos da psicologia de estímulo- resposta, elaborada pelo Professor C. Hull na Universidade de Yale, Thorndike na de Columbia ou H. S. Lidell na de Cornell. O valor do

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Watson é tido como o fundador do behaviorismo com a publicação do artigo Psychology as the behaviorist

views it, em 1913 (época próxima à elaboração da pesquisa de Malinowski, 1914-1920, que resultou no livro Argonautas do pacífico ocidental) (BAUM, 2006, p.23).

behaviorismo é devido, em primeiro lugar, ao fato de que seus métodos são idênticos, no tocante às limitações e vantagens, aos do trabalho-de-campo antropológico. Tratando com gente de uma cultura diferente é sempre perigoso usar o curto-circuito de ‘empatia’, que geralmente equivale a adivinhar o que a outra pessoa podia ter pensado ou sentido. O princípio fundamental do investigador de campo, assim como também a do behaviorista, é que as ideias, emoções e conações nunca prosseguem a conduzir uma existência crítica, oculta dentro das profundezas inexploráveis da mente, consciente ou inconsciente. Toda Psicologia experimental, ou seja, Psicologia pura, pode lidar apenas com observações de comportamento aberto, embora possa ser útil relacionar tais observações à taquigrafia da interpretação introspectiva. O problema de admitirmos ou não a existência de “consciência”, “realidades espirituais”, “pensamentos”, “ideias”, “crenças” e “valores” como realidades subjetivas na mente de outras pessoas é essencialmente metafísico. Não vejo razão ainda por que tais expressões diretamente referentes à minha própria experiência não devam ser introduzidas, contanto que em cada caso sejam definidas em termos de comportamento aberto, observável, fisicamente verificável. (MALINOWSKI, 1970, p.31)

A psicologia teve papel importante nas análises de Malinowski, pois por ela foi possível entender os costumes e as ações que existiam nas sociedades estudadas. Ele deixa isso bem claro no estudo do Kula, como pode ser verificado em Argonautas do pacífico ocidental.

Além do behaviorismo, a psicanálise tem seu valor reconhecido: “[...] eis aqui um de seus méritos principais – esclareceu a estratificação da vida psíquica humana, demonstrando

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