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2. Assédio moral em contexto laboral

2.11 Figuras afins

2.11.1 Burnout

O conceito de “Burnout” poderá inicialmente traduzir-se como um sentimento de exaustão, esgotamento profundo a nível físico, emocional e mental. Este termo terá sido primitivamente estudado e utilizado por Herbert Freudenberger como forma de descrever uma gradual perda de motivação e compromisso que afetava os seus pacientes (68). Numa outra perspetiva, e aproveitando as palavras de Carlotto (69), pode compreender-se

como “um fenómeno psicossocial constituído de três dimensões: exaustão emocional,

integridade moral do trabalhador oferecendo, para o efeito, boas condições de trabalho. Alguma doutrina, nomeadamente Milena Rouxinol e Mago Pacheco Graciano, in Costa, Ana Cristina Ribeiro, op. cit. p. 55, entendem pela responsabilização do empregador com fundamento na omissão das condições básicas de higiene e segurança. Deste modo, ainda que não exista uma previsão normativa de ressarcimento pela prática de assédio moral laboral o trabalhador poderá ver os seus danos acautelados com fundamento na omissão de medidas preventivas de riscos psicossociais. Realça-se que ao empregador compete a gestão da organização empresarial e a mediação e resolução de conflitos entre trabalhadores.

67 Recentemente, foi divulgada uma notícia que mencionava os custos que advêm da exaustão dos

trabalhadores (burnout). Com recurso a estimativas foi possível concluir que “quatro em cada cinco trabalhadores no ativo em Portugal correm risco elevado de esgotamento psicológico conforme indicam as estimativas mais recentes da Ordem dos Psicólogos, relativas a 2016”. Verifica-se um paradoxo em torno deste tema. Ora, se por um lado os empregadores sobrecarregam os seus trabalhadores por forma a contrariar a necessidade de proceder à contratação de mão-de-obra, por outro, acabam por ter despesas extra com a contratação a termo para substituição do trabalhador que se vê incapacitado de fazer face à sua atividade laboral e acaba por ausentar-se por motivos de doença (baixa médica). Noticia disponível em www.expresso.pt e datada de 17/01/2017 (consultado em 20 de janeiro 2019).

68 Sendo a área de estudo deste autor a psicologia a sua observação terá tido início no campo da saúde.

Pelo exposto, o termo em apreço surgiu da observação direta dos efeitos que advinham do uso abusivo e crónico de substâncias ilícitas (Vide para o efeito Schaufeli, Wilmar, “Burnout: A Short Socio-Cultural History”, 2017, p. 107, disponível em https://www.wilmarschaufeli.nl/publications/Schaufeli/481.pdf.) A maior preocupação deste autor centrou-se em encontrar medidas preventivas deste fenómeno. Por outro lado, definiu o conceito como “um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de um estado de esgotamento físico e mental, que resulta de um envolvimento de longo-prazo em situações de trabalho emocionalmente exigentes (UGT, “Burnout no Local de Trabalho: Riscos, Efeitos na Saúde e Prevenção, p. 4, disponível em

https://www.ugt.pt/downloadcomunicados?comunicado=2709&file=a4c6039d8c50f4033fd8632e70e1015 8ff1d98c3). (consultado em 5 de janeiro de 2019)

69 Citado por Pinho, Rute, “Fatores de risco/riscos psicossociais no local de trabalho”, 2015, p. 5, disponível

em https://www.dgs.pt/saude-ocupacional/documentos.../trabalho-da-rute-pinho1.aspx (consultado em 5 de janeiro de 2019).

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despersonalização e baixa realização profissional. A exaustão emocional caracteriza--se por uma falta ou carência de energia e um sentimento de esgotamento emocional, sendo a sua maior causa a sobrecarga de trabalho. A despersonalização ocorre quando o profissional passa a tratar os clientes, os colegas e a organização de forma distante e impessoal. Por fim, a baixa realização profissional caracteriza-se por uma tendência do trabalhador em se autoavaliar de forma negativa, sentindo-se insatisfeito com seu desenvolvimento profissional, experimentando um declínio no sentimento de competência e na sua capacidade de interagir com as pessoas”.

As causas desta realidade passam, essencialmente, por uma errada gestão organizacional. O trabalhador aumenta o seu ritmo de trabalho para fazer face a todas as solicitações culminando numa sobrecarga física e mental.

Um novo efeito advém do atual paradigma laboral. Entenda-se que “o mundo do trabalho se encontra em permanente transformação, exigindo cada vez mais dos trabalhadores. O conteúdo do trabalho e o ambiente organizacional onde este decorre têm vindo a sofrer mudanças significativas, resultantes de modificações sociais, económicas e tecnológicas, forçando organizações e trabalhadores a adaptarem-se às novas exigências de uma economia globalizada e competitiva que acentua os riscos psicossociais no trabalho” (70). Os efeitos do burnout efetivam-se no foro psicológico e físico. O trabalhador poderá desenvolver sintomas depressivos, ansiedade, irritabilidade ou agressividade, impaciência, dores musculares, distúrbios de sonos, doenças cardiovasculares, entre outros (71).

No que diz respeito aos efeitos, poderá concluir-se pela existência de homogeneidades entre o “burnout” e o assédio moral. Contudo, as causas que motivam o surgimento de cada um destes fenómenos difere. Desde logo se entenda que a verificação de um ato de assédio moral pressupõe a concretização de práticas humilhantes que não se circunscreve à errada distribuição de tarefas por parte do superior hierárquico ou à tentativa do trabalhador fazer face a horas excessivas de trabalho. O assédio moral não poderá ser confundido com a falta de descanso ou o exercício de uma atividade laboral desgastante.

70 UGT, “Burnout no Local de Trabalho: Riscos, Efeitos na Saúde e Prevenção, p. 4, disponível em

https://www.ugt.pt/downloadcomunicados?comunicado=2709&file=a4c6039d8c50f4033fd8632e70e1015 8ff1d98c3 (consultado em 5 de janeiro de 2019).

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O fenómeno em apreço no presente trabalho, no nosso entendimento, passa pela concretização de um objeto final, nomeadamente, na afetação da dignidade humana e criação de um ambiente hostil e desestabilizador (72).