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EM BUSCA DE UMA CLARIFICAÇÃO DO ENSINO DOS RISCOS NATURAIS: ALGUMAS SUGESTÕES

CAPÍTULO IV- OS RISCOS NATURAIS NOS MANUAIS ESCOLARES DE GEOGRAFIA DO 3º CICLO NO ENSINO BÁSICO

4- EM BUSCA DE UMA CLARIFICAÇÃO DO ENSINO DOS RISCOS NATURAIS: ALGUMAS SUGESTÕES

As definições dos riscos naturais apresentadas pelos manuais editados, quer em 2002, quer em 2006, são na sua maior parte deficientemente construídas apresentando diferente valor explicativo e alguma falta de rigor científico. Tudo isso não é adequado ao processo ensino/aprendizagem e se os professores não forem capazes de ultrapassar essa limitação o processo de aquisição de conhecimentos será muito deficiente. Não se

120 consegue uma correcta construção do conhecimento sem precisão dos conceitos e da sua exposição clara. A este nível pensamos que há ainda algum caminho a percorrer.

Assim consideramos que deveriam ser considerados os seguintes riscos: sísmico, vulcânico, movimento nas vertentes, meteorológico, cheia, seca e incêndio. Em relação a este último pode questionar-se se se trata de um risco natural. É certo que em Portugal a percentagem de incêndios associados a trovoadas é muito reduzido mas por exemplo já nas florestas do norte da Europa podem explicar mais de 60% dos incêndios. Por esta razão consideramos que deverá ser considerado. Em relação ao risco de seca também será oportuno considerar embora seja um risco diferente dos anteriormente considerados. Estes manifestam-se rapidamente, enquanto que, a seca reflecte um processo lento e que só se torna perceptível quando já está instalado.

Consideramos que em relação a cada um dos riscos naturais deveria haver a preocupação em explicar o fenómeno físico que está na sua origem, as causas, assim como identificar as consequências potenciais. Para melhor explicitar os conceitos específicos associados a cada risco definimos para cada um deles um pequeno esquema conceptual orientador, que reduzimos à forma que em nossa opinião é a formulação mínima que passamos a apresentar. Atrevemo-nos também a propor para cada um dos diferentes tipos de riscos uma das possíveis definições sempre com a preocupação de construção de um ensino de competências.

Os sismos são movimentos rápidos mais ou menos intensos da crosta terrestre, provocados pela propagação das ondas sísmicas, resultante da movimentação das placas tectónicas ou de actividade vulcânica. Quando um sismo tem o seu epicentro na crosta oceânica pode originar um tsunami ou maremoto.

Tsunami- ondas marinhas de grandes dimensões que acontecem no caso de se registar um grande sismo com epicentro no mar ou actividade vulcânica. Palavra japonesa que significa onda de porto, também pode ser designado por raz de maré.

O termo terramoto utiliza-se para um sismo que provoca elevada destruição. Na FIGURA 3 representamos os conceitos associados que deveriam ser analisados para uma melhor compreensão do risco sísmico.

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FIGURA 3- RISCO SÍSMICO

O risco vulcânico está associado a uma erupção vulcânica (FIGURA 4). Esta deverá ser considerada a manifestação de actividade de um vulcão através da emissão de lava, gases e outros materiais. Vulcão poderá ser definido como uma estrutura geológica em forma de cone que permite a passagem do magma do manto terrestre para a superfície terrestre e através do qual é expelida lava, cinzas e gases.

FIGURA 4- RISCO VULCÂNICO

Sismo Ondas sísmicas Hipocentro Epicentro Tsunami ou maremoto Sismograma

Sismógrafo Intensidade Escala de Mercalli Magnitude Escala de Richter

Abalos premonitórios Réplicas Causas Tectónica de placas Falhas Riscos

associados Consequências Medidas de

prevenção e mitigação Movimento de terras Avalanches Vulcão Estrutura ou elementos de um vulcão Câmara magmática Chaminé Cratera Caldeira Erupção vulcânica Magma Lava Cinzas vulcânicas Nuvem ardente Outros materiais Tipo de vulcões Causas Medidas de prevenção e mitigação Consequências

122 Os movimentos nas vertentes (FIGURA 5), podem ter causas diversas. Podem também ser uma consequência de um sismo ou de uma erupção vulcânica. Os movimentos de terras são deslocações de solos e rochas ao longo das vertentes que arrastam consigo tudo o que estiver no seu caminho. Consideramos também as avalanches que são movimento brusco de grande massa de neve e gelo que se desprendem de zonas altas das montanhas.

FIG UR A 5- MO VI ME NT OS NA S VE RT EN TES A

seca é um estado de deficit de água resultado de um período de persistência anómala de tempo seco de modo a causar problemas na agricultura, na pecuária e/ou no fornecimento de água. A definição de seca depende do ponto de vista do utilizador. Em geral distingue-se entre seca meteorológica, seca agrícola, seca hidrológica e seca sócio-económica.

Seca Meteorológica- uma medida do desvio da precipitação em relação ao valor normal; caracteriza-se pela falta de água induzida pelo desequilíbrio entre a precipitação e a evaporação, a qual depende de outros elementos como a velocidade do vento, temperatura e humidade do ar, insolação. A definição de seca meteorológica deve ser considerada como dependente da região, uma vez que, as condições atmosféricas que resultam em deficiências de precipitação podem ser muito diferentes de região para região.

Seca Agrícola- associada à falta de água causada pelo desequilíbrio entre a água disponível no solo, a necessidade das culturas e a transpiração das plantas. Este tipo de

Movimentos nas vertentes

Movimentos de

terras Causas

Consequências

Queda de blocos Deslizamentos

Avalanches Medidas

de prevenção

e mitigação

123 seca está relacionado com as características das culturas, da vegetação natural, ou seja, dos sistemas agrícolas em geral.

Seca Hidrológica- relacionada com a redução dos níveis médios de água nos reservatórios e com a depleção de água no solo. Este tipo de seca está normalmente desfasado da seca meteorológica e agrícola, dado que é necessário um período maior para que as deficiências na precipitação se manifestem nos diversos componentes do sistema hidrológico .

Seca Sócio-Económica- associada ao efeito conjunto dos impactos naturais e sociais que resultam da falta de água, devido ao desequilíbrio entre o fornecimento e a procura dos recursos de água e que vai afectar directamente as populações.

Na FIGURA 6 representamos os conceitos associados que deveriam ser analisados para uma melhor compreensão do risco de seca.

FIGURA 6- RISCO DE SECA

Um outro risco hidrológico tem a ver com o excesso de água: são as cheias e as inundações.

Cheia- fenómeno que consiste na ocorrência do aumento do caudal de um rio para além do seu valor médio para a época. As cheias causam inundações.

Seca

Seca agrícola

Seca meteorológica

Seca hidrológica

Seca sócio-ecomómica

Causas Consequências Medidas de

prevenção e mitigação

124 Inundação- fenómeno que se verifica quando as águas transbordam dos rios ou dos mares, invadindo as áreas baixas mais próximas. Existem as inundações fluviais e as inundações marítimas.

Inundação fluvial- fenómeno que se verifica quando a água dos rios ultrapassa o seu leito normal e invade as suas margens ocupando o leito de cheia.

Inundação marítima- ocorrem quando existe uma ondulação muito forte que faz com que as águas do mar atinjam níveis acima do normal, invadindo as áreas costeiras mais baixas e subindo ao longo dos cursos terminais dos rios.

Também podemos considerar as inundações urbanas quando associado a um episódio de forte precipitação e se registam dificuldades de escoamento da água que se acumula em certos locais.

Na FIGURA 7 representamos os conceitos associados que deveriam ser analisados para uma melhor compreensão do risco de cheia.

FIGURA 7- RISCO DE CHEIA

Os riscos meteorológicos são também riscos importantes.

Onda de calor- ocorre uma onda de calor quando num período de 6 dias consecutivos, a temperatura máxima do ar é superior em 5°C ao valor médio das temperaturas máximas diárias no período de referência (1961-1990).

Cheia

Inundação

Caudal Leito Leito de

cheia Bacia hidrográfica Rede hidrográfica Causas Medidas de prevenção e mitigação Inundação fluvial Inundação marítima Consequências Inundação urbana

125 Vaga de frio- ocorre uma vaga de frio quando num período de 6 dias consecutivos, a temperatura mínima do ar é inferior em 5°C ao valor médio das temperaturas mínimas diárias no período de referência (1961-1990).

Tempestade- fenómeno atmosférico com ocorrência de chuva forte e intensa durante um período curto de tempo, acompanhada de trovoadas e ventos mãos ou menos fortes.

Ciclone- sistema de baixa pressão atmosférica, com circulação fechada. O ar converge à superfície e tem um movimento ascendente em altitude. Os ventos giram no Hemisfério Norte no sentido anti-horário e no Hemisfério Sul no sentido horário.

Ciclone Tropical- sistema de baixa pressão atmosférica. Além de se desenvolver sobre as águas tropicais devido às altas temperaturas e humidade, movimenta-se de forma circular organizada. Dependendo dos ventos de sustentação da superfície, o fenómeno pode ser classificado como perturbação tropical, depressão tropical, tempestade tropical, furacão ou tufão.

Furacão- Nome dado a um ciclone tropical de núcleo quente e bordas frias, com ventos contínuos de 120 km/h a até 250 km/h ou mais, que ocorre no Atlântico Norte (Mar do Caribe e Golfo do México), no Pacífico Norte (Mar do Japão e Mar da China). No Pacífico Sul e no Índico é designado de Tufão. Nele, os ventos giram para um sentido quando próximos à superfície e em sentido contrário nos níveis mais altos da atmosfera. De acordo com a velocidade de seus ventos, é classificado em cinco categorias. O de maior intensidade apresenta grau cinco.

Ciclone Extratropical- Sistema de baixa pressão atmosférica na forma de um núcleo fechado. Também chamado de tempestade extratropical, ele é geralmente considerado um ciclone migratório encontrado nas médias e altas latitudes. Os ventos giram sempre na mesma direcção, no Hemisfério Norte no sentido anti-horário e no Hemisfério Sul no sentido horário.

Tornado- Fenómeno que consiste num turbilhão de vento, muitas vezes violento, cuja presença se manifesta por uma coluna nebulosa ou cone nebuloso invertido em forma de funil que emerge da base de um cumulonimbo, que roda em espiral a grande velocidade e devastadora.

Na FIGURA 8 representamos os conceitos associados que deveriam ser analisados para uma melhor compreensão dos riscos meteorológicos.

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FIGURA 8- RISCOS METEOROLÓGICOS

As orientações que propomos na abordagem de cada um dos riscos na disciplina de Geografia assenta na clareza, objectividade e procura de correcção científica.

Riscos Meteorológicos

Ciclone s

Tropical (tufão,furação) Extra Tropical

Escala de Classificação

Ondas de calor

Vagas

de frio Tempestades Tornados Causas Consequências Medidas de prevenção e mitigação

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CAPÍTULO V- O ENSINO/APRENDIZAGEM DO RISCO DE

INCÊNDIOS FLORESTAIS NA DISCIPLINA DE

GEOGRAFIA DO 3º CICLO NO ENSINO BÁSICO