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CAPÍTULO IV- OS RISCOS NATURAIS NOS MANUAIS ESCOLARES DE GEOGRAFIA DO 3º CICLO NO ENSINO BÁSICO

1- CONCEITOS GERAIS

A leitura dos manuais editados em 2002 mostra que há um diferente entendimento dos conceitos gerais da temática (QUADRO XIV), não havendo por conseguinte uniformidade terminológica.

QUADRO XIV - CONCEITOS GERAIS DO SUBTEMA RISCOS E CATÁSTROFES NOS MANUAIS EDITADOS EM 2002 E 2006

CONCEITOS GERAIS

DEFINIDOS MANUAIS EDITADOS EM 2002 MANUAIS EDITADOS EM 2006

Sem definições L4, L5 L21 Catástrofe L1, L6, L9, L13 L19, L25 Catástrofes Naturais L2, L3, L9, L10, L11, L14 L15, L16, L17, L20, L22, L23 Perigo L9 Risco L1, L8, L9, L12, L14 L17, L18, L25 Riscos Naturais L7, L10, L12, L13 L15, L16, L18, L23, L24, L25

Riscos Naturais Meteorológicos L12 L18

Riscos Naturais Telúricos L12 L18

Riscos Humanos L12 L18

Riscos Ambientais L24

72 As definições centrais deste subtema Riscos e Catástrofes não surgem em todos os manuais. De facto, o conceito de Catástrofes Naturais aparece em seis manuais e o conceito de Catástrofe aparece em quatro. Há mesmo cinco manuais que não apresentam qualquer definição de Catástrofes Naturais ou Catástrofe.

Em relação ao termo Risco a situação não é mais clara. Há também cinco manuais que o definem e outros quatro que definem Riscos Naturais. Existe mesmo um manual que apresenta ambos os conceitos. Esse manual faz uma classificação de Riscos distinguindo os Naturais (designados por Meteorológicos e Telúricos) dos Humanos, sendo aquele que define maior número de conceitos gerais (QUADRO XV).

QUADRO XV- AGRUPAMENTO DE CONCEITOS GERAIS DO SUBTEMA RISCOS E CATÁSTROFES POR MANUAIS EDITADOS EM 2002 E 2006

CONCEITOS GERAIS Nº DE

CONCEITOS CONCEITOS DEFINIDOS IDENTIFICAÇÃO DOS EDITADOS MANUAIS

EM 2002 TOTAL EM 2002 MANUAIS EDITADOS EM 2006 TOTAL EM 2006 0 Sem definições L4, L5 2 L21 1 1 Catástrofes Naturais L2, L3, L11 3 L20, L22 2 1 Catástrofes L6 1 L19 1 1 Riscos Naturais L7 1 0 1 Risco L8 1 0 2 Risco Catástrofe L1 2 0 2 Risco Catástrofe Natural L14 1 L17 1

2 Riscos Naturais Catástrofes Naturais L10 1 L15, L16, L23 3

2 Risco Natural Catástrofe L13 1 0 2 Riscos Naturais Riscos Ambientais 0 L24 1 3 Risco Catástrofe Riscos Naturais 0 L25 1 4 Perigo Risco Catástrofe Catástrofe Natural L9 1 0 5 Risco Riscos Naturais

Riscos Naturais Meteorológicos Riscos Naturais Telúricos

Riscos Humanos L12 1 L18 1

73 Em seis manuais, só é definido um conceito, existindo quatro que definem dois e um que define quatro. Este manual que define quatro conceitos não foi reeditado em 2006. Há mesmo dois manuais que não definem nenhum conceito geral. Nesses dois manuais um refere sem definir os conceitos de Riscos e Catástrofes e foi reeditado em 2006 e o outro refere sem definir o conceito de Catástrofes Naturais e não foi reeditado em 2006.

Nos manuais editados em 2006, continua a existir a mesma heterogeneidade dos conceitos gerais da temática e a verificar-se que as definições centrais deste subtema

Riscos e Catástrofes não surgem em todos os manuais (QUADRO XIV). De facto, o conceito de Catástrofes Naturais aparece em seis manuais e o conceito de Catástrofe aparece em dois. Há mesmo três manuais que não apresentam qualquer definição de Catástrofe Natural ou Catástrofe.

Em relação ao termo Risco a situação não é mais clara. Há três manuais que o definem e outros seis que definem Riscos Naturais. Existem mesmo dois manuais que apresenta ambos os conceitos e um deles faz uma classificação de Riscos distinguindo os Naturais (designados por Meteorológicos e Telúricos) dos Humanos. Esse manual, já em 2002 fazia essa distinção e continua a ser aquele que define maior número de conceitos gerais (QUADRO XV). Em cinco manuais, são definidos dois conceitos, existindo três que apenas definem um e outro que define três. Há ainda um manual que não define nenhum conceito geral.

Em 2002 o conceito geral mais definido é o de Catástrofes Naturais e em 2006 existem dois conceitos gerais mais referenciados que são: Catástrofes Naturais e Riscos Naturais (QUADRO XIV). Em 2006, mantém-se, portanto, a maior referência ao conceito de Catástrofes Naturais, aumenta a referência ao conceito de Riscos Naturais e diminui a referência ao conceito de Risco. O conceito de Perigo que em 2002 vinha apresentado num único manual, em 2006 deixou de ser apresentado pois esse manual não foi editado em 2006. Em 2006 surge a definição de Riscos Ambientais, também, só apresentada num único manual.

Nos nove manuais que foram reeditados em 2006, cinco alteraram os conceitos gerais que tinham apresentado em 2002 e quatro mantiveram a sua apresentação (QUADRO XIII anexo II: 229; QUADRO XV). As principais mudanças foram (QUADRO XVI anexo II: 230 a 235; QUADRO XVII anexo II: 236 a 242; QUADRO XXVIII anexo II: 271; QUADRO XXIX anexo II: 272):

- Um manual que em 2002 definia o conceito de Risco sendo “todo o perigo que ameaça um grupo humano” e Catástrofe “fenómeno que ocorre com grande intensidade

74 pondo em perigo as vidas humanas”, em 2006 define o conceito de Riscos Naturais como “é um perigo que ameaça um grupo humano devido a um fenómeno natural” e Catástrofes Naturais como “é um fenómeno natural que causa vitimas e estragos avultados, em vidas humanas”. Com estas alterações verifica-se uma especificação dos fenómenos naturais em 2006 e portanto uma evolução no manual, sendo de salientar a referência ao conceito de perigo, sem o definir, nas definições de Risco em 2002 e Riscos Naturais em 2006, relacionando-os.

- Um manual que em 2002 apenas definia o conceito de Catástrofes Naturais em 2006 passa a definir os conceitos de Catástrofes Naturais e Riscos Naturais. Em 2002 apresentava como definição de Catástrofes Naturais “são diversos os exemplos de catástrofes naturais. Desde os sismos aos vulcões, as suas consequências têm sempre algo de comum a destruição e as vítimas”, em 2006 altera essa definição para “situações de destruição de bens e vidas humanas, decorrentes de Riscos Naturais e normalmente de falta de prevenção” e completando define Riscos Naturais como “fenómenos naturais que podem criar situações de perigo para as populações humanas”. Verifica-se portanto uma evolução na forma e conteúdo das definições passando a fazer-se referência à falta de prevenção e relacionando o conceito de Catástrofes Naturais com Riscos Naturais e referindo também o conceito de perigo, sem o definir, na definição de Riscos Naturais relacionando-os.

- Um manual que em 2002 definia apenas o conceito de Risco, em 2006 passa a definir três conceitos: Catástrofe, Risco e Riscos Naturais. Apresenta nos dois anos a mesma definição de Risco “probabilidade de uma Catástrofe ocorrer”, referindo em 2002 para não confundir Risco com Catástrofe, mas não apresenta a definição de Catástrofe, só o fazendo depois em 2006 como ”acontecimento com consequências devastadoras”. Verifica-se assim evolução neste manual que complementa as definições e passa a distinguir Risco de Riscos Naturais, referindo que os últimos são “ligados à instabilidade da crusta terrestre e irregularidades climáticas”.

- Um manual que em 2002 definia apenas o conceito de Catástrofes Naturais em 2006 define os conceitos de Catástrofes Naturais e Risco. É apresentada a mesma definição de Catástrofes Naturais nos dois anos “acontecimento inesperado que pode causas danos materiais e humanos”, não sendo feita qualquer menção à causa desses danos. Nesta definição de Catástrofes Naturais não há evolução na definição, sendo depois indicado, em 2006, que Risco é a ”possibilidade de ocorrer uma Catástrofe Natural” relacionando os dois conceitos.

75 - Um manual que em 2002 não apresentava nenhuma definição de conceitos gerais, em 2006 define Riscos Naturais como “são próprios da dinâmica do nosso planeta” e distingue os Riscos Ambientais, indicando que “resultam da actividade do Homem sobre o meio”. Regista-se assim uma evolução neste manual.

Nos quatro manuais que em 2006 mantêm apresentação dos conceitos gerais de 2002, (QUADRO XVI anexo II: 230 a 235; QUADRO XVII anexo II: 236 a 242; QUADRO XXVIII anexo II: 271; QUADRO XXIX anexo II: 272), um define Catástrofes Naturais, outro Catástrofes e um outro Risco, Riscos Naturais, Riscos Naturais Meteorológicos, Riscos Naturais Telúricos e Riscos Humanos. Estes três manuais apresentam as mesmas definições dos conceitos nos dois anos, não se registando evolução. O outro manual apresenta os conceitos de Riscos Naturais e Catástrofes Naturais e altera as definições desses conceitos. Em 2002 definia Riscos Naturais como “fenómenos de origem natural que perturbam a superfície terrestre” em 2006 altera para ”possibilidade de um território sofrer alterações em consequência de um acontecimento natural com categoria de Catástrofe”. Em 2002 definia Catástrofes Naturais como “acontecimento de origem natural com consequências individuais e sociais desastrosas”, em 2006 altera para ”acontecimento súbito quase sempre imprevisível, de origem natural, susceptível de provocar vítimas e danos materiais avultados, afectando gravemente a segurança das pessoas e as condições de vida das populações”.Esta definição é claramente melhor que a apresentada em 2002, pois refere a origem, o carácter de imprevisibilidade, assim como algumas consequências. Com estas alterações ocorre neste manual um aprofundamento e mais rigor nas definições, verificando-se evolução.

Nos dois novos manuais editados em 2006 (QUADRO XVII anexo II: 236 a 242; QUADRO XXIX anexo II: 272), um não apresenta nenhuma definição de conceitos gerais, mas refere, sem definir os termos de Catástrofes Naturais e Riscos Naturais. É de salientar que neste manual se fez essa opção, sendo um manual novo editado em 2006. O outro define o conceito de Catástrofes Naturais como sendo “fenómeno da natureza geralmente responsável por uma elevada destruição material e pela perda de vidas humanas. Alguns destes fenómenos também alteram a superfície terrestre”. É de referir que este manual, também novo, só define este conceito geral. Verifica-se que nestes dois novos manuais as opções feitas não foram no sentido de uma abordagem aprofundada e rigorosa da terminologia geral.

76 Verifica-se, assim, que os manuais editados em 2002 e em 2006 apresentam uma base diferenciada e evolução positiva nas definições dos conceitos gerais que a unidade didáctica em análise encerra. No entanto, constata-se ainda que, não há uma uniformidade de critérios e há falta de rigor científico na maior parte das definições dos conceitos gerais como pode verificar-se na análise realizada das definições apresentadas no QUADRO XXVIII anexo II: 271 e QUADRO XXIX anexo II: 272. Embora até um manual refira que não se deve confundir Risco e Catástrofe essa diferenciação não aparece nunca claramente enunciada.

Com uma base diferenciada os alunos, em função do manual que a escola adoptou vão obter conhecimentos diferentes porque geralmente os professores se vão basear na linha orientadora do manual. Isso só não acontecerá se o professor apresentar mais linhas de orientação e outros documentos informativos ou de pesquisa, o que na maior parte dos casos não sucede.

Convêm referir que se constata uma falha significativa em termos de introdução da terminologia básica desta temática assim como uma deficiente apresentação dos conceitos centrais.