• Nenhum resultado encontrado

Buscando indícios nos dados estatísticos produzidos pelas escolas: nada era o que parecia ser

A ABORDAGEM QUANTIDATIVA NO ESTUDO DAS REPROVAÇÕES E INTERRUPÇÕES ESCOLARES

2.2. Buscando indícios nos dados estatísticos produzidos pelas escolas: nada era o que parecia ser

Conforme já destacado anteriormente (Questões metodológicas) foram selecionadas foram selecionadas cinco escolas estaduais e seis municipais para a pesquisa. Cada escola selecionada revelou informações importantes para a compreensão dos processos de reprovação e movimentação escolar dos alunos, além dos dados oficiais. Ter ido direto à fonte dos dados permitiu obter informações que ficaram diluídas nos relatórios estatísticos, especificidades que ajudaram a definir hipóteses e apontaram caminhos para o aprofundamento da investigação.

O número de reprovações nas quintas séries, em Santa Catarina, de 2000 até 2002, variou de 12,0% a 18,0%. Isso representou apenas a ponta de um iceberg já que o número das reprovações escolares observadas em cada escola revelou outros valores que os cálculos dos índices medianos ocultavam, conforme tabela a seguir.

Tabela 7 - Reprovações escolares nas quintas séries em escolas estaduais e municipais em Florianópolis – 1997 –2002 (em percentuais)

Escolas Estaduais 1997 1998 1999 2000 2001 2002 1E 81,8 41,0 19,5 55,2 36,1 20,4 2E (*) 42,1 48,3 24,1 31,4 40,3 3E 26,7 7,29 25,0 21,8 32,7 37,0 4E 26,0 34,0 22,9 3,26 22,9 42,6 5E 28,2 16,7 18,6 7,7 20,0 21,4 Escolas Municipais 1M 31,7 43,5 50,5 15,5 33,3 40,5 2M 30,7 38,5 23,5 31,3 26,0 31,4 3M 37,9 36,8 13,2 32,0 18,8 23,8 4M 21,9 16,5 40,2 16,3 26,8 26,7 5M 17,7 19,3 37,0 12,4 20,9 27,9 6M 11,4 17,7 16,0 29,0 30,6 7,1

Fonte: Base de Dados do Censo Escolar/SEE/SC – 1997-2002. (*) Número não informado

Conforma tabela anterior, entre 1998 e 2002, as escolas apresentaram indicadores de reprovação escolar significativos. Em 1998, seis das onze escolas estudadas apresentaram índices superiores a 30,0%. Em 2001 e 2002, cinco escolas

apresentavam as mesmas tendências no perfil de reprovações. Em 2002, três atingiram mais de 40,0% de reprovações nas quintas séries.

Durante três anos, no período observado, as escolas estaduais, 1E e 2E apresentavam indicadores superiores a 40,0%. Especificamente na 1E, o número de reprovações atingiu 81,8% (66 alunos) em 1997 e 55,2% (54 alunos) em 2000, uma redução pouco significativa considerando o número de alunos que reprovaram e o índice mediano de reprovações nas escolas estaduais em Florianópolis, 16,79%. Em sentido oposto, as escolas 4E e 5E reduziram, em 2000, o percentual de reprovações de 22,9% para 3,3% e de 18,6% para 7,7%, respectivamente (Tabela 7). Na escola estadual 2E foram reprovados, de 1997 até 2002, duzentos e sessenta alunos nas quintas séries, uma média de 44 alunos para cada ano letivo (Ver Tabela 1, em anexo).

As escolas municipais selecionadas também se destacaram pelo significativo número de reprovações. A escola municipal 1M, apresentou de 1997 até 2002, cinco índices acima de 30,0% de reprovações, sendo três superiores a 40,0. Já na escola 2M, quatro valores percentuais de reprovação eram superiores a 30,0% (Tabela 7).

Os resultados das reprovações quando analisados com base nos números absolutos impressionam. Na tabela 1, em anexo, o número absoluto de reprovados, em 2000 e 2002, nas escolas estaduais de Santa Catarina, representava quase o dobro do número encontrado nos sistemas municipais de ensino. Em Florianópolis (Tabela 2) foram reprovados, na quinta série, em 2002, setecentos e sessenta e oito (768) alunos originários das escolas estaduais e, quatrocentos e sete (407) nas municipais. Somados representavam cerca de mil cento e setenta e cinco (1.175) alunos reprovados no ano de 2002. No período estudado, 1997 – 2002 quase 10 mil alunos foram reprovados nas quintas séries nas escolas dos dois sistemas de ensino.

Mais do que o número de reprovações, as onze escolas apresentaram variações expressivas nos seis anos observados (1997 – 2002). Na 1M o percentual de reprovações, em 1999, chegou a 50,5%. No ano seguinte baixou para 15,5 %. Na escola 6M a variação entre os anos 2001(30,6%) e 2002 (7,1%) foi de 23,5%. A escola estadual 1E apresentou em três anos consecutivos (1997 – 1999) decréscimo no número de reprovados: 81,8%; 41,0% e 19,5%. Já a escola municipal 4E apresentou movimento contrário: 3,3% em 2000; 22,9% em 2001; e 42,6% em 2002 (TABELA 7).

Algumas hipóteses iniciais foram levantadas para que pudessem explicar as variações observadas. Na primeira, pressupôs-se que não havia políticas de intervenção a longo ou médio prazo em nível de sistemas de ensino. Especificamente, em cada escola os projetos caso existentes não duravam mais do que um ano letivo. A segunda referiu-se a multiplicidade de regulamentações adotadas no período estudado, que atingiu alunos, professores e as formas de organização das avaliações nas escolas. A hipótese era que tais mudanças dificultaram a compreensão das informações tanto por professores quanto por alunos, promoveram insegurança, dúvidas, alterações nas formas de registro e nos parâmetros avaliativos.

2.2.1. O peso das disciplinas escolares na reprovação escolar

Historicamente as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática têm sido responsabilizadas pelo elevado número de reprovações no Ensino Fundamental. No entanto, os relatórios sobre os resultados das avaliações por disciplina apresentaram outros indícios importantes para compreensão das reprovações nas quintas séries.

A diversidade de disciplinas, conteúdos e professores foram apontados como algumas das dificuldades que os alunos, que entram na quinta série do Ensino Fundamental, apresentavam. Compreender e corresponder às metodologias e critérios de avaliação de cada professor, entre sete e dez disciplinas, não se constituiu em tarefa fácil para os alunos. Estes precisavam estar atentos aos critérios e julgamentos, as formas metodológicas, as exigências e características de cada professor. Pelas informações coletadas não havia uma lógica linear, pré-estabelecida, que determinasse e regulasse as aprovações por disciplina. Observaram-se variações quanto às disciplinas responsáveis pelas reprovações em cada escola ou turma.

Essas disciplinas vinham mantendo nas escolas graus de importância diferenciados, hierarquias historicamente instituídas nos currículos das séries finais do Fundamental, demonstrado na carga horária, na organização dos conteúdos, nos processos de avaliação de cada disciplina. As consideradas mais importantes apresentavam carga horária maior. Mesmo assim os resultados finais de aprovação ou não, variaram de acordo com cada escola, professor ou aluno.

Os resultados finais de avaliação dos alunos, entre 2000 e 2003, em quatro das escolas municipais pesquisadas foram sistematizados (Tabela 13) e ajudaram a

demonstrar que várias disciplinas se revezavam como as responsáveis pelo maior número de reprovações, em contraposição ao consenso instituído que considerava a disciplina de Matemática a culpada pelas reprovações nas escolas. Em lado oposto figuravam as disciplinas de Educação Física e Educação Artística com menor peso nas reprovações. Entretanto, ao deixarem-se de lado as generalizações, observou-se que haviam singularidades nas escolas pesquisadas.

Tabela 13 – Indicadores das reprovações por disciplina nas quintas séries das escolas municipais 1M/2M/5M/6M em Florianópolis– 2000-2003

Escola 1M

Escola 2M

Port. E. Art. Matem. Geograf História Ed. Fís. Lg. Est. Ciências Nº de Reprovados

2000 96,0 37,5 85,7 87,5 76,7 48,2 67,8 66,0 56 2001 87,5 31,2 91,6 81,2 60,4 20,8 20,8 70,8 48 2002 71,4 53,0 93,8 75,5 83,6 67,3 30,6 71,4 49 2003 82,9 34,04 63,8 76,5 57,4 10,6 36,1 44,6 47

Escola 5M