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A ABORDAGEM QUANTIDATIVA NO ESTUDO DAS REPROVAÇÕES E INTERRUPÇÕES ESCOLARES

2.1. Os números da reprovação escolar: quando a média oculta a realidade

A expansão do número de vagas necessárias à inclusão de alunos na Educação Infantil e Ensino Fundamental, ocorrida na década de 1990, foi realizada, quase que exclusivamente, em nível municipal. Segundo Davies (2003, p. 447), essa evolução se deveu ao processo de municipalização do ensino ocorrido nacionalmente.

O aumento das matrículas nas redes municipais de ensino em Santa Catarina, nos últimos dez anos, mostrou essa tendência. Em 1992, estavam matriculados no Ensino Fundamental, em Santa Catarina, 584 mil alunos no sistema estadual e 208 mil nos municipais. Em 2002, eram 480 mil matriculados em escolas estaduais e 407 mil em escolas municipais. O maior número de matrículas no Fundamental encontrava-se nas primeiras e quintas séries. Entretanto o número de matriculados nas quintas séries era maior do que o das primeiras séries. Representavam cerca de 140 mil alunos, enquanto nas primeiras foram matriculados 135 mil alunos (SANTA CATARINA, 2002). Essas modificações exigiram reestruturação física e humana dos sistemas de ensino municipais. Todas as escolas estudadas passaram, nos últimos cinco anos, por ampliações, algumas inclusive dobrando sua capacidade de vagas.

Em Florianópolis, o acréscimo no número de matrículas nas escolas municipais, no Ensino Fundamental, desde 1997, foi de cerca de 5,0%/ano, desconsiderando a Educação Infantil e a EJA (portadores dos maiores acréscimos de matrículas municipais) (SANTA CATARINA, 2002).

No Brasil, em 2001 e 2002, as primeiras e segundas séries apresentaram os maiores índices, em números absolutos, de aprovações, reprovações e transferências. As quintas séries também assumiram lugar de destaque nas matriculas (2º lugar), nas

reprovações (3º lugar), interrupções (1º lugar) e transferências escolares (4º lugar), conforme mostra o quadro a seguir.

Quadro I – Demonstrativo da situação escolar por série – Brasil - 2001-2002

Classificação Matriculados Aprovados Reprovados Evadidos Transferidos

1º Lugar 1ª série 1ª série 1ª série 5ª série 1ª série

2º Lugar 5ª série 2ª série 2ª série 1ª série 2ª série

3º Lugar 2ª série 3ª série 5ª série 6ª série 3ª série

4º Lugar 3ª série 4ª série 3ª série 7ª série 5ª série

Fonte: MEC/INEP/SEEC, 2001, 2002.

O número de reprovações escolares em 2001 no Brasil, de primeira a oitava série apresentou uma média de 12,0%. No entanto, era necessário olhar com reserva a divulgação de indicadores percentuais (números relativos) já que, os percentuais agregavam, muitas vezes, números absolutos expressivos. Segundo Sposati (2000, p. 24), o número relativo “esconde vidas humanas e camufla a extensão dos números absolutos”, por isso era preciso ter clareza dos limites analíticos que continham. No caso citado anterior, os 12,0% de reprovações significavam, em números absolutos, cerca de três milhões e novecentos mil alunos. Esses quase quatro milhões de alunos reprovados, em termos absolutos, excederam o de todos os alunos matriculados, em 2002, na Educação Básica na maioria dos estados brasileiros. Só foi comparativamente menor ao número de matriculados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Representavam à somatória de matrículas na Educação Básica de todos os estados da região centro-oeste (BRASIL, 2002).

Nacionalmente, de 1997 a 2001, a média das reprovações na 1ª série representaram 15% (900 mil alunos), e na quinta série 10% (500 mil alunos), enquanto a taxa de interrupção escolar representou cerca de 12% (600 mil alunos) (BRASIL, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001).

O número de reprovações consideradas por região e série apresentava diferenças. As primeiras e segundas séries do Ensino Fundamental destacaram-se nas regiões do Norte e Nordeste e as quintas séries ocupavam o terceiro e quarto lugares em números absolutos. Nas regiões sul, sudeste e centro-oeste o maior número de

alunos reprovados no Ensino Fundamental estava nas quintas séries. Essa concentração supunha uma maior disponibilidade de acesso às escolas de quinta a oitava séries, ocorrida após a década de 1980. A maior oferta de vagas possibilitou o acesso à escola de crianças de classes populares mais suscetíveis à exclusão escolar, entretanto não conseguiu garantir-lhes a permanência. A reprovação e a interrupção, como reguladores dos processos de avaliação, constituíram-se num dos elementos que dificultou a permanência dos alunos na escola. Os números expressivos da interrupção escolar nas quintas séries, mostrados no quadro I, corroboraram com esta hipótese. Por isso as primeiras e quintas séries apresentaram um fluxo de alunos irregular e acumulado. (BRASIL, 2002).

Essa situação escolar nacional mantinha certa similaridade a ocorrida em Santa Catarina, entretanto, mostrou especificidades. Em 2001, no Estado de Santa Catarina as quintas séries ocupavam o 5º lugar em número de aprovados e a 2ª posição em número de reprovados (com uma diferença de um mil e duzentos alunos em relação às primeiras séries). Em 2002, o número de reprovações nas quintas séries ocupava o 1º lugar nas escolas municipais e estaduais no estado (BRASIL, 2001, 2002).

Entretanto, de 2000 até 2002 (Gráfico 1) os dados mostraram tendência de decréscimo nos índices de reprovação nas primeiras séries e aumento nas quintas séries, tanto nas escolas estaduais, como nas municipais. Representavam cerca de vinte mil reprovados/ano no sistema público de ensino em Santa Catarina (Tabela 1, em anexo). Era como se todos os alunos das 45 escolas estaduais situadas em Florianópolis fossem considerados reprovados. Essa tendência indicou que as quatro primeiras séries haviam atingido regularidade no fluxo de entrada e saída de alunos, enquanto o gargalo, antes situado nas primeiras séries, deu lugar às quintas séries com a maior retenção de alunos, por reprovações ou por interrupções escolares. O contingente de alunos que ficaram retidos na quinta série aumentou o número de matrículas no ano subseqüente.

Gráfico 1 - Índices comparativos das reprovações escolares entre escolas estaduais e municipais de Ensino Fundamental em Santa Catarina – 2000-2002

Fonte: Base de Dados do Censo Escolar/SEE/SC - 2000-2002.

No município de Florianópolis a tendência de redução nos números de reprovações e interrupções nas escolas estaduais e municipais no Estado foi a mesma verificada para o Estado de Santa Catarina, conforme a Tabela 2, em anexo. Nas primeiras séries ocorreram quedas acentuadas nos índices da reprovação escolar de 1997-2002, contrário ao movimento observado nas quintas séries onde esse número se elevou superando os observados na 1ª série depois de 2000. Nas escolas municipais, desde 1998, o número de reprovações nas quintas séries foi comparativamente maior do que os encontrados nas primeiras séries (Ver Tabela 2, em anexo, e o Gráfico 2). 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 2000 2001 2002

Esc. Est aduais de S. Cat ar ina 1ª sér ie

Esc. Municipais S. Cat ar ina 1ª sér ie

Esc. Est aduais de S. Cat ar ina 5ª sér ie

Esc. Municipais S. Cat ar ina 5ª sér ie

Gráfico 2 - Índices comparativos das reprovações escolares entre as escolas estaduais e municipais em Florianópolis – 1997-2002

Fonte: Base de dados do Censo Escolar/SEE/SC - 1997-2002.

O perfil da reprovação escolar nas escolas estaduais e municipais apontou dados significativos e indicaram diferenças nas duas redes de ensino, em Florianópolis. Nas escolas públicas estaduais, especificamente nas quintas séries do Fundamental, entre 1997 e 2002, observou-se que cerca de 40,0% dessas instituições de ensino mantinham reprovações superiores à média nacional e à média estadual. Também, mostrou-se significativo o percentual de escolas que vinham desde 1997 mantendo índices de até 60,0% de reprovações nas quintas séries. Uma das escolas estaduais reprovou mais de 80,0% de seus alunos nas quintas séries. Em 2000 três escolas estaduais apresentaram índices acima de 40,0% . Já em 2002 cinco escolas apresentaram a mesma tendência. Foi possível observar, no Gráfico 4, mudanças no perfil das escolas que indicaram redução no número de reprovações nas quintas séries. No entanto, algumas escolas ainda apresentavam índices elevados (acima de 40,0%), números inexistentes em 2001. 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Esc.Est aduais 1ª série

Esc.M unicipais 1ª série

Esc.Est aduais 5ª série

Gráfico 4 -Perfil das reprovações escolares nas 5ª séries em escolas estaduais em Florianópolis – 1997-2002

Fonte: Base de Dados do Censo Escolar/SEE/SC - 1997-2002.

Nas escolas municipais os índices de reprovações em relação ao das estaduais eram menores e apresentaram maior regularidade. De 1997 até 2002 o número de escolas que indicaram índices de reprovações acima de 20,0% oscilou entre nove e doze. As com índices entre 40,0% e 60,0% eram em menor número se comparadas com as escolas estaduais. Em 2000 duas escolas apresentaram índices maiores de 40,0%, e, em 2002 somente uma manteve esse índice de reprovação (Gráfico 5). Esses números não indicavam regularidade e oscilavam a cada ano demonstrando que as escolas apresentavam caráter singular. Essa irregularidade sugeria a inexistência de ações para redução dos indicadores de reprovação escolar e alteração dos perfis das escolas.

Gráfico 5 - Perfil das reprovações nas 5ª séries em escolas municipais em Florianópolis – 1997 – 2002

Fonte: Base de Dados do Censo Escolar/SEE/SC - 1997-2002

0 10 20 30 40 1997 1998 1999 2000 2001 2002

N úm ero de esc o las

0 ,0 - 2 0 ,0 2 1,0 - 4 0 ,0 4 1,0 - 6 0 ,0 6 1,0 - 8 0 ,0 8 1,0 -10 0 ,0 0 5 10 15 20 25 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Número de escolas 0,0 - 20,0 21,0 - 40,0 41,0 - 60,0 61,0 - 80,0 81,0 - 100,0

As oscilações dos dados explicitados anteriormente podem ser melhor explicadas com base numa análise das singularidades de cada história escolar dos alunos, melhor explicitadas no capítulo III.

2.2. Buscando indícios nos dados estatísticos produzidos pelas escolas: