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BUSCANDO‐SE UMA ABORDAGEM AMPLA DA ADESÃO AO TRATAMENTO 

SUMÁRIO 

5 DISCUSSÃO 130 6 CONCLUSÃO

1.6 BUSCANDO‐SE UMA ABORDAGEM AMPLA DA ADESÃO AO TRATAMENTO 

Ao proceder a uma extensa revisão bibliográfica sobre o tema da adesão, Bertolozzi (1998) constatou importante produção no âmbito internacional, em comparação à produção científica nacional, apontando que preponderam as referências que imputam o abandono como de responsabilidade exclusiva do doente ou, no âmbito dos serviços de saúde. Como exemplo, Haynes & Dantes (1987) definem a adesão em termo do comportamento pessoal, que definiria a decisão de tomar a medicação, de seguir as prescrições médicas e mudar o estilo de vida. Da perspectiva dos serviços de saúde, o autor toma como exemplo a instituição que presta assistência, além de apontar o acesso à terapia medicamentosa.

Sumartojo (1993), na busca de compreender preditores de baixa adesão, os identificou a partir da observação e experiência profissional, alertando que os mais comumente utilizados são: idade, sexo e renda. Entretanto, aponta que estes não traduzem o fenômeno da adesão, ao excluir outras situações/condições interligadas às questões estruturais e operacionais dos serviços de saúde, às práticas de saúde e ao espaço geográfico.

Ampliando as observações anteriores, Bertolozzi (1998) menciona a necessidade de avaliar os processos que potencializam ou limitam a adesão ao tratamento, e considera fundamental conhecer aspectos de inserção social dos pacientes. Tal visão difere da correntemente divulgada, que relaciona a não adesão apenas às questões comportamentais e individuais que, em geral, tomam o doente como negligente em relação ao seu processo saúde-doença, considerando-se a questão social apenas como um atributo do indivíduo, como um fator a mais na cadeia de causalidade da doença, que apresenta igual peso em relação às demais variáveis que, conjugadas, numa somatória, teriam como resultado final e linear o abandono ou a adesão ao tratamento.

As interpretações, constatadas na literatura, em geral, pouco valorizam a determinação social. Assim, Bertolozzi (1998) aponta a necessidade de que sejam realizadas análises amplas, que permitam identificar a radicalidade da não-adesão. Nesse contexto, advoga que a adesão compreende uma complexa trama que inclui o lugar que o indivíduo ocupa na sociedade (sua inserção no processo de produção e

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INTRODUÇÃO

reprodução social); a concepção que o doente apresenta acerca da enfermidade e, portanto, suas atitudes em relação ao enfrentamento da enfermidade, além da forma como se organizam os serviços de saúde.

A seguir, apresentam-se algumas particularidades elencadas por Bertolozzi (1998), a respeito das percepções dos doentes com TB e dos trabalhadores de saúde quanto à adesão.

Para o doente, a adesão ao tratamento é percebida pela participação dos diferentes atores que participam do cuidado: a família e os trabalhadores da saúde. Estes podem apoiar o doente no enfrentamento do processo saúde-doença, fortalecendo-o na situação adversa, neste caso, a TB.

Para a autora, ainda, a adesão apresenta-se articulada aos processos que integram a vida das pessoas no cotidiano e “[...] concretiza-se em virtude do estabelecimento de um projeto que está vinculado à sua posição no processo de produção e de reprodução social” (p.181). A estes elementos, acrescentam-se outros, que se referem ao relacionamento com os profissionais de saúde na assistência, que deve promover respostas às necessidades dos doentes, e isto inclui a compreensão sobre sua inserção no trabalho. O processo de trabalho dos profissionais de saúde deve buscar entender “[...] o cotidiano do indivíduo, e buscar captar quais motivações, percepção e grau de autoconfiança que apresenta, para superar a situação de enfermidade e compreender o que valoriza perante a vida”. Isto revela o compromisso de se aproximar do outro e não vê-lo apenas como objeto de intervenção (Bertolozzi, 1998; p.196).

Assim, a adesão ao tratamento requer dos profissionais de saúde, segundo Sánchez, Bertolozzi (2009) e Queiroz, Bertolozzi (2010):

 Apreender-decodificar-reconstruir significados relativos ao processo saúde-doença, e

 Captar se o enfrentamento da tuberculose inclui a proposição de projetos de vida pelos enfermos.

Após as considerações apresentadas e com base na necessidade de ampliar o conceito de adesão ao tratamento, além da dificuldade de identificar instrumentos que adotem um conceito amplo da adesão ao tratamento, enfatiza-se a necessidade da construção e validação de marcadores, com potencial para o seu

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INTRODUÇÃO

monitoramento com maior acurácia a adesão ao tratamento. Portanto, o presente estudo buscou responder à seguinte questão: a prática dos serviços de saúde, no âmbito de Atenção Primária à Saúde, pode dispor de marcadores que auxiliem na detecção precoce de vulnerabilidades à adesão ao tratamento da tuberculose?

A finalidade da construção de um instrumento de monitoramento dos marcadores de adesão ao tratamento da TB é obter um instrumento confiável, com boas qualidades psicométricas, que funcione como sentinela para detectar vulnerabilidades na adesão dos doentes em tratamento. O instrumento que se apresenta permite aprimorar a abordagem da adesão ao tratamento, ao valer-se do referencial teórico da determinação social do processo saúde-doença e do conceito proposto por Bertolozzi, para sustentar projetos de intervenção, na APS, que produzam impacto desejado, com práticas qualificadas para responder às necessidades dos indivíduos/grupos sociais e contribuir para o controle da TB.

Esta ferramenta pode ser adotada pelos profissionais de saúde na operacionalização do cuidado e para o monitoramento dos doentes com TB. Destaca- se sua importância para a compreensão das dificuldades da adesão e para o delineamento de estratégias e intervenções que melhorem os resultados terapêuticos e a interação com os doentes e suas famílias.

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OBJETIVOS

2  OBJETIVOS