• Nenhum resultado encontrado

Ano de nascimento – 1953 Terminou o curso em 1974/75

[Célia, Fala sobre a tua experiência vivida na educação de adultos, a começar pelas razões dessa opção, conte as coisas que foram acontecendo, umas atrás das outras, episódios, momentos mais marcantes, até deixar a educação de adultos. Podes levar o tempo que quiser e fala de tudo o que achares importante]

Queres que te faça o historial, ora bem, eu sou do curso do magistério de 1974/75, o primeiro curso do Magistério da nova era, do após revolução de 25 de Abril. A minha primeira experiência de educação de adultos vem, precisamente, dessa fase, logo após o 25 de Abril houve, em Faro, algumas experiências de campanhas de sensibilização à alfabetização, e eu nessa altura trabalhei no Seminário, lembro-me que havia um curso que funcionava no Seminário constituído por indivíduos de raça negra e a minha primeira experiência foi aí. Isto foi a seguir ao 25 de Abril, eu era estudante no Magistério. Eu acabei o curso em 75, mas em 74 houve logo uma campanha de alfabetização, mas, com um cariz mais político, mais ideológico, muito ligado ao pensamento de Paulo Freire e aquela filosofia (…) ainda ontem, quando estava a pensar que me vinha encontrar contigo, hoje, estava a tentar recordar quem é que tinha organizado aquelas campanhas, mas não me lembro, mas, naquela altura, senti-me atraída, nunca tinha tido qualquer experiência em educação de adultos. Mas, houve uns cursos que se fizeram e isso ajudou muito. E, depois, quando fiz o meu trabalho como coordenadora concelhia, isso foi muito útil, essa filosofia do Paulo Freire, tudo o que estava subjacente, eu consegui levar um bocado para o terreno, porque, quando fui destacada, nesse tempo, não houve qualquer formação em termos de metodologia ou de técnicas de educação de adultos que nos apoiasse naquilo que íamos fazer. Enquanto estudante, sim, porque aí houve um curso coma metodologia de Paulo Freire em que estava subjacente a consciencialização, o diálogo, tudo isso e aí foi uma experiência muito interessante, enquanto aluna do Magistério (…) hoje comove-me lembrar esses tempos porque a pessoa com quem trabalhei, infelizmente já não está entre nós, uma colega nossa que faleceu, foi minha colega, foi ela que me levou para esta experiência, era a Benvinda,”hhh” e a primeira experiência que tive foi com ela, ela era Guia das Escoteiras e não sei se isso teria sido a partir daí, não sei. Se teria alguma coisa a ver com o Seminário, porque, posteriormente, eu estive

em Ferreiras, em Algoz, (…) ainda como estudante, a fazer voluntariado, a participar nestas campanhas de sensibilização à alfabetização. Essa experiência foi diferente, percebes, foi diferente, porque, ao contrário de hoje, aquelas pessoas estavam ali porque queriam, porque tinham uma grande necessidade de aprender. Eu, até tenho vergonha de dizer isto, eram indivíduos de cor, e eu, embora, diga com toda a força que não sou racista, naquela altura, eu era miúda, percebes, e quando entrei no Seminário e vi uma série de indivíduos de cor, talvez por estereótipos e preconceitos, senti-me um pouco, senti-me um pouco, qualquer coisa de estranha, mas, digo-te, foi um tempo tão bom, eu era para aquela gente, uma jovem quase intocável, eu tinha dezoito anos. Isto foi uma experiência muito interessante, sabes, eu também tinha vivido o 25 de Abril de uma forma intensa, com todos os ideais da revolução, era uma sonhadora, e ver que poderia desenvolver um trabalho com aquela gente, vinda de África, e quando começo a descobrir a filosofia de Paulo Freire, em que era como tudo o que eu sonhava, tudo o que eu acreditava, mostrar aquela gente, que apesar de eles não trem nada, não saberem ler nem escrever, sabiam outras coisas, tinham outras experiências (…) eu lembro-me uma das primeiras palavras, do método de Paulo Freire era a palavra “tijolo”. Tu estás a ver a emoção que era quando se tentava com aquela gente, que mal sabiam falar o português, e que tinham dificuldade de entender a palavra “tijolo” e tudo o que estava por trás, porque a palavra “tijolo” não era mais que um pretexto para descodificar tudo o que estava à volta disso. Provavelmente, sou capaz de me começar a perder. Depois, posteriormente, “hhh”, quando tentei (…) porque isto é assim, tudo o que somos como pessoas, somos como profissionais, não é? E nunca tentei ver a educação de adultos, a alfabetização das pessoas como uma forma de ensinar crianças, um adulto é um adulto, uma criança é uma criança, e penso, que se calhar, o que, também falhou, posteriormente, na educação de adultos foi quando, as pessoas, alguns alfabetizadores não tinham formação adequada, no caso, as monitoras, as bolseiras, na altura chamavam-se bolseiras, eram pessoas que eram contratadas na comunidade, faziam uma formação connosco e que iam trabalhar na alfabetização. Mas, vamos bater sempre nisto, havia pessoas excelentes, sem grande formação, eram miúdas com o 11º ou 12º ano, que desenvolviam um trabalho extraordinário. Havia outras que não, faltava-lhe sensibilidade, faltava-lhes formação e as coisas não eram, não corriam tão bem assim. Depois, esta questão de tentar na prática, consciencializar os adultos para mais qualquer coisa do que a alfabetização, já era um pouco mais difícil porque isso,

“hhh” tens tu que ter também um certo “feeling”, tens que saber conduzir as pessoas de uma forma que elas não se apercebam, quer dizer (…) e, há sempre uma coisa que eu sempre fui, entro nestas coisas, sempre, sem ter, nunca, nunca, um cariz partidário, sem me identificar com qualquer partido, porque se isso acontecesse era difícil. As pessoas tinham lá as suas opções e eu não tinha que me meter, isso era um bocado arriscado, tinha que se saber conduzir a questão, porque a Câmara tinha uma cor, a Junta podia ter outra e as pessoas eram livres (…)

[E a experiência em educação de adultos?]

Bem, pois, essa experiência durou enquanto fui aluna, depois, em 1975, acabei o

curso e fui trabalhar para o Zambujal, concelho de Alcoutim, freguesia de Vaqueiros, “hhh”, no ensino primário e aí não tive qualquer contacto com a educação de adultos, porque, aí, eu estava com as crianças, eu queria trabalhar com crianças, achava que essa era minha principal vocação, porque, se hoje voltasse atrás queria ser novamente professora do 1º ciclo. No Zambujal, aí, foi um deslumbramento, eu fui para o Zambujal nesse ano trabalhar numa escola que estava fechada. Eu pedi à Direção Escolar que reabrisse a escola, eu comprometi-me com a Direção Escolar que se reabrissem aquela escola eu me comprometia em concorrer em primeiro lugar para aquela escola. Eu sou de Giões que ficava ali perto, e interessava-me trabalhar perto de casa. A escola do Zambujal tinha estado fechada porque os professores não queriam lá ficar (…) Ainda hoje sou uma sonhadora, sempre gostei de ver tudo cor de rosa e pensei que, “hhh”, o que eu queria era trabalhar, ganhar dinheiro, sabia o esforço que os meus pais tinham feito para eu ir estudar para Faro, para tirar o curso, foi um curso em que eu me empenhei muito mas que eles também se empenharam muito para que eu conseguisse e que não me faltasse nada. E, então, fui para o Zambujal. A Direção escolar criou um segundo lugar, porque a concurso só ia um lugar. Foram a concurso dois lugares e eu fui com uma colega, essa colega com quem já tinha trabalhado na alfabetização (…) que infelizmente já faleceu (…) ela e as minhas duas sobrinhas (…) fomos para lá as duas trabalhar, porque havia gente, havia crianças suficientes para abrir duas salas. Eu fui à Direção Escolar pedir para criarem um segundo lugar, antigamente as coisas funcionavam assim, e o Diretor Escolar perguntou-me quantas crianças eram e eu respondi, “muitos” e ele disse “ Muitos, mas quantos?”, “ Sei lá aí uns cinquenta”. E criaram mais um lugar, não eram cinquenta, mas eram aí uns quarenta e pouco, eram bastantes alunos, porque Zambujal era um monte pequeno, mas abrangia crianças de todas as redondezas. Aí

nunca tinha havido qualquer trabalho em educação de adultos, ou seja, um trabalho estruturado, porque houve um trabalho com as crianças, mas, também houve com a comunidade, porque a comunidade também se envolveu na abertura da escola. A escola estava fechada, degradada e as pessoas ajudaram, a escola foi pintada, o pátio era um matagal, foi tudo arranjado pela comunidade, a Câmara não ajudou nada, tudo trabalho das pessoas e nosso, é claro. Eu pintei a escola, joca, eu pintei a escola, nessa época com as pessoas. Posteriormente, um dia, o diretor escolar foi lá ver, viu as carteiras pintadas, as paredes pintadas, a escola toda arranjada, e perguntou-me “ Como é que fez isto?”, eu disse “ Ah! Faço bailes na escola para arranjar dinheiro”, “Bailes? onde?” “ Aqui, na sala de entrada” “ Ai é? E como é que fez, a quem é que pediu autorização?” “Autorização? A ninguém, acho que não precisava de pedir, precisava?” Precisava, precisava, olhe eu não estive cá, não sei de nada, continue, continue” Estás a ver, antes era assim e também havia toda esta ingenuidade, eu tinha 19 anitos, sonhava que podia mudar o mundo, só tinha era de acreditar (…) A ideia que eu tive, sempre achei que foi boa, só que subjacente a isso estava uma série de formalidades, mas, olha, resultou, as pessoas pintaram a escola, ajardinaram o pátio, ficou tudo bonitinho, sabes, naquela altura, penso que nós não recorríamos tanto às Câmaras, não estávamos habituadas a isso, pensávamos que a escola era para as crianças da comunidade, então, a comunidade tinha que se envolver, era o espírito do 25 de Abril, naquela altura. Era o espírito do 25 de Abril (…) [ Hum…] A escola tinha estado fechada durante dois ou três anos, as crianças do Zambujal e dos montes próximos não tinham escola, as únicas escolas que estavam abertas eram as de sede de freguesia, Martinlongo, Giões, Vaqueiros, percebes, havia mais escolas no concelho, havia bons edifícios, mas estavam fechadas porque não tinham professores, “hhh”, naquela altura, felizmente para os professores, havia falta de professores, os lugares eram excedentes em relação ao número de professores, então, os professores podiam escolher os lugares. E, como eram lugares isolados os professores não queriam ir para lá, arranjavam todos os subterfúgios para escapar, pronto, se fossem colocados não iam, arranjavam atestados e essas coisas todas. Os professores chegavam lá, aquelas escolas, as escolas eram próprias daquela época, se o lugar não lhes agradava, não ficavam, sabes, havia, inclusive, uma declaração que as pessoas faziam, iam à Junta de Freguesia e diziam que não havia, naquele lugar, uma habitação condigna, a Junta passava a Declaração e os professores com base nisso, não ficavam lá. Era assim, naquela altura. Portanto, os professores chegavam

lá, deves calcular, alojamentos naqueles montes, era difícil, o que havia era um casebre onde se podia ficar, nada mais, mas, pronto, “hhh”, estive no Zambujal, um ano, depois, no ano seguinte, continuei no concelho de Alcoutim, mas vim para Giões, a minha terra natal, à minha escola primária, tudo escolas unitárias, (…) também, estive um ano em Giões, “hhh”,portanto, andei ali pelo concelho, entre Giões, Barrada, Martinlongo, e vou ter à educação de adultos (…) em 1984, fiquei dois anos como coordenadora concelhia e saí em 1986 (…) [Hum…] Sabes, havia em mim, um misto, entre o concelho de Alcoutim, “hhh”, isto, uma pessoa não se torna alcouteneja, nasce-se alcouteneja, por um lado, eu gosto muito do concelho de Alcoutim, eu gostava muito daquilo, mas, eu sentia que, sabes que, naquela altura não havia, sequer, uma escola secundária em Alcoutim, não havia nada, a única coisa que havia em Alcoutim era o 1º ciclo, eu na altura já era mãe, tinha um filho pequeno, e não havia um jardim de infância, não havia nada, na altura começava-se a falar na construção da Escola E. B 2,3 em Alcoutim, na altura não se chamava assim, era a Escola C+S, “hhh”, sabes, que também, estive ligada a esse movimento, aos primeiros contactos que houve nessa altura, enquanto estive na educação de adultos (…) não havia nada e como não havia nada, eu estava lá muito ligada à terra, muito ligada aos projetos, mas com aquela grande preocupação do que iria ser do miúdo, da educação do meu filho, se continuássemos lá, porque, nessa altura, tinham que se deslocar para Vila Real que era o sítio mais perto, para estudar, ou então ter que ir para um colégio ou qualquer coisa assim, “hhh”, e essa ideia não me agradava (…) de qualquer maneira ia tendo aquela experiências na educação de adultos (..) também tive outro destacamento na educação física, mas isso não me agradou muito, não gostei da organização daquilo, isto foi antes ainda de estar na educação de adultos, antes de 1984 (…) Sabes o que é que acontecia, eu acabei por te dizer à bocado, o que acontecia com aquele concelho, era um concelho onde os professores estavam de passagem, porque os outros, os poucos professores que eram de lá, a senhora professora, eram pessoas já com alguma idade e um pouco como a gente daquela terra, acomodados, que não queriam ouvir falar de grandes experiências, de coisas novas, era a Senhora Professora, que havia algumas que até eram de lá, mas tudo o que fosse experiências novas não estavam dispostas a aceitar, sempre que aparecia qualquer um destes cargos (…) olha, o diretor escolar pegava no carrinho e aparecia- me lá na escola, quando foi da educação física, apareceu-me lá o diretor escolar e disse-me, “Você devia aceitar isto, veja lá é uma pessoa jovem, é aqui do concelho,

precisamos, era muito importante que houvesse alguém aqui no concelho e não sei quê” . E com a educação de adultos também foi um pouco assim, eles queriam iniciar o processo de educação de adultos no concelho de Alcoutim e precisavam de alguém, e não era fácil. Mais uma vez, foi o diretor escolar que me foi convidar para aceitar esse cargo de coordenadora concelhia (…) provavelmente por tudo isto, ele já me conhecia e não era fácil encontrar no concelho uma professora que estivesse disposta a aceitar um desafio destes, educação de adultos, ninguém sabia o que era isso, tinha que ser alguém do concelho, porque os outros professores que conheciam o concelho que aqui já tinham sido colocados o que eles queriam era fugir daqui (…) o diretor escolar conhecia-me destas experiências, primeiro quando foi do Zambujal, quando me foi visitar à escola ver o que é que uma catraia andava a fazer, viu-me no Zambujal, depois viu-me nos outros sítios por andei, no concelho, porque nessa altura, nós éramos visitadas por eles, naquela função meramente administrativa, limitavam-se a ver o livro de frequência, e foi assim que fui para à educação de adultos, à Direção Geral de Extensão Educativa, era como se chamava na altura (…) [Hum…] Nessa altura fui coordenadora concelhia, acumulavam-se as funções, os professores não eram só coordenadores, eram também alfabetizadores. Os coordenadores, nessa altura não estavam dispensados das funções de ensino, olha, não sei se era assim ou se foi condição que impus, porque, para mim, foi sempre fundamental trabalhar no terreno, portanto dar aulas, dar alfabetização (…) Estive no curso de Martinlongo. Tínhamos cursos nas sedes de freguesia, em Alcoutim que era sede de concelho, Pereiro, Vaqueiros, em Martinlongo e em Castelhanos. Porquê Castelhanos? No meio disto tudo, havia cursos nas sedes de freguesia e aparece um lugarejo. Castelhanos é um monte da freguesia de Martinlongo, em que havia uma grande carga política, um monte com grandes características de esquerda e que, eles próprios, quando sabem que existem cursos de educação de adultos, são eles próprios que vêm ter comigo e a pedir escola de adultos para o monte. Era gente mais velha, não era gente jovem, mas com muito sentido político. Aí sim, aí sim, havia uma grande carga política, não me perguntes porquê, que não sei. Ainda hoje se mantém estas características dessa gente de Castelhanos, com muito espírito comunitário. O curso de Castelhanos funcionou na casa de um deles, ofereceu a sua casa de fora, sabes o que é a casa de fora, as habitações tinham entre duas a três assoalhadas, a primeira, mais perto da entrada, chamava-se a casa de fora,”hhh”, normalmente o mobiliário era uma arca, uma mesa, cadeiras, e eles diziam, puxa-se para ali a arca,

arranja-se um quadro, uma meia dúzia de carteiras daquelas que a Câmara tem, carteiras fixas, daquelas que associamos ao concito de escola tradicional, e pronto (…) A Anabela, era a monitora de Castelhanos, que acho que tu a conheces, essa moça está por Faro, na Segurança Social, uma vez encontrei-a e ela falou-me em ti, a Anabela Guerreiro. Essa moça foi monitora em Castelhanos e fez um trabalho muito bom, era uma moça com grande carisma, um grande entusiasmo, essa moça era muito boa, ela é de Martinlongo e deslocava-se ao curso que era ali perto (…) E, para elas, era excelente, para aquelas moças, fazer aquele trabalho de alfabetização era bom em todos os aspetos, ganhavam um dinheirinho, estavam ativas, aprendiam, “ hhh”, era isso que eu te queria dizer, havia umas moças que eram excelentes, mas, havia diferenças entre umas e outras, porque, isto é assim, ou tu tens uma grande empatia, és uma pessoa que sabe estar, com facilidade de comunicação, o resto, depois, se fores um bocado inteligente, uma pessoa perspicaz (…) depois, tínhamos reuniões sempre, de 15 em 15 dias e nestas reuniões, aquilo era, eu gostava também de estruturar as coisas, elas levavam as coisinhas organizadas e desde que elas quisessem chegavam lá e, “hhh”, agora, tu sabes, eu posso dar-te a receita de qualquer doce, mas se tu não tiveres vontade, não te aplicares, não fizeres a receita com amor, não experimentares uma, duas vezes, mais vezes, não sai certo à primeira. Com a alfabetização era a mesma coisa, tem de se ir fazendo, experimentando, aprendendo, mas, sempre com dedicação, senão, não vale a pena. Eu ajudava-as, dava-lhes o material, esclarecia sempre que preciso, estava sempre disponível, mas elas tinham de querer (…) de um modo geral, fizeram um bom trabalho, também temos de ver que eram jovens sem formação pedagógica, que estavam a ensinar pela primeira vez e quando precisavam recorriam a mim (…) era a única professora. Entre nós, também havia uma relação aberta, eu sempre tive também, uma forma de estar de me envolver com facilidade com as pessoas e todas elas, havia uma ou outra, mas aí vamos passar por cima, sem referir aspetos de ninguém, diria pessoas com menos perfil (…) eu sentia-me, em parte, responsável pelo trabalho de todas elas, mas, se não tinham perfil, eu não tinha culpa, não fui eu que as contratei, quer dizer, algumas sim outras não (…) algumas foram contratadas pela autarquia, quer dizer, havia um misto, eram indicadas pela autarquia e depois eu ia falar com elas e contratava-as, “hhh”, havia um misto, como deves calcular, naquela altura, tal como acontece hoje, se a autarquia tivesse alguém, se houvesse alguma influência, pois, sempre foi assim [Quem era o presidente?]

Era o Manuel Cavaco, foi o primeiro presidente da Câmara de Alcoutim a seguir ao 25 de Abril, “hhh”, independente de tudo o que se fale do Manuel Cavaco, eu não tenho nada a apontar-lhe, sempre me facilitou tudo, foi uma pessoa aberta, foi uma pessoa que me abriu as portas da Câmara e que, (…) não entrarei por outros aspetos, posteriormente, do que aconteceu, a única coisa que me interessa, neste caso, foi o que ele deu à educação de adultos. Deu-me sempre todo o apoio. Ele era uma pessoa que estava sensibilizada para aquilo que estávamos a fazer, apesar de em termos académicos ter apenas o 6º ano de escolaridade. Mas, curiosamente, algumas vezes o convidei para ir a sessões que organizávamos, ia sempre, tinha a modéstia de dizer às pessoas que nunca tinha tido grandes possibilidades de estudar, “hhh”, mas foi uma pessoa que colaborou bastante, claro muito menos do que depois nos anos seguintes, porque estávamos habituadas a muito menos recursos, improvisava-se, não era preciso aquela panóplia de fotocópias, que, posteriormente, se começou a utilizar nos

Documentos relacionados