• Nenhum resultado encontrado

Dia 13/12/2010 – 16 h

Local: Sala de aula da Escola de Stº António - Hortas, Vila Real de Stº António A Rosa nasceu em 1961. Acabou o Magistério em 1985

[Rosa, Fala sobre a tua experiência vivida na educação de adultos, a começar

pelas razões dessa opção, conte as coisas que foram acontecendo, umas atrás das outras, episódios, momentos mais marcantes, até deixar a educação de adultos. Podes levar o tempo que quiser e fala de tudo o que achares importante]

Foram quatro anos na educação de adultos que para mim foi uma experiência ótima, porque é assim, eu era ainda muito jovem, tinha acabado o Magistério. Acabei o Magistério em 1985 e comecei logo a trabalhar. Naquele tempo até ofereciam as escolas e nós escolhíamos, eu escolhi ir para a serra. Podia ter ficado aqui um bocadinho mais perto, mas não, quis ir para Junqueira, surgiu esta oportunidade e então quis experimentar, quis conhecer, porque não sabia nada de educação de adultos. Foi assim, eu saí do Magistério, fui trabalhar para a serra, fui colocada em Furnazinhas e estive lá dois anos. No ano a seguir eu venho para o Monte Francisco, ali perto, de Castro Marim e ai, a Marília perguntou-me se eu queria ter uma bolsa. Eu sabia lá o que era isso” uma bolsa”, ela esteve-me a explicar o que é que eu tinha de fazer e aceitei. Comecei por trabalhar no supletivo nocturno, no 2º ciclo e fui da Francês e gostei, gostei da experiência, eram moços de aí dezassete, dezoito, vinte anos, e todo aquele trabalho que nós desenvolvemos. Era uma maneira de trabalhar totalmente diferente, havia orientação, claro, porque eu, era a primeira vez que fazia aquilo, o Francês que eu sabia era o Francês que eu trazia do 12º ano e comecei por ensinar como eu tinha aprendido. Depois, veio alguém lá da Coordenação Distrital de Faro orientar-me, dizer-me como é que eu deveria trabalhar. Era interessante este trabalho e muito mais fácil que no 1º ciclo. O trabalho era muito prático, aqueles jovens trabalhavam quase todos na Restauração ou em lojas e toda aquela informação que nós íamos estudando do francês, os textos, as frases, era tudo relacionado coma vida deles. Era um trabalho muito prático. Para além disso, além do francês nós tínhamos ainda no currículo daquela disciplina, semanalmente, as sessões de leitura, aí, não era em francês, era a partir dos livros que a Marília levava. Eu e a Rosa Cabrita escolhíamos os livros e preparávamos as sessões de leitura, selecionávamos as frases, recortávamos, colávamos e fazíamos as sessões de

animação da leitura com eles. Ainda, há dois ou três dias, estive com essas fotografias de sessões de leitura nas mãos e pensava, ”oh pá! estas coisas tão engraçadas que nós fazíamos com aqueles moços de dezassete e dezoito anos” e que gostavam, os moços gostavam daquelas sessões. Eu lembro-me, depois, de ter passado esse ano, a Marília ter me convidado para a coordenação concelhia e, no ano seguinte, entrei para a equipa, ela era a coordenadora. Aí já tinha um CEBA, um cursos de educação de adultos, que dava à noite, mas, durante o dia, fazíamos outro tipo de trabalho, muito trabalho diferente na coordenação, de apoio aos cursos, preparar material, organizar atividades, reuniões, exposições, sei lá, tanta coisa. Eu, nesta altura trabalhava muito porque fazia das 9 h às 12 h e das 14 h às 17 h na coordenação e, depois, fazia alfabetização das 19 h até às 21 h, eu fartava-me de trabalhar, eu fazia horas a mais, era parva naquela altura (…) Não sei se a Rosa lhe falou nisso, nós tínhamos a biblioteca municipal que era, mesmo ao lado do gabinete da coordenação concelhia. Fazíamos atividades logo ali ao lado da coordenação. Quinzenalmente, tínhamos sempre atividades ali ao lado, comprámos uns panos brancos, era pano cru que eu cosia uns aos outros e forrávamos as vitrinas, que existiam a toda à volta na sala da biblioteca. Era por cima desses panos que nós colocávamos os trabalhos que as pessoas faziam, havia pessoas que faziam trabalhos de colagens, miniaturas em madeira, pessoas que faziam gravura, pintavam a óleo, ah! e, depois convidávamos o Jornal de Castro Marim, eles iam à exposição, faziam a notícia e, depois, publicavam. Uma vez, houve, uma senhora de Furnazinhas que tinha estado na Alemanha e em vários sítios, tinha aprendido a pintar a óleo e, então, ela tinha imensos quadros, eu tinha-a conhecido quando estive em Furnazinhas, e nós convidámos essa senhora para expor os seus quadros. O Jornal veio e, depois, colocou a notícia. Um dia aprece a senhora na Coordenação muito aborrecida com o comentário que vinha no Jornal à pintura dela, porque dizia que as cores “guerreavam”. Dizia ela muito indignada “ Mas quem é esse jornalista, o que é que ele sabe, para dizer que as cores guerreavam na tela, mas isso é o quê, quem é ele para comentar o meu trabalho”. A senhora ficou muito indignada, porque, na verdade, ainda me lembro, ela utilizava cores muito vivas e aquela pessoa do jornal que foi lá, ou sem ter conhecimento ou por achar aquilo feio escreveu que as “cores guerreavam” (risos) e ela ficou super chateada. Durante aquele tempo convidámos muitas pessoas que nós conhecíamos ali do concelho. Fazíamos exposições temáticas, sobre várias coisas, muitas vezes, era sobre o que aparecia. A nossa colega

Adelaide Rosa pintava a óleo, ela era de Vila Real, mas, foi lá, ela é de famílias ali de Furnazinhas, acabámos por convidá-la e ela fez uma exposição. Também convidámos um senhor que fazia miniaturas em madeira, para fazer lá a exposição, lembro-me, também, de um senhor que fazia aquele “falso vitral”, foi quando apareceu, aquilo era uma coisa tão vistosa, tão bonita e que ninguém conhecia. A pessoa foi e vendia. Muitas vezes, as pessoas que expunham os seus trabalhos, acabavam por vender. Se, havia compradores interessados elas vendiam (…) Depois, fazíamos os desdobráveis com a informação sobre os dados biográficos do artesão, da pessoa que expunha, o horário da exposição, essas coisas, andávamos a distribuir pela terra, mandávamos para os cursos pelas bolseiras, para toda gente do concelho saber. Ia muita gente visitar as exposições, muitos estrangeiros também. Outras vezes, as pessoas dos CEBAs quando vinham ao banco, quando vinha à Caixa, se sabiam, vinham visitar a exposição. Fazíamos estas exposições ali em Castro Marim porque fora, só fizemos uma que foi em Furnazinhas. Havia um professor que veio morar para Furnazinhas e nós perguntámos-lhe se ele queria dar um curso de alfabetização. Entretanto, ele trazia também a esposa e a esposa ficou lá a morar. Alguém lhe deu uma bicicleta a pedal velha e ele vinha na pedaleira, de Furnazinhas, que ainda são três ou quatro quilómetros, ao vale do Pereiro dar o curso. Ele era do norte, ali de uma terra pertinho do Porto. Entretanto, ele estava a fazer um curso qualquer relacionado com antropologia cultural ou qualquer coisa relacionado com essa área, e quando nós lhe falámos na exposição e em Furnazinhas, que era um sítio muito rico culturalmente e que havia naquela zona um local, um assentamento de casas que tinham desaparecido e que havia uma necrópole, lá não sei onde, ele interessou-se por aquilo. Interessou-se por aquilo e com as pessoas que andavam no curso à noite, iam ver esses sítios e fez um levantamento sobre isso. Portanto ele era professor nas Furnazinhas e tinha uma bolsa de alfabetização no Vale Pereiro e acho que fez um trabalho muito interessante com aquelas pessoas, não tenho muitos pormenores, só o visitei uma vez no vale Pereiro, mas, acredito que fez um trabalho completamente diferente. Ele tinha conhecimentos de antropologia ou dessa área, já não me lembro bem, já passaram tantos anos, fez esses levantamentos com as pessoas e recolheu muita coisa. Para além das recolhas ele pedia às pessoas que tinham as mós antigas, que tinham prensas antigas, que tinham aquelas coisas todas que usavam para a ceifa, as foices, aquelas coisas de cana que faziam para não cortar as mãos, ele arranjou aquilo tudo e fez uma exposição lá em Furnazinhas, nós

colaborámos com ele, que foi um sucesso. Foi o presidente da Câmara, foi um dos vereadores, vieram de Faro, vieram pessoas de vários sítios, encheu a sala. Aquilo foi uma coisa nunca vista em Furnazinhas, aquela gente toda, e, as pessoas de lá super contentes, todas orgulhosas. Quando viram muitas das coisas delas serem tão apreciadas, claro que elas não davam valor aquelas coisas, uma lata antiga em que guardavam o mel, que tinha herdado da avó ou da bisavó, que importância tinha para elas? Mas na exposição tinha outro valor, porque, as pessoas de fora achavam outra graça, aquilo. Muitas daquelas coisas eram uma preciosidade, mas elas não lhes davam valor. Os arados antigos, ele conseguiu recolher aquilo, fotografias que fez das tais necrópoles, pois, ele, quando saía da escola, lá ia pelos campos, falando com os pastores, a ver essas coisas, o assentamento das casas, a tirar fotografias. Foi muito interessante, fizemos desdobráveis, ainda há dias eu tive esse desdobrável nas mãos, que não sei onde o pus. Eu cheguei a ter os desdobráveis todos que reuni das exposições que fizemos, naqueles dois últimos anos, que estive na coordenação concelhia. As exposições serviam para mostrar a riqueza do concelho, de mostrar a arte das pessoas, mas, servia, também, para cativar as pessoas para os cursos de educação de adultos. Eu, acho que era uma estratégia que funcionava bem. Fazíamos um chá e convidávamos as pessoas para ir tomar um chazinho. Dizíamos às pessoas, “ Não se esqueça, hoje é dia do chazinho”. Fazíamos o dia do chazinho de quinze em quinze dias, alternado com a semana da exposição. Uma semana tínhamos a exposição, na outra, havia um dia que era “ o dia do chazinho”. Era uma forma de chamarmos as pessoas à coordenação concelhia, para falarmos com as pessoas, para criar maior relação com elas, muitas andavam nos nossos cursos e, algumas sempre levavam uma amiga com elas. As pessoas chegavam, bebiam o chá, conversavam, era mesmo só para falar. Depois, nós começávamos a conversar, e, encaminhávamos a conversa para falar sobre coisas antigas, tradições, gastronomia “Como eram os cozinhados que a sua avó fazia” “ Então, como é que era na Páscoa, no tempo da sua avó, como era cozinhado o jantar de Páscoa” “ E no natal, na noite de consoada. O que é que comiam”. Era por aí, e, depois, fazíamos os registos. Eu lembro-me, eu não sei se a Rosa ficou com isso, nós fizemos um levantamento, ao falar com as pessoas íamos fazendo os registos que iam ficando na gaveta, esse levantamento era sobre tradição oral, lendas, mezinhas, contos, provérbios, as rezas, mas, também, tinha sobre gastronomia, como era comemorado o natal aqui no nordeste. Porque, quando é que nós fazemos as filhoses, as empanadilhas, quando é? Agora, lá não é agora, é

no carnaval, porque o que é comemorado, aqui nesta zona da serra, não é o natal, é o carnaval, o Entrudo. É o Entrudo que é muito mais comemorado, é quando matam os galos, é quando fazem as filhoses. O Natal é pouco comemorado, o Natal é mais a matança do porco, juntar a família, fazer as chouriças. E o Entrudo é, então, quando elas faziam as filhoses e as empanadilhas. Eu estive lá dois anos em Furnazinhas e era assim, a quadra mais comemorada, há 20 anos, era, exatamente, o Entrudo. O Entrudo é que era mais valorizado, era quando as pessoas se “enfarrachonavam”, como elas diziam e iam pregar partidas às casas dos vizinhos, as senhoras mascaravam-se e iam de casa em casa a pregar partidas, vestiam-se com roupas velhas, com um pano na cara e iam pregar partidas umas às outras. Nesta altura, quando estava na educação de adultos, íamos para a serra tirar fotografias e fazer registos desta tradição. Estas tradições, estes registos, depois, iam para a exposição que organizávamos quinzenalmente (…) E, no dia da inauguração da exposição, havia sempre um beberetezinho para as pessoas que vinham. Quando não havia exposição as pessoas vinham perguntar, “ então quando é que há outra exposição?” “ Então, não voltam a fazer?” (risos). Foi muito interessante, tanto dessa parte das exposições como dos cursos que havia, alfabetização, socioeducativos como corte e costura, arraiolos, bordados, vários. Havia a animação das bibliotecas que nós, também, orientávamos as pessoas que estavam lá nessas bibliotecas. Aquilo seria feito, sei lá, quinzenalmente as tais reuniões com os bolseiros dessas bibliotecas de pequena comunidade que ficavam sedeadas nas escolas ou nos clubes. Havia em vários sítios, nós tínhamos uma biblioteca de pequena comunidade na Junqueira, acho que era lá no clube local, tínhamos uma aqui em Castro Marim, no clube Desportivo de Castro Marim, tínhamos em Odeleite, havia várias. E, depois, para além disto, ainda tínhamos as sessões de animação sociocultural que organizávamos para todo o concelho, principalmente, nos locais onde havia cursos de alfabetização ou cursos socioeducativos. Lembro-me de se ir à noite passar filmes a determinados montes, lá iam, havia, também, um grupinho de teatro, que era dinamizado pelo Pedro Lobato que agora é nosso colega, que formou um grupo de teatro em S. Bartolomeu e, depois, iam pelos montes representar, com aquele grupinho. Houve coisas muito interessantes, lembro-me dos finais de anos letivos que se fazia uma grande exposição e toda a gente colabora na exposição de todos os cursos, com os trabalhos feitos ao longo do ano. Depois de ter saído da educação de adultos, eu continuei na educação de adultos porque, depois, fiquei como monitora de cursos

socioeducativos, dei arraiolos, dei artes decorativas, fiz várias coisas (…) [Onde?]

Na Junqueira, em S. Bartolomeu, no Azinhal, isso, no concelho de Castro Marim, continuei ainda dois ou três anos como monitora, ainda no tempo da Marília como coordenadora de Castro Marim. Depois, entrei aqui para a Delegação Escolar de Vila Real de Stº António e aí é que deixei de dar esses cursos, mas tive pena de deixar. Portanto, isto, ora, estive na educação de adultos em, a minha filha nasceu em 1986, estive desde 1987 a 1991, na educação de adultos. A princípio era tudo novidade, eu não sabia nada sobre o trabalho com adultos, no Magistério nunca tive qualquer informação sobre Paulo Freire, sobre alfabetização, animação sociocultural junto de comunidades, não fazia a mínima ideia da importância que, ações como aquelas, que nós desenvolvemos, teriam tanta importância para as pessoas. Depois, tivemos formação e havia muitas ações de formação que eram organizadas pela Distrital. Eu lembro-me de estarmos em Vale da Telha, de estarmos no Solar das Laranjeiras ali ao pé de Vilamoura, em Faro, também, fizemos algumas formações, naquele hotel na praia de Faro. Nós, até tínhamos bastante formação, a nível das bibliotecas, de animação da leitura, sobre Paulo Freire, sobre alfabetização, desenvolvimento regional, muita coisa. Aquelas formações, para mim, foram óptimas, eu aprendi imenso, era muito jovem na altura, teria uns vinte e poucos anos e queria aprender, aprender, depois, era tudo muito novo para mim, coisas que eu nunca estudara, nunca ouvira. Eu aprendi, pronto, outras pessoas, se calhar, tinham mais conhecimentos do que eu, tinham mais experiência, se calhar, não sei, mas, para mim foi muito enriquecedor, aprendi bastante. Aprendi a fazer as sessões de leitura e depois chegava a Castro Marim com aquelas ideias e coma Rosa, ali levávamos de volta dos textos. E chegámos a fazer, não só para as pessoas que estavam em alfabetização, mas, também, para aqueles dos cursos socioeducativos. Nós íamos, eu a e a Rosa, aos cursos socioeducativos, levávamos as folhinhas, como tínhamos aprendido, púnhamos as pessoas a ler, fazíamos a exploração, o debate e, depois, fazíamos a parte de escrita criativa, era muito giro. Ainda hoje utilizo esta técnica com os meus alunos na primária. Olha, eu aprendi bastante, é das coisas que guardo boa imagem da educação de adultos, daquele tempo, é das formações. Não era só a novidade de serem coisas novas, também o ambiente era bom, as pessoas davam-se todas muito bem. E, depois, eu não tinha experiência de participar em ações de formação, fiz o Magistério e as aulas não eram nada assim. Vou fazer aquela formação em educação

de adultos e vejo que os formadores eram nossos colegas, que havia muita proximidade, que havia uma relação muito boa, e isso, era muito engraçado (…) Ainda me lembro de uma formação do Prof. Libertário sobre Jornalismo, sobre a melhor forma de trabalhar a informação, porque nós, houve uma altura em que tentámos editar um pequeno jornal local, mas, não resultou, saiu umas quantas vezes e acabou. Já não me lembro porquê, sei que aquilo implicava termos de compor o jornal, fazer os textos, tirar fotocópias, tínhamos que ir à Câmara, não tínhamos fotocopiadora, começaram a levantar problemas na Câmara e acabámos por deixar. O que fazíamos muito, era desdobráveis, com informação diversa, sobre a alimentação, sobre a hipertensão, sobre, “hhh”, chegámos a fazer muitas coisas assim, para passar informação às pessoas. Estes desdobráveis eram distribuídos em Castro Marim e também eram distribuídos pelos nossos cursos, os bolseiros, quando vinham à Coordenação, levavam e distribuíam lá. Ou quando havia uma sessão de animação sociocultural quando iam passar um filme, ou se ia lá o Pedro com o grupo de teatro, levavam informação para distribuir pelas pessoas [Quem era o Pedro?]

O Pedro era um bolseiro nosso que recebia uma bolsa para dinamizar um grupo de teatro, era uma bolsa que não sei quem pagava, se era a Câmara, se era a Coordenação Distrital, que eu quando trabalhei, quando tive o primeiro contacto com a educação de adultos, a bolsa vinha de Faro, aquilo, também, era aí uns dez contos. Era uma coisinha assim, mas, pronto. Mas era um trabalho que a gente fazia por gosto, a bolsa não era tão importante assim, fazia jeito, lá isso fazia, mas trabalhar em educação de adultos era compensador por causa das pessoas, da maneira como viam aqueles curso e como nos viam a nós. As pessoas gostavam de nós, tinham-nos respeito. Aquilo era um trabalho diferente, trabalhar naquele tempo, na educação de adultos era outra coisa. Sabes porque digo isto, porque eu, depois, voltei a trabalhar aqui, em Vila Real, na educação de adultos. Também, dei um curso socioeducativo, aqui em Vila Real, não me lembro, se foi Arraiolos, se foi artes decorativas, passados dois ou três anos de ter saído da coordenação de Castro Marim e, também, dei formação cívica e já não foi igual, já não foi a mesma coisa, porque, era diferente. Eu chegava ali e as pessoas não estavam com disposição de me ouvir, porque já vinham cansadas, depois, era sempre à última hora, quando acabavam os cursos, era à noite, as pessoas já estavam cansadas, também tinham mais formação, se calhar também tinha outras coisas mais apelativas que as pessoas na serra, não tinham. Na serra, nós chegávamos lá e as pessoas ficavam embevecidas a ouvir a gente ou a olhar para um

filme que, às vezes, não era nada de especial e aqui não, as pessoas não reagiam da mesma maneira, era diferente, muito diferente. Não sei como é que era com as pessoas que andavam na alfabetização, mas, nos cursos socioeducativos, aqui as pessoas, eram diferentes das pessoas da serra (…) [Cursos socioeducativos ou

alfabetização?]

Eu preferia os cursos socioeducativos, porque sempre gostei muito dos trabalhos manuais e quando saí da coordenação concelhia, foi a maneira de continuar ligada à educação de adultos. Como gostava muito daquilo que sabia fazer e sobrava-me tempo, acabei por ficar como bolseira, ainda estive três anos a dar este cursos. Ah! Uma coisa engraçada, eu não era só monitora, também, era educanda, naqueles cursos socioeducativos que eu não sabia, também, estive como educanda, eu dava os tais cursos de Arraiolos, de pintura, da escama de peixe, mas, depois, havia coisas

Documentos relacionados