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No percurso da pesquisa aprofundei o contato com as danças circulares, ora por meio da disciplina Seminário Avançado II: Dança, Corpo e Educação Somática15, ora

pelas diversas rodas dançadas com os parceiros do grupo de pesquisa Laborarte. Cabe destacar a tese da Profª Drª Luciana Esmeralda Ostetto, Educadores na roda da dança: formação-transformação, que fora de grande valia para o aprofundamento teórico sobre o assunto.

Por conseguinte, todas as reflexões sobre o assunto e a própria dança circular foram parceiras constantes durante as trinta e três oficinas práticas realizadas na escola. Compartilhadas em diferentes momentos das oficinas, as reflexões e a dança fizeram

15 Disciplina cursada na Faculdade de Educação da Unicamp sob responsabilidade da Profª Drª Márcia Strazzacappa Hernández no 1º semestre de 2015.

circular a energia do grupo, esquecermos as diferenças e vivenciarmos momentos em que todas as mãos se uniam e dançavam.

Considero o grupo de PEA como um agrupamento que contempla uma gama diversa de pessoas, visto que nele se encontram professores que estão iniciando a carreira, outros já aposentados, trabalhando no segundo cargo, professores com diferentes formações - como pontuado anteriormente, quase todas as áreas têm representantes no grupo -, além de pessoas de diversas cidades da grande São Paulo e de várias regiões da capital, com idades que vão dos 30 aos 69 anos. Já outros agrupamentos, como as turmas, por exemplo, contemplam as mesmas faixas etárias e alunos que moram nas imediações da escola.

Ao colocarmos todos na roda das danças circulares as diferenças eram esquecidas e todos buscávamos ali uma unidade, como diz uma das danças que mais se fez presente, a “Zum Gali Gali”, em aramaico antigo “Somos todos um”, dança que me fora compartilhada pela minha orientadora e que transformou uma canção dos trabalhadores rurais, ao compartilhar a ceifa da terra, em movimento circular.

Enquanto mergulhava no movimento das rodas pensava e pedia internamente para que tudo transcorresse bem e que a energia do grupo convergisse para uma experiência potente com a dança naquele dia. Saliento também que em muitas rodas agradeci pelo grupo que compartilhava comigo aqueles momentos na formação ou pela oficina já realizada.

Encontro nos registros algumas reverberações com relação às danças circulares. Trago um trecho do registro da Professora Marcela: “Zum Gali Gali Gali, Zum Gali Gali... Como esquecer esta combinação de sons que nos chama a unirmos numa dança circular onde o elo não pode se quebrar? Nesta dança somos todos um, quando, e se o elo se rompe, começamos a andar em círculos, desconexos, talvez procurando a união desfeita”. Retorno ao diário de bordo e encontro uma passagem em que durante a roda uma professora saiu para atender o celular e algo foi tomado da energia do grupo, de forma que a roda não girou. A professora não parava de falar em tom alto e não preciso comentar que naquele dia nossos passos não se encontraram, o que me trouxe uma profunda insatisfação. Deixei os comentários para o próximo encontro.

No encontro seguinte, repeti a mesma dança e, após realizá-la, comentei com o grupo que esta teria sido bem harmoniosa e que na semana anterior tivemos uma roda conturbada, pois nossa energia havia sido desfocada. O grupo não foi muito receptivo aos comentários, mas reconheceu que esta roda fora mais agradável.

Por outro lado, lembro-me de uma passagem quando a Professora Nalva que, por sinal, sempre resmungava e reclamava das propostas nas oficinas – e, embora com algumas complicações com relação à saúde, nunca deixou de vivenciá-las –, veio eufórica me contar de uma amiga que havia encontrado e a convidou para participar de rodas de danças circulares. A professora respondeu entusiasmada: “Ih, já faço toda quinta-feira com o meu CP16”. Também em certa ocasião uma professora me mandou uma mensagem

ao ver a presença da dança circular na vinheta de final de ano de uma grande emissora de televisão, dizendo: “A dança circular está em alta”. As reverberações encontradas pelas educadoras e seus entusiasmos ao se deparar, nas mais diversas formas, com o proposto na formação em ecos pelo mundo, fortaleciam a convicção da importância daqueles momentos e me davam forças para prosseguir.

Bachelard (1993, p. 242) comenta a respeito do convite à afetividade do redondo. Acredito que as rodas de danças circulares compartilhadas convidavam a um primeiro toque, à troca, à compreensão e ao respeito à diversidade presente em nosso grupo. Essa afetividade foi construída durante o processo de formação. Trago uma imagem do centro feito para a primeira oficina com os professores:

16 CP = Coordenador Pedagógico.

Figura 19 – Círculo de girassóis para a primeira Dança Circular. Fonte: Acervo pessoal.

Assim, seja no centro da dança circular, nas rodas de conversa, no círculo construído para realizar as respirações, no círculo de massagens entre os professores e, claro, nas danças circulares realizadas, a afetividade do redondo foi sendo valorada cotidianamente no percurso da formação.

Bachelard esclarece: “Para um pintor a árvore se compõe em sua redondeza” (1993, p.241). Creio que o redondo compôs com o grupo sensações, sentimentos e ações que emergiram durante o processo, como na harmonia e integração entre as pessoas, fato reconhecido nos registros sobre a experiência com a dança, e nas criações com a dança, nas quais o círculo seria um repertório gestual presente nas composições futuras.

Um dos registros realizados por meio de uma imagem contribui com as ideias do circular presentes nos escritos do autor, que esclarece: “O mundo é redondo ao redor do ser redondo”. Findo esse trecho com essa imagem:

Figura 20 - Sem título.

Fonte: Acervo pessoal.