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5. Aprendendo com os ancestrais: a cultura de Qualidade Total pioneira na identificação

5.2. Os Círculos de Controlo de Qualidade

Esta prática suscitou especial interesse pelas empresas um pouco por todo o mundo. Para compreendermos o seu impacto é importante percebermos o que a caracteriza. Um círculo de controlo de qualidade (CQ) pode ser definido como um pequeno grupo de trabalhadores que leva a cabo uma análise voluntária de problemas de qualidade relacionados com o trabalho. Um tal grupo envolve a participação activa de todos os membros, formando parte de uma ampla estratégia de controlo de qualidade da empresa, promovendo o autodesenvolvimento, o desenvolvimento de competências de liderança e de trabalho em equipa (McMillan, 1996:233).

Na prática os círculos de CQ são grupos de seis a dez trabalhadores, envolvidos no mesmo tipo de trabalho e usualmente ao mesmo nível hierárquico. Os grupos são focados nos problemas e reúnem-se uma vez por semana, frequentemente fora das horas de trabalho (no entanto, reuniões durante o horário de trabalho da empresa também são comuns).

Cole (1979) estudou o caso dos círculos de qualidade na Toyota, o que trouxe dados interessantes para a investigação. A empresa tipifica as actividades dos círculos de CQ do seguinte modo:

“Nós pensamos que o primeiro passo da análise é ver em que medida o trabalho está ou não a ser implementado de acordo com o modelo standard. Normalmente compreendemos este fenómeno traçando um diagrama de causa-efeito com os factores relevantes. Isto consome tempo mas é um método efectivo que envolve dados extensivos obtidos por cada membro do círculo.” (Cole, 1980:133 citado por Munchus, 1983).

A Toyota começou o seu programa de círculos CQ em 1964 e em 1976 tinha já 760 círculos envolvendo cerca de 4000 trabalhadores, na sua maioria de colarinho azul (engenheiros). A empresa ganhou o Deming Prize 1em 1970. Os líderes iniciais eram os chefes de equipa mas em 1969 os trabalhadores comuns foram tomando esse lugar (Munchus, 1983:256)

1 O prémio Deming foi criado em Dezembro de 1950 em honra de W. Edwards Deming para recompensar as

empresas Japonesas pelos grandes avanços na área da qualidade. Ao longo dos anos tem crescido sob a orientação da União Japonesa de Cientistas e Engenheiros (JUSE) pelo que agora está disponível para empresas em todo o mundo (fonte: wikipedia)

28 De acordo com Ishikawa (1968 citado por Munchus, 1983:256) 50% das actividades dos círculos CQ focam-se no controlo de qualidade, 40% em questões de produtividade e custos e 10% em questões de segurança e outras (Munchus, 1983:256). Nas reuniões dos círculos de CQ os líderes encorajam os participantes a apresentarem as suas opiniões e analises livremente, independentemente do quão pouco importante possam parecer (Munchus, 1983:257). O líder reporta à gestão, as soluções desenvolvidas (McMillan, 1996:233).

O que é crítico para o conceito de círculo CQ como instrumento prático é o conjunto de técnicas disponíveis para análise, discussão e feedback (McMillan, 1996:233). As técnicas mais comummente usadas pelos círculos CQ são os diagramas de Pareto, de causa e efeito e gráficos (Munchus, 1983:257). Ishikawa (1968 citado por Munchus, 1983:257) sistematizou as oito maiores técnicas de solução de problemas:

1. Brainstorming: é usado para identificar todos os problemas, mesmo os que estão para além do controlo dos membros do círculo;

2. Check Sheet: é usado para solucionar problemas dentro da esfera de influência do círculo dentro de um determinado período de tempo.

3. Diagrama de Pareto: demonstra graficamente os dados da check sheet para identificar os problemas mais sérios (p.e. os 20% de problemas que causam 80% dos maiores erros).

4. Diagrama de causa e efeito: graficamente demonstra a causa de um problema particular;

5. Histogramas ou gráficos de barras: mostram a frequência e magnitude de problemas específicos;

6. Diagramas de Scatter: identificam a localização dos principais defeitos através de pontos em figuras de produtos, identificando clusters de pontos. 7. Gráficos de controlo: monitorizam o processo de produção e são comparados

com amostra de produção;

8. Estratificação: geralmente realizada inspeccionando os mesmos produtos através de diferentes áreas da produção, o processo de amostragem aleatória. A matemática envolvida nestes métodos não é muito sofisticada, embora o impacto da análise estatística possa ser bastante proeminente. Um método que vale a pena apresentar com mais detalhe é o quadro de Ishikawa (McMillan, 233:1996). Este

29 diagrama é um quadro em espinha de peixe (cf. Figura 3), para analisar os quatro M’s: materiais, manpower, métodos e máquinas. Para cada problema como por exemplo, reduzida produtividade ou número de defeitos produzidos por unidade, é realizado um exame dos resultados estatísticos de cada área. Para o manpower por exemplo, as causas subjacentes podem ser competências reduzidas, o que pode estar relacionado com a falta de formação, com o turnover, ou idade do trabalhador (McMillan, 1996:234).

Ilustração 3. Exemplo de um diagrama de causa/efeito de Ishikawa (McMillan, 234:1996).

Embora muitos círculos de CQ operem como grupos voluntários, a gestão da organização desempenha um importante papel de suporte. Inicialmente, este papel pode envolver formação para os líderes (McMillan, 236:1996).

Apesar de todo o aparente potencial dos círculos de CQ há um outro lado menos evidente desta prática que interessa explorar. Cole (1979 citado por Munchus, 1983:257) apresentou uma perspectiva sobre a insatisfação dos trabalhadores com os círculos de CQ. Há medida que os círculos se tornam mais maduros na organização tendem a ser vistos como mais um instrumento de gestão do que como uma oportunidade para os trabalhadores implementarem melhorias.

Em 1975 um inquérito realizado na Toyota demostrou que 30% dos trabalhadores consideravam os círculos de CQ um “fardo” (Munchus, 1983:258). Os inquéritos demonstraram que a participação nos círculos aumenta a tensão física e mental do trabalhador. Na Toyota estes “fardos” tomaram a forma de aumento da

30 competição entre grupos e pressão para submeter sugestões. Para além disso, os líderes depararam-se com uma certa quantidade de apatia por parte dos trabalhadores (Munchus, 1983:258).

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