• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA

1.1. c – Fase de orgasmo

A fase do orgasmo é caracterizada pela descarga involuntária da tensão sexual através de contrações reflexas e rítmicas da musculatura pélvica, a intervalos de 0,8 segundos, em média, para ambos os sexos. No homem, o orgasmo é sentido mais no pênis, próstata e vesículas seminais, enquanto que, na mulher, é sentido mais no clitóris, vagina e útero. A fase do orgasmo é a fase mais curta da resposta sexual quando comparada com as demais fases (Cavalcanti & Cavalcanti, 1992; Kaplan, 1974, 1978, 1983; Masters & Johnson, 1976, 1988), no entanto, parece ser a fase mais valorizada na cultura ocidental. Para Kusnetzoff (1988, p. 54) o orgasmo é

(...) uma descarga de tensão muscular numa série de contrações. Não tem uma expressão única: difere de um sexo para outro, de um indivíduo para outro e de uma experiência para outra. (...) é um fato complexo em que intervêm fatores fisiológicos, neuroumorais, endócrinos e, predominantemente, fatores

1

psicológicos. As sensações provocadas na pele e nos músculos, nas zonas erógenas em particular (...) fornecem informações ao sistema nervoso central, onde se dão reações neuroquímicas muito complexas, ainda não de todo conhecidas e atuam sobre centros do cérebro médio e inferior, onde se encontram neurônios responsáveis pelos impulsos mais primitivos, entre outros, os da sexualidade (...). Cavalcanti e Cavalcanti (1992, p. 51), afirmam que “o orgasmo é o maior reforçador do ato sexual”. Tal afirmação atinge homens e mulheres uma vez que, para Kaplan (1983), o orgasmo masculino, e somente ele, é necessário para a reprodução, enquanto que o orgasmo feminino causa apenas prazer. Seja qual for o caso, o orgasmo age como um reforçador e isso pode ser comprovado nos casos de mulheres anorgásmicas2 que, com o tempo, podem apresentar um comportamento generalizador de apetência sexual diminuída.

Kaplan (1983) diz que o orgasmo masculino pode ser dividido em duas fases distintas: na primeira, o orgasmo se processa nos órgãos reprodutores internos e, na segunda, nos órgãos genitais externos. Os músculos dos órgãos reprodutores internos se contraem quando o orgasmo se aproxima, o que faz com que o sêmen seja espirrado para trás da uretra, bem como no fundo da raiz do pênis. Este reflexo recebe o nome de emissão. Em seguida, o homem experimenta uma leve sensação na qual ele já não pode mais controlar o orgasmo. Esta sensação é chamada de inevitabilidade orgástica.

Com relação ao orgasmo feminino, Kaplan (1983) considera que ele ocorra apenas em contrações reflexas dos músculos genitais externos, ou seja, os mesmos músculos que se

2

Mulheres anorgásmicas são aquelas que sofrem de anorgasmia. Anorgasmia é a disfunção sexual feminina caracterizada pela ausência de orgasmo na relação sexual. Pode ser primária, ou seja, a mulher que nunca atingiu o orgasmo, ou secundária, a mulher que a partir de um dado evento deixou de atingi-lo (Cavalcanti & Cavalcanti, 1992; Masters & Johnson 1979, 1988).

contraem na fase de inevitabilidade do orgasmo masculino. Apesar de a penetração na vagina ser percebida como bastante gratificante e agradável, para a maioria das mulheres, o orgasmo é desencadeado pelo estímulo rítmico do clitóris. Quando o clitóris é estimulado diretamente, a mulher chega ao orgasmo sem que haja a necessidade da penetração do pênis na vagina.

O mito do orgasmo vaginal advém, dentre outros fatores, de determinadas afirmações de Freud, considerado o pai da psicanálise. De acordo com Masters e Johnson (1988, p.76)

Freud afirmava que o orgasmo clitoriano (originário da masturbação ou de outros atos não envolvendo a penetração) era prova de imaturidade psicológica, uma vez que o clitóris era o centro da sexualidade infantil na mulher. O orgasmo vaginal (originário do coito), por sua vez era “autêntico” e “maduro”, já que demonstrava que o desenvolvimento psicossexual normal estava completo. Em seu ensaio Algumas Conseqüências Psicológicas da Distinção Anatômica entre os Sexos, Freud escreveu que “a eliminação da sexualidade clitoriana é uma precondição necessária para o desenvolvimento da feminilidade”. Muitas foram as mulheres consideradas neuróticas ou forçadas à psicanálise por causa dessa opinião.

O mito do orgasmo também é apontado por Hite (2004, p. 13-14) que, baseada em suas pesquisas, afirma que “... a imensa maioria das mulheres precisa de uma estimulação do clitóris que dure até que aconteça o orgasmo”. Hite (2004) complementa que as mulheres raramente têm orgasmo durante a penetração e que essa descoberta, aparentemente difícil de ser aceita, promove o conhecimento do funcionamento feminino, eliminando uma ignorância que vem sendo fonte de conflitos e frustrações através dos séculos3.

3

Em meus 20 anos de experiência na qualidade de especialista em terapia sexual, ainda hoje, observo que é comum as mulheres, jovens e maduras, chegarem ao meu consultório com conflitos e frustrações relacionadas ao orgasmo, trazendo como queixa o fato de não conseguirem chegar ao orgasmo única e exclusivamente com a penetração.

Kaplan (1983) também ressalta que nem todas as mulheres são capazes de experimentar orgasmos através do coito. Em algumas mulheres, o estímulo produzido pelo coito pode não ser suficientemente intenso para provocar o orgasmo e isto é considerado absolutamente normal. As mulheres que conseguem chegar ao orgasmo pelo coito apresentam uma estimulação indireta do clitóris, porém, tal estimulação não é tão forte quanto à manipulação direta do clitóris. Além disso, as mulheres que não atingem o orgasmo no coito são facilmente capazes de uma resposta orgástica quando estimuladas diretamente no clitóris.

Apesar de a mulher possuir a capacidade de ter muitos orgasmos, o que é chamado de orgasmo múltiplo, ela pode desejar tê-los em uma ocasião, mas não em outra. Além disso, “a fase de excitação de uma experiência sexual pode ser, às vezes, tão agradável, que uma mulher pode não sentir necessidade de ter qualquer orgasmo” (Kaplan, 1983, p. 86).

Quanto aos aspectos psicossociológicos do orgasmo, cabe citar Cavalcanti e Cavalcanti (1992, p. 121) quando afirmam que “em ambos os sexos é possível dissociar o reflexo orgástico (fenômeno biológico), da sensação prazerosa (fenômeno psicológico)” e que “atualmente os homens querem que suas mulheres atinjam o clímax, muito mais porque isto aumenta o prazer subjetivo deles fazendo-os sentir mais homens, do que em atenção às necessidades femininas”.

Documentos relacionados