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CAPÍTULO I – REVISÃO DA LITERATURA

CAPÍTULO 5 DISCUSSÃO

5.1 – Estudo de caso 1

A família, segundo Andolfi (1984), é um sistema ativo em constante transformação, um

organismo complexo que se altera com o passar do tempo, para assegurar a continuidade e o crescimento de seus membros. Identificamos na família de Daniel e Vilma a complexidade e a riqueza de quarenta anos de relacionamento, que começa com a reconstituição familiar, uma vez que Vilma vêm de casamentos anteriores com vários filhos e Daniel constitui outra família, gerando filhos com Joana, depois de dez anos de relacionamento com Vilma. Essa configuração familiar, segundo alguns autores, constitui mais um fator de complexidade, que requer flexibilidade do sistema para lidar com tantas variáveis. A sobrevivência desse sistema foi possível, graças a constantes negociações e acordos, como afirma Bilac (1995), implícitos ou explícitos.

A construção do genograma familiar nos possibilita uma leitura do desenvolvimento familiar ao longo do ciclo de vida, com suas diferentes fases marcadas por eventos nodais, mudanças, adaptações e reestruturações (Carter & McGoldrick, 2001). Leva-nos, assim, ao encontro de Satir (1995), na afirmação de que a família regula as atividades de base biológica,

por ser um espaço em que se concretizam os fatos básicos da vida: nascimento, união entre os sexos e morte.

A família de Daniel e Vilma está vivendo a fase denominada por Carter e McGoldrick (2001) como “estágio tardio da vida”, se levarmos em consideração a idade dos cônjuges – 65 anos. De acordo com as autoras, essa fase traz algumas tarefas importantes para que o sistema prossiga no seu ciclo de desenvolvimento. Essas tarefas incluem: aceitar a mudança dos papéis geracionais; manter o funcionamento e os interesses próprios e do casal em face do declínio físico; apoiar o papel mais central da geração do meio; lidar com a perda – do cônjuge, irmãos e outros iguais – além de preparar-se para a própria morte e, por fim, a revisão e a integração da vida.

Ao declínio físico, natural nessa fase do ciclo de vida, soma-se a presença de uma doença grave, progressiva e incapacitante, que requer da família mudanças na sua organização interna e na disposição para utilizar recursos externos, como afirma Rolland (2001). Requer, principalmente, da geração do meio – no caso os filhos adultos do casal – maior atenção e cuidados. A participação dos filhos do casal parece ser apenas financeira e acontece de forma intermitente, sem compromisso ou obrigação. Dessa maneira, Daniel não está podendo contar com os cuidados dos filhos, invertendo o padrão de dependência ao qual se refere Osorio (2002).

Daniel mostrou-se preocupado com um possível “desacordo” quanto à divisão de bens, no caso de sua morte, justificando, assim, a maneira de tratar o assunto, com a providência do inventário. Com a enfermidade, Daniel resolveu delegar poderes a Vilma, para que ela tomasse a decisão de vender seus bens, impedindo, dessa forma, que os filhos o fizessem.

A qualidade das relações familiares nesse momento, depende da qualidade dessas relações e do nível de proximidade emocional nas fases anteriores. Pensamos que os filhos de Daniel

estão, de certa forma, repetindo um padrão semelhante ao que acontecia com o pai em relação a eles, ou seja, como pai, ele também foi distante. Esses padrões repetitivos em diferentes gerações são discutidos por alguns autores da abordagem sistêmica da família (Cerveny, 2002; Carter & McGoldrick, 2001; Vasconcellos, 2003).

Observamos em algumas afirmações de Vilma pesar e tristeza, quando se refere ao estado de Daniel: “qual é o marido que faz uma coisa dessas e que a outra não fica magoada?”, “só se não amar” e “isso é uma coisa que já passou, não é? Já acabou. Agora ele ta aí do jeito que ta e eu to zelando dele com todo prazer, com todo carinho, com todo prazer de zelar”.

Acreditamos que, ao contar sua história de vida, o casal faz uma revisão desses quarenta anos de relacionamento, em que aparecem situações agradáveis e também marcadas por mágoas: a saudade do tempo em que eram jovens e “estavam começando a se amar” e “quando Vilma ainda era novinha”, a infidelidade e várias relações extraconjugais de Daniel, a gostosa relação com o neto Davi. Segundo Walsh (2001), o processo de reminiscência facilita a resolução das tarefas de aceitação da vida e da morte.

Apesar de viver essa fase, o casal convive e é responsável pela criação de dois netos de quatro e seis anos, ou seja, às tarefas acima mencionadas se juntam outras relacionadas ao crescimento e educação das crianças, que requer um aumento de flexibilidade do sistema para incluir novos membros (Carter & McGoldrick, 2001; Cerveny 2002). Por um lado, podemos pensar em uma sobrecarga para o casal, mas por outro, as crianças podem representar um importante fator de renovação, movimento e alegria para os avós, como podemos notar na maneira como Daniel fala do neto Davi, quando afirma que“estava com muitas saudades”.

Observamos semelhança nos padrões de relacionamento conjugal nessa família. Vilma diz ter se separado do seu segundo marido, porque “ele tinha outra mulher”, por outro lado, ela

viveu durante vinte anos com Daniel, enquanto ele tinha um relacionamento com Joana. Vilma fala desse relacionamento com muita mágoa, mas sempre soube dele e, de certa forma, aceitou-o, chegando, inclusive, a ajudar na criação dos filhos de Joana com Daniel. Da mesma forma, mencionamos o casamento anterior de Joana o qual repete os mesmos padrões de fidelidade e separação do sistema familiar do casal pesquisado.

Podemos afirmar que a história desse casal parece estar marcada por um padrão de relacionamento complementar, com uma ordem homeostática importante que mantém o equilíbrio da relação conjugal ao longo do ciclo de vida familiar, só mudando agora, no momento em que Daniel está doente e dependente de Vilma. Segundo Calil (1987), o padrão complementar ocorre, quando as ações auto-geradoras estão baseadas na maximização da diferença, como é o caso do ciclo de dominância-submissão ou ajuda-dependência. Este é observado na relação do casal, em algumas atitudes e falas, por exemplo, quando Vilma justifica o fato de não ter estudado, porque Daniel não permitia – era muito ciumento. Durante a colagem também observamos o pedido de ajuda da participante ao cônjuge, por ter dificuldade no desempenho de tarefas como manusear as revistas, escolher as figuras, cortar e colar, afirmando deixar que ele escolhesse as figuras, “porque ele faria isso melhor” do que ela.

Vilma parece ter se submetido aos comandos de Daniel, deixando de estudar, porque ele “temia que ela arranjasse um namorado”, e aceitando o relacionamento dele com Joana durante tantos anos, o que garantiu a manutenção do relacionamento e a sobrevivência do vínculo conjugal, ou seja a homeostase do sistema (Watzlawick, 2000). De outra forma, o casamento não teria resistido à relação extraconjugal de Daniel. Em vez de lutar e se rebelar contra essa relação, o que colocaria em risco seu casamento, Vilma “aceita” e até se aproxima de Joana e dos filhos dela. Segundo o conceito de família apresentado por Ferreira (2004), podemos dizer que Joana e

seus filhos integram o sistema familiar de Daniel e Vilma. Vale ressaltar o exemplo de quando Joana chega ao HAB para visitar o marido, Daniel, causando estranheza ao agente de portaria, que impediu sua entrada, informando-a de que a esposa de Daniel já se encontrava próxima ao seu leito, referindo-se à Vilma. A negociação e os acordos, como afirma Bilac (1995), são importantes para a perpetuação do sistema familiar. Acreditamos que a família de Daniel e Vilma é vista como fruto de contínuas negociações e acordos entre seus membros. Sua duração no tempo, assim, dependeu da duração dos acordos existentes entre o casal.

A religião parece ter um importante papel na manutenção dessa complementaridade, bem como facilitou a adaptação do casal frente às condições de relacionamento, nas diversas fases do ciclo de vida familiar. Vilma sempre acreditou que a “comunhão espiritual”, pelo exercício da vida religiosa, leva à “comunhão conjugal”, o que pode ter facilitado a aceitação e a convivência com Joana e seus filhos. A religião trouxe também a perspectiva do perdão para o casal. Quando Daniel passou a ser crente, começou a freqüentar menos a casa de Joana. Daniel também acredita que o casal deve ter obediência à igreja e conjugalmente. Essa crença é utilizada por Vilma, para justificar o fato de o esposo não querer mais “saber de mulher”.

Com a doença, os filhos também passaram a ser crentes. Parece que, para essa família, os problemas só possam ser resolvidos na presença de Deus. Segundo Vasconcellos (2006), as crenças religiosas possuem, juntamente com a fé, uma força divina que se soma, trazendo novas perspectivas para o enfrentamento da doença, fazendo com que a resiliência31 familiar seja ainda mais otimizada.

31

Apesar de o termo resiliência vir da Física, hoje vem sendo amplamente utilizado pela Psicologia e outras ciências humanas, como um novo objeto de estudo. Significa a capacidade humana de superar as adversidades da vida, tirando proveito dos sofrimentos, inerentes às dificuldades.

Conforme vimos na literatura, Féres-Carneiro (1992) afirma que, no subsistema conjugal, a interação do casal é uma dimensão de particular importância na dinâmica familiar. Isso porque ela tem repercussões no desenvolvimento emocional dos membros familiares, podendo fomentar a criatividade e o crescimento de cada membro do sistema familiar e do casal. Pode, também, estabelecer padrões de comportamento que dificultam tal crescimento. Os dados apresentados, sobre a relação do casal participante, levam-nos a crer que a interação entre eles esteve permeada, ora por padrões de comportamento que dificultaram o crescimento, ora pelo fomento da criatividade e crescimento de cada membro. Como exemplo de padrões de comportamento que dificultaram o crescimento, citamos as brigas verbais ocorridas em casa e, segundo Daniel, foi o que mais atrapalhou o relacionamento conjugal e sexual do casal. Como fomento da criatividade e crescimento, citamos a adoção da filha e, mais tarde, dos netos. Levantamos a hipótese de esse último constituir-se como uma tentativa de sobrepor-se à lacuna da não geração de filhos pelo casal.

Segundo a participante, os quatro filhos de Daniel a tratam bem e sempre mantiveram o respeito por ela, assim se mãe deles. Essa multiplicidade de indivíduos que recebem os cuidados de Vilma, provavelmente tem a ver com os seis filhos que teve com Raimundo, seu primeiro esposo, e a possível falta de estabelecimento de vínculos com eles, por ocasião das condições da separação. Lembramos que ela revelou, sem entrar em detalhes, que os filhos foram deixados com o marido, Raimundo, e com a cunhada. Assim, é provável que o vínculo estabelecido com os filhos de Daniel e Joana, ao ponto de afirmar que “eles foram criados por ela”, substitua o elo perdido com os próprios filhos.

Com relação à vida sexual antes do diagnóstico, Vilma relacionou a diminuição da freqüência de relações sexuais com a existência de outra mulher na vida de Daniel. Observamos

que, muitas vezes, quando fala sobre sua vida sexual, Daniel mistura fatos de sua relação com Vilma e de sua relação com Joana, deixando, inclusive, as pesquisadoras confusas quanto ao que se referia.

Vilma aponta dois fatores responsáveis pela diminuição do desejo sexual: o conhecimento do relacionamento extraconjugal do esposo e o fato de terem relações sexuais, independentemente de ela ter desejo. Com relação ao primeiro aspecto, Masters e Johnson (1988, p. 339), afirmam que “para alguns casais, o sexo extraconjugal constitui uma ameaça à intimidade do casamento tanto no sentido físico quanto no psicológico”. A princípio, Daniel tentava manter o segredo da relação extraconjugal. Imber-Black (2002) afirma que os segredos são fenômenos sistêmicos, ligados ao relacionamento que moldam as díades, definindo limites de quem está “dentro” e quem está “fora”. Além disso, servem como calibradores da intimidade e distanciamento dos relacionamentos. Assim, as atividades sexuais do casal também foram justificadas por Daniel, como uma maneira de se manter o suposto segredo da relação extraconjugal. Ele mantinha relações sexuais com Vilma, para que ela não desconfiasse da relação dele com outra mulher. A ilusão do suposto segredo da extraconjugalidade nos pareceu uma maneira de Daniel evitar conflitos, mas apesar disso, Vilma sabia quando ele esteve com Joana.

Quanto ao segundo argumento de Vilma, Masters e Jonhson (1988) afirmam que, se o problema da falta de desejo for a ausência de interesse em sexo, será classificado como inibição do desejo sexual, caracterizando, assim, um distúrbio na fase do desejo. Para esses autores, o sexo extraconjugal pode liberar as inibições sexuais de algumas pessoas e trazer problemas para outras. Assim, o desejo sexual de Vilma diminuiu, quando o esposo deixava de “procurá-la” por até uma mês, conforme aconteceu nos cinco últimos anos.

A relação sexual do casal ocorria independentemente do desejo sexual de Vilma, pois sempre que Daniel chegava a casa e “queria ser homem” era correspondido. Observamos que “ser homem” para Daniel, está relacionado com “ter relação sexual com a esposa”, “cumprir o dever de marido”. Isso nos remete a Souza (2005), quando aborda as idéias essencialistas sobre os gêneros feminino e masculino, principalmente no contexto das ciências biológicas. Apesar de Vilma nunca tê-lo “negado”, Daniel questiona se ela o aceitava “para não perdê-lo”, já que ele tinha outra parceira, ou se, realmente, tinha desejos sexuais por ele. A esse respeito, Santos Souza (2005, p. 112) afirma que “psicológica, social e culturalmente, homens e mulheres sempre foram regidos pela lógica do mundo masculino, influenciado pelos valores e princípios da racionalidade, objetividade e do poder hierárquico”.

Vilma afirma sentir desejo por Daniel “porque o ama”, enquanto Daniel fala de seu desejo por ela afirmando que o “homem é feito animal”. Isso nos remete a uma discussão, ainda atual, sobre a “sexualidade feminina” e a “sexualidade masculina”.Silva (2002) se refere à questão da emoção e da sensação, quando afirma que o tato não é sentido como uma sensação, mas como uma emoção. Segundo a autora, esta afirmação parece possuir um significado especial para a excitação sexual feminina, uma vez que, geralmente, até por questões de aprendizagem, o sexo mantém uma relação estreita com a emoção.

Ainda sobre essa questão, Daniel comparou a “mulher da casa” e a “mulher da rua”, apontando a diferença entre o comportamento sexual de cada uma delas. Para ele, a possível acomodação da “mulher de casa” acontece em função da certeza de que o homem já é seu, não necessitando empenhar-se sexualmente para conquistá-lo. Ele considera natural a presença da amante na vida do casal, paralela à presença da esposa. Além disso, acredita que a existência da amante, às vezes, melhora e, às vezes, piora o relacionamento conjugal. Assim, a amante é uma

espécie de “elixir”, pois ser mais sensual e preocupada em agradar, funciona como motivador para que ele possa ter relações sexuais com Vilma. Por outro lado, ele precisa se esforçar para fazer o “serviço dobrado”, quando chega ao lar, sendo esse o ponto negativo dessa situação.

Aqui, observamos, também, uma questão que parece não se aplicar mais à nossa realidade contemporânea: as diferenças e, ao mesmo tempo, uma espécie de complementação entre as funções da esposa, da concubina e das relações estáveis fora do casamento. No Brasil, as relações estáveis asseguram o direito recíproco dos “conviventes” de maneira semelhante ao casamento, incluindo o direito de herança e o regime presumido de comunhão parcial de bens.

Segundo Masters e Johnson (1988), alguns homens querem técnicas especiais para as quais não haverá reciprocidade das esposas. Isso constitui uma das razões de os homens buscarem prostitutas ou outros relacionamentos extraconjugais. Assim, pode-se dizer que o concubinato, sempre e, desde cedo, presente na história, consistia em relação similar, mas subalterna ao casamento, ocorrendo, quase sempre, paralela e de forma complementar a este.

Pela quantidade de vezes que a palavra “novinha” aparece nesse relatório, podemos afirmar que, para o casal, existe um estereótipo em torno da sexualidade limitador do sexo na idade adulta avançada. Kinsey et. al. (1948), foram os primeiros pesquisadores a examinar o efeito do envelhecimento sobre o comportamento sexual. Seus estudos mostraram que a atividade sexual continua até as fases avançadas da idade adulta, porém, há um declínio geral de freqüência, tanto para homens como para mulheres. A maioria de outros relatórios (Hite, 1982, 1991) confirma essas tendências gerais, sugerindo que a redução da atividade sexual é decorrente da saúde fraca e das atitudes e expectativas culturais.

No caso de Daniel e Vilma, esses dois aspectos estão presentes no atual momento de vida. Seus relatos, entretanto, parecem revelar as expectativas culturais que sugerem “profecias que se cumprem”. Com isso, destacamos o pensamento do participante ao sugerir que “o homem vai ficando fraco à medida que vai envelhecendo”. Para ele, a relação sexual é mais fácil “quando tudo está novinho do que quando as pessoas vão ficando velhas, principalmente se estiverem casadas”. Esse último aspecto, além do desgaste conjugal promovido pelas crises enfrentadas em um casamento de longa duração, retrata também, crenças socioculturais. Lembramos novamente Masters e Johnson (1988), ao afirmarem que parece haver uma aceitação social do procedimento da procura de mulheres mais jovens por homens de meia-idade, como uma maneira de rejuvenescimento.

Segundo os participantes, era a primeira vez que falavam sobre a própria relação conjugal e a sexualidade. Esse aspecto, também justifica o distanciamento sexual entre Daniel e Vilma, pois de acordo com Masters e Johnson (1988, p. 252) é através da comunicação efetiva que se estabelece e cresce a intimidade do casal. Assim, “compreender como comunicar-se efetivamente é a pedra de toque das relações interpessoais e sexuais”. Sabemos que muitos casais apresentam dificuldade nesse aspecto. Inclusive na terapia conjugal e terapia sexual, esse é um dos principais focos a serem trabalhados. Kaplan (1974) considera a dificuldade e comunicação do casal como uma causa diádica de disfunção sexual.

Antes do diagnóstico de câncer, que só foi revelado no momento da internação de Daniel, para a realização da orquiectomia bilateral, as relações sexuais do casal não estavam “normais”. Mais uma vez, Daniel justificou em decorrência da idade e não da doença. Porém, Kusnetzoff (1987) ao se referir ao impacto do câncer de próstata na sexualidade, afirma que é bastante provável que a intervenção cirúrgica como igualmente o tratamento por radiação, cause danos aos

nervos destinados à ereção, sendo muito comum um distúrbio disfuncional sexual. Zerbib e Perez (2003) acreditam que a libido pós-operatória não é necessariamente atingida, mas concordam que a impotência tem grandes reflexos no desejo sexual.

Daniel considera que a mulher da sua idade – 65 anos – seja mais “fogosa” que o homem. Lembramos que essa consideração não possui sustentação científica. Os estudiosos da sexualidade humana (Masters & Johnson, 1976, 1988; Kaplan, 1974; Cavalcanti & Cavalcanti, 1992), não estabelecem a relação que o participante faz entre sexo e idade, tampouco entre idade e gênero.

Porém, Kaplan (1974) afirma que a dor pode ser vista como um aspecto que dificulta o interesse e a atividade sexual. Pelos relatos do casal, Daniel vinha sofrendo, há algum tempo, com dores de coluna e essa pode ter sido uma das condições que trouxe desconforto durante a relação sexual, afetando negativamente o desempenho sexual do casal. Isso pode justificar a perda do desejo sexual de Daniel pela esposa, de cinco anos para cá. Outro dado importante é o neto caçula dormir junto com o casal. Essa situação talvez seja um dos motivos para que Daniel e Vilma ficassem até um mês sem manter relações sexuais.

Suplicy (1999) destaca que um dos fatores que influenciam negativamente o apetite sexual de um indivíduo é achar que sexo é errado. Observamos que o entendimento de Daniel e Vilma pelo desejo sexual esteve ligado diretamente com a questão do pecado, um conceito adquirido ao longo do ciclo vital e, mais especificamente, após a conversão de Daniel à religião de Vilma. Apesar das crenças dos participantes mostrarem influência negativa no desejo sexual do casal, essa fase da resposta sexual esteve presente, antes do recebimento do diagnóstico.

Com relação à fase de excitação sexual, podemos afirmar que estava presente em ambos os cônjuges, antes do recebimento do diagnóstico. Kaplan (1983) afirma que, no homem, a

excitação sexual pode ser produzida por estímulos psicológicos, tais como pensamentos, visões,

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