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1. SÍNTESE

A redução dos desequilíbrios macroeconómicos, essencialmente resultante do esforço de contenção orçamental e monetária desenvolvido pelas autoridades cabo-verdianas, é o traço mais relevante que sobressai quando se considera a evolução da conjuntura entre meados de 2001 e os primeiros meses do ano em curso. Tal melhoria está patente a diversos níveis - desde a correcção dos enviesamentos antes observados na esfera das finanças públicas e da balança de pagamentos até à tendência para o abrandamento sustentado da inflação - tendo assim permitido a conclusão bem sucedida do programa monitorado pelo FMI (staff-monitored program) que vigorou no segundo semestre de 2001 e a celebração de um novo acordo, já com apoio financeiro do Fundo, no início de 2002 (acordo este cujas metas indicativas para Março último foram genericamente respeitadas - cf. quadro II - tal como terá sucedido com as metas imperativas para Junho).

Essa correcção dos desequilíbrios teve, todavia, como consequência inevitável um abrandamento no ritmo de expansão da actividade económica, necessário por forma a criar condições para a futura retoma do crescimento em bases sustentadas (embora se admita ainda um aumento do PIB per

capita em 2001 e 2002). O principal factor

determinante do abrandamento terá sido, de facto, o saneamento das contas públicas, que passou sobretudo pela contenção das despesas correntes (com destaque para a redução dos subsídios e o congelamento de salários na função pública), processo do qual resultou uma queda do défice global em cerca de 40% face ao nível de 2000.

A melhoria da situação orçamental permitiu que se reduzissem substancialmente as necessidades de financiamento interno do Estado (tanto mais que se deu também uma retoma da ajuda externa no final de 2001), daí resultando uma significativa queda nas taxas de juro da dívida pública e uma menor pressão sobre a massa monetária. Esta viria, porém, a crescer mais que o programado para 2001 (embora tenha abrandado face aos anos anteriores), devido sobretudo ao forte reforço das reservas cambiais - que beneficiaram da melhoria na balança de pagamentos e do impacto, inesperadamente pronunciado, da introdução física do euro. Quadro I

Principais Indicadores Económicos

2001 2001 2002

prog. est. prog.

PIB real (tx. var. anual) 3.3 3.0 2.5

Inflação (t. v. média) 5.0 3.7 3.0

(t. v. homóloga) -- 4.5 2.9

Conta corrente externa (% PIB) -7.6 -10.8 -11.3

Reservas camb. (meses de imp.) 2.0 2.1 1.7

Massa monetária (t. v. anual) 6.4 9.8 6.4

Saldo orçamental (% PIB) -8.4 -5.2 -8.3

Dívida pública (% PIB)

Externa -- 62.2 --

Interna1 -- 39.8 --

1 Inclui dívida coberta pelo Trust Fund (15.5% do PIB em 2001).

Quadro II

Programas apoiados pelo FMI (SMP e PRGF)1

Metas financeiras (CVE 10^9)

Dez01 Dez01 Mar02 Mar02

prog.2 est. prog.2 est.

Crédito interno bancário

ao Governo Central (líq.) <12.8 11.7 <11.9 11.3

Activos int. líq. (BCV) < 9.7 8.2 < 8.2 7.0

Atrasados int. (G. Central) < 2.6 2.3 < 3.2 3.22

Variação dos atrasados

da dív. ext. (G. Central) < 0.0 0.0 < 0.0 -- Variação da dív. pública

ext. não-concessional < 0.0 0.0 < 0.0 0.0

Var. da dívida públ. ext.

não-conc. (prazo <1 ano) < 0.0 0.0

DLX do BCV (EUR 10^9) >47.6 73.6

1 Staff-Monitored Program (2º semestre de 2001) e Poverty Reduction

and Growth Facility (Abril de 2002 a Abril de 2005). 2 Metas imperativas para Dez01 e indicativas para Mar02.

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2. PROCURA, PRODUÇÃO E PREÇOS

As estimativas disponíveis para 2001 dão conta de um abrandamento pronunciado no ritmo de expansão da actividade económica cabo-verdiana, fenómeno este em larga medida decorrente do impacto provocado pelo esforço de ajustamento que foi necessário empreender (sobretudo ao nível das contas públicas - cf. cap. 4) por forma a corrigir os desequilíbrios gerados no ano precedente, evitando assim uma deterioração mais acentuada ainda da conjuntura e criando condições para a futura retoma do crescimento em bases sustentadas.

Constata-se, de facto, que o aumento real do PIB não terá ido além de 3.0% em 2001, ficando ligeiramente abaixo da projecção feita em meados deste ano (desvio pelo qual terá sido responsável a evolução negativa da conjuntura internacional) e bastante aquém dos níveis atingidos no triénio anterior (uma média de 7.6%, com um pico de 8.6% em 1999 - cf. gráf. I). Está ainda prevista uma acentuação do abrandamento no ano em

curso (reflectindo a continuação do ajustamento e a manutenção de um ambiente externo pouco favorável), embora se deva, por outro lado, sublinhar que tais valores correspondem ainda a uma melhoria do PIB

per capita, como invariavelmente sucedeu

desde 1992.

À semelhança do ocorrido em meados da década, o ritmo de crescimento apurado no período 1998-2000 veio a revelar-se insustentável, face ao agravamento dos desequilíbrios orçamentais e externos, pelo que a moderação necessariamente introduzida em 2001 ao nível do consumo e do investimento públicos acabaria por ser determinante para o abrandamento da procura interna que resultou na quebra da taxa de crescimento do PIB.

Embora não existam estimativas rigorosas para as contas nacionais relativas ao período posterior a 1997, admite-se que essa quebra tenha resultado igualmente de uma certa retracção quer da procura externa (na sequência dos atentados de Setembro) quer das componentes privadas da procura interna. No caso destas últimas, a retracção terá reflectido factores como alguma incerteza associada ao aumento da instabilidade financeira e política no início

Gráfico I 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 (prog.) (est.) (est.) (est.) PIB real (1991-2002, t.v. anual em %)

(est.) (est.) (est.) Quadro III Decomposição do PIBpm (em percentagem) 1998 1999 2000

est. est. est.

Sector primário 11.6 11.8 10.9

Agric., silvic. e pecuária 10.2 10.6 9.9

Pescas 1.4 1.2 1.0 Sector secundário 18.9 18.4 17.6 Indústria e energia 9.4 8.9 9.1 Construção 9.6 9.5 8.4 Sector terciário 69.5 69.8 71.6 Comércio 16.2 16.2 15.6 Hotéis e restaurantes 5.2 5.6 6.6 Transp. e comunicações 17.6 17.7 18.2 Banca e seguros 5.3 4.9 5.3 Habitação 5.6 6.3 6.2 Administração pública 11.9 11.2 11.3 Outros 7.7 7.9 8.4

de 2001 ou, mais tarde, o impacto provocado pelo forte aumento dos preços dos combustíveis (note-se, aliás, que a evolução do investimento privado só não terá sido mais desfavorável devido ao esforço de modernização do equipamento levado a cabo por certas grandes empresas).

Em termos sectoriais, há indicações que apontam para um abrandamento relevante, sobretudo a partir do trimestre final de 2001, por parte de dois dos principais vectores do crescimento cabo-verdiano nos últimos anos: a actividade turística (embora com tendência para recuperar no início de 2002,

dando ideia de poder beneficiar com algum desvio em favor de destinos considerados relativamente seguros) e o sector da construção (afectado em simultâneo pela quebra do investimento público e pela desaceleração das remessas de emigrantes - neste caso aparentemente prolongada no primeiro trimestre do ano em curso).

No tocante aos preços, parece patente que se está em plena fase de recuperação da estabilidade comprometida pelas tensões inflacionistas despoletadas em 2000. Recorde-se que se vinha, até essa altura, atravessando um ciclo de deflação virtuosa (assim dita por ter coincidido com o

crescimento económico a ritmo elevado, reflectindo ganhos de eficiência), mas que a

situação se alterou em 2001, com a excessiva expansão da liquidez na economia e o aumento dos preços dos combustíveis - este todavia indispensável ao saneamento orçamental, pois os subsídios haviam atingido níveis insustentáveis depois de cinco anos sem actualização dos preços. Com a aceleração da cadência inflacionária a ser pautada, ao longo de 2001, pelos referidos aumentos dos combustíveis (levados a cabo em Março e Agosto - cf. gráf. II), os valores apurados no final desse ano ficariam assim substancialmente acima dos observados em 2000: 3.7% e -2.4%, respectivamente, no caso da inflação média anual. Tal aceleração não terá sido, porém, tão pronunciada como se chegou a recear (era de 5.0% a meta para a inflação média em Dezembro último), acabando por atingir um pico nos meses iniciais de 2002 (cf. gráf. III), para depois recuar até ao final do semestre, em resultado da contenção orçamental e monetária - merecendo um reparo, no entanto, o sobressalto registado em Maio (cf. gráf. II), que foi provocado por certos bens agrícolas e veio recordar a importância destes, quando estamos na fase crucial da respectiva campanha.

Gráfico II -2 -1 0 1 2 3 4 J F M A M J J A S O N D 2000 2001 2002

Inflação (variação mensal do IPC, em %)

Gráfico III -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 T. v. homóloga T. v. média 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Inflação (1993-2002, variação do IPC em %)

2000 2001

Junho

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3. CONTAS EXTERNAS

A substancial redução dos atrasados da dívida externa e o considerável reforço das reservas cambiais são, porventura, os elementos mais relevantes que se destacam quando se considera a evolução da balança de pagamentos cabo-verdiana entre o final de 2000 e o primeiro trimestre de 2002 (mesmo ressalvando que se trata de dados preliminares). A deterioração desses dois indicadores (correspondente a um défice da Balança Global em 2000, após dois anos de saldos positivos, cf. gráf. VI) tinha sido, de facto, o principal corolário no plano externo dos desequilíbrios macroeconómicos então gerados.

A melhoria entretanto verificada terá essencialmente reflectido a normalização das relações com os principais parceiros externos ao longo do segundo semestre de 2001 (que se traduziu na renegociação da dívida e numa significativa retoma da ajuda, enquadradas pelos acordos celebrados com o FMI), assim como o impacto favorável, provocado pela introdução das notas e moedas de euros em 2002 (cf. cap. 5) - sem esquecer o contributo de diversas rubricas da conta corrente, particularmente importante por ter ocorrido em simultâneo com o enviesamento negativo da conjuntura internacional.

Constata-se, de facto, que este último fenómeno não impediu o apuramento, pelo segundo ano consecutivo, de uma redução no défice da conta corrente cabo-verdiana, o qual caíu para um patamar equivalente a 10.8% do PIB (cf. gráf VI) - ou 5.8%, considerando também as transferências de capital. O principal factor determinante do défice foi, como invariavelmente sucede, o

peso das importações de mercadorias, que acusaram em 2001 um aumento de 5.4% face ao ano anterior - com Portugal a estabilizar a sua posição de principal fornecedor, em torno dos 52% (cf. gráf. V), ao mesmo tempo que reforçava a quota de

maior cliente (91%, cf. gráf. IV).

Importa, porém, referir que esse acréscimo das importações de mercadorias corresponde a uma desaceleração relativamente ao ritmo a que as mesmas vinham evoluindo, não só em 2000 (uma variação anual de 10.0%)

como também nos primeiros meses de 2001. Seriam, de facto, o efeito moderador da contenção orçamental e a redução no valor das importações de combustíveis (com a quebra do volume, associada ao aumento dos preços internos, e a baixa dos preços

Gráfico IV 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 0 3 6 9 12 15 Milhões de USD

Portugal Espanha Holanda Outros Total eixo secundário* Exportações de mercadorias (1992-2001) * excluindo reexportações Gráfico V 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 0 50 100 150 200 250 Milhões de USD

Portugal Alemanha Holanda França Total eixo secundário

internacionais face à média de 2000) que acabariam por levar à referida desaceleração, a partir de meados do ano - tendência todavia contrariada no início de 2002 (em parte, aparentemente, pelo impacto excepcional do investimento privado). O primeiro trimestre do ano em curso terá também correspondido, de acordo com os mesmos dados preliminares, a um desempenho apreciavelmente positivo por parte das exportações, quer de mercadorias quer de serviços. Enquanto no caso das primeiras (cujo valor trimestral equivaleu a quase 40% do total apurado em 2001) parece assim consolidar-se a recuperação esboçada desde 2000 - com a particularidade positiva de se vir reduzindo o peso relativo das reexportações de combustíveis, reflectindo um alargamento da base produtiva - já no caso dos serviços, merece sobretudo destaque o bom comportamento das receitas do turismo. Estas últimas têm vindo, efectivamente, a assumir um peso cada vez mais relevante no contexto da economia cabo-verdiana (quase quintuplicando, em termos nominais, entre 1997 e 2001 - quando se cifraram em 9.5% do PIB, contra 3.0% naquele ano) e temia-se que o impacto dos atentados de Setembro de 2001, bem como do abrandamento económico global,

pudesse prolongar-se para além dos meses finais desse ano.

Tal receio acabou, no entanto, por ser afastado (tendo as receitas do turismo acusado um acréscimo de aproximadamente 25% entre o último trimestre de 2001 e o período seguinte), mas já o mesmo não sucede com outra rubrica fundamental para o equilíbrio da balança de pagamentos cabo-verdiana - as remessas de emigrantes. Estas terão, de facto, registado uma queda nominal em 2001 (reflectindo quer a deterioração da conjuntura internacional, no final do ano,

quer alguma retracção face à relativa instabilidade económica e política vivida internamente no início do mesmo) e o valor preliminar apurado para o primeiro trimestre de 2002 é o mais baixo desde 1999. Em contrapartida, as transferências oficiais estão em franca recuperação, traduzindo a disponibilidade dos principais parceiros para apoiarem os esforços de ajustamento das autoridades - disponibilidade essa expressa também na renegociação da dívida, com o

stock de atrasados a reduzir-se de forma

substancial (cf. gráf. VII). Gráfico VI -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Balança Corrente Balança global Mercadorias Transf. oficiais Transf. privadas IDE

(est.) Balança de pagamentos (1994-2002, em % do PIB)

(est.) (prog.) (est.) Gráfico VII 0 50 100 150 200 250 300 350 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 10 20 30 40 50 60 70 80 Total Atrasados Total (est.) (est.)

eixo secundário (% PIB)

Dívida pública externa (1994-2001, milhões de USD)

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4. FINANÇAS PÚBLICAS

Confrontadas com um sério agravamento dos desequilíbrios orçamentais - que se foi acentuando a partir de meados de 2000, reflectindo-se no apuramento de um défice final equivalente a 9.3% do PIB e na intensificação do endividamento interno e externo (quer devido a esse défice quer à assunção de outros encargos), com a acumulação de atrasados como corolário - as autoridades cabo-verdianas viriam, a partir do primeiro trimestre de 2001, a encetar um esforço de ajustamento orientado para a correcção de tais distorções. Enquadrado, no segundo semestre de 2001, por um programa de ajustamento que contou com a participação do FMI (mas ainda sem apoio financeiro deste), tal esforço centrou-se em especial na contenção da despesa corrente, acabando por produzir resultados - notórios no final do ano (cf. quadro IV e gráf. VIII) -

resultados esses que se traduziram na queda do défice orçamental para 5.2% do PIB, acompanhada por uma substancial redução de atrasados e pela retoma da ajuda externa.

Essa evolução positiva culminaria, já em 2002, com a celebração de um novo programa entre Cabo Verde e o FMI (agora financeiramente apoiado por este último, ao abrigo da Poverty Reduction and Growth

Facility, PRGF, vocacionada para os países

em desenvolvimento) e com uma execução orçamental relativa ao primeiro trimestre de 2002 que se estima ter sido excepcional - ressalvando, porém, tratar-se ainda de dados preliminares.

De facto, não apenas se apura neste trimestre um saldo global positivo (em termos de compromissos, pois na óptica de caixa é já um ligeiro défice que se regista, reflectindo a redução de atrasados, concretizada a um ritmo ainda mais acelerado do que se havia previsto), como também o montante das receitas correntes se revelou superior ao das correspondentes despesas - essencialmente graças ao prolongamento do esforço de contenção levado a cabo no tocante a diversas rubricas cruciais destas últimas, em simultâneo com uma boa arrecadação de impostos (sobretudo indirectos).

Gráfico VIII -35 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Corrente Global Corrente s/ juros Global s/ donativos

(est.) (prog.) Finanças públicas (1990-2002, saldos em % do PIB)

(est.)

Quadro IV

Operações financeiras do Estado

(em % do PIB)

2001 2001 2002

orç. est. orç.rect.

Receitas totais 32.3 25.5 32.1 Receitas correntes 22.8 21.3 23.4 Receitas tributárias 18.9 18.7 18.8 Rec. não-tributárias 4.0 2.6 4.6 Donativos 8.6 4.2 8.1 Transferências de E.P. 0.9 0.0 0.6 Despesas totais 40.7 30.7 40.4 Despesas correntes 23.4 21.9 22.8 Salários e ordenados 10.3 9.5 10.2 Transferências 8.1 8.5 6.1 Juros programados 2.5 2.0 3.1 Dívida interna 1.6 1.2 2.2 Dívida externa 0.8 0.8 1.0 Bens e serviços 1.3 0.8 1.2 Desp. de investimento 17.3 8.8 17.6

Saldo global (compromissos) -8.4 -5.2 -8.3

Variação de atrasados 0.0 -4.1 0.0

Alívio de dívida 0.0 2.8 0.0

Saldo global (caixa) -8.4 -6.5 -8.3

Financiamento interno 2.8 4.1 1.7

O principal factor determinante na deterioração das finanças públicas em 2000 tinha efectivamente sido o excesso de despesa, patente sobretudo ao nível de duas

rubricas de transferências (cf. gráf. X): os subsídios aos preços dos combustíveis (preços estes que se mantiveram constantes desde 1996, apesar da mais que duplicação dos preços internacionais a partir de 1999) e as bolsas para estudos superiores no estrangeiro (que o Tesouro se viu forçado a assumir directamente depois da privatização da banca, em 1999). Seriam também estas, por conseguinte, as áreas consideradas prioritárias pelas novas autoridades cabo-verdianas para a introdução de medidas correctivas, nomeadamente uma reavaliação geral do programa de bolsas (que travou o aumento de despesas com as mesmas e deverá resultar na respectiva redução em 2002) e o aumento dos preços dos combustíveis (por duas vezes, em Maio e Agosto de 2001), com a subsequente eliminação dos respectivos subsídios.

Tais medidas inseriram-se num quadro geral de contenção das despesas correntes cujo impacto vem reflectido no apuramento de graus de execução inferiores ao orçamentado para a maior parte das rubricas (62.3% no caso dos Bens e Serviços), bem como no

facto de o valor final das mesmas ter ficado abaixo do apurado em 2000 (quer em percentagem do PIB, cf. gráf. X, quer mesmo em valor nominal) - contenção essa que passou ainda pelo congelamento de salários na função pública em 2001 (particularmente revelador da dimensão assumida pelas dificuldades e do empenho na respectiva ultrapassagem).

À referida moderação das despesas correntes (dificultada ainda pelo aumento do ónus da dívida, que só não terá sido mais acentuado graças aos reescalonamentos entretanto conseguidos) viria juntar-se a retracção das despesas de investimento, executadas a

pouco mais de metade do orçamentado para 2001 e correspondentes a menos 14.1% que no ano anterior - essencialmente devido à quebra dos empréstimos e donativos externos (em vias de recuperação no ano corrente). O último contributo relevante para a substancial rectificação dos desequilíbrios orçamentais viria, por fim, das receitas tributárias (cf. gráf. IX), em cujo contexto merecem especial destaque os impostos sobre a despesa (5.2% acima do orçamentado), mais notável ainda por ter coincidido com o abrandamento da economia e que apenas terá sido possível graças à recuperação de impostos atrasados. Gráfico IX 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Donativos Não-tributárias Tributárias Transf. de EP Reemb. de Capital

(est.) (prog.) Receitas públicas (1992-2002, em % do PIB)

(est.) Gráfico X 0 10 20 30 40 50 60 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Capital Pessoal Subs. e transf. Juros prog. Outras corr. Extraord.

(est.) (prog.) Despesas públicas (1992-2002, em % do PIB)

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5. SITUAÇÃO MONETÁRIA, FINANCEIRA E CAMBIAL

Depois de um período prolongado, entre finais de 1999 e finais de 2000, em que os objectivos da política monetária foram

confortavelmente assegurados1, o Banco de

Cabo Verde viu-se por essa altura confrontado com a necessidade de introduzir alterações, face à deterioração da conjuntura. Foi assim claramente assumido um pendor mais restritivo no domínio da política monetária, com o aumento das taxas directoras do BCV em Abril de 2001, por forma a contrariar as pressões inflacionistas então notórias. Esse pendor restritivo viria a manter-se por cerca de um ano, contribuindo fortemente (a par da contenção orçamental entretanto adoptada) para a redução dos desequilíbrios macroeconómicos - redução

essa que o BCV entenderia em Maio de 2002 ter sido já suficiente para permitir então nova descida das taxas directoras.

1 Não propriamente a estabilidade de preços, pois foi um período de deflação (embora virtuosa, dado ter coincidido com um ritmo acelerado de crescimento económico, correspondendo em boa medida a ganhos de eficiência), mas, mais adequadamente, a salvaguarda do valor da moeda, pela manutenção de um diferencial favorável face à inflação da Zona Euro - relativamente a cuja moeda está fixo, desde 1998, o escudo cabo-verdiano (CVE), no âmbito do Acordo de Cooperação Cambial entre Portugal e Cabo Verde.

Os enviesamentos orçamentais registados em 2000 produziram, de facto, um forte impacto no domínio das contas monetárias, com o stock do crédito líquido ao SPA a acusar um acréscimo anual de 56.4%, assumindo-se como o principal factor

determinante da excessiva expansão da liquidez (cf. gráf. XI) - a qual terá sido, por seu turno, decisiva para a intensificação das pressões inflacionistas. Um dos elementos marcantes do panorama monetário em 2001 seria, assim, a alteração do papel desempenhado pelo crédito líquido ao SPA, que chegou ao final deste ano cifrado num montante ligeiramente inferior ao que se registava em Dezembro de 2000 (cf. gráf. XII), reflectindo o bom desempenho no esforço desenvolvido com vista ao saneamento das contas públicas.

Os avanços alcançados no processo de consolidação orçamental a partir de meados de 2001 - quer no tocante à redução dos défices (sobretudo por via do controlo da despesa) quer no que diz respeito ao alívio da dívida e à captação de novos financiamentos externos (em boa medida graças ao efeito de catálise decorrente dos acordos com o FMI) - resultariam numa substancial redução das necessidades de financiamento interno do Estado, com forte Gráfico XI -10 -5 0 5 10 15 20 25 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Mai02 Crédito líq. ao SPA Crédito à economia Outros activos líquidos Posição externa

Factores de variação da Liquidez (1996-2002)

Variação em % do stock inicial de M3

(est.) (est.) Gráfico XII -10 0 10 20 30 40 50 60

SPA (líq.) Economia S. Privado 1997 1998 1999 2000 2001e 2002p

n.d. Crédito interno (1997-2002, tx. var. homóloga)

impacto no mercado da dívida pública. As taxas neste praticadas tinham, de facto, subido consideravelmente a partir de meados de 2000 (constituindo um factor adicional de pressão à alta sobre as taxas praticadas pelo sistema bancário para com os seus clientes), mas essa redução nas necessidades de financiamento do Estado viria a suscitar, já em 2002, uma baixa significativa nas taxas dos Bilhetes do Tesouro (cf. gráf. XIII). Tal baixa, conjugada com a descida das taxas directoras do BCV (efectuada em Maio de

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