• Nenhum resultado encontrado

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.6. O CONCEITO DE CLUSTER

3.6.4 Cadeias Globais de Valor

Bair e Gereffi (2001) utilizam o trabalho apresentado por Schmitz & Nadvi, (1999), dedicado ao tema de clusters industriais em países em desenvolvimento para explicar aspectos importantes sobre este conceito. Para alguns existe a necessidade de se estudar a fundo as ligações externas ao cluster, especialmente em países em desenvolvimento, pois a forma pela qual as firmas nos clusters estão ligadas a atores externos acaba criando implicações para o desempenho do mesmo e para o desenvolvimento local. Esta necessidade cria a preocupação em se entender melhor o conceito de cadeias globais de valor (CGV).

Por meio de um estudo sobre a evolução do conceito de CGV, verifica-se que sua origem vem dos trabalhos de Hopkins e Wallerstein (1977, 1986) sobre “cadeias globais de commodities (CGC) ”, nos quais os autores buscavam rastrear o conjunto de insumos e transformações que levavam à produção de um “bem final de consumo”. O conceito de CGC retornou no trabalho de Gereffi e Korzeniewicz (1994), porém tendo como principal ator a firma ao invés do Estado e desenvolvendo a premissa de que um novo sistema produtivo global estaria emergindo, onde a integração econômica iria além do comércio internacional (OLIVEIRA, 2014).

Bair e Gereffi (2001) afirmam que cadeias de commodities são compostas de ligações que representam discretas atividades inter-relacionadas, envolvidas na produção e distribuição de bens e serviços. Embora a abordagem de distritos industriais tende a centrar-se no papel das instituições na formação de resultados e de desenvolvimento local, na abordagem de cadeias de commodities, cada cadeia de commodities é impulsionada por empresas principais que coordenam e controlam a organização do processo de produção.

Neste sentido o termo “cadeia global de valor (CGV) ” apresenta um contexto mais amplo que tem sido usado para sintetizar o conjunto de atividades que empresas e trabalhadores desenvolvem desde a concepção de um produto até seu uso final, incluindo as fases do processo produtivo: obtenção de insumos; pesquisa e desenvolvimento; produção; distribuição; marketing do produto final e serviços de pós- venda. A cadeia de valor se torna “global” pois há uma crescente fragmentação destas atividades, acompanhada de uma dispersão geográfica das mesmas. A integração

funcional das atividades, ou dos diversos fragmentos dispersos é uma característica chave do conceito, bem como o uso da expressão “cadeia de valor” em substituição a “cadeia produtiva” pois explicita a ideia de agregação de valor inerente a cada fase realizada (GEREFFI e FERNANDEZ-STARK, 2011).

Assim, cadeias globais de valor podem ser definidas como o conjunto de atividades necessárias à produção e entrega do produto ao consumidor final, sendo que a qualificação do processo como “cadeia de valor” advém do fato da produção ocorrer em estágios que agregam valores adicionados e o somatório destes fatores compõe o valor adicionado. Como as etapas da cadeia podem ser desempenhadas dentro de uma mesma firma ou por mais de uma firma, se o conjunto de firmas estiver situado em mais de um país, então teremos uma cadeia de valor global.

Mesmo com a fragmentação e dispersão geográfica, as etapas se mantêm funcionalmente integradas como um verdadeiro sistema produtivo global. Esta dinâmica produtiva proporciona um significativo aumento no comércio de produtos intermediários além de criar uma crescente interdependência entre os setores produtivos, sejam eles de bens e ou de serviços. As causas que permitiram o surgimento desses fluxos são essencialmente duas: (a) drástica redução nas últimas três décadas dos custos de comércio e (b) aumento dos investimentos em liberalização comercial no mesmo período (DYMOND AND HART, 2008).

Com o objetivo de explicar o funcionamento das cadeias de valor, Gereffi e Fernandez-Stark (2011) apresentam quatro dimensões básicas exploradas pela metodologia de cadeias globais de valor (CGV):

1. Uma estrutura de insumo-produto, que descreve o processo de transformação de matérias-primas nos produtos finais. Nesta dimensão encontram-se a identificação, descrição e análise das etapas e elos que constituem uma cadeia de valor, evidenciando as relações entre cada segmento desta, as características dos atores envolvidos e a dinâmica de interação entre estes últimos. Os elos de cada cadeia variam de acordo com o setor, mas em geral incluem pesquisa, concepção e desenvolvimento, insumos básicos, partes e componentes, produção, distribuição e marketing.

2. Uma dimensão geográfica que busca examinar a dispersão ao redor do globo das atividades que compõem as cadeias de valor e os fatores locacionais que impulsionam as mudanças no padrão desta dispersão e determinam a localização de cada etapa em determinada região como a dotação, custo de fatores, capacidade produtiva etc. A análise da posição hierárquica das firmas concentradas em algum país permite inferir a posição desse país em dada cadeia.

3. Uma estrutura de governança, que examina e analisa aspectos como o controle e a coordenação das atividades de uma CGV, bem como a hierarquia de distribuição de poder e benefícios entre seus participantes. Existe uma multiplicidade de complexas formas de governança, que variam de acordo com o setor e descrevem a relação entre as empresas líderes e seus fornecedores e parceiros, afiliados ou não.

4. Um contexto institucional em que a cadeia de valor da indústria é incorporada. Esta dimensão diz respeito ao contexto institucional em que estão inseridas as cadeias e busca identificar como as circunstâncias e políticas locais, nacionais e internacionais moldam seu funcionamento. Neste aspecto incluem-se os contextos econômicos; que envolvem, por exemplo, a disponibilidade de fatores de produção e infraestrutura, social; como o nível educacional e a participação feminina na força de trabalho e institucional; por exemplo, as legislações trabalhista e fiscal e políticas para inovação.

Gereffi (1999) e Humphrey & Schmidt (2002), usando estas quatro dimensões fundamentais, desenvolveram um elemento adicional de análise das cadeias, este novo elemento é definido como modernização, que descreve o movimento dinâmico dentro da cadeia de valor, que examina como produtores alternam entre diferentes fases da cadeia.