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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.3. A GLOBALIZAÇÃO

Outro conceito bastante importante para este trabalho é a globalização, que de acordo com Dicken (2010), além de ser um termo confuso e mal utilizado, também tem se tornado com o passar do tempo (apesar de já ser utilizado desde Karl Marx, no século XIX) genérico, sendo utilizado para englobar quase todos os tipos de acontecimentos enfrentados pela sociedade moderna, sejam eles bons ou ruins.

Para os hiperglobalistas, nós vivemos em um mundo sem fronteiras no qual o nacional é tido como irrelevante e a globalização é a nova ordem econômica, cultural e política. Sendo assim, a ordem global é considerada, um estado onde o tempo- espaço foi drasticamente reduzido, tendo chegado “o fim da geografia”, fazendo com que todos os lugares se igualem. Porém, essa visão para Dicken (2010) é apenas um mito, um equívoco.

Na verdade, o que houve foi uma transformação na natureza, no nível de interligação na economia mundial e, principalmente, na velocidade em que essa conexão ocorre, o que envolve tanto uma expansão, quanto uma intensificação das relações econômicas. Atualmente, vivemos em um mundo onde há uma profunda integração, dentro e entre redes de produção transnacionais, que são geograficamente complexas e extensas, aonde cada componente da produção vem de um determinado local do globo, e através de uma vasta diversidade de mecanismos, que é cada vez mais padrão. Falar da globalização de acordo com Garcia (2009, p. 41) requer, ao menos, considerar três tipos de princípios:

a) o princípio da transitoriedade, determina que a globalização seria um processo marcado pela combinação entre permanência, descontinuidade e mudança, e estaria transformando a realidade social. Novas e contingentes relações sociais e estruturas institucionais estariam emergindo. O desafio estaria em identificar as respostas dos agentes aos desafios impostos pela nova situação e a convivência e ajuste entre novas e antigas estruturas e práticas sociais. A globalização seria um processo impositivo decorrendo daí importantes descontinuidades históricas.

b) o da multiformidade. O processo teria efeitos heterogêneos sobre os diferentes atores sociais, criando riscos e oportunidades variados. Ações em diferentes conjunturas e com variados níveis de recursos equivaleriam a respostas, vantagens e prejuízos diferentes para esses atores. Novas oportunidades seriam oferecidas aos atores, porém acompanhadas de riscos e desafios para a esfera local. Além disso, retornos como a justiça social, a prosperidade e o desenvolvimento local seriam contingentes.

c) o princípio da multidimensionalidade, segundo o qual as diferentes dimensões da realidade social são condicionantes do processo de globalização. Referências globais (padrões competitivos etc.) demandariam ajustes dos agentes sociais (empresas, empresários, sindicatos, governos etc.) que, por sua vez, dependeriam da conjugação de certos fatores como conjuntura política, instituições locais, recursos econômicos, políticos e sociais etc. Por esse princípio, a globalização não seria basicamente um processo orientado pelas forças incontroláveis do mercado, mas também condicionada pelas estratégias dos atores locais. Particularmente, este princípio realça o caráter dialético e conflitivo das relações entre agente globais e locais. À assimetria de poder entres as duas esferas equivaleria a elaboração de estratégias de resistência e à inevitabilidade das decisões unilaterais se imporia a possibilidade de existência de uma certa “margem de manobra” para os atores locais.

Os processos globalizantes se refletem e são influenciados por diversas geografias e não por uma única geografia global. Neste sentido é possível identificar várias tendências de combinações distintas, de acordo com o apresentado por Dicken (2010, p. 29):

 Processos localizantes: atividades econômicas geograficamente concentradas com vários níveis de integração funcional;

 Processos internacionalizantes: expansão geográfica simples de atividades econômicas através de fronteiras nacionais, com baixos níveis de integração funcional;

 Processos globalizantes: ampla expansão geográfica e alto nível de integração funcional; e

 Processos regionalizantes: a operação de processos “globalizantes” em uma escala mais geograficamente limitada (mas supranacional), variando desde a União Européia, altamente integrada e em expansão, até acordos econômicos regionais muito menores.

Segundo Dicken (2010), grande parte da literatura sobre globalização reivindica o “fim da geografia” e/ou o “término da distância” com o grande desenvolvimento nos transportes e na comunicação, porém estas afirmações se apresentam de forma simplista. As redes de produção global e regional não integram apenas empresas em estruturas que tornam iguais os limites tradicionais das organizações como também fazem parte das economias locais e nacionais de forma que possuem grandes implicações em relação ao desenvolvimento social e ao bem-estar.

Castells (1996), afirma que as forças da globalização orientadas principalmente pela tecnologia da informação, estão transformando o mundo de “espaço de lugares”, para “espaço de fluxos”. Dickens (2010) contra argumenta esta ideia, afirmando que o mundo é tanto um espaço de lugares quanto de fluxos e apesar do entendimento de que “tudo pode ser localizado em qualquer lugar, se lá não funcionar, poderá ser facilmente deslocado para outro” isto não ocorre de maneira tão fácil, pois cada função econômica está fincada a localizações específicas, tanto de maneira física (ambiente construído), quanto de maneira menos tangível (relações sociais, institucionais e culturais).

O consumo deve ser levado em conta ao entendermos os circuitos e as redes de produção, pois além de ser influenciado pelo rendimento o consumo também é provocado pelos desejos sociais e pela cultura da sociedade onde todo e qualquer tipo de motivação está envolvido, o que varia desde a satisfação das necessidades básicas, para que se possa garantir a sobrevivência, ou por desejos cada vez mais

sofisticados. O aumento do consumo está relacionado com a presença da internet que facilita a compra de produtos e serviços e também abre um leque de opções cada vez maior.

Na visão dos “hiperglobalistas”, o aumento da dispersão geográfica em escala global já virou padrão, porém Dicken (2010) apresenta questionamentos interessantes:

 Se esse for realmente o caso, porque as concentrações geográficas continuam existindo, e mais, representam o estado normal das coisas?  Porque os locais de aglomerações continuam existindo em um “espaço

derrapante”?

 Porque ao examinarmos o mapa geoeconômico, detectamos tendências de concentração e dispersão, mas com uma propensão muito forte para as atividades se aglomerarem em Clusters?

Estas questões, principalmente a última que aborda a resposta mundial aos desafios lançados pela globalização, servem de base para o prosseguimento deste trabalho, ao levantar a importância dos Clusters e sua continuidade como opção de desenvolvimento regional.