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1 INTRODUÇÃO

2.2 CONTEXTUALIZANDO O INSTITUTO DE QUALIDADE NO ENSINO (IQE)

2.2.6 Quais e como são os materiais didáticos propostos?

2.2.6.1 Cadernos Conceito e ação (CA)

O caderno CA tem como intuito subsidiar o Qualiescola nas formações continuadas de docentes em diversas redes municipais de ensino no Brasil. Ao todo, são 8 (oito) cadernos organizados a partir de um tema/conteúdo de LP que se subdivide, normalmente, em três subtemas, denominados de unidades (1,2,3 -em manuais separados). Tais cadernos compõem- se como módulos de ensino para serem trabalhados, quinzenalmente, pela equipe de formadores de LP com os respectivos professores de cada Rede de Ensino. Como já mencionamos, são utilizados nos estudos individuais prévios, à distância, em que o professor estuda solitariamente; e presencialmente, nos estudos práticos, onde realizam-se oficinas para a reflexão coletiva dos manuais. No geral, este material visa a instrumentalizar os professores, dos primeiros anos do EF, nas necessidades de sala de aula (CADERNO 1, unidade 1, p. 5, 2012). Observemos os assuntos abordados nos cadernos e, respectivas, unidades.

QUADRO 5: Material de formação docente

CADERNO

CONCEITO E AÇÃO UNIDADES

TEMA SUBTEMA 1 SUBTEMA 2 SUBTEMA 3

1.Alfabetização O que as crianças sabem sobre a escrita

O que sabemos sobre a escrita e a linguagem escrita

Sugestões de atividades para sala de aula

2.Linguagem, discurso, texto e gênero

Linguagem e discurso Concepção de texto e fatores de textualidade

O gênero textual como forma de dizer

empregada na

comunicação humana 3.Processo de leitura de Procedimentos Produção textual Procedimentos

42 Acreditamos ser intencional,por parte do IQE, ter um padrão de formações continuadas, à maneira do IQE, pois são organizadas para atender sujeitos de todo o Brasil, de Norte a Sul. Apesar de ser requisito fundamental o uso das sequências das oficinas nos encontros docentes, normalmente, é permitido à equipe de formação planejar e produzir novas situações, de acordo com a realidade do seu grupo.

produção de textos envolvidos no ato da leitura

didáticos para a prática de leitura e de produção de textos 4.Leitura e Análise Linguística de textos na ordem do narrar e do relatar Leitura, Produção e Análise Linguística de textos da ordem do narrar Leitura e Análise Linguística de histórias em quadrinhos e produção de narrativas Leitura e Análise Linguística de textos na ordem do relatar 435.Fundamentos para o planejamento escolar A natureza do planejamento e seus componentes A concepção de ensino e de aprendizagem na proposta pedagógica da escola --- 5.Planejamento de ensino de Língua Portuguesa O objetivo geral do ensino de Língua Portuguesa Organização de sequências didáticas e de contextos de aprendizagem para o desenvolvimento de habilidades e conteúdos --- 6.Leitura, produção e Análise Linguística de textos da ordem do instruir/ prescrever, do expor e do argumentar Leitura, produção e Análise Linguística de textos da ordem do instruir/ prescrever Leitura, produção e Análise Linguística de textos da ordem do expor Leitura, produção e Análise Linguística de textos da ordem do argumentar

7.Literatura Infantil Literatura Infantil:

conceito e especificidades Modalidades de textos de “Literatura Infantil” Atividades didáticas de leitura de textos de “Literatura Infantil”

Fonte: Elaborado pela autora. Tendo como mote servir de apoio à formação docente, os temas abordados são apresentados nos manuais, levando em consideração a prática pedagógica dos professores. De fato, são cadernos de formação de professores e eles se utilizam de estratégias textuais e discursivas específicas. Entretanto, apesar de trabalhar com muitos conteúdos teóricos das áreas de língua e de ensino, percebemos que a intenção é abordá-los de maneira menos científica. Em uma tentativa, ao nosso ver, de “didatizar” ou “vulgarizar” o conhecimento científico.

Neste intuito, os conteúdos são trazidos aos moldes da estruturação dos documentos oficiais do MEC (1997, 1998, 2012) - não citam diretamente fontes basilares para a elaboração teórica dos cadernos.Contudo, por vezes, trazem uma seção de ‘referências. Como

43 Os cadernos 5 apresentam uma estrutura diferenciada dos demais, compõem-se de dois temas que se subdividem em duas unidades cada, e não três. Por isso, contamos com oitos cadernos de CA.

cada tema se divide em três manuais, comumente, as indicações bibliográficas são apresentadas no terceiro- isto, entretanto, não é uma regra. Em algumas unidades, a dita seção se inclui no livro 2, ou no 1; ou é possível ver também menção às fontes em notas de rodapé no corpo textual. Em suma, percebemos que não há uma padronização nas edições ou nas indicações às fontes nos cadernos, adequando-se às normas de referenciação, por exemplo, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A grosso modo, o fato pode parecer, para aquele leitor, que tenha pouca experiência de leitura sobre a área, que toda a produção teórica pertença ao IQE.

Para efeito de exemplificação da ocorrência44, no Caderno 2, do eixo temático “Linguagem, discurso, texto e gênero”, embora, nas duas primeiras unidades do manual enfoquem o conceito de texto enquanto enunciado (aos termos bakhtinianos, no entanto sem mencioná-lo), une distintos conceitos: gêneros do discurso (Bakhtin) e gêneros de texto (Escola de Genebra), aos moldes dos PCN, sem fazer referências diretas aos estudos, salvo na seção “referências bibliográficas” que apresenta ao final do livreto. Entretanto, no corpo do texto da unidade 3, do Caderno 2, há uma indicação direta aos PCN(1997), quanto à unidade básica de ensino, os textos, e ao objeto de ensino, os gêneros (CADERNO 2, unidade 3, p. 06, 2012); e uma de nota de rodapé, onde menciona a autoria do quadro do agrupamento das sequências de textos da Escola de Genebra (p. 46). Assim, apesar de observarmos uma apropriação sinonímica para os termos gêneros do discurso e gêneros de textos, observamos que o último toma mais forma nos cadernos.

Ainda que não esteja expressamente dito nos manuais, é factível perceber a existência de um diálogo frequente com a obra oficial do MEC e, ao seu apagamento às fontes teóricas no corpo do texto. O fato se materializa como uma estratégia de didaticidade dos PCN(1997) e se converte em uma tentativa de proposta curricular para este documento, talvez porque a elaboração metodológica e conceitual do programa tenha ocorrido em época de efervescente debate sobre os Parâmetros. Neste sentido, aos moldes da indicação dos textos do MEC, o Instituto utiliza-se do texto como unidade de ensino e os gêneros como objeto, do 1º ao 9º ano do EF.

Constata-se nesta estrutura, uma opção por preparar todos os professores do 1º ao 5º do EF como alfabetizadores. Embora grande parte do corpo docente dos anos iniciais seja licenciado em Pedagogia, é uma realidade emergente na educação nacional perceber que nem todos sabem trabalhar com alunos que não estão alfabetizados. Por isso, o IQE destina um

44 Vale a pena reiterar que não temos como intenção realizar uma análise minuciosa dos cadernos CA, por isso mencionamos alguns manuais a pretexto de exemplificar e justificar os nossos argumentos.

caderno inteiro, no caso do caderno CA 1, para trabalhar com o tema, e, em todos os outros, traz situações sugestivas para professores com pouca ou nenhuma formação na área de LP (ou de matemática), focando em ambas, aspectos teóricos e práticos sobre Alfabetização e Letramento- disciplinas centrais para as avaliações externas de larga escala45, ofertadas pelo MEC, nos Estados e nos munícipios brasileiros. Esse fato torna o Qualiescola, um programa bastante atrativo para muitas cidades do país que desejem elevar seus índices nestes exames, tanto para o Ideb quanto para o Saepe46- pois, passa a atuar como preparador dessas avaliações governamentais.

De um modo geral, os cadernos CA quando abordam algum aspecto teórico, fazem-nos para exemplificar como ou por que o professor deve fazer tal coisa em sala de aula. Mas, sempre é muito enxuto de conhecimentos teóricos. O redimensionamento dos manuais busca atender a momentos de estudo e de reflexão sobre a língua, bem como intenciona um possível aperfeiçoamento das práticas de ensino; amparando-se na perspectiva ainda vigente no país, desde a alfabetização até o 9º ano do EF. Assim, busca-se converter em um passo a passo do professor, que trabalha em sua maioria, dois ou três turnos, e vê os encontros de formação como uma ‘fuga’ para o cansaço e oportunidade de ver uma atividade que contemple sua realidade.É preciso ressaltar que todos os docentes do (1º ao 9 º ano), sem exceção, de acordo com os anos da Rede incluídos no programa, recebem os cadernos CA e fundamentados neles são geridos os estudos formativos, em serviço.

Para tal, os cadernos CA são elaborados aos moldes de um livro didático produzido para o professor.Inclusive, as capas dos cadernos (do 1º ao 7º) são padronizadas e atendem a este caráter didático. Para efeito de exemplificação, vejamos a capa de um manual: a unidade 1,

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É com base nessas avaliações que são gerados o Ideb nacional, para as áreas de LP e de Matemática. Para o ano de 2013, a proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e de interpretação de textos, foi de 40% para os anos iniciais (1º ao 5º ano) e de 23 % para os anos finais (6º ao 9º ano) em LP. Para matemática, o percentual de adequação em leitura e em interpretação de problemas matemáticos, foi de 35% e de 11%, em tais modalidades de ensino,respectivamente. Dados que mostram a pertinência da abordagem do IQE, com ênfase na alfabetização e no letramento nas respectivas áreas. (Disponível em http://www.qedu.org.br/brasil/aprendizado, acesso em 26-02-2016).

46 Aos moldes do Ideb, em Pernambuco, tem-se o Saepe (Sistema de Avaliação da Educação Básica de Pernambuco), um sistema de avaliação anual. Os testes do Saepe começaram a ser formulados em 2008 para avaliar competências e habilidades na área de LP e de Matemática, dos estudantes das Redes, estadual e municipal, nos 3°, 5° e 9° anos do Ensino Fundamental,no 3° ano do Ensino Médio e no 4° ano do Normal Médio. Além da aplicação dos testes, a avaliação inclui outros instrumentos, como: o questionário do estudante, cujo objetivo é traçar seu perfil socioeconômico e sua trajetória escolar; os questionários do professor e do diretor, com o objetivo de traçar o perfil dos profissionais da educação de Pernambuco. O sistema revela quais são as competências e as habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes de cada ano, como oportunidades para a releitura de políticas públicas, por parte do Estado. Como parte desta política, vale mencionar, o programa de bonificação financeira do Estado, que é gerado com base nos resultados, para as escolas que alcançam os índices educacionais estabelecidos, como meta pela SE do Estado, na perspectiva da melhoria do ensino (SAEPE, 2012).

do caderno 1 que se destina a trabalhar, em todas as unidades (1,2,3), a temática da alfabetização.

FIGURA 3: Caderno CA

Fonte: Caderno Conceito e Ação 1: Língua Portuguesa “Alfabetização”, Unidade 1: O que as crianças sabem sobre a escrita. Legenda: 1- Logomarca do programa; 2- Título do caderno; 3- Logomarca Instituto; 4- Área de conhecimento e temática do

volume; 5- numeração do volume e temática abordada.

Dentro desses manuais, as unidades são organizadas em seções temáticas que didatizam os conceitos que encabeçam-nas, ademais são estruturadas subseções com intuito de interagir com o público leitor, os professores, tais como: “Apresentação”/“De professor para professor”(apresenta a proposta de todas unidades ou revisa a unidade anterior e ou sugere uma proposta de estudo); “Aonde queremos chegar” (aponta os objetivos da unidade); “Cá entre nós” (formula comentários ou questionamentos sobre a prática), “E lá na sala de aula”(traz sugestões de atividades para sala de aula); “Sintetizando” (aborda os conceitos trabalhados na seção em síntese) e “Lição de casa” (aponta questões problematizadoras para o planejamento docente, segundo suas experiências).

Além disso, todos os cadernos são formulados, com situações de sala de aula, aos moldes de questionários, em que os professores terão de responder, em um espaço destinado a eles. Ao final de cada pergunta da seção “Atividade”, há um comentário de autoria dos elaboradores do IQE que, na maioria das vezes, já são as respostas das supracitadas perguntas. É desta maneira que são introduzidos os pontos conceituais abordados pelos manuais. Ao

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término de cada unidade, encontra-se a seção “Correção das atividades de estudo”, onde são respondidas todas as questões.

Em geral, as atividades ocorrem em torno de: textos (de diversos gêneros), dando possibilidades de trabalho nos primeiros anos do EF; relatos de situações didáticas e análise de sequências prontas, indicando estratégias que norteiem a prática pedagógica ou promovam a reflexão em docentes mais ‘experientes’; citações de autores e obras renomadas, buscando apoiar o seu discurso com fontes de reconhecido valor na área.