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1 INTRODUÇÃO

2.2 CONTEXTUALIZANDO O INSTITUTO DE QUALIDADE NO ENSINO (IQE)

2.2.6 Quais e como são os materiais didáticos propostos?

2.2.6.2 Cadernos de sequências

Pensando nesse olhar sobre a sala de aula, além das sequências elaboradas como sugestão nos cadernos CA, o IQE utiliza-se do termo ressignificado pela Escola de Genebra, sequências didáticas, e formula 7 (sete) cadernos completos, mais um em desenvolvimento que chamamos de ‘caderno extra’47

. Diferentemente dos cadernos CA que se apresentam apenas na versão professor, estes trazem todos materiais didáticos em duas versões, aluno e docente- à maneira das sequências didáticas impressas da Escola de Genebra que tivemos acesso durante a pesquisa48. Na opção professor, as sequências trazem orientações (respostas, comentários sobre as questões, aportes teóricos, sugestões complementares etc.) sobre como devem ser utilizadas em sala de aula. É relevante destacar quenas instruções para este público, os artefatos não apresentam aspectos teóricos aos moldes dos cadernos CA, quando fazem menção a conceitos, ao nosso ver, surgem para decerto sugerirou ampliar estratégias para o uso do instrumento didático em sala de aula.

De um modo geral, os cadernosse organizam com especificações, nos termos de 1 (um) a 7 (sete) - caderno 1, 2, 3…; ou como extra do caderno. Dentro de cada um consta, ainda, subdivisões em módulos de sequências que se denominam como “partes”, normalmente, parte A, B e C. Há cadernos que apresentam anexos, ou seja, blocos de atividades que não se incluíram na organização inicial e, conforme, foram sendo elaboradas acresceram-nas em um

47 Com base nos documentos oficiais do IQE, são sete cadernos de sequências, no entanto, ao final das análises dos materiais que tivemos acesso, encontramos instrumentos que não se inseriam nos supramencionados cadernos. Desta maneira, e por indicação de formadores do IQE Pernambuco, resolvemos encaixá-las em um caderno extra que não está completo. Há materiais com textos que datam de 2004 e 2013, e focam o desenvolvimento de distintas habilidades em LP.

48 Fazemos menção a sequência didática de autoria de Serge Erard (membro do GRAFE) impressa, em 2001, em francês (sem tradução para o português), nas versões professor e aluno, que tivemos acesso em um minicurso ofertado por Schneuwly, em 2016, na UFPE. O material se intitula Le debate public e tem como objeto de ensino, o gênero oral, debate.

anexo. A exemplo, podemos reiterar o caderno 1, de Alfabetização49, que tem um anexo com 11 (onze) artefatos. É interessante dizer que há, em cada sequência,um número de páginasvariável, não observamos um quantitativo determinado. Todavia, em todas as páginas, traz-seuma nota de rodapé indicando esta localização,de modo, a referenciá-las e identificá-las com mais precisão nos cadernos. Como podemos exemplificar na imagem abaixo, fato observado em todo o corpus.

FIGURA 4: Referência da sequência

Fonte: Imagem elaborada com base nas sequências disponibilizadas pelo IQE para a pesquisa. Legenda: 1-Logomarca do Instituto; 2-1ª Sequência da parte A, na versão aluno; 3- Referência ao caderno número 4; 4- Número da página da sequência do caderno 4.

Quanto à elaboração dos cadernos, em geral, são organizados por temas ou por ordens tipológicas de gêneros: no primeiro caso, temático, têm-se o caderno 1, que se dedica a desenvolver sequências de atividades para trabalhar Alfabetização e Letramento; e o caderno 6, dedicado à análise linguística, nele busca-se trabalhar os elementos linguísticos e expressivos partindo de diversos textos. Na segunda formatação dos cadernos, percebemos que o Instituto busca selecionar e desenvolver sequências que contemplem a gêneros de todas as ordens textuais, com base no agrupamento de gêneros aplicado ao ensino de francês como língua materna pela Escola de Genebra50;ainda que não seja expressamente dito, é o que se percebe, a exemplo: nos cadernos 2 (conto) e 3 (fábulas, lendas, HQs) que trabalham os gêneros da ordem do narrar; no caderno 4 (notícia), único gênero da ordem do relatar; no caderno 5, agrupam-se duas ordens textuais: descrever ações (receitas, instrução de montagem, lista de compras e regras de jogo) e expor (textos expositivos, relatos de experiência, fichas técnicas e verbetes); e no caderno 7, os gêneros cartas ao leitor e cartas de reclamação para exemplificar os textos da ordem argumentativa. Na figura abaixo, podemos visualizar um panorama geral sobre os temas e a organização dos cadernos.

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Vale reiterar que os cadernos CA, normalmente, não fazem relação direta com os de sequências. Apenas no caderno 1, percebemos o tema da alfabetização permeando em ambos.

FIGURA 5: Cadernos de sequências51

Fonte: Elaborada pela autora.

A figura 5 foi elaborada com base nos cadernos que foram disponibilizados para a pesquisa pelo IQE, na versão PDF, não tivemos contato com a versão impressa, nem ao acervo total dos cadernos.É importante dizer que esses cadernos não são acessíveis a todos (professores, coordenadores, formadores etc.) que participam do programa. Ao contrário dos cadernos CA em que todos são entregues aos docentes nas formações continuadas, nos de sequências, conforme nos mencionou a coordenação geral do IQE Pernambuco, nem ela mesmo teve conhecimento de todo acervo dos cadernos de sequências do Instituto.

Vale atentar que os cadernos que trabalham os temas não apresentam critérios quanto à composição metodológica dos materiais didáticos. Em cada parte dos cadernos (A, B, C), observamos que cada sequência se organiza de maneira independente, não se integra como uma sequência modular- o que as unem é a temática. Em contraposição, os cadernos centrados nos gêneros se apresentam em um nível relativamente definido.Em cada parte,

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Na intenção de trazer mais explicitude quanto às sequências inseridas em cada parte, integrada nos cadernos, e visando dar uma atmosfera mais geral sobre temas e conteúdos tratados nos materiais, sugerimos visualizar o APÊNDICE C, de nossa dissertação.

normalmente, há um conjunto de 4 (quatro) ou 5 (cinco) sequências- atividades elaboradas para um ensino gradual, mas não linear, sobre os gêneros; de maneira a introduzir, a aprofundar e a consolidar a competência metagenérica, no dizer de Koch e Elias (2011). Elaboramos, a figura abaixo, para representar o trabalho em LP construído nas partes dos cadernos, cuja base organizacional seja o gênero.

FIGURA 6: Organização dos cadernos de sequência ‘gêneros’

Fonte: Elaborada pela autora.

Como pode se perceber na figura, as primeiras sequências de cada apartado funcionam como introdutórias sobre os gêneros, apresentando-nos os títulos ‘lendo e compreendendo’ ou ‘refletindo e analisando os textos’. Nelas, busca-se realizar antecipações sobre os conhecimentos prévios do gênero, na oralidade; produzem-se algumas questões que envolvam as dimensões sobre o tema, o estilo e a forma composicional, aos moldes da caracterização bakhtiniana ([1952-1953] 1997, p. 302). No entanto, a forma, muitas vezes se sobressai com relação aos demais. Comumente, a penúltima sequência de cada parte compara um gênero com outro da mesma ordem tipológica ou de outras já estudadas, propondo-se a estudar de modo a aprofundar os conhecimentos acerca do texto. A última sequência de cada parteexplora a produção escrita em recontagens ou em reescritas dos textos trabalhados nos artefatos introdutórios, de forma a consolidar os conhecimentos construídos sobre os gêneros. Ao final deste material, comumente, são desenvolvidas as estratégias de revisão e de correção das produções para serem realizadas pelos próprios estudantes, individualmente, em duplas ou em grupos.

Com o propósito de ampliar nossa compreensão sobre a proposta do IQE e visando buscar suas bases teóricas dentro dos estudos da Ciência da Linguagem, no capítulo a seguir, damos especial atenção ao debate e às repercussões geradas pelos estudos sócio- históricos do

Círculo bakhtiniano, no solo da Linguística Textual e Linguística Aplicada no ensino brasileiro. Em seguida, refletimos sobre duas abordagens,aparentemente divergentes, sob o ângulo dos gêneros para o ensino da escrita no país: uma defendida por Geraldi e a outra pela Escola de Genebra.