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O Caes da Europa

4.5 E O CAES DO SALGADO TORNA-SE O PORTO DE NATAL

Com a consolidação dos serviços de melhoramento em áreas ínvias, outras obras prosseguiam, tais como: a construção de grandes armazéns, um torreão para a e t ada do ais e, o o ate a e to j o luído, u a grande área para as avenidas do po to FARIA, , p. . Essas obras, executadas nas áreas se as do po to e do cais consistiam em empreendimentos que concorriam simultaneamente às obras de dragagem e abertura da barra, incluindo a edificação de armazéns, de edifícios

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Para um melhor detalhamento, ver o relatório elaborado pelo eng. Alfredo Lisboa. In: GÓES, Hildebrando de Araujo. Relatório dos serviços relativos ao ano de 1924, apresentado ao exmo. Sr. Dr. Francisco Sá. Rio de Janeiro: [s.l.], 1926, p.49-52.

Figura 14 – E plos o de u a i a pa a de o a e to da Bai i ha ,

1927. Evitava-se utilizar esta técnica, devido aos efeitos colaterais de produção de entulho.

Fonte: Centro de Documentação Norte-Riograndense/RJ; Acervo digital do HCUrb

Figura 15 – Comparação realizada pelo eng. Décio Fonseca entre a planta

elaborada pelo eng. Hawkshaw e o estado em que se encontrava a barra em 1927. Destaca-se mudanças provocadas pelo homem no meio ambiente. Fonte: Acervo digital do HCUrb.

administrativos, galpões de oficinas. O complexo, destarte, constituiria um equipamento indispensável ao pleno funcionamento do porto da cidade.

U fato i p evisto ue apa e eu du a te as o as de melhoramento na década de 1920, consistiu na possibilidade da utilização do porto para receber hidroaviões, justamente dado a proximidade geográfica de Natal com a Europa e a África e uma adequada bacia hidrográfica interna. A conclusão do engenheiro Alfredo Lisboa que o local ... pa a os i te esses da aviaç o, u po to de p i ei a o de se deu a partir do relato de um piloto estrangeiro o qual afirmava: ahi est u po to ideal para a hydro-aviaç o LISBOA, , p. . No mesmo ano, o governador Juvenal Lamartine de Farias, promulgou o decreto 392, de 1º de agosto, que mandava o st ui , os te e os da Ma i ha, o po to ae eo de Natal, afi de se vi de h d o- aviões de qualquer procedência que baixarem em Natal, munido de Estação radiographica de alta f e ue ia e o o das e essa ias offi i as RIO GRANDE DO NORTE..., 1928, p.222).

Figura 16 – Aterro executado na área do porto, provavelmente entre

os atuais bairros da Ribeira e Rocas, 1927. À esquerda, os armazéns ferroviários. Percebe-se a modificação de uma área antes ínvia em uma paisagem antropizada e que daria margem à expansão urbana da cidade.

Seja qual fosse o objetivo das obras, a operosidade com a qual os diversos engenheiros empreenderam as suas tarefas trouxe um significativo desenvolvimento econômico para a cidade que pode ser traduzido no crescente número de embarcações que atracavam no porto de Natal, durante o período que passou de 75 embarcações, no momento em que se iniciou o serviço de dragagem, para 464 navios, em 1926, conforme demonstra a tabela 02:

Tabela 02: Número de entradas de embarcações no Porto de Natal Ano Embarcações Tonelagem

1905 75 34.618 1906 94 51.382 1907 159 110.280 1908 209 147.141 1909 236 188.469 1910 227 185.322161

161 De acordo com o relatório de 1910, a pequena diminuição do ano se deveu ao fato da Companhia

Pernambucana ter deixado de fazer a escala no porto, por alguns meses (SEABRA, 1911).

Figura 17 – Construção dos armazéns do Porto do Natal, out. 1929.

Com as obras das áreas naturais praticamente concluídas, deu-se início as edificações que serviriam de apoio portuário.

1911 240 204.669 1912 244 244.376 1913 428162 224.560 1917 325 201.056 1924 289 - 1926 464 439.582

Fonte: SEABRA, 1911; GONÇALVES, 1912a; 1912b; 1915; LYRA, 1917; SÁ, 1925b; KONDER, 1928.

A Era Vargas (1930 – 1945) foi marcado pela premissa que o então Estado Liberal não era apto a gerir adequadamente o Brasil, uma vez que não possuía a força necessária para uma intervenção racional vigorosa no país, derivada de um objetivismo tecnocrático (RIBEIRO; CARDOSO, 1996). Como conseqüência, surgiu uma nova mentalidade de gestão administrativa, promovido por uma equipe tecno- burocrática bem definida. Dentre os órgãos instituídos após a Revolução de 1930, criou-se o Departamento Nacional de Portos e Navegação que seria responsável pelos serviços de melhoramentos dos portos do país e pela administração portuária de modo geral. E, em outubro de 1932, o decreto de número 21.995, instituía oficialmente o Porto de Natal (BRASIL, 1932). As obras contavam com a supervisão de engenheiro Hildebrando de Góis, que na época chefiava a extinta Inspetoria Fiscal dos Portos, Rios e Canais, e o seu administrador era o engenheiro Décio Fonseca. O projeto nacionalista em andamento apregoava a necessidades de aparelhamento de um porto que atendesse as expectativas de um mundo pós crack da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Para isso, uma vez ue se havia do ado o inconstante meio ambiente da barra, as atenções – e recursos – se voltavam para a modernização da estrutura física do porto.

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Somente neste ano, foi também contabilizado a entrada de embarcações a vela; a quantidade de navios a vapor, para o ano de 1913, foi de 252 unidades.

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4.6 A NATUREZA A SERVIÇO DO HOMEM

Nem sempre as intervenções humanas visavam a destruição do meio ambiente. Houve momentos em que se utilizaram técnicas que empregaram recursos naturais como elemento auxiliar contra o próprio meio físico-geográfico. O exemplo mais notável encontra-se na solução adotada para fixar as dunas que margeavam o rio Potengi e, dessa forma, evitar o assoreamento da barra. Assim, em 1860, o então presidente da província, João José de Oliveira Junqueira, sugeria uma técnica francesa de fixação bastante simples, porém eficiente:

Me parece que a plantação de certas arvores, e de gramma, e a prohibição de pastagem de animaes, que destruem as plantas, e capim nascentes, seria da maior conveniência. Em França, em alguns departamentos do oeste, tem-se empregado com vantagem esse meio de tolher a marcha das areias (JUNQUEIRA, 1860.p.10).

Essa técnica é relembrada treze anos depois, pelo vice-presidente da província, Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara , p. : De out o lado a pla taç o de

163 O projeto do prédio de administração do porto é atribuído, por João Maurício de Miranda (1979), a

Giácomo Palumbo, autor do Plano Geral de Sistematização da Cidade de Natal, no mesmo período.

Figura 18 – Administração e armazéns do porto, década de 1930. Nada

melhor para representar o domínio da Natureza pela técnica do que um pátio calçado, árvores recém-plantadas e alinhadas com um gradil ao seu redor.162

certas gramíneas e a prohibição da pastagem dos animaes que destroem as plantas e capim nascente, seria de maior conveniência. Em França, em alguns departamentos do oeste, tem-se empregado com vantagem esse meio de tolher a marcha das áreas [dunares] .

Ao terem ciência desse método francês, os presidentes Junqueira e Câmara demonstram uma explícita circulação ativa de idéias, mesmo em se tratando de uma província tão longe da Corte Imperial. Ademais, apesar de ela ter sido empregada desde 1780, o seu sucesso permitiu a sua utilização por praticamente todo o século XIX e XX. Um exemplo disso pode ser visto no artigo da Scientific American, de 26 de julho de 1884, traduzido e comentado por André Rebouças, cujo procedimento de fixação funcionava da seguinte forma: A du a, assi segu a, vai, o e ta to, leva ta do-se e as plantas, á proporção que ficam enterradas, lutam para conservarem ao ar livre; d ahi esulta ue o o tí ulo de a eia vai fi a do e volvido e u a ede de aízes (REBOUÇAS, 1884, p.202). O articulista aproveita, então, para apontar, as p oví ias do Norte do Brazil, de Pernambuco até o Maranhão, os vegetaes, que melhor produzem nos areaes e as p aias do a : o Guajurú, a Salsa de praia, os capins Barba de bode e Grama de praia, o Cajueiro, Coqueiros, Muricy Byronima, Guarajuba, Carnícula e o Feijão de Praia (REBOUÇAS, 1884, p.203).

O procedimento adotado, basicamente, se dava em duas etapas: 1) a construção de cercas de madeira – orientadas na direção dos ventos reinantes para a proteção das mudas – espaçadas metro a metro e entrelaçadas com varas de fachina as quais variavam entre 2,50 a 3,00 metros de extensão (ALMEIDA, 1907); 2) o plantio de vegetação apropriada, a qual evitaria que a areia fosse carregada pela força dos ve tos e ue s o os suste ta ulos i dispe s veis dos t a alhos ealizados e os elementos necessarios à manutenção dos esultados o tidos GONÇALVES, 1912b, p.201). Assim, o início da fixação das dunas com pla tas ap op iadas, se do a plantação feita ao abrigo de cercas convenientemente orientadas em relação aos ve tos ei a tes se deu entre 1895 e 1896, cobrindo uma área de 220.000m² de dunas, no canal sul do porto (PIRES, 1896, p.169). Em decorrência dessa medida, o resultado foi o aumento da profundidade desse local em cerca de 30 cm.

Figura 19 – Área de dunas fixadas, 1927. A imagem reflete a extensão da

paisagem modificada pelo homem, com a introdução de espécies vegetais não nativas. Tal como o aterro da figura 12, o local seria posteriormente utilizado no processo de ocupação humana da cidade. Fonte: Centro de Documentação Norte-Riograndense/RJ; Acervo digital do HCUrb.

Figura 20 – Plantio de Eucaliptos, 1927. Sua introdução no Brasil na

década de 1920, se deveu a sua resistência a falta de água. Na parte superior da fotografia, observa-se as cercas de fachina.

Logo, essa técnica se alinhava à proposição do presidente Junqueira, em 1860, porém adaptada, uma vez que empregou espécies nativas ou resistentes ao clima da região164. Um exemplo disso encontra-se no relatório ministerial de 1904, no qual i fo a o pla tio de . p s de si hos, especie de gravatá que vegeta sobre pedras, cerca de 400 litros de fava de gitirana, 14.000 castanhas de caju e 629 coqueiros, plantas todas apropriadas ao fim que se tem em vista MÜLLER, , p.503, grifos nossos)165. Os resultados foram satisfatórios, principalmente com o uso do sincho – Aechmea Aquilega/Hohenbergia Blanchetti.– e, posteriormente com a introdução de outro espécime – encontrado nas praias de Mossoró – chamado de Oró, ou O o , legu i osa astei a ue se dese volve o apidez e fa ilidade na areia (MÜLLER, ; GONÇALVES, a, p. e o side ada po e elle ia, a planta fi ado a de du as a egi o t opi al CARVALHO, , p. . Poste io e te, outros espécimes foram sendo gradativamente plantados ou inseridos, como a Salsa da praia, a Patura e, por fim, Lomba-verde, Umburana, Cajazeiro e Eucaliptos (SÁ, 1925a; KONDER 1928; 1930)166.

Em 1909, com a extensão quase completa das dunas já consolidada, partia-se pa a o pla tio de vo es de g a de po te, e elleza do ada vez ais o po to ao mesmo tempo em que transformaria gradualmente a paisagem (GONÇALVES, 1912a, p.312). Apesar do uso de coqueiros, verificou-se ue os elho es esultados, po , têm sido com a arvore denominada Carolina, principalmente sob o aspecto economico, pois seu pla tio fi a ais a ato ue o do o uei o ALMEIDA, ,

164 Entretanto, o relatório do engenheiro Franscisco Valle Miranda Carvalho (1928, p.196) sugere que tal

o he i e to foi utilizado pelo todo de te tativa e e o, afi al, a va iedade dos vegetaes e saiados está a indicar a incerteza do melhor delles para conseguir-se o al ejado o je tivo .

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O custo desse serviço, para o ano de 1904, ficou na ordem de 33:239$497 contos de réis, o terceiro maior dispêndio do orçamento anual, perdendo somente para a dragagem do rio – 91:431$069 contos de réis – e a folha de pagamento – 35:102$415 contos de réis (MÜLLER, 1904).

166 O relatório de 1927 informava também o plantio de 3.345 mudas, além de 400 outras árvores não

especificadas (KONDER, 1930). Ao consultar o professor de Paisagismo do Departamento de Arquitetura da UFRN, Eugênio Mariano, sobre os tipos de vegetação usados, ele informou que a Salsa de praia é uma vegetação rasteira nativa do litoral nordestino, a Umburana encontra-se na região do semi-árido – empregado como madeira de construção e para fabricação de carvão vegetal e lenha – e o Cajazeiro, uma planta frutífera. Com relação à Lomba-verde e à Patura, tais denominações caíram em desuso atualmente e, assim, não foi possível encontrar maiores informações. Ao ser questionado se tais espécimes cultivados ainda podem ser encontrados, o professor comentou ser pouco provável, pois a vegetação existente se compõe basicamente de árvores nativas de mangue e Cajuarinas, Oiticicas e Juazeiros.

p.424, grifos do autor) 167. Em 1923, a área de plantio atingia a marca de 1.562.343 metros quadrados de extensão (GÓES, 1925). Entretanto, as tentativas de introdução de árvores prosseguiam com um resultado pouco aceitável: das 351 unidades plantadas, apenas 96 vingaram (SÁ, 1925b; GÓES, 1926).