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Perante a evidente evolução da calculadora nos últimos anos, este instrumento tecnológico, naturalmente, veio influenciar a forma como actualmente é encarado o ensino e a aprendizagem da disciplina de Matemática. O facto é que, progressivamente a calculadora tem vindo a tomar lugar na escola, particularmente na sala de aula, desencadeando uma

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necessidade de se repensar as metodologias e os papéis que lhe podem ser atribuídos no ensino da Matemática. Para que as calculadoras gráficas surtam realmente efeitos positivos na educação é fundamental que se levem a cabo alterações ao nível do currículo (Burril, 1992; Demana et al., 1993). Mesmo que não sejam excluídos alguns tópicos tradicionalmente leccionados é necessário repensar as metodologias de trabalho na sala de aula.

No caso de Portugal, o currículo tem sofrido várias alterações ao longo dos tempos. Em particular, no mês de Julho de 1986 foi aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo e em consequência deu-se a renovação dos Currículos e dos Programas dos Ensino Básico e Secundário. Aumentou para 9 anos a escolaridade obrigatória e o ensino secundário foi alargado para mais um ano.

Em Abril de 1988, foi organizado pela Associação de Professores de Matemática um seminário em Vila Nova de Milfontes cujo tema foi a Renovação do Currículo da Matemática (APM, 2009). Nesse mesmo ano estava a decorrer uma reforma importante do sistema educativo com a elaboração dos novos programas para todas as disciplinas. Nesse seminário, a calculadora é referida como instrumento de utilização natural que coloca em causa o currículo tradicional. Assume-se que, para a sua utilização na sala de aula é necessário que se alterem os objectivos e as práticas pedagógicas.

No entanto, só no ano lectivo de 1995/96, surge a recomendação da utilização das calculadoras gráficas nas escolas. No entanto, o seu uso não era permitido nos exames nacionais (Rocha, 2001). Posteriormente, no ano lectivo de 1997/98 foi dado um grande passo quando surge no programa oficial da disciplina de Matemática a obrigatoriedade da utilização da calculadora gráfica nos exames nacionais (Ministério da Educação, 1997). A partir deste momento dá-se a generalização da utilização desta tecnologia e a polémica começa a dissipar- se.

No ano lectivo de 2001/02, o programa de Matemática para o ensino secundário salienta que as calculadoras gráficas são calculadoras científicas muito completas, que devem ser consideradas não apenas como instrumentos de cálculo mas como instrumentos que incentivam

o espírito de pesquisa nos alunos.É importante que os alunos utilizem as calculadoras gráficas

em actividades matemáticas de condução de experiências matemáticas, elaboração e análise de conjecturas, de estudo e classificação do comportamento de diferentes classes de funções e de investigação e exploração de várias ligações entre diferentes representações para uma situação problemática. O recurso à calculadora gráfica pode auxiliar assim, o aluno na compreensão dos conceitos matemáticos, no entanto, não deve ser utilizada em raciocínios básicos. Este programa

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salienta que “a calculadora gráfica dará uma contribuição positiva para a melhoria do ensino da Matemática” (Ministério da Educação, 2001, p.16).

Recentemente, no ano lectivo de 2009/2010, foi pela primeira vez aplicado o novo programa de matemática elaborado pelo Ministério da Educação (2007), em que nele consta que a utilização adequada da calculadora permite ao aluno concentrar-se nos aspectos estratégicos do pensamento matemático, na resolução de problemas e na investigação de regularidades numéricas.

Conforme foi referido anteriormente e em forma de síntese, a introdução e utilização da calculadora no currículo da disciplina de Matemática, em Portugal, foi efectuada de forma progressiva e tem vindo a sofrer algumas alterações ao longo dos anos desde o seu aparecimento (Tabela1).

Tabela 1. A calculadora no currículo da disciplina de Matemática de 1988 a 2007

Ciclos Anos

Ensino Básico

Ensino Secundário

1ºciclo 2ºciclo 3ºciclo

1988

“Os alunos de todos os níveis de ensino devem ter oportunidade de utilizar correntemente calculadoras nas suas aulas de Matemática. Assim, todos os alunos deverão ter a todo o momento disponível a calculadora” (APM, 2009, p.70).

1991

A calculadora deve ser utilizada.

A calculadora deve ser utilizada de forma adequada. 1997 O uso da calculadora gráfica é obrigatório neste programa. 2001

“Todos os alunos devem aprender a utilizar não só a calculadora elementar mas também, à medida que progridem na educação básica, os modelos científicos e gráficos” (Ministério da Educação, 2001, p.71)

2002

A máquina de calcular deve ser utilizada, não só para a sua vulgarização, mas principalmente pela segurança que dá como auxiliar em cálculos morosos e pela possibilidade de exploração e descoberta que pode permitir quando utilizada com imaginação.

O uso da calculadora gráfica é obrigatório neste programa.

2007

Os alunos devem ser capazes de usar a calculadora. A calculadora pode ser utilizada em tarefas de investigação e na resolução de problema.

Várias têm sido as investigações sobre a utilização da calculadora gráfica no processo de ensino e de aprendizagem. Estas investigações têm-se centrado: - nas potencialidades desta tecnologia, no que se refere ao desenvolvimento de alguns conceitos, nomeadamente, o conceito de função; - no desempenho dos alunos que utilizam esta tecnologia em comparação com os que não a utilizam; - nos erros associados à utilização da calculadora gráfica; - na utilização das calculadoras em situações de avaliação formal; e - nas atitudes dos alunos face à utilização do calculadora gráfica (Rocha, 2001).

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Actualmente, em Portugal, as novas tecnologias, constam das orientações metodológicas dos programas de matemática e desempenham um importante papel no ensino secundário. No entanto, num estudo realizado por Romano e Ponte (2009) verificaram que apesar das calculadoras gráficas serem actualmente um instrumento obrigatório na sala de aula não se tem verificado uma alteração dos objectivos, das tarefas ou das práticas lectivas. O facto é que com o aparecimento das primeiras calculadoras gráficas deu-se, uma alteração da forma com é encarado o ensino da Matemática colocando-se novas questões relativas à organização curricular desta disciplina.