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No ano de 1997, um ano após a promulgação da LDB/1996, o MEC solicitou, por meio do Edital nº 4/1997, que as instituições do país enviassem sugestões para as CEEs das diferentes áreas, visando à discussão e elaboração de DCN para os cursos superiores. Esgotado o prazo para o envio das sugestões, as Comissões foram convocadas para darem início aos trabalhos: sistematizar as sugestões e produzirem as propostas a serem encaminhadas ao Conselho Nacional de Educação. A partir de dezembro de 1998 as primeiras propostas sistematizadas foram divulgadas na Internet para que fossem alvos de discussões e críticas gerando novas sugestões.

Os cursos de Licenciatura também receberam Diretrizes Curriculares. A SESu observou a necessidade de promover articulações entre as diferentes áreas que oferecem formação para o exercício do magistério na Educação Básica, de modo a elaborar diretrizes gerais para as licenciaturas, objetivando fortalecer essa formação. Assim, a SESu formou um grupo, que chamou de grupo-tarefa, composto por especialistas em formação de professores, incumbido de formular um documento com orientações “que possam caracterizar as licenciaturas como uma formação profissional com identidade própria, superando, assim, sua condição atual, que em geral, não tem passado de um apêndice do bacharelado” (BRASIL, MEC, SESu, s.d, p. 4). A SESu tinha o objetivo de aproximar a proposta que seria elaborada por esse grupo-tarefa e as propostas das diferentes CEEs que estavam trabalhando na elaboração da diretrizes dos cursos de graduação que também oferecem a modalidade licenciatura.

Assim, em 8 de maio de 2001 o Parecer CNE/CP nº 9, que trata das DCN para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena foi aprovado. Tal Parecer recebeu nova redação no item 3.6 alínea c, que trata sobre o estágio supervisionado, em outubro do mesmo ano por meio do Parecer CNE/CP nº 27/2001.

Desse modo, pautada nesses dois Pareceres, em 18 de fevereiro de 2002, por meio da Resolução CNE/CP nº 1, foram instituídas as DCN para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de

graduação plena. As diretrizes, de acordo com seu artigo 1º “constituem-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam- se a todas as etapas e modalidades da educação básica” (BRASIL, CNE, 2002, p.1).

Tal Resolução aborda, de modo mais específico, as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas nos futuros professores, carga horária, avaliação (as competências servirão de referência para avaliação), organização institucional e pedagógica, princípios norteadores que devem estar presentes no processo de formação e também sobre a prática, indicando que ela deve permear todo o período do curso e não somente no estágio supervisionado.

Uma Resolução especialmente voltada para a duração e para a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena foi homologada no dia 19 de fevereiro de 2002. Tal Resolução CNE/CP nº 2/2002 pautou-se no Parecer CNE/CP nº 28, de 02 de outubro de 2001, que altera a redação do Parecer CNE/CP nº 21, de 6 de agosto de 2001.

A Resolução CNE/CP nº 2/2002 estabelece uma carga horária mínima de 2800 (duas mil e oitocentas) horas a serem efetivadas ao longo do curso. Dessa carga horária total, deve-se garantir por meio da articulação teoria-prática, nos termos dos projetos pedagógicos de cada curso,

I - 400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;

II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso;

III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural;

IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais.

(BRASIL, CNE/CP, 2002, p.1)

A carga horária mínima exigida para os cursos de formação de professores foi alvo de críticas por alguns autores. Para Freitas (2002), nos cursos de formação de professores é exigida uma carga horária menor comparada com a carga horária exigida em outros cursos que formam profissionais mais valorizados em nossa sociedade. De certo modo, a autora compreende que as Diretrizes privilegiam o aligeiramento e o rebaixamento da formação de professores entre outras questões que ela traz em seu trabalho.

Pela leitura da Resolução CNE/CP nº 1/2002 compreendemos que a existência de Institutos Superiores de Educação é fortalecida. Em seu art. 7º, item VIII, diz da criação dos Institutos Superiores de Educação e de Cursos Normais Superiores como espaço de formação de professores, reforçando, portanto, o que a LDB/1996 já havia anunciado. De acordo com Freitas (2002), a ANFOPE se manifestou em uma audiência pública para apresentação das diretrizes, enviando um documento ao CNE. Nesse documento a ANFOPE dá destaque essa questão do

locus de formação de professores alertando para

o forte viés, presente no documento em análise, de institucionalizar a formação de professores nos institutos superiores de educação como local exclusivo para tal missão, em vez de indicar fortemente a responsabilidade da instituição universitária como locus preferencial para o enfrentamento de tal tarefa.

(ANFOPE, 2001 apud FREITA, 2002, P.151)

Assim, as Resoluções apresentadas acima, que regulamentam todos os cursos de Licenciatura, regulamentam também o curso de Licenciatura em Matemática e é por meio delas que ele deverá, também, se fundamentar e adequar o seu Projeto Pedagógico.

A Comissão de Especialistas do Ensino de Matemática (CEEM) recebeu um total de 32 sugestões para serem sistematizadas e, por meio delas, elaborar as DCN para o curso de Matemática (bacharelado e licenciatura). Trabalhando com sugestões e fazendo as consultas previstas à comunidade acadêmica, a CEEM finalizou os trabalhos de sistematização das propostas recebidas e, desse modo, o Parecer CNE/CES nº 1.302, que trata da matéria foi homologado.em 06 de novembro de 2001,

Nesse Parecer, já de início, são definidos os objetivos do curso de Matemática. O bacharelado objetiva “preparar profissionais para a carreira de ensino superior e pesquisa” (BRASIL, CNE/CES 2001, p.1) e a licenciatura tem como meta a “formação de professores para a educação básica” (BRASIL, CNE/CES 2001, p.1). Focando os objetivos para a licenciatura vemos que ao explicitar de modo geral que o curso formará professores para a “Educação Básica”, o Parecer não restringe a etapa de atuação do licenciado, de modo que podemos entender que a licenciatura e, Matemática poderá também formar profissionais para as primeiras fases da Educação Básica.

Algo nos causou estranheza no voto do Relator Francisco César de Sá Barreto. Ele diz ser favorável à “aprovação das Diretrizes Curriculares para o Curso de Matemática, Bacharelado” (BRASIL, CES 2001, p.1), e do projeto de resolução que acompanha o Parecer, não mencionando, portanto, a Licenciatura. Qual o motivo que levou o Relator mencionar apenas o bacharelado uma vez que as Diretrizes para o curso de Matemática dizem respeito também a Licenciatura?

O Parecer CNE/CES nº 1.302/2001 traz tópicos considerados importantes e que devem fazer parte do projeto de formação de profissionais em um curso de Matemática. São focados pontos como: perfil dos formados; competências e habilidades; estrutura do curso; conteúdos curriculares; estágio e atividades complementares. Faremos a apresentação desses tópicos, focando o que é proposto para a licenciatura em Matemática.

Quanto ao perfil do Licenciado em Matemática deseja-se que os cursos construam as seguintes características em seus alunos:

• Visão de seu papel social de educador e capacidade de se inserir em diversas realidades com sensibilidade para interpretar as ações dos educandos

• Visão da contribuição que a aprendizagem da Matemática pode oferecer à formação dos indivíduos para o exercício de sua cidadania

• Visão de que o conhecimento matemático pode e deve ser acessível a todos, e consciência de seu papel na superação dos preconceitos, traduzidos pela angústia, inércia ou rejeição, que muitas vezes ainda estão presentes no ensino-aprendizagem da disciplina.

(BRASIL, CNE/CES, 2001, p. 3)

As competências e habilidades desejadas para os profissionais formados pelo curso de Matemática são apresentadas de modo genérico, ou seja, são apresentadas primeiramente as habilidades e competências gerais e comuns ao bacharelado e a licenciatura. Em seguida são explicitadas aquelas desejadas para o educador matemático especificamente. Assim, aspira-se que o currículo da Licenciatura em Matemática desenvolva as seguintes habilidades e competências no futuro educador matemático:

a) elaborar propostas de ensino-aprendizagem de Matemática para a educação básica;

b) analisar, selecionar e produzir materiais didáticos;

c) analisar criticamente propostas curriculares de Matemática para a educação básica;

d) desenvolver estratégias de ensino que favoreçam a criatividade, a autonomia e a flexibilidade do pensamento matemático dos

educandos, buscando trabalhar com mais ênfase nos conceitos do que nas técnicas, fórmulas e algoritmos;

e) perceber a prática docente de Matemática como um processo dinâmico, carregado de incertezas e conflitos, um espaço de criação e reflexão, onde novos conhecimentos são gerados e modificados continuamente;

f) contribuir para a realização de projetos coletivos dentro da escola básica.

(BRASIL, CNE/CES, 2001, p. 4)

Os conteúdos curriculares devem ser estruturados de modo que os conceitos matemáticos trabalhados e os processos de ensino utilizados possam partir das representações que os alunos já possuem e, ainda, serem estruturados objetivando construir uma visão global dos conteúdos de maneira teoricamente significativa.

Os conteúdos curriculares devem também levar em consideração o perfil e as habilidades e competências já definidas. Para a licenciatura em Matemática são definidos os seguintes conteúdos a serem desenvolvidos por meio de disciplinas ao longo do curso:

™ Cálculo Diferencial e Integral; ™ Álgebra Linear;

™ Fundamentos de Análise; ™ Fundamentos de Álgebra; ™ Fundamentos de Geometria; ™ Geometria Analítica;

™ Conteúdos matemáticos presentes na Educação Básica nas áreas de Álgebra, Geometria e Análise;

™ Conteúdos de áreas afins à Matemática;

™ Conteúdos da Ciência da Educação, da História e Filosofia das Ciências e da Matemática.

Orienta-se ainda que o curso propicie aos alunos contato com o computador e outras tecnologias para que adquiram familiaridade e possam utilizá-los no trabalho em sala de aula na Educação Básica, a fim de aprimorar o ensino da Matemática.

O Parecer ainda indica ações a serem realizadas pelo aluno no intuito de complementar a sua formação, tais como a participação de programas de iniciação científica e à docência, a elaboração de monografias. E no caso específico da licenciatura há ainda a realização do estágio supervisionado. De acordo com o Parecer o estágio é essencial nos cursos de formação de professores, pois ele

auxilia o aluno, por meio de ações pedagógicas orientadas por profissionais experientes, no processo de familiarização do trabalho docente, de modo gradativo.

O Parecer CNE/CES nº 1.302/2001 no ano de 2003 consubstanciou-se na Resolução CNE/CES nº 3 de 18 de fevereiro que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Matemática, Bacharelado e Licenciatura. Em seu artigo 1º diz que as Diretrizes Curriculares, oriundas do Parecer CNE/CES nº 1.302/2001, deverão orientar a elaboração do projeto pedagógico do curso de Matemática, Bacharelado e Licenciatura. Desse modo, em seu artigo 2º são explicitados os pontos que deverão estar presentes nesse projeto. Esses itens são trazidos também pelo Parecer e foram já apresentados neste trabalho. Um dos pontos trazidos na Resolução é nomeado como “formas de avaliação”, no entanto, ele não é explicitado com maiores detalhes no Parecer CNE/CES nº 1.302/2001 e nem mesmo na Resolução CNE/CES nº 3/2003 que o apresenta.

No que se refere a carga horária do curso de Licenciatura em Matemática, ela está regulamentada pela Resolução CNE/CP nº 2/2002 que estabelece a carga horária para os cursos de formação de professores.

A aprovação de DCN para o curso de Matemática, Bacharelado e Licenciatura, e para outros cursos de graduação, se mostra, em nosso entender, como uma ação positiva do MEC, pois se buscou levar em consideração as propostas oriundas das IES. Apesar de existirem as Diretrizes Curriculares específicas para os cursos de formação de professores, que atingem também o curso de Licenciatura em Matemática, temos uma que se volta de modo específico para ele.

Como dito anteriormente, as Diretrizes para o curso de Licenciatura em Matemática definem a Educação Básica como área de atuação do licenciado. Como a Educação Básica compreende, de acordo com a LDB/1996, a Educação Infantil, o Ensino Fundamental (1ª e 2ª fase) e o Ensino Médio, entendemos que as Diretrizes não fecham a formação do licenciado para sua atuação somente na segunda fase do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, apesar da tradição de as licenciaturas formarem professores para essas fases do ensino.

3.7 - O que Diz a Sociedade Brasileira de Educação Matemática -