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Ainda tracejando a história do curso de Pedagogia, vemos que até o ano de 1968 ele permaneceu vinculado às Faculdades de Filosofia. Somente depois de aprovada a Lei Federal nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, da Reforma do Ensino Superior, é que foram recriadas as Faculdades de Educação, concebidas como o espaço institucional próprio para as Ciências da Educação, onde então passou a funcionar o curso de Pedagogia. E esta foi uma tendência da Reforma Universitária, estruturar as unidades sob o modelo de Institutos (GADOTTI; RABELLO, 1980).

Somente no ano seguinte, na tentativa de amenizar os impasses enfrentados pelo curso de Pedagogia, foi emitido o Parecer CFE nº 252, de 11 de abril de 1969. O tecnicismo presente naquela década aliado a indefinição mantida quanto ao curso e a insatisfação dos alunos e demais profissionais ligados a esse campo de trabalho

motivou a idéia de reformular o curso de Pedagogia contemplando ainda nessa reforma as idéias tecnicistas. Almejava-se uma reformulação que atingisse a estrutura curricular e não apenas a grade de disciplinas como tinha sido efetuado até então. O Parecer CFE nº 252/1969 também foi relatado pelo conselheiro Valnir Chagas e em seguida incorporado à Resolução CFE nº 2/1969.

Esse Parecer sofreu as influências do momento político do país e também aquelas provenientes da Reforma Universitária de 1968, a qual, por sua vez, estava no encadeamento de idéias da política do contexto pós-golpe militar de 1964. A Reforma do Ensino Superior, então, tinha o “intuito de aumentar a eficiência e a produtividade da universidade” (FÁVERO, 2006, p. 34), bem como triunfava nela o princípio da racionalidade. Desse modo, nasceu o que muitos “críticos passaram a chamar de universidade tecnocrática, ainda que mesclada com nuanças do pensamento liberal” (SILVA, 2006, p.25).

Segundo Coelho (1987), o Parecer CFE nº 252/1969 deu continuidade à tendência no crescimento das habilitações dentro do curso e, também, apresentou a idéia da formação do professor primário em nível superior já em processo de acontecimento. Ele traz em seu bojo o perfil do profissional que o curso de Pedagogia se destinaria a formar, estabelece o currículo mínimo e a duração do curso, visando, assim, à “formação de professores para o ensino normal e de especialistas para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção no âmbito de escolas e sistemas escolares” (SILVA, 2006, p.26). Tal objetivo quanto a área de atuação do pedagogo também se faz presente no art. 30 da Lei da Reforma Universitária de 1968.

E era justamente esse perfil de profissional especializado que o contexto da época exigia. Almejava-se um profissional que contribuísse para a Educação como um fator de desenvolvimento do país.

Daí a subordinação dos cursos superiores às exigências da sociedade, na visão da ditadura militar, tanto no que concerne à formação de profissionais para os seus diferentes setores de trabalho, quanto às necessidades relacionadas ao desenvolvimento nacional, acentuando então a relação entre os cursos superiores e as profissões.

(SILVA, 2006, p.25)

Como já mencionado, essa Lei da Reforma Universitária de 1968 influenciou no Parecer CFE nº 252/1969, bem como em outros decretos e pareceres daquela época. Na legislação desse período, houve “uma tendência de encaminhar a

questão da educação, fundamentalmente, como uma questão técnica, a ser resolvida por especialistas” (COELHO, 1987, p.10).

Isso explica o crescimento de habilitações presentes nas diversas especializações oferecidas pelo curso de Pedagogia, pois se admitia que elas formariam pessoas que assumissem uma prática pedagógica em consonância com os princípios do Estado e, conseqüentemente, com os princípios presentes na Lei da Reforma Universitária, dos quais um deles é a relação formação superior e profissão.

O Parecer CFE nº 252/1969, ao estabelecer várias especializações para o curso de Pedagogia trouxe uma contradição. Ao mesmo tempo em que ele criou aquelas especializações ņ Orientação, Administração, Supervisão, Inspeção ņ, designando, portanto, um conjunto de atividades em que se encaixariam os especialistas, oferecendo assim, elementos para a caracterização do pedagogo, acabou, também fragmentando a formação desse profissional.

2.3.1 - O Currículo por meio do Parecer CFE nº 252/1969

O curso era organizado, então, em duas partes. Uma comum, por entender que “a profissão que corresponde ao setor de Educação é uma só e que por isso as diferentes modalidades de capacitação devem partir de uma base comum de estudos” (SILVA, 2006, p.26). Outra diversificada, voltada para as habilitações específicas.

A parte diversificada do curso ficou organizada da seguinte maneira: magistério dos cursos normais, atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção. A atividade de planejamento que também se incluiria nesse rol de especialidades ficou fora do curso de graduação, sendo indicado que seu desenvolvimento poderia ocorrer no mestrado, visto que essa especialidade requer um número menor de profissionais. Assim, para as áreas que comporiam o curso de Pedagogia, ficaram estabelecidas as seguintes habilitações: Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar.

O curso de Pedagogia tinha a duração mínima fixada em: 2.200 horas de atividades para a licenciatura plena (1º e 2º Graus) e de 1.200 horas de atividades para a licenciatura curta19 (1º Grau).

O Parecer CFE nº 252/1969 fixa as disciplinas que deverão compor a parte diversificada do curso de Pedagogia, bem como a parte comum a todas as modalidades de habilitação. A parte comum abrange as seguintes disciplinas: Sociologia Geral, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação, Filosofia da Educação e Didática.

Entre as habilitações que compõem a parte diversificada do curso, e que se mostram relevantes para a nossa discussão ņ a Educação Matemática, apontaremos duas e destacaremos as disciplinas presentes em ambas. Para a habilitação Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais, o Parecer fixa as seguintes disciplinas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau, Metodologia de 1º Grau, Prática de Ensino na Escola de 1º Grau com Estágio Supervisionado. E para a habilitação plena em Administração Escolar, as seguintes disciplinas são fixadas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º Grau, Princípios e Métodos de Administração Escolar e Estatística Aplicada à Educação. (BRASIL, CFE, AZEVEDO, 1969)

O diploma para os egressos do curso de Pedagogia, independentemente da habilitação escolhida, passou a ser o de licenciado, decisão essa tomada pela aprovação da emenda apresentada pelo então conselheiro D. Luciano Duarte (SILVA, 2006). No Parecer é trazida uma posição contra essa decisão, indicando que o diploma fosse o de bacharel e não o de licenciado, argumentando que “o pedagogo não precisa obter uma licença, através de formação pedagógica, para efeito de ensino, pois, na verdade, o pedagógico já constitui o próprio conteúdo do curso de pedagogia” (SILVA, 2006, p.31). Entretanto essa argumentação não obteve êxito.

19 Os cursos de curta duração foram regulamentados em 1964, por indicação do Conselheiro Newton

Sucupira, com as licenciaturas “de três anos” em Ciências, Estudos Sociais e Letras. (CHAGAS, 1976, p.15)

2.3.2 - A Caminho da Formação de Professores para os Anos Iniciais

Como já comentado, havia a idéia, desenvolvida no início da década de 1960, de elevar a formação do professor do Ensino Primário para o nível superior. Assim, quanto ao impasse, vivido na época, se o pedagogo poderia atuar ou não no Ensino Primário, o Parecer CFE nº 252/1969 entende que “quem pode o mais, pode o

menos”, ou seja, quem forma os professores para atuarem no Ensino Primário

poderá atuar no Ensino Primário também, desde que tenha cursado certas disciplinas. Tal posicionamento era devido à impossibilidade de criar, naquele momento, uma habilitação especial para esse fim. As disciplinas fixadas para o direito ao magistério do Ensino Primário são: Metodologia do Ensino de 1º Grau e Prática de Ensino na Escola de 1º Grau, com Estágio Supervisionado. Logo, os habilitados para atuarem nos Cursos Normais, automaticamente estavam formalmente habilitados para o magistério de 1º Grau, ou como ainda era chamado Ensino Primário. Nas demais habilitações, bastava cursar as disciplinas mencionadas.

No entanto, sendo exigido que o aluno interessado no magistério do Ensino Primário cursasse as disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino de 1º Grau, podemos entender que, apesar de o Parecer abrir essa possibilidade para atuação do pedagogo, ele não oferece bases suficientes para que o aluno possa atuar multidisciplinarmente.

Considerando que atualmente existem nos cursos de Pedagogia disciplinas de metodologia específicas para cada área de conhecimento ņ Ciências Humanas, Ciências Biológicas, Língua Portuguesa e Matemática; considerando que há pesquisas (CARZOLA & SANTANA, 2005) que mostram que a carga horária destinada à disciplina de Metodologia da Matemática é insuficiente para um trabalho profícuo, podemos pensar como seria, em 1969, quando havia apenas um curso de Metodologia para dar conta de toda a formação metodológica de 1º Grau.

Focando a Matemática e seu ensino, nesse período, constatamos que a única habilitação que contém uma disciplina que trabalha com os conceitos matemáticos é a de Administração Escolar, e o foco de tal disciplina ņ Estatística Aplicada à Educação ņ não é o de formar professores e sim administradores.

2.4- De 1969 a 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971