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Como vimos no capítulo anterior, em resposta ao conjunto de Indicações de Valnir Chagas, da década de 1970, nasceu no início da década de 1980 o movimento em defesa da formação do educador que, mais tarde, na década de 1990, se transformou na ANFOPE. Esse movimento, desde o início, contou com uma participação maior de pedagogos. Era tímida a presença de profissionais formados em licenciaturas específicas.

O I Encontro Nacional do Movimento de educadores, ocorrido no ano de 1983 na cidade de Belo Horizonte, tinha como finalidade discutir questões sobre a formação de educadores em nosso país. Nesse encontro, posições quanto à formação de professores foram assumidas e expressadas no Documento Final.

Sobre as licenciaturas específicas, de acordo com Candau (1987), o Documento expressa que:

™ Todas as licenciaturas devem ter uma base comum de formação, pois elas objetivam formar professores e a docência é tida com a base da identidade profissional de todo educador;

™ Tal base comum, de acordo com o Documento, “não deve ser concebida como um currículo mínimo, ou um elenco de disciplinas, e sim como uma concepção básica da formação do educador e a definição de um corpo de conhecimento fundamental” (DOCUMENTO FINAL, 1983, p. 60 apud CANDAU, 1987, p. 29);

™ Toda a problemática que envolve as licenciaturas em áreas de conteúdo específico “deve ser trabalhada em conjunto pelos professores responsáveis pela formação pedagógica e pela área específica, envolvendo inclusive entidades profissionais e sociedades científicas” (CANDAU, 1987, p. 29);

™ Nas licenciaturas específicas devem ser incluídas disciplinas de conteúdo da área, disciplinas de cunho pedagógico e disciplinas integradoras, respeitando sempre a base comum;

™ A formação pedagógica e de conteúdos específicos além de ser fortificada ao longo do curso, há a necessidade de uma integração entre ambas, na tentativa de que a realidade educacional brasileira esteja presente em todo o processo dessa formação;

™ Especialmente em relação à formação pedagógica, o documento diz que é necessário que ela seja repensada para que se torne mais sólida e, portanto, menos fragmentada. Indica ainda que o seu desenvolvimento deve se dar ao longo de todo o curso com uma carga horária ampliada, de modo a não prejudicar o desenvolvimento dos conteúdos específicos; ™ As disciplinas integradoras67, mencionadas anteriormente, são aquelas

que trabalharão o conteúdo específico na ótica do ensino, ou seja,

67 Para saber mais sobre as disciplinas integradoras ver o artigo “A quem cabe a licenciatura” de Anna

Maria Pessoa de Carvalho e Deise Miranda Vianna, publicado na revista Ciência e Cultura 40 (2) de fevereiro de 1988.

pedagogicamente. Tais disciplinas são de grande importância para a formação do profissional;

™ As licenciaturas curtas ou plenas, bem como as licenciaturas parceladas em Estudos Sociais devem ser extintas imediatamente;

™ Nas instituições onde são ofertados cursos de licenciatura e bacharelado na mesma área, não deve existir, inicialmente, separação entre ambos os cursos, evitando-se dessa maneira uma possível discriminação do curso de licenciatura;

™ Durante todo o período do curso deve-se primar pela articulação “prática- teoria-pratica” em todas as disciplinas desenvolvidas;

™ As IES devem programar a realização do estágio supervisionado, de preferência em escola públicas.

Sabemos que durante as outras edições do Encontro Nacional da CONARCFE e depois da ANFOPE foram aprofundados alguns temas e um dos mais discutidos foi a Base Comum Nacional.

Em relação à discussão sobre as questões da licenciatura alguns pontos são praticamente unanimidade entre a comunidade acadêmica, no entanto alguns itens são polêmicos e continuam sendo alvo de grandes discussões.

De acordo com Braga (1988) são pontos próximos da unanimidade:

a rejeição à licenciatura curta, e à plenificação dos cursos curtos; o combate ao ensino de ciência integrada; a condenação da polivalência; a necessidade de uma melhor integração entre os institutos de conteúdo específicos e as faculdades de educação; a existência de um tronco comum entre bacharelado e licenciatura; a defesa de que melhores condições de trabalho e salários dignos são indispensáveis para se atrair e manter no magistério profissionais para um ensino de boa qualidade.

(BRAGA, 1988, p. 157)

Como já anunciado anteriormente, alguns pontos foram e são polêmicos entre os profissionais da educação. De acordo com Braga (1988), algumas das teses do Movimento Nacional de educadores, acatadas majoritariamente pelos pedagogos, não são defendidas pelos professores das licenciaturas específicas. Uma das divergências existentes está na substituição da palavra professor pelo termo educador, onde educador é definido pelo Movimento Nacional como aquele profissional

que domina determinado conteúdo técnico, científico e pedagógico que traduz o compromisso ético e político com os interesses da maioria da população brasileira e é capaz de perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a totalidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que o processo educacional ocorre, sendo capaz de atuar como agente de transformação da realidade em que se insere, assumindo, assim, seu compromisso histórico.

(DOCUMENTO FINAL, 1983 apud BRAGA, 1988, P.154)

Segundo Braga (1988), em geral, os professores das áreas de conteúdo específico rejeitam a idéia de formar o “educador”, pois se preocupam “com a formação do professor e perguntam se é possível educação sem ensino” (BRAGA, 1988, p. 157).

O mesmo autor afirma ainda que a Base Comum Nacional, debatida e defendida pelo Movimento Nacional, também tem pouca aceitação entre os profissionais das licenciaturas específicas. Esses profissionais acreditam que a “base comum impossibilita o tronco comum entre bacharelado e licenciatura numa mesma área comprometendo irremediavelmente a formação do licenciado” (BRAGA, 1988, p. 157) e, ainda, tal Base Comum “deslocaria o eixo de formação do licenciado para um plano não desejado: a ênfase no educador, em detrimento do professor” (BRAGA, 1988, p. 157). No entanto, se mostram favoráveis à presença de disciplinas, no currículo das licenciaturas, que discutam Filosofia, História e Políticas Educacionais.

Como sabemos, os profissionais da educação, em cada uma de suas áreas, têm se manifestado isoladamente ou em conjunto a respeito da formação de educadores/professores. Como vimos no capítulo anterior, os pedagogos se articularam em torno da CONARCFE e posteriormente da ANFOPE.

Na área de Ciências e Matemática, “o canal de expressão foi e tem sido as sociedades científicas, notadamente a SBPC e a SBF, que vêm tratando do assunto desde 1975” (BRAGA, 1988, p. 157).

Atualmente, em relação à área de Matemática, além da Sociedade Brasileira de Matemática - SBM, que estava presente juntamente com a SBPC discutindo as questões da licenciatura em Matemática no final da década de 1970 e início da de 1980, temos a Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM), criada em 17 de janeiro de 1988. O objetivo dessa sociedade é congregar profissionais da área de Educação Matemática e de áreas afins para buscar meios para o desenvolvimento da formação matemática de todo cidadão de nosso país.

3.6 - A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso