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a) No transcurso de elaboração deste trabalho, recebi muitas contribuições que me ajudaram a delimitar melhor o objeto de estudo. Tive dois momentos significativos. O primeiro foi a apresentação do projeto no simpósio discente do Programa de Ciências da Religião, do qual faço parte, e no colóquio entre estudantes e professores desenvolvido no mesmo programa. A contribuição mais significativa foi na linha de ampliar o campo empírico. Inicialmente a minha proposta era a de analisar a presença pública da Igreja Católica quando entraram em pauta discussões em torno da implementação de políticas públicas relacionadas com a problemática do HIV/Aids, porém as reuniões de orientação, o contato com o material bibliográfico e com o campo empírico, me levaram a perceber a necessidade de ampliá-lo.

Analisamos que além da AIDS, as discussões no Congresso Nacional em torno do projeto de lei 1.151/95 (sobre a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo) e do projeto da Lei de Biossegurança (11.105/05) (que previa a regulamentação e o estabelecimento de regras para a pesquisa, entre outras, das células-tronco, na qual a Igreja Católica tinha participado) possibilitariam mais dados para a análise do objeto.

b) O segundo foi a delimitação do período de tempo a ser estudado: decidiu-se que a referência seriam os momentos mais significativos no qual

cada um destes assuntos entrou em pauta e ocasionou a intervenção da Igreja católica e da sociedade. Para analisar o campo da Aids foi levado em conta um fato significativo ocorrido em 2003 que ocasionou a reação tanto por parte do governo como por parte da Igreja Católica. No caso das células-tronco a referência foi o projeto da Lei de Biossegurança (11.105/2005), que previa a regulamentação e o estabelecimento de regras para a pesquisa, entre outras, das células-tronco. O projeto de lei 1.151/95 de Parceria Civil entre Pessoas do mesmo Sexo e a Proposta de Resolução sobre Direitos Humanos e Orientação sexual, esta apresentada pelo governo brasileiro na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Foram a referência usada no caso da homossexualidade. O projeto 1.151/95 foi debatido até 2001, por isso alguns dos documentos analisados têm como referência a data em que este projeto entrou em votação.

c) Na fase da construção dos instrumentos capazes de me auxiliar na coleta das informações necessárias para a nossa pesquisa, foram adotadas estratégias diferentes: observação direta, observação participativa, análise de texto e entrevistas.

- a observação direta, que, segundo Quivy (1992: 165), é aquela em que o próprio investigador recolhe diretamente as informações, sem se dirigir aos sujeitos interessados, apelando diretamente a seu sentido de observação. Este recurso foi usado assistindo a seções no Congresso Nacional, nos dias 28 de setembro de 2005 e 25 de abril 2006

- Outros dados da pesquisa foram obtidos por meio da observação participativa quando assisti a congressos e seminários organizados tanto pela Igreja Católica ou pelo governo, como pelas entidades ligadas ao movimento homossexual e de Aids. A observação participativa pode ser considerada uma

estratégia essencial e ao mesmo tempo pode ser tomada como método para compreender a realidade. Schwartz e Schwartz (1955, 355) definem a observação participativa “como um processo pelo qual mantém-se a presença de observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observador está cara a cara com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados. Assim o observador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto”. Nesta pesquisa adotamos a estratégia de observação participativa como forma complementar de captar a realidade empírica.

a) No dia 28 de junho de 2005, no II Seminário Nacional sobre a Livre Expressão Sexual organizado pelas Comissões de Educação e Cultura, Direitos Humanos e Minorias e de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em Brasília.

b) Seminário de Advocacy do Projeto Somos, realizado em Curitiba, de 11 a 15 de maio de 2004.

c) Seminário “A mulher e o olhar integral à saúde”, organizado pela área temática de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, no dia 11 de março de 2005.

d) II Seminário sobre Espiritualidade e Aids, da Coordenação Estadual de prevenção à Aids do governo de São Paulo, no dia 11 de agosto de 2004, em São Paulo.

e) Seminário Nacional sobre Mulheres e Aids, organizado pela Secretaria da Saúde do Município de São Paulo, de 1o a 2 de julho de 2003.

f) II Fórum de HIV/Aids/DST da América Latina e do Caribe, realizado em Havana, de 7 a 12 de abril de 2003.

- Tendo definido o período e os dados a serem estudados, realizamos uma pesquisa em diferentes meios de comunicação3 para a coleta de dados que pudessem contribuir com o objeto estudado.

Os dados da pesquisa foram recolhidos por meio de matérias publicadas nos jornais, revistas, documentos do governo e da Igreja Católica sobre Aids, células-tronco e homossexualidade. Ver anexo.

- Especialmente na Folha de S. Paulo, encontramos vinte (20) matérias que abordavam as discussões sobre a Aids. Quarenta e uma (41) matérias sobre células-tronco e vinte e oito (28) matérias que abordavam as discussões em torno da homossexualidade.

- No site da CNBB, encontramos catorze (14) matérias sobre biossegurança, seis (6) sobre AIDS e quatro (4) sobre homossexualidade. Além dos documentos oficiais emitidos sobre os três assuntos em questão.

- No site do Vaticano, encontramos os documentos oficiais sobre as pesquisas com células-tronco, homossexualidade e AIDS.

- No site do Ministério de Ciência e Tecnologia, encontramos o projeto de lei sobre biossegurança.

Entrevistas: Alguns dos dados desta pesquisa foram recolhidos de entrevistas prolongadas e abertas, recuperando experiências das pessoas implicadas em cada um dos temas. Foi dada ênfase à relação entre o tema e a Igreja Católica, o que nos permitiu obter informações importantes, que foram de grande utilidade para nosso estudo. Segundo Minayo (1994), a entrevista

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prolongada é aquela que "combina observação, relatos introspectivos de lembranças, relevâncias e roteiros mais ou menos centrados em algum tema".

É importante salientar que as entrevistas se tornaram um material importante, que contribuiu para reforçar algumas informações. Mas a referência principal foi o material existente e divulgado pelas entidades.

A relação das pessoas entrevistadas se encontram anexadas.

O critério definido para escolher as pessoas não foi numérico, mas o vinculo, o interesse e o acúmulo de reflexões sobre o assunto. Após realizar o levantamento dos possíveis entrevistados, pelos dados que poderiam oferecer, entramos em contato com eles e lhes explicamos o objeto a ser estudado e a solicitação de responder a determinadas perguntas.

Algumas pessoas preferiram o envio das perguntas por e-mail e com outras realizamos entrevistas gravadas, o que possibilitou uma maior interação entre o entrevistado e a entrevistadora. Outras entrevistas foram realizadas pelo telefone. Em função da impossibilidade de algumas pessoas responderem certas perguntas por escrito, tive de realizar essas entrevistas pelo telefone, como uma forma de garantir a informação dos entrevistados.

As perguntas, conforme anexo, giraram em torno da relação entre Igreja Católica e Estado laico; influência da Igreja nas políticas sobre a livre expressão sexual; projetos de lei sobre Aids, células-tronco, homossexualidade; dificuldades concretas que a Igreja Católica coloca; o comportamento do Estado nesses debates; a posição dos parlamentares; os impactos causados pelo discurso da Igreja católica, as reações das organizações sociais implicadas, entre outras.

e) Todo este processo foi acompanhado de leituras teóricas, de maneira que o resultado da pesquisa foi fruto da interação entre o material empírico, as leituras teóricas, os diálogos durante as orientações e os acontecimentos que ocorreram nos campos analisados.

No processo teórico-metodológico, a revisão bibliográfica foi permanente, pois "é o que, em todas as etapas da pesquisa, nos fornece a fundamentação, que nos proporciona a confiança necessária para perceber que o trabalho tem sentido" (Santim, 1999, p. 10).

As leituras teóricas me colocaram em contato com o pensamento teórico de vários autores que abordavam o assunto. Alguns desses autores foram escolhidos como referência. A razão desta escolha se deveu ao fato de apresentarem um novo olhar sobre a discussão da presença da Igreja católica no espaço público.

As argumentações de Casanova (1994), Mouffe (1992), Burity (2003) e Vaggione (2005) sobre a legitimidade da presença das religiões no espaço público se tornaram uma referência importante para a análise.

CAPITULO I