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AIDS IGREJA CATÓLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS

1.DEFININDO HIV E AIDS

1.4. HIV/ AIDS e Mulheres

O HIV, hoje representa grande ameaça para as mulheres sexualmente ativas, inclusive as monogâmicas.

A evolução da epidemia tem mostrado que pode atingir qualquer indivíduo, independentemente de características pessoais ou sociais. O comportamento humano em relação à saúde é influenciado por fatores múltiplos e complexos. A situação acrescenta importantes obstáculos no que se relaciona à AIDS. Por isso ainda há muito a ser pesquisado sobre os fatores determinantes da conduta insatisfatória dos indivíduos, tendo em conta as recomendações de órgãos e profissionais da saúde, a fim de se evitar a AIDS.

Entender a relação que as mulheres desenvolvem com a doença é, ao mesmo tempo, entender padrões culturais que regem comportamentos de homens e mulheres no campo da afetividade e da sexualidade. Tarefa bastante complexa22.

Ainda que a informação sobre AIDS seja necessária para a prevenção da doença, não é suficiente para desenvolver as necessárias mudanças de comportamentos e conter a epidemia. Mulheres conseqüentes com crenças e princípios se infectam e não significa ignorância, mas o contexto cultural da infecção no qual vivem23.

A experiência da relação entre mulheres e AIDS denota questões importantes que levam a concluir que a atitude das mulheres, longe de ser conseqüência de relações irresponsáveis, está relacionada à forma como se estabelecem relações entre homens e mulheres na sociedade (relações de gênero).

22

Martin, Denise, "Mulheres e AIDS: uma abordagem antropológica". Dissertação de mestrado. FFLCH-USP, 1995.

23

Puello Orozco Yury. Mulheres, AIDS e Religião. Uma análise da experiência religiosa de mulheres portadoras do vírus HIV e AIDS. Dissertação de mestrado, PUC/SP, 2000

Segundo pesquisa do IBOPE24, encomendada pelo Instituto Patrícia Galvão, a maioria das mulheres (52%) não mudou seu comportamento frente ao risco do vírus HIV/AIDS. De 1997, quando outra pesquisa foi publicada pelo Instituto Patrícia Galvão, a 2004, somente 19% das mulheres passaram a usar preservativos como forma de se proteger do vírus HIV/AIDS. A pesquisa aponta ainda que a dificuldade de uso do preservativo não está relacionada à falta de informação sobre os perigos da transmissão, pois 87% dos entrevistados concordam com a afirmação de que “para ter segurança de verdade é preciso usar sempre preservativo nas relações com parceiro fixo”.

O dado mais alarmante, entretanto, é que a maior parte dos entrevistados diz saber que existem riscos de se infectar mesmo tendo parceiro fixo, e 91% concordam com a idéia de que mesmo as mulheres casadas e aquelas que têm namorado fixo correm um alto risco de pegar AIDS porque seus parceiros mantêm outras relações que as mulheres desconhecem.

A mesma pesquisa mostra também que 84% dos entrevistados, tanto homens como mulheres, concordam que “as mulheres não conseguem convencer os maridos e parceiros a usar sempre camisinha”. A maior dificuldade para as mulheres exigirem o uso da camisinha, reflexo de questão cultural e de gênero, deixa-as mais vulneráveis à infecção pela AIDS.

A partir da bibliografia existente sobre mulheres e AIDS (Villela, 1996); (Barbosa, 1996, 2004); (Guimarães, 1996); (Santos, 1996); (Guimarães, 2001), constatam-se questões importantes sobre as dificuldades que as mulheres têm para se prevenir: dificuldade de exigir camisinha do parceiro, não

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questionamento sobre o comportamento dele, crença na capacidade de conhecer seus parceiros, a importância da fidelidade e confiança, as mulheres já usam outros métodos contraceptivos, o questionamento ao companheiro pode levá-las a sofrer violência de diferentes tipos, a dependência financeira, a crença que a camisinha reduz o prazer sexual ou o tabu de falar sobre sexo, solicitar o uso da camisinha pode significar a condenação ou suspeita do comportamento do companheiro. O não uso da camisinha talvez indique o desejo de manter relação estável. Associa-se o uso da camisinha a comportamentos desviantes e imorais.

A falta de preocupação das mulheres vem dada pela garantia que os princípios morais parecem dar à instituição do casamento ou às relações afetivas. É de tal forma assumido, que esses princípios morais parecem querer classificar as pessoas que podem ou não ser infectadas pelo vírus da AIDS. A doença é associada à promiscuidade, ao comportamento desviante, à vida desregrada. Tudo em oposição à vida sadia, com um só parceiro, em relações marcadas pelo afeto e amor. Há forte inter-relação entre os discursos religiosos e a forma de pensar da sociedade, que mantém a vivência de relações conjugais baseada em uma concepção de gênero tradicional, rígida, e reproduz as representações sobre a sexualidade advindas de pressupostos religiosos, tornando as mulheres heterossexuais casadas mais vulneráveis à infecção pelo vírus HIV/AIDS.

1.4.1. Preservativo Feminino

O preservativo feminino é comercializado no Brasil desde 1997, e distribuído, na rede pública de saúde, a partir de 2000. Como estratégia de prevenção permite ampliar as possibilidades de escolha e de opções,

especialmente por parte das mulheres. Pode ser um canal para sua autonomia nos relacionamentos afetivo-sexuais. O fato de existir preocupação em pesquisar métodos adequados para o corpo feminino é algo positivo, mas ao mesmo tempo um desafio não tentar substituir o preservativo masculino pelo feminino, porque se incorreria novamente, de acordo com o que os estudos de gênero têm revelado, em responsabilizar as mulheres pelos cuidados na saúde sexual e reprodutiva, deixando os homens ao lado desses compromissos.

A experiência brasileira no uso do método tem mostrado alta aceitabilidade por parte das mulheres. Dentro dos aspectos positivos elencados, inclui-se poder ser controlado pelas próprias mulheres, não depender da ereção do parceiro (ao contrário do preservativo masculino), prevenir as DST/AIDS, e não ter contra-indicações nem efeitos colaterais conhecidos.

Mas o maior impasse indicado relaciona-se ao manuseio. As mulheres sentem dificuldades em lidar com o próprio corpo durante a colocação, pois não ficam à vontade com o autotoque vaginal. Há mais fatores que podem impedir maior uso e acesso ao preservativo por mulheres: alto custo - superior ao preservativo masculino; requerer conhecimento (ou aprovação do parceiro) - pode causar constrangimentos para a mulher a reação negativa do homem; o barulho ocasionado durante a relação sexual com preservativos femininos e a falta de estoque nos serviços de saúde.

Todos esses aspectos indicam que os recursos técnicos de prevenção não garantem sua incorporação na prática cotidiana, caso não exista preocupação para conhecer, administrar e responder aos conflitos e dificuldades que se apresentam.