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Neste capítulo, serão apresentados os caminhos investigativos percorridos durante toda a pesquisa. Esta, então, é uma pesquisa qualitativa e que se caracteriza como um estudo de caso. Dessa forma, realiza um estudo de caso de como acontece a articulação entre escola e instituição de acolhimento em relação à acessibilidade de crianças e adolescentes com deficiência.

Entende-se a pesquisa qualitativa a partir da argumentação de Minayo (2013 p. 21):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. [...] ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social [...].

Sendo assim, para que se compreenda a realidade abordada com profundidade, esta pesquisa é do tipo estudo de caso que é definido por Yin (2010, p. 39) como:

O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes.

Nos aspectos éticos desta pesquisa, firma-se que as informações obtidas serão confidenciais e poderão ser divulgadas, apenas, em eventos ou publicações, sem a identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre a participação.

São esperados benefícios com a realização deste estudo como: possibilitar a acessibilidade seja prevista em parceria entre a instituição de acolhimento e a escola, visando a beneficiar as crianças e os adolescentes com deficiência em situação de acolhimento institucional.

Atentou-se para possíveis desconfortos dos participantes ao expor-lhes aos procedimentos de coleta de dados (observações e entrevista), em que, durante todo o período da pesquisa, tiveram a possibilidade de esclarecer qualquer dúvida. Também, foi garantida a possibilidade de não aceitar a participar ou de retirar a permissão a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo pela decisão. As

responsáveis pela pesquisa comprometeram-se em manter a confidencialidade dos dados dos participantes da pesquisa no Termo de Confidencialidade (ANEXO A).

Para a efetivação da pesquisa, foi realizado um contato prévio com uma instituição de acolhimento da cidade de Santa Maria, RS, para ter conhecimento se permanecia acolhendo crianças e adolescentes com deficiência, como já previsto em pesquisa realizada anteriormente (TEIXEIRA, 2014). Foram utilizados os seguintes critérios de in/exclusão: a instituição de acolhimento precisa ter, em seu quadro, crianças e/ou adolescentes com alguma deficiência; as crianças e/ou adolescentes com deficiência em situação de acolhimento institucional precisam estar matriculados na escola. No fim, aquela que atendeu aos critérios foi feito o convite para a participação na pesquisa.

Após o aceite da direção das instituições por meio da Autorização Institucional (ANEXO B), foi assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO C) pelos responsáveis. Após, foi realizado o contato com as escolas nas quais essas crianças e adolescentes com deficiência estudam, seguindo o mesmo procedimento anterior.

Os participantes da pesquisa foram a Equipe Técnica da instituição de acolhimento; as Mães Sociais responsáveis pelas crianças e adolescentes com deficiência que estão em situação de acolhimento institucional; as diretoras das escolas que essas crianças e adolescentes estão matriculados. Logo, foram participantes da pesquisa duas profissionais que compõem a Equipe Técnica (psicóloga e assistente social), duas mães sociais e duas professoras que estão como diretoras das escolas.

Quadro 1 ─ Participantes

Local Escola Escola Especial Instituição de

Acolhimento Participantes 1 professora diretora da escola. 1 professora diretora da escola. Equipe Técnica (1 psicóloga e 1 assistente social); 2 mães sociais.

Os dados foram coletados na instituição de acolhimento no setor administrativo com a Equipe Técnica e em duas casas-lar com as mães sociais. Também, foram coletados dados em duas escolas sendo uma escola pública municipal de ensino fundamental e a outra uma escola especial que atende ao público-alvo da Educação Especial. Esta é uma instituição filantrópica sem fins lucrativos e que se mantém a partir de convênios com o Fundo Nacional de Assistência Social e a Prefeitura, além de doações voluntárias. Porém, tem enfrentado grande dificuldade financeira pelo atraso no repasse de verbas.

Dessa forma, para a coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos: a observação (com registro em diário de campo) e a entrevista semiestruturada. A utilização dos dois instrumentos justifica-se por sua complementaridade, pois, por meio da entrevista, como destaca Vasconcelos (2002), é possível obter informações e opinião dos sujeitos a respeito do que está sendo investigado. Além disso, oportuniza a interação e a troca entre o pesquisador e o entrevistado.

A respeito da observação, Vasconcelos (2002, p. 218) argumenta que:

Uma das vantagens comparativas dos diversos tipos de observação é a de que os fenômenos são percebidos diretamente, sem intermediários. Entretanto, a presença física do observador sempre provoca alterações no comportamento dos fenômenos observados, que exigem uma análise crítica desses efeitos e do sentido dessas alterações.

Desse modo, destaca-se a relevância e contribuição da técnica de observação para a pesquisa, pois enriquece a coleta de dados uma vez que possibilita o contato com a realidade estudada, evidenciando fatos que podem não ser relatados no decorrer das entrevistas. Com base nessas especificações, fica explícita a relação de complemento entre uma técnica e outra, de forma a agregar informações para a análise.

A observação foi realizada nas escolas nas quais as crianças e os adolescentes com deficiência estudam e na instituição de acolhimento. Em cada escola, ocorreram quatro observações em sala de aula e durante o recreio; já na instituição de acolhimento, aconteceram duas observações uma em cada casa-lar, devido à rotina das casas e também por precauções da instituição que se preocupa com a exposição de seus acolhidos e profissionais. As observações tiveram a finalidade de possibilitar o acompanhamento de como é realizada a acessibilidade para as crianças e os

adolescentes com deficiência, além de visualizar como acontece a articulação entre escola e instituição de acolhimento.

Com o mesmo intuito, foram realizadas as entrevistas semiestruturadas com a equipe técnica da instituição de acolhimento (APÊNDICE A), com a mãe social responsável por cada criança e/ou adolescente com deficiência (APÊNDICE B) e com professores, no caso as diretoras das escolas (APÊNDICE C). As entrevistas com as mães sociais e com as professoras foram gravadas e transcritas; não obstante, foi necessário proceder de forma diferente na entrevista com a equipe técnica. Já que a equipe é composta pela assistente social e a psicóloga, foi solicitada a realização de entrevistas individuais e a gravação do áudio, mas foi negado. Ambas alegaram que respondem em conjunto, procedimento da instituição; diante do fato, ficou combinado que elas responderiam e a pesquisadora anotaria as respostas. Ambas pareceram mais confortáveis com a entrevista nesse formato.

As participantes da pesquisa, quando mencionadas no texto, serão identificadas por iniciais e números. Nesse caso, E.T. corresponde à equipe técnica; Prof.1 corresponde à diretora da escola municipal; Prof.2 corresponde à diretora da escola especial e, por fim, M.S.1 e M.S.2 correspondem às duas mães sociais.

Para a realização da pesquisa, as participantes reportaram-se sobre o caso específico de dois irmãos (um menino e uma menina8) com deficiência intelectual, em situação de acolhimento institucional. O menino chegou ainda bebê na instituição, sendo a irmã, poucos anos, mais velha. Dessa forma, quando mencionados no texto serão identificados por Oliver e Rose9, respectivamente. Em alguns momentos, as mães sociais mencionam outras crianças e adolescentes acolhidos, os quais serão identificados por suas iniciais.

Após a coleta dos dados da pesquisa, a análise foi realizada visando à ampla exploração dos dados coletados e do estudo. Para isso, foi empregada a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), seguindo os passos denominados pela autora: pré- análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

8 A menina, no mês de agosto de 2015, retornou para a família de origem por ter completado 18 anos. O menino permanece em acolhimento institucional.

9 Estes nomes foram escolhidos para identificá-los a partir da história de “Oliver Twist” de autoria de Charles Dickens. Na história, Oliver é um menino criado em instituições que enfrenta diversos desafios e Rose uma menina que foi acolhida por uma senhora. No decorrer da história, ambos acabam se encontrando e descobrindo laços familiares. Escolhi essa história porque, mesmo com as dificuldades, ela tem um final feliz.

Dessa forma, entende-se que a pré-análise é uma fase de organização que visa “a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das

hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a

interpretação final”. (Ibid, p. 125, grifos da autora). Já exploração do material, consiste em administrar de forma sistemática as decisões tomadas e administração de técnicas; e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação é a fase em que os resultados “são tratados de maneira a serem significativos [...] e válidos” (Ibid, p. 131). Assim, ao desenvolver a Análise de Conteúdo, foi utilizado como procedimento o processo de categorização dos dados coletados. Conforme a referida autora, “a

categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um

conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (Ibid, p. 147 grifo da autora). Afirma-se que organizar a análise, a partir do processo de categorização, possibilita que os dados sejam explorados com maior evidência no caso dessa pesquisa. Sendo assim, ressalta-se que a análise dos dados coletados, no transcurso deste estudo, é aprofundada no capítulo seguinte.

Fonte: http://callydesign.blogspot.com.br/2015/01/imagens-de-pergaminhos-em-png.html

(Figura adaptada pela autora).

Certa vez conheci dois irmãos adolescentes, Oliver e Rose, ambos sentiram desde cedo que a vida nem sempre é bela. Ainda muito pequenos passaram por diversas dificuldades que acabaram levando-os ao afastamento familiar. Assim, cresceram em uma instituição de acolhimento, por vezes moraram na mesma casa sob os cuidados da mesma mãe social. Porém, não foi sempre assim. Quando crianças as pessoas perceberam que os irmãos eram diferentes, foram momentos de dificuldades na escola onde o aprender não é tão simples. Ficou comprovado que ambos têm deficiência intelectual e as pessoas que deles cuidavam procuraram ajuda para que eles tivessem o que precisavam para aprender e se desenvolver. Com o passar do tempo, os dois irmãos cresceram e a escola e o convívio com outras crianças e adolescentes não é tarefa fácil. A instituição, mães sociais e professores tentam fazer o possível para ajudá-los, outros nem tanto. Porém, após alguns anos vivendo na instituição, praticamente toda sua vida, eis que Rose precisa ir embora. Retornar para a família de onde foi afastada e deixar o irmão ainda na instituição. O futuro é incerto, ninguém sabe o que acontecerá, espera-se que bons ventos tornem a unir os laços de fraternidade e os leve a trilhar um caminho de felicidade.

7. NÃO É FAZ DE CONTA, É REALIDADE: ANALISANDO MOVIMENTOS DE