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7. NÃO É FAZ DE CONTA, É REALIDADE: ANALISANDO MOVIMENTOS DE (DES) ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLAS E INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO

7.5 CATEGORIA – RELAÇÃO ESCOLA E INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO

A categoria de análise nomeada Relação Escola e Instituição de Acolhimento faz uma abordagem da relação entre a escola e a instituição de acolhimento, ou seja, entre os dois espaços que atendem crianças e adolescentes com deficiência em comum. Dessa forma, a discussão dar-se-á a partir dos relatos de Prof.1, Prof.2, M. S.1, M. S.2 e E.T. durante suas respectivas entrevistas e também nas observações realizadas.

Para iniciar, é conveniente destacar o que é posto por Portela e Almeida (2009, p. 149):

Não se pode deixar de reconhecer que, entre os fatores que exercem influência educativa na formação da personalidade do indivíduo, a família e a escola ocupam um lugar imprescindível e indissociável. Apesar de possuírem características e possibilidades diferenciadas, com bastante frequência essas instituições se superpõem e se complementam, atingindo ambas a conduta do indivíduo de tal modo, que não se pode abordar o desenvolvimento do indivíduo e a sua educação sem tê-las em conta.

É consenso que a escola é o segundo espaço de interação social que se frequenta, sendo o primeiro a família. Nesse sentido, a relação escola-família é primordial para o desenvolvimento do sujeito. No caso de crianças e adolescentes em acolhimento, esse papel é exercido pela instituição responsável. Considera-se que, quanto mais próxima, amigável e colaborativa a relação entre os dois espaços, melhores as oportunidades de articulação para atender às especificidades dos estudantes em acolhimento institucional.

Nesta pesquisa, de modo geral, as participantes afirmaram que é estabelecida uma boa relação entre escola e instituição de acolhimento. Conforme o relato de Prof.2, a relação é descrita da seguinte maneira:

[...] nós temos poucos casos de pessoas assim que vem pra cá de instituições de acolhimento, mas estes que vieram eles procuram [...] nos informar o que está acontecendo [...] E nós também, a gente também busca saber informações porque são casos assim, bem sérios [...] A gente tem uma relação muito boa com as instituições nessa troca de informações e de até assim, pra saber tudo o que está acontecendo tanto lá quanto aqui.

Ao explicitar sobre a relação com as escolas, a E.T. afirma que “depende do aluno, do comportamento, tem diálogo. Em geral é boa, as escolas sempre foram receptivas para conversar sobre os casos, fazem reuniões com a equipe para discutir os casos e sempre conversam em relação aos atendimentos”. Essa afirmação vai ao encontro do seguinte depoimento:

[...] é positiva no sentido que a escola quando necessita entra em contato, faz com que venham até a escola com a presença da mãe social ou da psicopedagoga. A assistente social também freqüenta seguidamente aqui, depende da situação do caso que a gente está tratando, às vezes tem alunos que tem bastante problemas. Então, a gente tem que procurar a ajuda deles meio que diariamente, ajuda no sentido de vir até aqui para tentar resolver junto, para ter uma conversa, fazer algum encaminhamento. Assim que funciona, mas eles sempre mandam algum responsável, a gente não fica abandonada [...] (entrevista Prof.1).

Sobre como acontece o contato, a E.T. diz que “por meio de reuniões, telefonemas, conversas [...]”, o que é confirmado também pelas demais participantes, as quais mencionaram, ainda, bilhetes e e-mails como formas utilizadas para comunicarem-se. A comunicação entre escola e instituição de acolhimento de forma a estabelecer relações positivas tende a contribuir para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes por ambas atendidos.

Acredita-se, com base nos estudos de Souza e Casanova (2011), que, com melhores condições e estímulos tanto afetivos como sociais, barreiras no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes institucionalizadas podem ser minimizadas. Para proporcionar melhores perspectivas a essas crianças e esses adolescentes, é fundamental que escola e família/instituição de acolhimento apoiem uma a outra (TEIXEIRA, 2013).

Com isso, a escola, ao perceber comportamentos, atitudes que necessitam maior atenção ou mesmo dificuldades no processo de aprendizagem, pode junto à instituição de acolhimento conversar a respeito e procurar os encaminhamentos e atendimentos apropriados para esses estudantes. De acordo com isso, Manzini (2007, p. 09) acrescenta que “pode-se perceber [...] a necessidade de melhor aproximação família-escola ou família-serviços em educação especial no que se refere aos processos de orientação”. Dessa maneira, evidencia-se que, embora ainda exista a necessidade de maior aproximação, percebe-se que esse quadro passa por avanços nos últimos anos.

Conforme Sigolo e Oliveira (2008, p. 163), “a aliança emergente entre família e escola vem do reconhecimento que não somente a primeira é fundamental para a segunda, mas também que esta necessita do apoio dos pais a fim de alcançar seus objetivos”. No contexto da instituição de acolhimento participante da pesquisa, o papel dos pais é realizado pela figura da mãe social. A esse respeito, foi relatado tanto pelas representantes das escolas quanto por M. S.1 e M. S.2 que as mães sociais são presentes no espaço escolar e que procuram atender sempre que solicitadas. Sobre a relação com a escola, M. S.2 comenta que:

[...] me dou super bem com as diretoras, supervisoras, todas elas sabe. E na hora que me chamam se eu não posso ir eu ligo, mais tarde eu passo ali. Nunca deixei de estar lá ou de fazer de conta que não veio aviso nenhum, eu sempre olhei e gosto de ir na escola de ouvir as professoras, ver o que elas tem a dizer sobre aquela criança. Então, eu sempre fui muito participativa, sempre gostei. Que a gente sabe que a escola cobra da família, aqui como somos nós a família deles, então, a gente tem que correr atrás.

É importante que a mãe social seja participativa e mantenha boa relação com a escola, pois, como foi afirmado anteriormente, bons resultados podem ser alcançados ao que diz respeito aos estudantes que estão em acolhimento institucional. Porém, é preciso refletir a respeito da cobrança mencionada por M. S.2., porque ela pode ter efeitos positivos e negativos, dependendo da forma como acontece.

Trata-se, então, de buscar fazer com que a família se perceba como participante do processo educacional, uma vez que ela pode contribuir com aspectos fundamentais durante o tempo que a criança passa sob sua influência, sem, no entanto, ter a pretensão de substituir o lugar da escola. É preciso rever a concepção que coloca a escola em posição de cobrança, e a família em posição de culpada, ou cobrada. Assim, a família funciona como

um elemento estratégico no processo de escolarização dos alunos que não apresentam um resultado esperado (PORTELA; ALMEIDA, 2009, p. 156).

Sendo assim, no caso dos estudantes em acolhimento institucional, considera- se, como o elemento estratégico para sua escolarização, a mãe social e a equipe técnica da instituição. Um exemplo da boa relação e da integração entre escola e instituição de acolhimento foi explanado durante a entrevista de Prof.1, quando disse que a escola realizou uma atividade em conjunto com a instituição de acolhimento, a qual fica localizada no mesmo bairro.

[...] O piquenique era dentro do projeto da leitura no coração e nós tivemos essa ideia, lembramos que a [cita o nome da instituição de acolhimento] é bem cuidada, tinha um gramado bem bonito e isso nos atraiu também, mais em função de levar os outros alunos que não são da instituição para conhecer melhor o que seria a [cita o nome da instituição de acolhimento] [...] Então, a questão da organização e tal e também de profissionais e professores que existe bastante mudança, bastante movimento de profissionais [...]Então, até em função desses conhecimentos, para que os professores também se engajem nessas situações para tentar ajudar e nós dentro do nosso trabalho, então, surgiu essa ideia que foi bem positiva [...] (entrevista Prof.1).

Acredita-se que essa atividade colaborou para a aproximação entre escola e instituição de acolhimento, possibilitando que professores e colegas de turma conhecessem o espaço da instituição, compreendendo um pouco da realidade vivenciada por aqueles que estão acolhidos. Também oportunizou um momento de integração da escola e da instituição com a comunidade em geral já que pertencem ao mesmo bairro, e os estudantes que não são da instituição de acolhimento puderam compartilhar com suas famílias o que conheceram sobre esse espaço.

Para os professores, é relevante, em sua prática, que procurem conhecer a respeito do acolhimento institucional; assim, poderão compreender aspectos que interferem na aprendizagem de seus alunos. Por isso, a relação escola e instituição de acolhimento é imprescindível, pois, quanto mais próxima e harmoniosa, melhores resultados serão obtidos no ensino e aprendizagem das crianças e dos adolescentes que estão em acolhimento educacional, principalmente aqueles com deficiência.

Fonte: http://callydesign.blogspot.com.br/2015/01/imagens-de-pergaminhos-em-png.html

(Figura adaptada pela autora).

[...] Depende de nós

Quem já foi ou ainda é criança Que acredita ou tem esperança

Quem faz tudo pra um mundo melhor [...]