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4. A ESCOLA E SUAS COMPLEXIDADES

4.3 CURRÍCULO E ACESSIBILIDADE

Desde a implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), os aspectos relacionados à viabilização da inclusão de alunos com deficiência nas escolas comuns passaram a ser debatidos com mais afinco. Por isso, a seguir, pretende-se discutir sobre currículo e acessibilidade para alunos com deficiência e em situação de acolhimento institucional.

A presença desses debates na agenda acadêmica também se reflete nas escolas. A problematização sobre questões que dizem respeito ao currículo e à acessibilidade permeiam essas discussões e são de suma importância para que os alunos com deficiência possam ser atendidos conforme as suas necessidades. Assim como afirma Silva (2011, p. 21),

A emergência do currículo como campo de estudos está estreitamente ligada a processos tais como formação de um corpo de especialistas sobre currículo, a formação de disciplinas e departamentos universitários sobre currículo, a institucionalização de setores especializados, sobre currículo na burocracia educacional do estado e o surgimento de revistas acadêmicas especializadas sobre currículo.

A partir de estudos que fundamentaram as discussões aqui entrelaçadas sobre currículo e acessibilidade, percebe-se que é preciso que os objetivos para a educação sejam elaborados por meio de um processo reflexivo. Dessa forma, poderão, de fato, tornar-se parte da realidade prática e possíveis de serem alcançados.

Os objetivos educacionais são metas, resultados a ser alcançados por meio da aprendizagem. A não ser que estejam em harmonia com as condições intrínsecas da aprendizagem, não terão nenhum valor como metas de educação (TYLER, p. 34, 1974).

Portanto, é necessário que se elabore os objetivos e o trabalho com consciência sobre a realidade a ser atendida. Ao argumentar sobre currículo, é interessante a seguinte compreensão:

Como um dispositivo escolar criado para determinar percursos, práticas e posições de aprendizagem, o currículo é pensado e, ao mesmo tempo, tensionado por aqueles que o constituem e que são constituídos por ele. Sem querer produzir a escola e o currículo como espaços que reduzem diferenças a posições pré-determinadas, quero mostrar que o currículo escolar não é somente aquele que é pensado desde a escola, mas também, aquele constituído no cotidiano por todos que participam dele (LOPES, 2007, p. 13)

Para permanecer no pensamento dessa discussão, parte-se das questões que dizem respeito ao cotidiano escolar.

O quotidiano é um lugar privilegiado da análise sociológica na medida em que é revelador por excelência, de determinados processos do funcionamento e da transformação da sociedade e dos conflitos que a atravessam (PAIS, p. 72, 2003).

Considera-se que o currículo e a acessibilidade são chaves para que esse caminho possa ser percorrido, visando ao sucesso escolar. É importante que se faça valer o cotidiano como um espaço de inovação, no qual se considere as realidades, as relações sociais e as subjetividades nele envolvidas. Assim, é possível que se pense com responsabilidade sobre currículo e acessibilidade, com vistas a uma melhor qualidade de ensino e de aprendizagem que, realmente, atenda as necessidades dos alunos com deficiência que vivem em situação de acolhimento institucional.

Compreende-se acessibilidade quando Manzini (2005, p. 31) assevera que “[...] o que garante a acessibilidade são as condições presentes nas estruturas física e administrativa das instituições”. Dessa forma, a acessibilidade educacional é viabilizada quando há esforços de professores, direção da escola em proporcionar aos seus alunos estruturas e recursos que tornem possível sua participação efetiva na vida escolar. Camargo (2013, p. 97) defende que

A Acessibilidade Educacional se concretiza nas ações/estratégias de: modificar/transformar ambientes, indicar possibilidades para o processo ensino-aprendizagem, modificar estruturas e atitudes. Tais estratégias e ações educacionais são aspectos que podem ser pensados e efetivados para que ocorra a Acessibilidade Educacional.

Nesse contexto, destaca-se a necessidade da acessibilidade estar presente também em aspectos curriculares pedagógicos, de forma que venha a atender a todas as necessidades e habilidades dos alunos. Além disso, adaptações atitudinais

precisam ser trabalhadas com grande relevância no processo de inclusão social e educacional. Glat, Pletsch e Fontes (2009, p. 124)6 comentam que

A política de Educação Inclusiva [...] foi adotada no Brasil como política pública a partir de diretrizes nacionais [...] O pressuposto básico dessa proposta é a construção de uma escola que não selecione crianças em função de diferenças individuais, orgânicas ou sócio-culturais e sua implementação exige a valorização da diversidade, em vez da busca da homogeneidade. Nessa perspectiva, propõem que a escola incorpore, em seu projeto político-pedagógico, no currículo e nas práticas pedagógicas, ações que favoreçam o desenvolvimento e a aprendizagem conjunta de todos os alunos, mesmo aqueles que apresentem necessidades educacionais especiais.

Por isso, ainda se faz necessário que sejam realizados estudos, debates, ações e estratégias que envolvam o currículo, a acessibilidade e os alunos com deficiência em situação de acolhimento institucional. Esses aspectos, sem dúvida, geram implicações na escolarização desses alunos.

Tal quadro de análise nos remete para a perspectiva de currículo como um território organizado por meio de normativas, de orientações, de interesses profissionais e de aprendizagens, na base dos pressupostos da globalidade da ação educativa, da diferenciação/flexibilidade curricular e da integração das atividades educativas. Nesse sentido, nos remete, também, à constatação de que o debate sobre qual conhecimento deve ser “ensinado” na escola, é a todo tempo retomado pelos contextos, práticas, sujeitos e políticas, e pelas demandas próprias da contemporaneidade (MENDES, SILVA, 2014, p. 2).

A organização curricular é definida a um nível macro sob influências de relações de poder e acaba não atendendo as necessidades do público que abrange nos diferentes contextos escolares. A partir da ideia de que o currículo é entendido como a organização do espaço/tempo da escola, que se vale de meios, objetos e conteúdos para desenvolver os processos educativos, é importante que seja compreendido o currículo como uma construção social que vai para além de uma simples listagem de conteúdos, mas que está permeado de intenções que são reflexos das relações de poder existentes na sociedade em que se vive.

Não se tem por objetivo elencar aqui uma definição conceitual de currículo, pois se acredita que

6 Na citação, as autoras utilizam a nomenclatura necessidades educacionais especiais devido ao tempo e espaço em que o artigo citado foi escrito, sendo que atualmente a academia tem preferência em utilizar o termo público-alvo da Educação Especial. Porém, essas mudanças de nomenclatura não alteram a realidade das escolas.

Uma definição não nos revela o que é, essencialmente o currículo: uma definição nos revela o que uma determinada teoria pensa o que o currículo é. [...] A questão central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é saber qual conhecimento deve ser ensinado (SILVA, 2011, p. 14). Mobilizações precisam ser realizadas para que seja possível pensar um currículo aos alunos, o qual realmente venha a atender as suas especificidades como alunos com deficiência em situação de acolhimento institucional. Para que avanços sejam alcançados na educação, é preciso que crianças e adolescentes sejam reconhecidos como sujeitos de direitos e que têm necessidades específicas no processo de ensino e de aprendizagem. Em consonância a isso, é válido pontuar que:

O ponto de partida é a própria infância, adolescência e juventude não genéricas, mas controversas, contextualizada com que se trabalha. Não um ideal, protótipo a ser conformado em um outro ideal de desenvolvimento, de percurso para um cânone de maturidade, de direitos, um outro reconhecimento (ARROYO, 2011, p. 247).

Assim, são necessárias transformações na escola que estão relacionadas aos alunos, ao passo que as mobilizações são geradas por fenômenos internos. Na escola, como ela é um sistema complexo, não basta renovar o discurso, é preciso que se aplique uma prática inovadora e diferenciada (BECKER, 2004).

Nesse sentido, há esperança já que existe um movimento ativo em prol da educação e, se possível for, alcançar a mudança para qualificar o sistema de ensino, espera-se que o necessário a respeito de currículo e acessibilidade seja realizado. Portanto, torna-se imprescindível que os profissionais da educação, assim como os membros da comunidade escolar, trabalhem juntos para efetivar essas transformações de forma positiva para o processo educacional de todos os estudantes.

Fonte: http://callydesign.blogspot.com.br/2015/01/imagens-de-pergaminhos-em-png.html

(Figura adaptada pela autora).

[...] Já podaram seus momentos Desviaram seu destino

Seu sorriso de menino Quantas vezes se escondeu Mas renova-se a esperança Nova aurora a cada dia E há que se cuidar do broto Pra que a vida nos dê Flor [...]