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CAMINHOS DE PEDRA FLUXO TURÍSTICO ANUAL

Territorial Management of Touristic Rural Spaces in Microrregion Uva e Vinho of Serra Gaúcha, RS, Brasil.

CAMINHOS DE PEDRA FLUXO TURÍSTICO ANUAL

0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 1997 199 8 199 9 200 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 200 8 200 9 2010 ANO V IS IT A NT E S ANUAI S

Fonte: Baseado em dados da Associação Caminhos de Pedra (2011).

No caso do Roteiro Caminhos de Pedra, o crescimento do fluxo turístico anual registrado foi bastante expressivo, como pode ser observado na tabela 2.

TABELA 2 – Caminhos de Pedra: Fluxo Turístico e Taxa de Crescimento Anuais (1997-2010)

ANO VISITANTES CRESCIMENTO ANUAL (%)

1997 9.900 1998 11.100 12,12 1999 20.120 81,26 2000 21.446 6,59 2001 25.965 21,07 2002 29.572 13,89 2003 45.212 52,89 2004 51.097 13,02 2005 48.300 -5,47 2006 42.777 -11,43 2007 47.974 12,15 2008 54.190 12,96 2009 49.133 -9,33 2010 58.840 19,76 1997-2010 494,34

Fonte: Baseado em dados da Associação Caminhos de Pedra (2011).

Para atender o crescimento do público dos roteiros, novas atrações, equipamentos e serviços surgiram e com isto o tempo de permanência no espaço rural ampliou-se e criou condições para a implantação de empreendimentos de hospedagem, como percebido no Vale dos Vinhedos durante a década de 2000. Atualmente são encontrados neste roteiro desde

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pequenas hospedagens até empreendimentos hoteleiros superiores a 100 unidades habitacionais.

Este processo de expansão da oferta turística ocorreu de forma relativamente rápida e promoveu a introdução de novos padrões urbanísticos e arquitetônicos sobre estes espaços rurais. Entre estes novos padrões estão:

a) ampliação dos espaços de estacionamento junto aos estabelecimentos para dar conta do atendimento de uma grande quantidade de visitantes que se deslocam com veículo particular;

b) maior área construída dos empreendimentos (principalmente das vinícolas) por conta do crescimento da produção influenciado pelo consumo e divulgação turística e pela necessidade de ampliação dos espaços de atendimento e venda direta aos visitantes. Isto se refletiu em construções de maior volume e destaque junto à paisagem;

c) asfaltamento de vias, implantação de sinalização turística e de placas de divulgação de empreendimentos junto aos principais eixos de circulação dos roteiros;

d) implantação de novos estilos e padrões arquitetônicos, conforme pode ser observado nas figuras 6 e 7.

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FIGURAS 6 e 7 – Padrões Arquitetônicos Originais e Novos Padrões Arquitetônicos implantados no Vale dos Vinhedos.

Fonte: Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves (2011)xiii e Rene Hassxiv.

Além dos impactos sobre a paisagem, decorrentes da instalação de novas atrações, equipamentos e serviços por conta da consolidação da atividade turística no local, o espaço rural do Vale dos Vinhedos começou também a ser influenciado pela crescente valorização dos produtos vinícolas ali produzidos, principalmente após o registro do nome Vale dos Vinhedos como indicação geográficaxv.

Estes fatores atrelados ao turismo e a vitivinicultura estimularam o aumento do preço das terrasxvi no Vale dos Vinhedos e motivaram também a implantação de investimentos imobiliários, sob a forma de condomínios privados que “vendem” a paisagem como fator diferenciado dos empreendimentos. Desta forma, começaram a aparecer os primeiros conflitos de interesse que sugerem a necessidade de implantação de um sistema de gestão territorial nas áreas abrangidas pelo roteiro, situação que também está acontecendo no Roteiro Caminhos de Pedraxvii.

A observação de casos de introdução do turismo nos espaços rurais do Vale dos Vinhedos e Caminhos de Pedra, bem como de outros roteiros menos consolidados da Microrregião Uva e Vinho, permitem identificar alguns processos frequentes nesse tipo de situação:

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a) Normalmente, a implantação da atividade turística começa em decorrência de fluxos turísticos espontâneos para determinadas localidades;

b) Nessas localidades, moradores percebem oportunidades decorrentes da visita e permanência de pessoas de fora, passando então a adaptarem suas estruturas de moradia, trabalhos e rotinas para atenderem os visitantes e obterem ganhos econômicos;

c) A expansão contínua da demanda estimula a expansão da oferta de atrações, equipamentos e serviços turísticos em um processo no qual oferta e demanda interagem e retroalimentam seus crescimentos;

d) A divulgação contínua das marcas dos roteiros por visitantes e operadores do turismo favorece a visibilidade das localidades, fazendo inclusive com que algumas localidades passem a ser mais conhecidas pelo nome dos roteiros que abrigam do que pelo seu nome oficial (como exemplo pode ser citado o roteiro Caminhos de Pedra, onde o nome do roteiro turístico se tornou mais conhecido do que o nome oficial da localidade, São Pedro);

e) A apropriação pela mídia das marcas territoriais criadas pelos roteiros turísticos aumenta a divulgação destes locais implicando em valorização política;

f) A valorização política promove investimentos públicos em infraestruturas e serviços de forma diferenciada nas localidades turísticas, quando comparadas com outras localidades de perfil semelhante, mas que não contam com a presença do turismo agregando marcas ao território;

g) A fixação das marcas criadas pelo turismo em algumas localidades atraI o interesse dos agentes do setor imobiliário que buscam fazer uso destas marcas como argumento diferencial para a venda de imóveis para pessoas moradoras de outras localidades que estejam interessadas em residir definitivamente ou por temporadas em locais que lhes agreguem status e qualidade de vida;

h) Ocorre a valorização econômica das terras nas áreas onde o setor turístico e imobiliário se consolidam;

i) A introdução do turismo e o interesse imobiliário estimulam o aumento do custo da mão de obra local e a imposição de novos padrões de desenvolvimento arquitetônico e urbanístico;

j) Ao final de um determinado tempo, os espaços disponíveis tornam-se escassos e começam a ser disputados por distintas atividades locais, ocasionando conflitos de interesse entre atividades incompatíveis ou que concorrem pelos mesmos espaços;

k) As alterações na participação das diferentes atividades econômicas sobre a composição da economia local alteram o peso econômico dos grupos envolvidos e, consequentemente, modificam as relações de poder nas localidades turísticas;

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l) A dinâmica rápida do mercado acelera as interações existentes entre padrões locais e padrões decorrentes do atendimento as exigências dos novos usos turísticos e imobiliários, normalmente externos aos padrões locais;

m) As interações decorrentes de ações isoladas implantadas por empreendedores acontecem rapidamente e, muitas vezes, se antecipam a qualquer previsão legal que trate de seus objetos. No Brasil esta situação é conseqüência da priorização dada pelo planejamento público brasileiro às áreas urbanas;

n) A sobreposição, sobre o mesmo território, de diferentes intervenções exercidas pelos empreendedores de forma isolada pode ocasionar a perda dos elementos responsáveis pelo estímulo a valorização turística desses espaços e pode comprometer tanto esta atividade quanto a(s) cadeia(s) produtiva(s) a ela associada (s).

Os processos relatados anteriormente podem ser observados em diferentes roteiros da Microrregião Uva e Vinho, especialmente nos roteiros mais consolidados onde os conflitos de interesses sobre o território tem se tornado mais evidentes. Em função disso, já se percebem algumas iniciativas do setor público com o propósito de prevenir este tipo de situação.

EXPERIÊNCIAS DE GESTÃO TERRITORIAL DO ESPAÇO RURAL NA MICRORREGIÃO