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Neoruralidades: a valorização do turismo como expressão da pluriatividade nas pequenas propriedades agrícolas no sul do estado do

Rio Grande do Sul/Brasil.

Ceretta, Caroline C. Professora da Universidade Federal de Pelotas. Email: carolineceretta@hotmail.com

Jasper, Juliana Rose. Professora da Universidade Federal do Pampa, campus Jaguarão. E- mail: ju.jasper@terra.com.br

Dos Santos, Nara Rejane Zamberlan. Professora da Universidade Federal do Pampa, campus São Gabriel. E-mail: narazamberlan@gmail.com

Rocha, Jeferson Marçal. Professor da Universidade Federal do Pampa, campus São Gabriel. E-mail: jeffersonmrocha@gmail.com

Resumo: O estudo objetiva analisar o turismo como expressão da pluriatividade nas pequenas

propriedades rurais no Sul do Brasil. Especificamente, busca analisar os aspectos socioeconômicos dos empreendimentos turísticos na zona rural de Pelotas; identificar o processo de valor turístico no roteiro escolhido; e conhecer os motivos da não inserção de algumas propriedades rurais próximas ao roteiro Pelotas Colonial. Metodologicamente identifica-se o estudo como bibliográfico-descritivo, de corte qualitativo, cujos dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Como resultado, verificou-se que o turismo nas propriedades rurais é uma fonte de renda e contribui para a permanência do homem no espaço rural. Contudo, o estudo apontou a necessidade de ampliar as Políticas Públicas para o desenvolvimento do turismo no espaço rural estudado.

Palavras-chave: neoruralidade; turismo; espaço rural; propriedades rurais; Roteiro Pelotas

Colonial; políticas públicas.

Abstract: The study aims to analyze tourism as an expression of pluriactivity in small rural

properties in southern Brazil. Specifically seeks to identify the socioeconomic aspects of tourism developments in rural areas in Pelotas, identify the process of tourist value in the script chosen, to know the reasons for non-inclusion of some rural properties near the “Pelotas Colonial” script. Methodologically the study is identified as a descriptive bibliography of a qualitative whose data were collected through semi-structured interviews. As a result, tourism in rural properties is a source of income for the properties and contributes to the permanence of man in rural areas. However, the study identified the need to expand public policies for the development of tourism in rural areas studied.

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Key-words: new ruralitie; tourism; rural space; rural properties; Pelotas Colonial Script; public

politics.

Apresentação

A busca pelo meio rural como fuga dos grandes centros urbanos indicam possibilidades de novas formas de atividade nas propriedades agrícolas como, por exemplo, o turismo associado a neoruralidades. Os neo-rurais podem ser entendidos como os moradores de centros urbanos que decidiram residir em propriedades rurais fazendo do turismo também uma fonte de renda complementar, transformando as propriedades em pousadas ou desenvolvendo outros serviços e atividades relacionadas ao setor turístico.

Segundo Graziano da Silva et al (2002) o novo rural brasileiro expressa a idéia de que não se pode mais caracterizar o meio rural como exclusivamente agrícola, uma vez que há um conjunto de atividades não agrícolas como o prestação de serviços,comércio e a indústria que estão compondo a nova dinâmica ocupacional do meio rural Brasileira. O que justifica o surgimento de necessidades típicas de uma sociedade pós-fordista no rural, baseada em bens e serviços não-tangíveis, mas também não suscetíveis de desenraizamentos da atividade agrícola. Para o autor este novo ator é um agricultor pluriativo, cujas dinâmicas redefine o mundo rural tanto dos países desenvolvidos como os em desenvolvimento.

Dentre estas novas atividades, o turismo tem ganhado destaque, justamente pela superação das práticas de um turismo massivo e sem limites identificados entre os anos de 1950 a 1970 (Beni, 2006).

A crescente expansão e influência das metrópoles levantam questionamentos a respeito dos novos meios de ocupação dos espaços rurais, onde o turismo pode ser encarado como uma das atividades econômicas paralelas a serem desenvolvidas. Com as dificuldades de emprego nas metrópoles aliado a valorização dos espaços rurais, muitos buscam nas áreas rurais uma alternativa econômica, que nem sempre coincidem com as rotinas agrícolas, assim a idéia de turismo rural passou a estar atrelada ao fato de aproveitar-se da tranquilidade e beleza do campo, sem abrir mão do conforto da cidade.

Outro favor a considerar é que no meio rural os períodos entre safras são necessários para o descanso da terra, até o momento de seu novo preparo e utilização nos próximos ciclos de cultivos. Nesta época, o turismo possibilita inúmeras alternativas de renda para os empreendimentos localizados nos espaços rurais.

Nesse sentido, identificar o uso do turismo no espaço rural na possibilidade de manutenção do ambiente explorado poderá inserir na cultura local uma nova perspectiva de valorização do ambiente rural, num processo de reorganização social e econômica, que direta ou indiretamente são resultantes das atividades turísticas implantadas.

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Como problema de pesquisa, este estudo tem como indagação: ocorre de fato a valorização do turismo como expressão da pluriatividade nas pequenas propriedades agrícolas da zona rural do município de Pelotas, no Sul do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil?

A região Sul do Estado, caracterizada pela produção pecuária extensiva em grandes propriedades, presenciou até o inicio do século XIX, características que apontavam uma relação econômica diferente da capitalista, onde a produção interna das propriedades era capaz de suprir todas as necessidades dos seus habitantes (Rocha, 2011).

Para Rocha, (2011), além da falta de subsídios teóricos e análises convincentes para afirmar que as atividades da época moldavam-se de uma forma capitalista, as características também não refletiam-se no que Chayanov (1981) identificava como atividades estruturadas em moldes não capitalistas.

Mesmo que aumento dos lucros nas propriedades rurais da região sul do Estado, não fosse à prioridade das atividades econômicas, houve um acumulo de riquezas materiais, como gado, extensão de terras, propriedades, etc. na mão dos grandes latifundiários.

Notadamente, no final do Século XIX e ao longo do século XX as crises oriundas da estagnação econômica, provocada pelo sistema produtivo adotado, marcou um novo repensar das estratégias de desenvolvimento da Metade Sul do Rio Grande do Sul (Rocha,2011).

No final do século XX os novos conceitos de desenvolvimento, passaram a identificar necessidade de mudanças nas formas de produção de riquezas, que acabaram demandando novos setores de serviços também em relação as atividades do meio rural. O que para Sacco (2009) apontou um novo discurso sobre a agricultura e o mundo rural.

Com isso, o estudo tem como objetivo analisar o turismo como expressão da pluriatividade nas pequenas propriedades agrícolas no sul do Estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Especificamente busca-se a) criar os instrumentos que identificam os principais aspectos socioeconômicos dos empreendimentos turísticos e rurais na zona colonial de Pelotas; b) Identificar os principais elementos de valorização da atividade turística no Roteiro Gassetur através das informações coletadas junto aos empreendimentos turísticos rurais; c) identificar os principais motivos de não inserção de algumas propriedades rurais nos roteiros turísticos; d) verificar o interesse dos proprietários do meio rural em desenvolver a atividade turística e e) co-relacionar as informações entre os empreendimentos turísticos e os rurais que não desenvolvem atividade de turismo.

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Turismo rural: uma atividade marcante no século XXI

As atividades turísticas passaram a ser uma ação social incontestável no final do século XX, inserindo-se nos mais variados contextos sociais. Com isso tornou-se um fenômeno complexo e diversificado no âmbito cultural, social, econômico e ambiental.

O turismo no espaço rural tem encontrado espaço e assim como os setores de agenciamento, eventos, alimentação e hospedagem, tem se destacado promissor e de forte tendência motivacional.

Segundo o Ministério do Turismo (2010) dentre as atividades a serem desenvolvidas nos espaços rurais pode-se considerar o turismo rural, definido com sendo todas as atividades praticadas mo meio não urbano, que consiste de formas de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta:

Turismo Rural, Turismo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Saúde, Turismo Cultural, Turismo Esportivo, atividades estas que se complementam ou não. (Graziano da Silva et al., 1998)

O turismo no espaço rural, diferentemente do conceito turismo rural, não considera as atividades agrícolas como atividade principal, o que faz com que esse exercício não seja necessariamente uma forma de pluriatividade.

Já a definição de turismo rural adotada pelo Ministério do Turismo (2010) aponta que o turismo rural é composto por um conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade.

O turismo no espaço rural pode ser considerado uma autêntica forma de pluriatividade no meio rural, deve ser compreendido como oportunidade de obter renda extra, sem deixar as atividades agrícolas e ou a pecuária em segundo plano. Ao mesmo tempo, a pluriatividade também pode significar a revitalização e valorização das características socioculturais do local, quando vislumbrada a identidade do território como potencial turístico, tornando-se efetivamente esta identidade como uma das formas de marketing do local.

Nesse contexto, Kastenholz (2006) aponta que a segmentação do mercado de turismo no espaço rural é uma estratégia para o desenvolvimento rural bem sucedido. É preciso conhecer os recursos disponíveis no espaço e as motivações e expectativas que acabam gerando fluxo turístico, tal como acontece nas outras formas de turismo.

Já Figueiredo (2003) considera que o turismo nos espaços rurais poderá contribuir para a formação do fenômeno turístico, num processo aliado ao desenvolvimento rural. Porém

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salienta que não poderá haver o divórcio entre as qualidades comercializáveis, oferecidas aos turistas e visitantes e os contextos históricos, sociais e econômicos, com a perda da autenticidade local.

O surgimento do turismo rural iniciou em meados do século XX na Europa, em países como França, Itália e Portugal, cuja motivação para o desenvolvimento do turismo rural nessas áreas, além do ganho econômico foi uma medida para minimizar o êxodo rural, e valorizar os patrimônios históricos, culturais, arqueológicos e arquitetônicos da região. No entanto, somente no início da década de 1990 foi que essa nova atividade econômica passou ser vista e estudada pelos governantes.

A União Européia, em 1991, criou políticas públicas para o desenvolvimento rural, o que motivou que muitos países apoiassem o Turismo Rural e a outras atividades não-agrícolas capazes de revitalizar os territórios rurais.

Com o sucesso europeu, a idéia de turismo rural chegou ao Brasil, como uma prática capaz de promover uma interação entre o rural e o urbano, e assim aliviar a pobreza no campo, sem descaracterizar o ambiente nem as tradições locais.

As primeiras expressões dessa atividade turística no país foram no estado de Santa Catarina, no município de Lages, na Fazenda Pedras Brancas, que desde 1984 já abria a propriedade a visitação. O fator determinante para o êxito do turismo no município foi à demanda. No entanto, esse fluxo só utilizava a cidade como ponto de parada rápida, eventualmente um pernoite. Pensando em aproveitar esse movimento, a prefeitura criou uma comissão municipal de turismo, que tinha como objetivo dar condições para que o fluxo fosse mais bem aproveitado. Esta estratégia política foi determinante para que o turismo rural em Lages se consolidasse.

As transformações pelas quais tem passado, nas últimas décadas, o meio rural brasileiro contribuíram para não considerá-lo como essencialmente agrícola. A identificação do rural como agrícola perdeu o sentido quando muitas atividades tipicamente urbanas passaram a ser desenvolvidas no meio rural, geralmente em complemento às atividades agrícolas. Além disso, percebeu-se que estratégias de desenvolvimento local/regional constituem- se em alternativas viáveis para se enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. Deve-se considerar que um dos principais requisitos deste desenvolvimento é a participação da comunidade através de processos democráticos e transparentes, na expectativa de diminuir as desigualdades sociais. Assim, as especificidades de cada localidade ou território e ao pleno uso de suas potencialidades tornam-se efetivamente oportunidades econômicas concretas (Kageyama, 2004).

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O desenvolvimento rural tem implicado na criação de novos produtos e serviços, associados a novos mercados; a formas de redução de custos a partir de novas trajetórias tecnológicas; a reconstrução da agricultura não apenas no nível dos estabelecimentos, mas em termos regionais e da economia rural como um todo.

Os agricultores deverão explorar as mutações no mercado e as novas oportunidades de escoamento, aperfeiçoar a produção através das oportunidades de progresso tecnológico, observando o principio da sustentabilidade e os requisitos ecológicos, além da busca para desenvolver formas de cooperação e aumentar o valor agregado por meio da diversificação das atividades (pluriação).

Assim, as propriedades de agricultura familiar entram como núcleos desse desenvolvimento, uma vez que as famílias essencialmente agrícolas são aquelas em que a força de trabalho familiar é empregada somente nas atividades agropecuárias. Já às famílias com caráter pluriativo, seu significado aponta que um ou mais membros da família exercem uma atividade extra-agrícola. (Texeira, 1998).

Essa atividade extra referida pode ser o turismo rural como uma alternativa de pluriatividade. O turismo rural como nova fonte de renda gera mudanças que formam uma rede de desenvolvimento, oferecendo novas oportunidades para a região.

O turismo no meio rural deve ser uma atividade essencialmente difusa, diretamente relacionada com aspectos ambientais e com as especificidades inerentes da região. Neste contexto o turismo no espaço rural constitui-se em importante vetor do desenvolvimento local.

A estratégia de desenvolvimento da atividade turística em nível local deve ter o envolvimento e a participação de todos os atores sociais devidamente representados, além de necessitar uma avaliação criteriosa do potencial turístico, tendo como referência a cultura e os recursos naturais de cada local.

Para o Ministério do Turismo (2003), a atividade turística que ocorre na unidade de produção dos agricultores familiares e as quais mantêm as atividades econômicas típicas da agricultura familiar, porém dispostos a valorizar, respeitar e compartilhar modos de vida, patrimônio cultural e natural, utilizando-se de oferta de produtos e serviços de qualidade.

A expectativa é que está integração não meramente econômica, mas cultural proporcione bem-estar a todos envolvidos (turistas e agricultores). Assim, as inúmeras possibilidades de uso do espaço rural pela atividade turística poderão desencadear uma série de outras atividades e serviços, as quais poderão contribuir para a agregação de diversas atividades junto à propriedade rural.

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O desemprego aparece como elemento fundamental no caminho da desagregação social, seja no âmbito urbano como rural. No decorrer dos anos a escassez de empregos vem aumentando exponencialmente, atingindo também países desenvolvidos como Estados Unidos, Japão e a maioria da Europa.

Para Canuto (1998), há a percepção que em algum momento, a crise social e ambiental levará a uma obrigatória reversão de valores. Nisso a economia rural aparecerá com forte potencial de garantir a sobrevivência de muitas pessoas. Para ele, as pessoas passarão cada vez mais que utilizar métodos de reprodução econômica, tendo no espaço rural um potencial para o desenvolvimento sustentável. Nesta expectativa, o turismo rural vem como opção para aumentar a renda das famílias rurais ajudando no desenvolvimento regional.

Contudo o desafio das políticas públicas é incentivar ações sustentáveis e economicamente distributivas, para evitar os riscos que a apropriação inadequada da atividade turística poderá provocar tanto ao meio ambiente como a acumulação de riquezas.

A premissa do turismo no espaço rural (TER) como agente capaz de proteger e valorizar o ambiente, a cultura local, a auto-estima dos residentes e zelar pelas características identitárias das comunidades onde estiver inserido, só poderá se confirmar com atuação efetiva das políticas públicas (Beni, 2006).

Considerando os aspectos relacionados com o desenvolvimento social, econômico, físico e administrativo, que estimulam a diversificação da base econômica, por meio de atividades complementares, tem-se no turismo em áreas rurais uma nova chance de utilização dos espaços outrora submetidos ao uso indiscriminado por manejo inconveniente comprometendo sua potencialidade produtiva.

O futuro e a sustentabilidade do TER dependem da qualidade do produto oferecido, advindos com a promoção dos valores locais, com a estabilidade da autenticidade cultural e com a proteção ambiental (Almeida, Froehlich e Riedl, 2006).

A idéia principal é que, em um primeiro momento, o turismo em áreas rurais possa exercer um papel de complemento da renda familiar, uma vez que carecem de políticas públicas que dêem suporte as reais interferências na vida social dos proprietários rurais.

Para Oliveira e Kraisch, (2006) apud Orcio (2009), o turismo rural também auxiliou na valorização do pequeno e do médio agricultor, uma vez que atua na manutenção das famílias no campo, articulando às atividades agrícolas, gerando um significativo retorno econômico, além de fomentar a valorização da cultura rural e os ensinamentos da vida no campo.

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Segundo Alves (2005), a pluriatividade caracteriza-se pela combinação das múltiplas inserções ocupacionais das pessoas que pertencem a uma mesma família, permitindo juntar as atividades agrícolas a outras atividades que gerem ganhos monetários e não-monetários, independentemente de serem internas ou externas à exploração agropecuária.

Objetivamente, a pluriatividade refere-se a um fenômeno que pressupõe a combinação de duas ou mais atividades, sendo uma delas a agricultura, podendo então ser classificada de acordo com as atividades secundárias exploradas pelo agricultor: pluriatividade de base agrícola (se forem atividades relacionadas ao setor agrícola, por exemplo, venda de mão de obra em propriedades vizinhas em períodos de maior demanda) ou intersetorial (relacionado a atividades de outros setores, como por exemplo, a venda de derivados dos produtos produzidos no local, como geléias e doces, ou prestação de serviços, como é o caso do turismo rural).

Para Sacco dos Anjos (2009),o discurso da pluriatividade no contexto dos países anglo-saxões, foi introduzida na expressão muliple job holding, e substituída por outro termo – a pluriatividade, que é assimilada nos diversos idiomas (pluriactivity, pluriactivité,pluriactividad) para caracterizar um novo tipo de exploração tido como moderno e adequado aos novos tempos regidos pelo chamado pós-produtivismo. Há uma nova forma de organização familiar em que o incentivo a pluriatividade é justificado pela diversidade de atributos na organização da exploração familiar, de uso sustentáveis de recursos locais (humanos e econômicos).

Portanto, trata-se de famílias que acabam se tornando pluri ocupadas em razão da diversidade de atividades praticadas pelos membros que as compõem (Schneider, 2006). Um aspecto comum a estes dois tipos de pluriatividade é o fato de que ambos ampliam o processo de interação dos agricultores com os mercados, quer seja através da venda da força de trabalho ou da prestação de serviços.

Antes do processo da denominada modernização dos sistemas de produção agrícolas (Revolução Verde), o que predominava entre os produtores rurais era um sistema produtivo de caráter semi-autônomo, baseado no trabalho da família e na produção, principalmente, para o auto-consumo. Porém, a partir da década de 1960, no Brasil e na maioria dos países subdesenvolvidos, houve uma modificação nos processos produtivos agrícolas, que passaram a aliar-se aos modelos exigidos pela alta produtividade das agroindústrias. Agora a produção agrícola não estava mais ligada a dinâmica ecológica dos ecossistemas, mas sim a irracional demanda produtiva insustentável da lógica do mercado capitalista (Rocha e Brandenburg, 2003; Cole, 2003)

Além disso, nesta época no Brasil, a ação do Estado no período militar privilegiou a grande propriedade enquanto geradora de divisas pela exportação de produtos agrícolas e enquanto mercado consumidor de produtos de origem industrial destinados à agricultura, como máquinas e insumos, política que consolidava os chamados complexos agroindustriais.

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Para garantir o lucro das indústrias sem prejuízo dos grandes agricultores são estruturados diversos instrumentos de política agrícola, como crédito com juros especiais e subsídios, transferindo para outros setores da sociedade o ônus da remuneração do capital industrial (Rocha e Brandenburg, 2003; Altafin, 2011).

As constantes crises econômicas por que passou o Brasil, a falta de políticas públicas que visassem ao longo prazo uma melhoria na qualidade de vida da população, fizeram aumentar a desigualdade social, as diferenças regionais (De Oliveira & Zouain, 2011).

Nesse cenário, pensava-se que as pequenas propriedades estariam fadadas ao