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Caminhos teóricos e analíticos: processo de sistematização e constituição dos eixos e categorias de

CAPÍTULO III — Procedimentos metodológicos da pesquisa

3.3 Caminhos teóricos e analíticos: processo de sistematização e constituição dos eixos e categorias de

A opção por uma determinada abordagem teórico-metodológica tem implicações diretas no rumo e na qualidade da investigação, pois as relações simbólicas direcionam e condicionam nosso modo de produzir, de olhar e de interpretar as ações e os acontecimentos tomados como objeto de análise. Entretanto, como ocorre em toda escolha/opção teórico-metodológica, isso pressupõe do pesquisador alguns cuidados e consciência das limitações de suas escolhas e opções.

Carvalho (1999, p. 1) diz que “[...] Uma ‘profissão relacional’, em que o principal ‘instrumento de trabalho’ é a pessoa do professor, um sujeito interagindo com outros sujeitos é uma atividade cujas dimensões existenciais e afetivas não podem ser

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desconhecidas”. Então, o processo investigativo deve apresentar característica evolutiva, em que as perguntas e outros registros decorram naturalmente e o investigador anote e recolha os dados, “mantendo fidelidade à tradição qualitativa de tentar captar o discurso próprio do sujeito, deixando que a análise se torne evidente [...]” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 108).

Na presente pesquisa, as análises e as interpretações são ancoradas teoricamente em estudos nacionais e internacionais e definidas pelo objeto de estudo: a formação e o desenvolvimento profissional de professores, o início de carreira docente e os grupos de estudos.

Para tratar da formação e do desenvolvimento profissional de professores, buscamos aportes teóricos em autores tais como Ponte (1998); Day (1999); Hall (1999), Guimarães (2004), Passos et al. (2006).

Em relação à aprendizagem docente, às mudanças da prática e dos conhecimentos do professor, à cultura docente nos apoiamos em Pérez Gómez (1995); Hargreaves (2002) e Cochran-Smith e Lytle (1999).

No que diz respeito aos aspectos relativos aos grupos de estudo, a seus compartilhamentos, a suas aprendizagens, a suas colaborações e às pesquisas realizadas coletivamente, buscamos aportes em Cochran-Smith e Lytle (1999); Wenger (2001); Bolzan (2002); Lima (2002); Fiorentini (2004).

Por último, em relação ao início de carreira docente apoiamo-nos em estudos que poderiam nos ajudar a compreender as características dessa fase, bem em como programas internacionais voltados para superação das dificuldades iniciais (VEENMAN, 1988; HUBERMAN, 1997; MARCELO GARCIA, 1999; ABARCA, 1999; GUARNIERI, 2000; SZTAJN, 2001; OLIVEIRA, 2004). Diante das poucas publicações sobre o início de carreira no Brasil e visando contemplar a realidade educacional brasileira e seu contexto sociocultural e político, procuramos conhecer as pesquisas anteriormente desenvolvidas sobre esse tema. Essa é a razão pela qual realizamos, como já explicamos anteriormente, uma revisão de 28 dissertações e teses brasileiras sobre os primeiros anos de docência.

confrontar e cruzar a variedade de informações obtidas de diferentes fontes e instrumentos26 de coleta de dados e identificar alguns indícios de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores iniciantes que possam ter sido decorrentes do apoio direto ou da simples participação nos grupos de estudo.

O processo de identificação de indícios baseia-se no paradigma indiciário proposto por Ginzburg (1989), que começou a se afirmar nas ciências humanas baseado na semiótica. Os indícios têm como característica “a capacidade de, a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experimentável diretamente” (GINZBURG, 1989, p. 152). Esse processo de busca de indícios é desenvolvido de maneira mais sistemática nos capítulos IV e V deste relato de pesquisa.

No capítulo IV, apresentam-se os dados tabelados e organizados principalmente a partir das respostas obtidas pelo questionário inicial. Isso nos permitiu construir um panorama geral de todos os iniciantes, com destaque aos professores que participavam de grupos de estudo. Esse panorama geral nos concedeu dados e indícios relativos, de um lado, a três temas relevantes — formação dos professores, experiências iniciais docentes e necessidade de apoio ao professores iniciantes —, e de outro, à continuidade e à busca de aprofundamento das análises sobre as práticas de sala de aula e sobre a participação em grupos de estudo.

No capítulo V, os dados são apresentados e analisados, visando descrever a constituição e a trajetória dos grupos e, sobretudo, suas características, seus objetivos, seus pressupostos, suas práticas e suas dinâmicas. Os professores iniciantes selecionados e pertencentes a esses grupos são apresentados partindo de sua trajetória infantil e estudantil, de sua formação inicial e continuada, bem como de sua prática docente e de suas inter- relações com o grupo.

Para o aprofundamento do processo analítico, o capítulo IV retoma para análise e interpretação alguns depoimentos apresentados nesses capítulos descritivos. Esse processo consistiu, num primeiro momento, em obter informações não apenas aquelas relativas às

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Questionários, entrevistas, observações/registros em aulas e em reuniões dos grupos, atas de reunião dos grupos, textos escritos pelos iniciantes, relatos orais, e-mails etc.

contribuições dos grupos para os professores iniciantes, mas também as contribuições destes para os grupos.

Num segundo momento, cruzamos essas informações com aquelas divulgadas pela literatura, visando construir categorias de análise e interpretação. Desse processo, resultaram seis categorias: (1) Sobrevivência e descoberta na/da profissão; (2) Choque de realidade/medo; (3) Contexto escolar; (4) Isolamento; (5) Socialização docente; (6) Construção da identidade docente.

Ou seja, o processo de construção dessas categorias pode ser, então, caracterizado como emergente-misto, pois foram “obtidas, mediante um processo interpretativo, diretamente do material de campo” e em diálogo com a literatura (FIORENTINI e LORENZATO, 2006, p. 135).

Essas categorias foram, então, agrupadas em dois eixos, de modo que pudéssemos identificar e revelar as contribuições dos grupos ou das práticas colaborativas para o desenvolvimento profissional dos professores iniciantes. Estes eixos representam duas dimensões relativas aos enfrentamentos iniciais do professor: 1. Aspectos e problemas característicos da fase inicial da carreira; 2. Socialização profissional docente. No Quadro 3, a seguir, são apresentados os dois eixos e as categorias correspondentes.

Quadro 3: Eixos e categorias de análise 1. Aspectos e problemas característicos da fase inicial

da carreira 2. Socialização e construção profissional docente 1.1 Sobrevivência e descoberta 1.2 Isolamento/centrar-se em si mesmo 1.3 Choque de realidade/outras dificuldades 2.1 Contexto escolar 2.2 Socialização docente 2.3 Construção da identidade docente

O primeiro eixo apresenta aspectos e problemas característicos da fase inicial da carreira. Esse eixo reúne três categorias, descritas no quadro acima,que contêm indícios de contribuições do grupo para o desenvolvimento dos professores iniciantes de Matemática, ao enfrentarem os problemas e os desafios iniciais da prática docente, considerando as principais características dessa fase, apontadas pela literatura.

O segundo eixo refere-se à socialização e à construção profissional docente. Este eixo contém três categorias interligadas de análise e interpretação. As duas primeiras tratam de maneira articulada o contexto da prática docente e a socialização docente, mantendo, porém, olhares distintos sobre o ingresso na profissão: um olhar externo para fatores do contexto e um olhar interno sobre as socializações construídas pelos sujeitos. A terceira categoria de análise e interpretação diz respeito à construção das identidades pessoais e profissionais dos professores iniciantes ao longo dos primeiros anos de docência. Os itens reunidos nas três categorias foram analisados em relação às características do grupo de apoio, pois sempre se considera o local onde ocorrem as práticas.

Dando seqüência aos capítulos, no próximo apresentaremos um panorama geral dos professores iniciantes investigados, tomando como referências principais o questionário inicial da pesquisa respondido por 16 professores iniciantes e parte das entrevistas e dos materiais concedidos pelos grupos e pelos professores iniciantes.