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4.1 – CAMPINAS: UM POUCO DE HISTÓRIA E O CONTEXTO URBANO EM QUE ATUAM AS CRECHES.

4 – CAMINHOS E PARCERIAS

4.1 – CAMPINAS: UM POUCO DE HISTÓRIA E O CONTEXTO URBANO EM QUE ATUAM AS CRECHES.

A região em que se localiza o município de Campinas, um dos principais centros tecnológicos e de negócios do Brasil, constitui-se como um dos pólos da Região Metropolitana de Campinas, a RMC, institucionalizada em 2000 e formada por dezenove cidades, com uma população estimada em dois milhões de pessoas. Com esta pujança, estudiosos prevêem que, futuramente, Campinas poderá ser uma das metrópoles mais ricas do País.

O município conta com pouco mais de duzentos e sessenta anos de história, abrangendo os períodos Brasil Colônia, Império e República. Antonio da Costa Santos, prefeito de Campinas, morto em 2001, em sua tese de doutorado retrata as origens de Campinas e conta a intencionalidade da criação da cidade.

As circunstâncias e os objetivos para os quais Campinas foi criada estão descritos por SANTOS (2002) da seguinte forma:

Acontece como conseqüência da política iluminista de ocupação do eixo centro – sul da colônia, após a transferência da capital do Estado do Brasil para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763, e à véspera da inauguração da Lisboa pombalina reconstruída do terremoto de 1755.

Nesta circunstância foi decidida a fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí por dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão, o morgado de Mateus, capitão-general e governador da capitania de São Paulo (1765-1775). ( p.27).

O autor relata que dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão, o morgado de Mateus, era fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo e foi o político designado para:

[...] fortalecer na colônia brasileira o poder mercantilista do Estado português. Coube a ele restaurar a autonomia política paulista e realizar na Repartição Sul do Estado do Brasil, entre 1765 e1775, o projeto pombalino de governo caracterizado por uma determinada forma de despotismo, ilustrado, reformista e anticlerical (p.44).

Portugal, naquela ocasião, tinha uma economia decadente e derrotada, subordinada ao interesse dos ingleses. Os políticos da época objetivavam o restabelecimento do poder econômico e da soberania nacional, comprometidos pela Revolução Industrial inglesa que transformara as antigas bases de sustentação das relações da metrópole portuguesa com a colônia brasileira (p.28).

Ao longo da narrativa, SANTOS (2002) afirma que a “concepção cartográfica” desenvolvida por dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mourão, o morgado de Mateus, era originária de informações familiares, uma vez que de sua família, saíram dois importantes governadores gerais no século XVII (p.45).

Com esses conhecimentos em mãos e o estudo detalhado de leituras e comparações de mapas e rede de caminhos, passou-se uma década para a

fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso – ocorrida em 14 de julho de 1774 – aconteceu durante os últimos dias das relações políticas entre o morgado de Mateus e Sebastião José de Carvalho e Melo, o conde de Oeiras e marquês de Pombal (p.73).

Nos marcos de sua formação colonial, a cidade de Campinas surgiu na primeira metade do século XVIII como um bairro rural da Vila de Jundiaí. Localizado nas margens de uma trilha aberta por paulistas do Planalto de Piratininga entre 1721 e 1730, o povoamento do "Bairro Rural do Mato Grosso" começou com a instalação de um pouso de tropeiros nas proximidades da "Estrada dos Goiases". O pouso das "Campinas do Mato Grosso" impulsionou o desenvolvimento de várias atividades de abastecimento e promoveu uma maior concentração populacional.

SANTOS (2002) analisa que

Situado na metade do ancestral percurso bandeirista entre Jundiaí e Mogi-Mirim, como ponto de definição do “caminho único” para aquelas minas setentrionais este pouso antecedeu em quatro décadas o marco geográfico da fundação da própria freguesia (p.87).

CANO & BRANDÃO (2002), em estudo sobre a urbanização, a economia, as finanças e o meio ambiente na Região Metropolitana de Campinas, discorrem sobre a economia regional quando da criação de Campinas, destacando que a economia de sua região era baseada no plantio de cana e na produção de açúcar (p.101).

Chegavam fazendeiros procedentes das regiões próximas. Esses fazendeiros buscavam terras para instalar lavouras de cana e engenhos de açúcar. Dessa maneira, transformações diversas aconteceram na economia campineira, chegando ao alto índice da produção açucareira no início do século XIX. Os autores acima apontam que Campinas produzia 160 mil arrobas de açúcar nos 93 engenhos existentes, além de cachaça.

A economia continuou seu crescimento, só que na ocasião as plantações de café já suplantavam as lavouras de cana e dominavam a paisagem da região. A produção de cana de açúcar foi se tornando inexpressiva diante dos altos índices apontados pela região Nordeste.

Os cafezais, por sua vez, nasceram do interior das fazendas de cana, impulsionando em pouco tempo um novo ciclo de desenvolvimento da cidade. A partir da economia

cafeeira, Campinas, na década de 1860, passou a concentrar um grande contingente de trabalhadores escravos e livres, de diferentes procedências, empregados em plantações e em atividades produtivas rurais e urbanas.

Nesse período, em 1868, a cidade começava a experimentar uma "modernização" nos meios de transporte, de produção e de vida, com a implantação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. CANO & BRANDÃO (2002, p.101) enfatizam que a fundação da estrada de ferro foi realizada essencialmente com capital dos cafeicultores locais, ligando Campinas a Jundiaí, com 44 km e alcançando, a partir daí, a capital e o Porto de Santos.

O crescimento ocorria tanto no aspecto econômico, quanto no aspecto urbano. Os autores destacam a criação do Instituto Agronômico de Campinas e a implantação de diversas indústrias, Companhia Campineira de Iluminação a Gás, Banco Comercial e Agrícola de Campinas e da Companhia Telefônica Campineira

Vale ressaltar também a importância de Campinas como importante centro de lideranças econômicas e políticas de nível nacional, como, por exemplo, o presidente Campos Sales e o deputado e ministro Francisco Glicério. A região passou a ter um destaque não só econômico, mas também com relação a recursos humanos, no campo intelectual. Estava se estruturando um centro econômico e político na cidade.

A partir de 1930, CANO & BRANDÃO (2002) registram que a cidade "agrária" de Campinas assumiu um aspecto mais industrial e de serviços. A crise cafeeira dos anos 1930 e as mudanças políticas do país marcaram o fim de uma era com grandes transformações. A cidade passou a concentrar uma população constituída de imigrantes procedentes de diversos países e migrantes das mais diversas regiões do Estado e do País.

No plano urbanístico, por exemplo, Campinas recebeu em 1934, com assessoria de Prestes Maia, o Plano de Melhoramentos Urbanos, um amplo conjunto de ações voltado a reordenar suas vocações urbanas, sempre na perspectiva de impulsionar velhos e novos talentos, como o de pólo tecnológico do interior do Estado de São Paulo.

Muitos imigrantes, em 1939, chegavam a Campinas atraídos pelo novo perfil industrial. A cidade passou a vivenciar um novo momento histórico, marcado pela migração e pela multiplicação de bairros nas proximidades das indústrias na época. Os autores CANO & BRANDÃO (2002) apontam 6 mil operários e uma centena de fábricas

muitas de importância nacional, como: Chapéus Cury, fogões Dako, Dunlop, Johann Fabber, Singer e Swift.

Campinas consolidava-se, a economia urbana industrial conferia-lhe predominância na estrutura produtiva do município. A pavimentação da Via Anhangüera em 1948 potencializaria ainda mais sua economia (CANO & BRANDÃO, 2002, p.102), estabelecimentos como a atual Rede Frango Assado — que se fixou às margens das grandes rodovias em implantação — dariam a Campinas a centralidade de que hoje é detentora em uma vasta região.

De acordo com CANO & BRANDÃO (2002), o resultado do Plano de Melhoramentos Urbanos levou duas décadas para se tornar visível. Essa visibilidade surgiu com a constituição, na cidade, de uma periferia que veio a criar em Campinas uma grande especulação imobiliária, com o surgimento de loteamentos, principalmente ao longo da então recém-pavimentada Via Anhangüera.

Na década de 50, CANO & BRANDÃO (2002) destacam que: a urbanização passou a se consolidar de maneira segregada. O intenso processo de valorização imobiliária foi expulsando a classe mais pobre das áreas centrais, que passou a se deslocar para áreas mais distantes (p. 124).

Estes novos bairros, implantados originalmente sem infra-estrutura urbana, conquistaram uma melhor condição de urbanização entre as décadas de 1960 a 1990, ao mesmo tempo em que o território da cidade aumentava quinze vezes e sua população cerca de cinco vezes. De maneira especial, entre as décadas de 1970 e 1980, os fluxos migratórios levaram a população a praticamente duplicar de tamanho.

Em termos de formação educacional da população do município, na primeira metade do século XX, de acordo com MEDRANO (2002), mais precisamente em 1941, foi criada a Faculdade de Campinas, para atender a demanda de jovens que já estudavam na cidade e que tinham interesse em prosseguir seus estudos. A cidade passou então a oferecer na região formação em nível superior, sendo a primeira cidade do interior a oferecer curso de graduação, iniciando com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que posteriormente culminaria no que é hoje a Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Com o aumento populacional, a ocupação desordenada foi sendo uma constante. A falta de infra-estrutura de habitação, aliada à ausência de serviços públicos, como postos de

saúde, hospitais, escolas e creches, proporcionou sérios problemas sociais para essa parcela da população.

Economicamente, foram incentivadas medidas para as exportações agroindustriais e Campinas foi marcada pela estruturação de um pólo de alta tecnologia, sobretudo no curso dos anos 70, em grande medida impulsionada pela criação e pelo desenvolvimento da Universidade Estadual de Campinas - uma das maiores e mais importante instituições de ensino e pesquisa do País. Esse pólo tecnológico, consolidado nas décadas seguintes, juntamente com o CPqD e o CTI, caracterizou a cidade como um dos mais vigorosos centros econômicos da América do Sul.

Na esteira da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e da Universidade Estadual de Campinas e com a criação do pólo de alta tecnologia, estabeleceu-se uma rede complexa de comércio e serviços, assim como uma população crescente de nível educacional elevado, demandada pelo pujante crescimento econômico dos anos 70 e 80, o que permitiu à cidade enriquecer e desenvolver-se. Muito embora, às vezes, esse crescimento não tenha prestado o devido reconhecimento à importante contribuição da população trabalhadora, Campinas é hoje uma cidade caracterizada por alto desenvolvimento econômico e humano, muito marcada por diversidades e diferenças socioeconomicas, mas que se transformou numa grande metrópole regional.

Na atualidade, Campinas, uma metrópole que reúne mais de dois milhões de habitantes, superando outras regiões metropolitanas do Brasil, tem crescido acima da média do Estado, distribuída por quatro distritos (Joaquim Egídio, Sousas, Barão Geraldo e Nova Aparecida) e centenas de bairros. Como município expoente do progresso tecnológico, atrai grande parte do investimento previsto para o Estado de São Paulo.

Segundo CANO & BRANDÃO (2002), tal vigor econômico é traduzido em crescimento populacional, trazido em especial pela ampliação de sua população trabalhadora, mas tem apresentado nas últimas duas décadas uma qualidade de vida cada vez mais depauperada com os problemas contemporâneos, a saber: Ocupação urbana da área rural sem o necessário controle, e processos acentuados de exclusão social que se expressam na crescente favelização e na exacerbação da violência urbana (p. 154).

Em um cenário como este, como acontece o cotidiano das educadoras de creche? Há conexões entre trabalho produtivo e desenvolvimento pessoal e profissional?