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2 2 A EDUCAÇÃO INFANTIL EM ALGUNS PAÍSES DA EUROPA: PEQUENO PANORAMA

II INFÂNCIA: A HISTÓRIA DE UM CONCEITO

2 2 A EDUCAÇÃO INFANTIL EM ALGUNS PAÍSES DA EUROPA: PEQUENO PANORAMA

Estudos sobre o contexto histórico da creche, como os de SANTOS (2004), OSTETTO (2000), ROSEMBERG e CAMPOS (1998), entre outros, apontam a França (em particular a região dos Vosges, em 1770) como o primeiro país a se organizar para assistir lactentes filhos de camponeses. No ano de 1846, em Paris, já havia catorze creches.

Após a Segunda Guerra Mundial, continua SANTOS (2004, p.12), aumentou consideravelmente o número de mulheres que ingressaram no mercado de trabalho, proporcionando um crescimento da demanda para o atendimento da criança pequena, crescimento este que foi acontecendo de maneira moderada nas décadas de 50 a 70.

Conforme ressaltou a autora, em 1946, na França, contavam-se trezentas e sessenta creches coletivas; em 1970, seiscentas e noventa e sete coletivas e cento e dez familiares; em janeiro de 1975, oitocentas e oitenta e três creches coletivas e duzentas e oitenta e quatro familiares, e, naquele mesmo ano, abriram-se, pelo menos, setenta e cinco novas creches.

Na França, os serviços oferecidos acontecem por meio das seguintes modalidades: creches coletivas - recebem as crianças das famílias que habitam a comunidade ou os empregados da empresa e que tenham de dois meses e meio a três anos de idade. Essas creches têm um tamanho variável: elas recebem de vinte a sessenta crianças e dispõem de poucas vagas, creches familiares - que acolhem em seu domicílio uma ou maiscrianças da mesma faixa etária acima, e as creches de passagem ou guarda - para as crianças que precisem permanecer além desses horários das 7:30 h às 19 h.

Para as crianças abaixo de seis anos, creches coletivas, subordinadas ao Ministério da Saúde, oferecem atendimento assegurado por uma organização - continuou a autora - seja ela pública ou privada. A formação do pessoal é específica e o prédio é destinado exclusivamente para este fim.

WAJSKOP (1998), pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, destacou que naquele país o atendimento em tempo integral para crianças menores de três anos é exclusivo para as mães que trabalham fora. As creches domiciliares são caracterizadas pelo atendimento realizado por assistentes maternais em casa. A direção dessas assistentes é realizada por uma diretora com formação em puericultura e sua subordinação se dá pelo Serviço de Proteção Materno-Infantil e pela Direção de Ação Sanitária e Social. Uma outra

opção são as creches de passagem, abertas ao público em tempo integral. Destinam-se às mães que não trabalham regularmente e a permanência é limitada a um certo período.

Em Portugal, a notícia que se tem é de que a primeira creche foi estabelecida na cidade do Porto, em 1854 com a finalidade de atender crianças abandonadas, e esse modelo foi transplantado para o Brasil no período Imperial.

Na Suécia, o atendimento à criança pequena ocorre em tempo integral. Quando os pais trabalham ou estudam, é realizado do seguinte modo: creche cooperativa de pais, que, segundo GUNNARSSON (1998, p.137), tem na participação e no envolvimento dos pais sua característica mais marcante; creche domiciliar, cujo atendimento à criança de zero a doze anos é realizado por uma mãe crecheira em sua residência; e o sistema de três famílias que, de acordo com o autor, também pode receber o nome de creche domiciliar, no qual uma educadora ou mãe crecheira é contratada para cuidar de várias crianças na casa de uma das famílias participantes.

Na Itália, a partir da década de 70, após várias pressões realizadas por setores diversos da sociedade, principalmente pelo segmento das mulheres, foram aprovadas leis que, conforme apontaram SANTOS (2004), MANTOVANI e PERANI (1999), trouxeram significativas mudanças para o conceito de maternidade e proteção à infância, até mesmo por intermédio da implementação de serviços de creche. Ainda sobre este tema, a autora destacou que:

No início dos anos 70, surge uma lei estabelecendo creches para as crianças até três anos de idade, e outra ampliando escolas maternais públicas para as crianças de três a seis anos. Nesta época, aparece, pela primeira vez a intervenção direta do Estado, relacionada ao serviço de creche (SANTOS, 2004, p.12).

Em função do surgimento dessa lei de competência municipal, MANTOVANI e PERANI (1999), pesquisadoras italianas, destacaram que

A creche é projetada para a mãe trabalhadora e não mais para a infância carente; organiza-se, portanto, sobre um conjunto de idéias, regras, atitudes, informações extraídas de estudos, pesquisas, modos de pensar de diversas matrizes, tudo isso concentrado não somente sobre as necessidades da mãe, mas também sobre uma reavaliação da criança de zero a três anos como um objeto de interesse pedagógico (MANTOVANI e PERANI, 1999, p.76.)

A Inglaterra8 ainda não assume um sistema nacional público de creches, pois a postura vigente entende que a educação de zero aos cinco anos ainda cabe aos pais. Fato curioso, entretanto, é que as mães trabalhadoras possuem apenas doze semanas de direito à licença-maternidade e os pais, de uma a duas semanas. Conseqüentemente, existem nove tipos de estabelecimentos autorizados para o atendimento à criança: creche particular de horário integral, creche filantrópica, creche de empresa, creches domiciliares, grupos de recreação, escolas maternais independentes, creches públicas subsidiadas, escolas maternais municipais e escolas primárias.

Com relação aos Estados Unidos, PELICIONE & CANDEIAS (1997) registraram que

[...] em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, criaram-se muitas creches para filhos dos empregados da indústria de guerra. No final da guerra, contudo, com a retirada do apoio governamental, decresciam as vagas disponíveis. Cabe acrescentar que os Estados Unidos atribuem a responsabilidade pela educação da criança à família.

Em Cuba, a Educação Infantil é considerada prioridade nacional. A partir de 1959, esse país foi progressivamente estabelecendo programas de educação para a primeira infância e pré-escola. A organização do trabalho com crianças de zero a seis anos acontece com atendimento em instituições formais denominadas círculos infantis e não formais, envolvendo a família e a comunidade. Dentre os projetos não formais, destaca-se “Educa a tu hijo”.9

E no Brasil? Como foi que as creches e a Educação Infantil se constituíram? É o que pretendo responder a seguir.