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Capítulo 3 – O contexto físico da Praça Maior

3.3. O Campus Universitário Darcy Ribeiro 1 Evolução da estrutura física

3.3.3. O Campus hoje

Atualmente o campus é composto por um importante conjunto arquitetônico com grande variedade de estilos e sistemas construtivos50. Muitos deles refle-

tem o caráter experimental-científico característico da universidade. A exemplo disso estão os edifícios de Serviços Gerais - SGs projetados por Oscar Nieme- yer, com concepção técnica de João Filgueiras Lima, Lélé. Os SGs compõem um dos mais significativos conjuntos da UnB, em virtude do sistema construtivo pré-moldado51, adotado pela primeira vez no país (SCHLEE et al., 2014, p. 36).

Analisando as relações espaciais do campus, podemos verificar um conjunto de características muito próprias do urbanismo moderno: a predominância de áreas livres mal definidas e com grandes dimensões; edificações implantadas de forma isolada, desalinhadas com a rua e excessivamente afastadas umas das outras; distâncias que inibem a apropriação do espaço pelo pedestre, entre outras. Configuram claramente o paradigma da formalidade proposto por Ho- landa (2002, p. 125), e não são espaços favoráveis às atividades cotidianas, desejáveis a um campus universitário (Fig. 44).

Fig. 44 Mapa do Campus Universitário Darcy Ribeiro. Glebas A, B e C. Edificações isoladas

Fonte: Acervo do CEPLAN

50 Destacam-se obras de arquitetos renomados como Alcides da Rocha Miranda, Sérgio Rodri-

gues, Oscar Niemeyer, João Filgueiras Lima, José Galbinski, Adilson Costa Macedo, Paulo de Melo Zimbres, Matheus Gorovitz, José Zanine Caldas, entre outros.

51 De acordo com o documentário Universidade de Brasília: primeira experiência em pré-

moldado (1962-1970), o sistema possibilitou em 1962 a construção de quatro prédios de um

pavimento em 45 dias, que foi essencial para viabilizar as atividades da universidade. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nQbsUNDx0H4

Outras características marcantes são as grandes dimensões das edificações e a pequena quantidade de portas que elas abrem para os espaços públicos. O fato tem relação com a atividade institucional, com programas extensos e am- bientes internos amplos, e também com a questão prática dos custos com o controle de acesso. Os edifícios, não raramente, têm uma única porta e demais fachadas cegas. Configuram invólucros impermeáveis, o que implica na falta dos “olhos da rua”, fundamental para alimentar a vida pública. O ICC com toda sua extensão tem oficialmente apenas seis acessos. Em poucos trechos, como na “Pracinha da FAU”, na Galeria Christina Jucá e no Centro Acadêmico das Ciências Ambientais, foram abertas portas para o exterior. Com isso cria-se uma dicotomia entre o campus como um amontoado de edifícios fechados e isolados, e o campus desejado, com espaços permeáveis que favoreçam a ur- banidade.

Foram diagnosticados, no documento Ideia de Desenvolvimento Físico Espaci- al do Campus da UnB, problemas relacionados a uma falta de estrutura físico- espacial de integração, de continuidade, e a falta de princípios organizadores de configuração (UnB, 1988, p. 9). O diagnóstico observa o acesso principal pela Via L4 Norte dando as costas para a cidade; bem como a promoção de uma integração dependente do automóvel, assim como foi proposto para Brasí- lia.

Também foi observada a rigidez do modelo funcional, que acaba por segregar atividades, muitas vezes correlatas e complementares, e estabelecer áreas excessivamente específicas para as atividades. É interessante notar o exemplo do Centro Olímpico - CO que reúne toda a estrutura esportiva do campus. A existência do CO não deveria implicar na ausência de equipamentos e mobiliá- rio de apoio a atividades físicas nos demais espaços do campus. Por mais que o CO seja bem equipado e disponha de espaço à vontade, o fato de estar loca- lizado a quase 1500 m de distância do ICC, o torna pouco acessível. Se um grupo de alunos dispuser de meia hora livre não irá até o CO, pois gastaria 20 minutos apenas para se deslocar a pé. Por outro lado, se houvesse oferta de elementos de apoio à realização dessas atividades distribuída pelo campus e mais próxima dos edifícios, certamente a opção seria considerada. Infelizmente

não é o que ocorre, e fora os jogos em espaços improvisados, as exceções ficam por conta da Quadra de Esportes José Maurício Honório Filho, consoli- dada desde o núcleo original de ocupação do campus, e da área de lazer que atende à Colina, com academia ao ar livre, parque infantil e campo de futebol. Os caminhos para pedestres estão, quase sempre, dissociados dos alinhamen- tos das edificações, e se tornam inóspitos, extensos e pouco amenos (ROME- RO et al, 2010). Neles, muitas vezes falta sombreamento e eventuais abrigos contra intempéries. Em algumas situações faltam calçadas ou sua conservação está comprometida.

Em 2012 o Governo do Distrito Federal implantou um sistema de ciclovias que, entre outros locais, passa pelo campus, ampliando as opções de mobilidade até ele e através dele. O projeto da ciclovia, entretanto, sofre críticas relaciona- das principalmente à falta de compatibilização com o sistema de vias e calça- das52. São diversos os pontos de conflito, como sobreposição com calçadas,

descontinuidade de trajetos e falta de sinalização, entre outros.

O paisagismo segue, de forma geral, uma linha muito próxima do que foi reali- zado no Plano Piloto. O relevo, que desce em direção ao lago, foi terraplanado na parte mais urbanizada do campus, bem como a vegetação nativa foi supri- mida. Nas áreas periféricas, há ainda grandes áreas não ocupadas, com tre- chos de cerrado preservado e degradado. O tratamento paisagístico predomi- nante assume uma forma extensiva, com áreas gramadas com ou sem árvores. As espécies presentes no campus são basicamente as mesmas do restante da cidade. A arborização implantada tem feição de bosque, com árvores livremen- te dispostas e mais ou menos agrupadas, conforme a diretriz bucólica. Dentro da concepção moderna, os espaços livres funcionam como moldura para o ob- jeto em destaque, que é a edificação isolada.

Mas existem níveis diferentes de tratamento paisagístico, e os mais elaborados e diversificados, que incluem árvores, arbustos e forrações, costumam estar inseridos ou contíguos aos blocos de edifícios. É importante notar que, apesar

52 A ONG Rodas da Paz elaborou relatórios de análise das ciclovias em diversos trechos do

DF. Os relatórios estão disponíveis em: http://www.rodasdapaz.org.br/controlesocial/analise-da- contrucao-das-ciclovias-do-distrito-federal/

do caráter moderno, a maior parte das áreas livres do campus não foi efetiva- mente projetada. Em contraste com isso, observam-se inserções curiosas ao longo do tempo, sobretudo nas forrações e arbustos, feitas conforme critérios casuais e mergulhadas no imaginário popular de tradição formalista, de cantei- ros, bordaduras, topiarias etc. (Fig. 45).

Fig. 45 Diferentes níveis de tratamento paisagístico no Campus Darcy Ribeiro: jardins internos, áreas descampadas, arborizadas e as populares bordaduras

Quanto aos espaços urbanizados, o que se percebe é que além de mal confi- gurados, eles recebem um tratamento bastante austero. Além das calçadas, a urbanização se concentra nas áreas de acesso aos edifícios, entre as portas e bolsões de estacionamento. O piso é pavimentado em concreto em placas ou moldado in loco, há poucos postes de iluminação, placas com o nome do edifí- cio, lixeiras, e às vezes bancos, orelhão, bicicletário e totem de localização. Praticamente não há marquises ou qualquer tipo de cobertura, e tampouco me- sas, tornando os espaços em geral muito pouco convidativos. O estado de conservação também não colabora, já que é comum haver pisos rachados e desnivelados, grelhas de drenagem soltas, bancos e lixeiras quebrados, postes

que não funcionam etc. Há, ocasionalmente, equipamentos distribuídos pelo campus, como a Concha Acústica no Núcleo de Artes, a Praça Chico Mendes do SINTFUB53, um redário junto à Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde,

além de obras de arte diversas.

Por fim, constata-se que os espaços livres são mal conformados e não contam com uma estrutura que dê suporte adequado a seu uso. Assim, temos como resultado espaços livres que, mesmo generosos em área, tornam-se residuais no sentido da importância secundária no conjunto urbanístico do campus. Con- forme apontado desde o documento Ideia de Desenvolvimento Físico (UnB, 1988, p. 12), o modelo morfológico implantado fortalece a segregação e dificul- ta as relações interpessoais.