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Capítulo 3 – O contexto físico da Praça Maior

3.3. O Campus Universitário Darcy Ribeiro 1 Evolução da estrutura física

3.3.4. A comunidade universitária.

Do ponto de vista social, poderíamos dizer que há certo padrão na população do Campus Universitário Darcy Ribeiro, como seria também em outras institui- ções universitárias. Mas diante do tamanho dessa comunidade e da diversida- de de atribuições pessoais, não há como ela ser totalmente homogênea. Além disso, observa-se que o perfil da comunidade vem mudando, e novas deman- das sociais vêm surgindo principalmente entre os estudantes, que configuram a maior parcela da população do campus. Nos anos recentes, devido à amplia- ção do número de vagas e cursos ofertados, bem como pelas políticas afirmati- vas, a UnB vem-se tornando mais acessível a camadas da população histori- camente desfavorecidas. As políticas de cotas para negros e cotas sociais, o vestibular indígena, os convênios internacionais e o acolhimento a estudantes refugiados, são algumas das ações da Universidade de Brasília que colabora- ram para um aumento da diversidade sócio-étnico-cultural.

Segundo dados de setembro de 2017 do SIGRA - UnB54, dentre os 32.496 alu-

nos da graduação do campus, a maior parte é de mulheres (50,73%); um terço se declara branco (33,55%), sendo que 28,94% não declarou essa informação; 44,34% vêm da rede pública de ensino e menos de 1% (306 estudantes) é de

53 SINTFUB - Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília.

54 Informações extraídas do Sistema de Graduação – SIGRA e fornecidas pela Coordenadoria

de Informações Gerenciais do Decanato de Planejamento e Orçamento da UnB em 05/10/2017.

estrangeiros. Os dados indicam tanto um processo de democratização do acesso à universidade, quanto um crescente processo de heterogeneização entre os estudantes. Nacionalmente essa realidade também vem-se transfor- mando, segundo uma pesquisa realizada pela Andifes55. O total de estudantes

das classes D e56 em universidades federais brasileiras aumentou entre 2010 e

2014, de 44% para 66,19%. A pesquisa também identificou um aumento de alunos autodeclarados pretos e pardos, que passou de 4% para 47,57% dos entrevistados.

A crescente heterogeneidade social vem gerando novas dinâmicas no campus. Ao passo que a população se diversifica, pluralizam-se discussões que até re- centemente não estavam tão visíveis na universidade. Movimentos sociais, po- líticos e culturais se multiplicam e muitas vezes extrapolam os limites do cam- pus. É o caso de uma série de núcleos e coletivos ligados às causas artística, negra, feminista, LGBTQI+57, periférica, entre outras, que passam a agregar

públicos em parte externos à universidade.

São as tribos urbanas, conceituadas por Maffesoli (2006). Um novo tipo de or- ganização social, em que o individualismo é substituído pela necessidade de identificação com um grupo. As tribos urbanas são grupos que se deslocam dentro do processo de massificação da sociedade moderna, buscando cone- xões de afetividade e interesse comum, uma vez que os seres humanos procu- ram proximidade com aqueles que pensam e sentem de forma semelhante. Dessa forma podem se organizar e defender esses interesses. As tribos rom- pem os modelos sociais convencionais e tornam possíveis outros arranjos so- ciais com uma solidariedade mais orgânica. Dessa forma, não apenas os estu- dantes, professores e funcionários, mas também o público externo encontra, no contexto do campus, terreno aberto para novos tipos de interação além dos programados. Assim, o território universitário tem se tornado mais complexo na medida em que sua população se diversifica e toma para si discussões cada vez mais relevantes e atuais, presentes na sociedade.

55 Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. 56 Oriundos de famílias cuja renda não ultrapassava 1,5 salários mínimos per capita.

57 A sigla refere à comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou

Transgêneros, Queers, Interssexuais, e qualquer outra pessoa que não seja heterossexual ou cisgênero.

Um exemplo dessa interação é o evento independente Batalha da Escada que ocorre no Teatro de Arena da Praça Maior, e que une cultura hip-hop e crítica social (Fig. 46). O evento surgiu a partir da iniciativa de um grupo de estudan- tes e tem reunido semanalmente cerca de 400 pessoas58, num público que ex-

trapola as fronteiras da universidade.

O ambiente universitário é naturalmente um palco de acontecimentos. No coti- diano do campus há muita interação e inúmeras atividades que extrapolam a todo o tempo o mero funcionamento da instituição. Muito além das atividades fim, o que se vê são reuniões, eventos, apresentações, manifestações políti- cas, culturais e artísticas, ensaios, feiras, exposições, aulas independentes, jogos, iniciativas filantrópicas, comércio alternativo de alimentos, artesanato, brechó, livros, roupas, produtos orgânicos, entre muitas outras. Como exem- plos de atividades que já se tornaram parte do dia-a-dia no Campus Darcy Ri- beiro, temos o projeto Salsa UnB, que oferece aulas de danças latinas para a comunidade e para o público em geral, em espaços cedidos pela universidade. Há também as aulas de Zé do Pife, que transmite a arte tradicional do pífano, em oficinas abertas à comunidade. E a feira semanal de alimentos orgânicos, fornecidos pelo Assentamento Colônia I, de Goiás, entre outros.

Ocorre que grande parte dessas atividades sociais se concentra no interior (ou junto às entradas) das edificações, e não nos espaços externos do campus (Fig. 47 e Fig. 48). O movimento dentro do ICC, assim como nos pátios das faculdades e institutos é extremamente dinâmico. As pessoas vivenciam esses espaços e neles vê-se a presença dos três setores da comunidade: estudantes, professores e funcionários. Por todas as considerações feitas a respeito da configuração dos espaços externos, não surpreende que a vida pública do Campus Universitário Darcy Ribeiro se dê preferencialmente no interior das edificações.

58 Informação obtida em https://www.metropoles.com/entretenimento/musica/batalha-da-

Fig. 46 Batalha da Escada no Teatro de Arena. Abril de 2019

Fig. 47 Cotidiano no Campus Darcy Ribeiro. Esquerda, ICC. Fotografia Mariana Costa. Centro, ICC. Fotografia Murilo Abreu. Direita, CO. Fotografia Beatriz Ferraz.

Fonte: Secom UnB

Fig. 48 Cotidiano no Campus Darcy Ribeiro. Esquerda, Salsa UnB. Fotografia: Corazón Salsero. Centro, Cheerleader. Direita, serviços de cópia e papelaria.