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1.1 O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

1.1.3 O Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante

A microrregião Sudoeste Serrana é composta pelos municípios de Afonso Cláudio, Brejetuba, Conceição de Castelo, Domingos Martins, Laranja da Terra, Marechal Floriano e Venda Nova do Imigrante, sendo as principais fontes econômicas dessa região baseadas nas atividades agropecuárias e de agroindústria. A pecuária predomina em Brejetuba e Laranja da Terra, e a predominância do cultivo do café, das frutas, das hortaliças e do agroturismo em geral ocorre em Afonso Claudio, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Marechal Floriano e Venda Nova do Imigrante.

O município de Venda Nova do Imigrante (emancipado pela Lei Municipal nº 4.069, em 6 de maio de 1988) possui a marca peculiar da presença maciça de imigrantes italianos na região. Essa cidade é formada pela sede (Venda Nova do Imigrante), pelos distritos de São João de Viçosa e Caxixe e comunidades como: Alto Bananeiras; Alto Colina; Alto Providência, Alto Tapera, Alto Viçosinha,

13 Instituto Jones dos Santos Neves: “vinculado à Secretaria de Estado de Economia e Planejamento (SEP) do Espírito Santo [...], tem como finalidade produzir conhecimento e subsidiar políticas públicas por meio da elaboração e implementação de estudos, pesquisas, planos, projetos, programas de ação e organização de bases de dados estatísticos e georreferenciados, nas esferas estadual, regional e municipal, voltados ao desenvolvimento socioeconômico do Espírito Santo, disponibilizando essas informações ao estado e à sociedade” (ISJN, 2009).

Bananeiras; Bela Aurora, Cachoeira Alegre, Camargo, Lavrinhas, Pindobas, Providência; Santo Antônio do Oriente, São José do Alto, São Roque, Sapucais, Tapera, Vargem Grande, Viçosa e Viçosinha.

De acordo com o Diretor Geral do campus Venda Nova do Imigrante (VNI), o início da história desse campus se inicia na época da “Escola Técnica” (no estado do Espírito Santo), quando Jadir Pela assume a direção dessa escola visando à transformação em “Cefetes” com uma visão de “interiorização” da rede federal. Naquele momento, a instituição era localizada apenas em Vitória (capital do estado) e em Colatina, contudo, a intenção era atingir o estado como um todo.

Apesar da intenção de atingir mais municípios do interior, a legislação vigente na época proibia novas unidades, mas isso não impediu o início de um trabalho em São Mateus (com empresas particulares, prefeitura e movimentos de sindicato) com um curso de Mecânica fora da capital do Espírito Santo. Logo depois, Luis Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do país e a lei que proibia novas unidades foi “derrubada” e, então, novas unidades foram implementadas.

Nesse sentido, conforme narrativa do diretor geral do campus “VNI”, além das unidades de Vitória e Colatina, Serra estava em processo de término de obra (e foi incorporada) e o atual diretor do campus VNI (na época servidor do campus Vitória) foi para Cachoeiro do Itapemirim para iniciar a implementação da unidade de Cachoeiro. Em seguida, o “governo Lula” lançou a “primeira expansão” da rede federal.

Considerando que a visão de Jadir Pela já era de interiorizar, o Espírito Santo foi contemplado com mais duas unidades: Cariacica e São Mateus. Depois, com a “grande expansão”, o estado foi contemplado com mais cinco unidades: Linhares, Aracruz, Nova Venécia, Vila Velha e Ibatiba. Além dessas, o estado incorporou mais três unidades: Venda Nova, Guarapari e Piúma. Com a “última expansão”, surgiu a possibilidade de novos campi: Centro-Serrano, Barra de São Francisco e Montanha. De acordo com o diretor geral, “Hoje, o Espírito Santo é o estado com maior número de unidades considerando-se o quantitativo proporcional de habitantes, talvez, porque, antes de ser implementada a interiorização com o advento do novo governo federal a direção da ‘Escola Técnica – Cefetes’ nesse estado já se desejava isso antes”.

O Diretor Geral do campus Venda Nova afirma que trazer um campus para esse município foi uma “briga política muito forte”, porque fazia parte do planejamento dos dirigentes do Cefetes no sentido de pensar que a região das montanhas deveria ter uma unidade e que Venda Nova do Imigrante teria condições para receber um campus por ser considerada região polo. No entanto, no momento da “grande expansão” federal, em vez de aparecer Venda Nova do Imigrante, foi indicada “Ibatiba”. A “grande briga” não ocorreu com o objetivo de ser retirado o campus Ibatiba, mas que fosse criada a unidade de Venda Nova.

Assim, as questões políticas para que de fato pudesse surgir uma unidade no município polo das montanhas envolveu o Diretor Geral do Cefetes, o Governador do Estado do Espírito Santo, uma Deputada Federal, um Senador (que depois tornou-se governador do Espírito Santo) e a comunidade específica de Venda Nova do Imigrante (com apoio do prefeito e de vereadores). Todos lutaram no gabinete do Ministro indagando o motivo de ter autorizado Ibatiba em vez de Venda Nova.

Após esses movimentos, finalmente a unidade de Venda Nova foi autorizada, contudo, durante algum tempo, esse campus funcionou sem todas as adequações necessárias do ponto de vista legal. “A construção começou em 2008, mas, para começar, segundo o diretor, teria que ter orçamento, uma lei criando a unidade, pois essa é a regra geral. No entanto, não tivemos nada disso. Não tínhamos quadro de pessoal nem nada. Nós tínhamos apenas a promessa do Ministro que poderíamos fazer” [Diretor Geral].

Com a narrativa do Diretor Geral do campus de Venda Nova Imigrante, é possível perceber os movimentos anteriores ao início das atividades escolares: “Depois que o ministro assumiu o compromisso que autorizava a construção, aí começamos a arrumar o terreno, a desapropriação [...]. Com menos de um ano conseguimos a autorização da câmara. A câmara fez a lei, o prefeito sancionou. Fizemos o projeto e licitamos. Tudo isso dentro de um ano. Primeiro o terreno foi legalizado, depois o projeto, depois a licitação e com a licitação, iniciamos a obra. [...] No entanto, quando iniciamos as obras ocorreu um problema sério: o período de julho e agosto [de 2007] era de campanha política e surgiram denúncias contra o prefeito na época sobre compra e venda de lotes e a obra da unidade de Venda Nova foi paralisada. Retornamos as obras apenas depois do processo

eleitoral. Contudo, em seguida, a empresa que ganhou a licitação fez uma obra muito rápida. Em 2008, isso aqui [local onde funciona atualmente o campus Venda Nova do Imigrante] era um cafezal. [...] A obra começou no final de 2008, e no início de 2010 já tínhamos alunos aqui dentro. No entanto, nós (Venda Nova, Guarapari e Piúma) éramos considerados ainda clandestinos. Em Venda Nova nós recebemos autorização de funcionamento em 2010, mas nós não tínhamos quadro de professores e de servidores técnico-administrativos. [...] Iniciamos em 2010 sem nenhum professor efetivo (todos contratados). Definimos os cursos a serem ofertados baseado no arranjo produtivo, porque na época da definição o Cefetes já era Instituto [Ifes] e assim nós tínhamos algumas regras para seguir. Com essas novas regras já sabíamos o número mais ou menos que teríamos de professores e de técnicos-administrativos. Contudo, no início não tínhamos nada disso. Estávamos em 2009 e as aulas iniciariam em 2010. Então, fizemos audiência pública na ‘Casa da Cultura’ para a escolha dos cursos. Não tínhamos muito o que discutir porque a região tem necessidade de Agroindústria e tem uma área de serviço muito forte. Então, na segunda audiência já estava mais ou menos definido que seria ‘Administração’ e ‘Agroindústria’ [...]. Iniciamos com seis turmas: duas de manhã, duas de tarde e duas à noite”.

A atual Diretora de Ensino também narrou um pouco sobre os elementos que antecederam o pleno funcionamento do campus corroborando o que fora dito pelo Diretor quanto às dificuldades enfrentadas no primeiro ano de funcionamento do campus principalmente em relação à falta de professores efetivos e como ocorreram as escolhas dos cursos a serem ofertados na região: “Quando nós pegamos a tarefa de implantar o campus Venda Nova do Imigrante o pessoal da reitoria/diretoria do Cefetes já tinha feito um estudo sobre as possibilidades de cursos para cá, para Ibatiba e Caramuru. A gente não chegou aqui sem saber de onde tirar não. ‘Olha, lá a região é mais propensa para o curso de Agroindústria e Agronegócio’. Então, eu e [nome do diretor geral] resolvemos fazer uma audiência pública sem alarde político. Essa foi a nossa luz. ‘Ah, vamos chamar o pessoal das empresas, os representantes da comunidade’. [...] Nos reunimos nos porões da Igreja e ali falamos da intenção dos cursos de Agroindústria e Agronegócio. E ali, devia ter umas 20 pessoas só. Eu mesma telefonei para as agroindústrias. [...] Para representantes de estudantes também.

Ai, eles falaram assim: ‘Bacana. É isso mesmo, mas sabe de uma coisa? Podia ser um curso que abrangesse mais o comércio e o curso de Administração...daria mais conta da gente aqui porque a gente tem comércio’. Então, [nome do diretor geral] falou: ‘Vamos levar isso lá para baixo’. [...] Chegou em dezembro de 2009 e não tinha concurso ainda. Não tinha vaga e não tinha nada, e as aulas começariam em 2010. Então, começamos um processo rápido de contratação de professores. Começamos com oito ou nove substitutos. Nenhum efetivo” (somente o diretor geral).

A agroindústria é uma das principais fontes de economia da região com a fabricação e o comércio de aguardentes, biscoitos, café, doces, queijos, socol, vinhos, entre outros. De acordo com IJSN (2009), mais de 66% do Produto Interno Bruno (PIB) do município é proveniente do comércio e dos serviços relacionados ao agronegócio. Nesse sentido, os cursos ofertados no campus Venda Nova do Imigrante, depois de audiência pública realizada no Fórum Municipal, em 26 de agosto de 2009, são: Administração e Agroindústria.

O campus Venda Nova do Imigrante iniciou suas atividades letivas em 8 de março de 2010, ofertando curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio; curso Técnico em Agroindústria Integrado ao Ensino Médio; curso Técnico em Administração concomitante ao Ensino Médio; curso Técnico em Agroindústria concomitante ao Ensino Médio; e curso Técnico em Administração Integrado ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja14), pertencentes aos eixos tecnológicos: Gestão e Negócios; e Produção

Alimentícia.

De acordo com a Técnica em Assuntos Educacionais que durante algum tempo atuou como Coordenadora Geral de Ensino do campus e foi convidada pelo Diretor Geral para iniciar uma “formação de professores” logo no início das atividades letivas em 2010, ocorreram realmente muitas dificuldades em relação ao quadro de servidores conforme o relato: “Com algumas negociações o

14 Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Esse programa será detalhado no tópico que trata da especificidade da EJA.

docente veio para o campus para ministrar aulas de História, Geografia e Filosofia até que surgisse a vaga que buscava ou até que outro professor pudesse ser contratado. Na ocasião, o campus não contava com professor de Língua Portuguesa. Esse profissional chegou após um mês de aula, em um contexto onde o campus possuía 160 alunos. [...] Nós começamos com um quadro muito reduzido de professores. Tinha professor que precisava dar aula manhã, tarde e noite porque à noite, por exemplo, tinha o curso concomitante e só tinha um professor para dar aulas em duas ou três disciplinas. Não tinha aula para contratar professor por causa da carga horária baixíssima dessas disciplinas. Então o professor ficava com várias disciplinas e sofreram muito com esse processo. O professor de História dava aula de História, Filosofia e Sociologia. Os professores da área específica, tanto de Administração, como de Agroindústria trabalhavam com três ou quatro disciplinas. A maioria dos professores trabalhava assim em 2010. [...] Foi um começo com muita dificuldade. Muito complicado, porque nós não tínhamos computadores para trabalhar [...]. Não tínhamos laboratórios de Informática (apesar de termos os espaços para isso), nem de Física, nem de Química e Biologia. Então, fizemos uma parceria com a escola estadual e tentamos organizar aulas de Informática na primeira ou na última aula do turno e os nossos alunos, durante quatro meses, utilizaram o laboratório dessa outra escola. [...] Eu cheguei a ir para a sala de aula aplicar exercício de Língua Portuguesa porque não tinha professor. [...] Aplicava exercício, outras vezes fazia dinâmicas voltadas para a formação deles [alunos] como pessoas, sobre relacionamentos. Fizemos vários momentos de vivências, maravilhosos que me ajudaram na aproximação deles [...]. Foi fantástico nesse aspecto. Porém, tínhamos que nos desdobrar. [...] Somente em abril ou maio começaram a chegar os profissionais”.

O servidor “técnico em assuntos educacionais”, com formação em Pedagogia e função de Coordenador do “Núcleo de Gestão Pedagógica” (até o início de 2014), narrou um pouco da continuação dessa história inicial considerando-se o campo curricular e da formação de professores, principalmente salientando a relação Gestão Pedagógica-Professores, a partir da sua entrada no campus em 2011: “Eu cheguei no primeiro dia útil de 2011. [...] Tinha apenas uma pedagoga [de formação, pois o cargo ocupado por ambos é “técnico em assuntos

educacionais”] e eu cheguei para compor a equipe no Núcleo de Gestão Pedagógica. Foi bem interessante porque eu pude viver algumas situações iniciais do campus, algumas situações que só uma escola em formação, em início, poderia possibilitar. Por exemplo, a concepção dos projetos de curso, a aprovação desses projetos, a construção de ementas, de matrizes, e a formação do quadro docente e quadro administrativo. No início era bem difícil porque o quadro de servidores era diminuto e em relação a outros campi, com uma vontade muito grande, principalmente da gestão. O campus nasceu funcionando com os três turnos, com três modalidades de ensino diferentes. A gente tinha: concomitante, integrado Proeja e integrado diurno para os alunos que saíam da 5ª a 8ª. Nenhum campus do Instituto Federal do Espírito Santo, que eu conheça, começou os trabalhos assim funcionando a todo vapor. Muito interessante. Recebemos muitos elogios, mas, na prática, isso gerou um desgaste para essa equipe inicial, beirando o absurdo, né? Pois, apenas dois pedagogos [cargo de técnicos em assuntos educacionais, contudo pedagogos por formação] para atender três turnos com formação de novos cursos, discussão de novos projetos, discussão de novos documentos [...]. Esse começo do Instituto [no campus Venda Nova do Imigrante] foi bem tenso mesmo, pelas demandas gigantescas e pela quantidade reduzida de servidores. [...] Essa minha percepção em relação ao cotidiano do trabalho pedagógico, além desse nível de desgaste psicológico que essa equipe sofreu, existiram alguns outros fatores que também contribuíram para esse desgaste. Era a relação entre o Núcleo de Gestão Pedagógica e os professores. Quando eu comecei a atuar no NGP, eu percebi que havia um descompasso nessa relação. Havia uma demarcação muito forte do que é o trabalho do pedagogo e do que é o trabalho do professor e que esse diálogo deveria acontecer apenas nas instâncias institucionais. Eu não consegui entender relações humanas apenas como relações institucionais. Então houve diversos momentos que o protocolo estabelecido, mesmo que informalmente no campus, no primeiro ano, com a minha postura, eu comecei a quebrar algumas questões, nesse sentido. Mas foi interessante porque os professores começaram a perceber que era possível ter outras formas de relação entre o NGP e a equipe de professores, e a coisa começou a caminhar nesse sentido. A gente conseguiu avançar, o NGP foi recebendo outros profissionais, outros pedagogos [pedagogos de formação ocupado cargo de técnicos em assuntos educacionais

e em 2013 uma pedagoga de formação que ocupou o cargo de pedagoga], uma relação mais próxima, e o entendimento de que o trabalho do pedagogo e o trabalho do professor não poderia ser dicotomizado da forma que até então havia sido concebido”.

Quando entramos em exercício das atividades inerentes ao cargo efetivo de pedagoga do campus (em 2 de setembro de 2013), percebemos que, apesar da ocupação do primeiro cargo criado para pedagogo(a) nesse campus, os colegas ocupantes dos cargos de técnicos em assuntos educacionais (cujo pré-requisito é a formação em qualquer uma das licenciaturas), localizados no Núcleo de Gestão Pedagógica (NGP), coincidentemente, também eram licenciados em Pedagogia; assim, eram conhecidos no campus como “pedagogos”, e não como “técnicos em assuntos educacionais”. Dessa maneira, a diferença dessas atuações dava-se apenas na formalidade do nome do cargo nos documentos.

Um aspecto que chamou a nossa atenção ao entrar no campus foi o fato de que não havia tempo para encontros regulares estabelecidos entre membros do núcleo de gestão pedagógica e professores (com exceção das reuniões de início de ano e das “reuniões pedagógicas”/conselho de classe, no fim de cada um dos quatro bimestres do ano) ou mesmo dos docentes entre si como espaço de formação coletiva (momentos para contar experiências ou dialogar sobre quaisquer questões). Esses momentos ocorriam de maneira formal quando, eventualmente, surgia alguma questão que demandava uma agenda pontual e/ou emergente ou entre uma comissão instituída para fins específicos com duração determinada, ou projetos com duração determinada ou reuniões de coordenadoria (ou as conversas entre professores, na sala de professores, ou outros espaços de maneira rápida entre o “tic-tac” do cotidiano).

Assim, as conversas ou de que participamos, ou que ouvimos, surgiram entre os encontros fugazes no cotidiano, em espaços entre uma aula e outra, quando, coincidentemente, circulávamos por minutos em um mesmo local, ou quando precisávamos falar algo específico – individual – no Núcleo de Gestão Pedagógica, setor onde estamos localizados.

Essa falta de encontro frequente, ou de tempos coletivos, nos causaram estranheza e, ao mesmo tempo, movimentação de pensamento no sentido de indagar como seria possível lutar para a criação desse espaço de uma maneira que não fosse algo institucionalizado, verticalizado, espaço obrigatório, mas local de potencialização no afetar dos corpos com possibilidades de bons encontros!

Entendemos com Spinoza (2013, p. 163) que afeto são as afecções do corpo, pelas quais nossa potência de agir pode ser aumentada, diminuída, estimulada, refreada e, de acordo com Machado (2009, p. 77), a afecção é o estado do corpo enquanto sofre a ação de outro corpo. Dessa maneira, o afeto é a passagem, o movimento, a transição, a variação de um estado para outro estado.

Nesse contexto, entendemos os bons encontros a partir de Spinoza (2013, p. 277), que defende que algo é bom quando aumenta a nossa potência de agir e é mau quando diminui a nossa potência de vida (ação). Assim, não existe bem e mal, e sim “bom” e “mau” encontro, em consonância com Machado (2009, p. 75), ao afirmar que o mal é um encontro de corpo com outro corpo que se mistura mal com ele pois quando o afeta destrói a relação de movimento e repouso que o caracteriza.

Nessa perspectiva, a ideia era “lutar” por esse espaçotempo de uma maneira que incitasse nos professores a vontade de se encontrarem, de discutirem questões coletivamente, para além de um “mero cumprimento de tempo” (mesmo se em algum momento tivéssemos esse tempo instituído). Dessa forma, na tentativa de nos manter distantes de uma postura “redentora” e “pedagogizante” de fazer pesquisa em educação e da representação/estigma de “ser educadora”/“ser pedagoga”; nós nos percebíamos com limites, pois éramos/somos apenas um dos fios que compõem a trama que estivemos/estamos tecendo juntos no cotidiano dessa escola.

Quanto à oferta dos cursos nos turnos de funcionamento, atualmente, o campus oferta os cursos técnicos integrados ao Ensino Médio (Administração e Agroindústria), nos turnos matutino, vespertino e diurno (integral), e apenas no noturno são ofertadas algumas diferenciações: curso Técnico em Administração concomitante ao Ensino Médio; curso Técnico em Agroindústria concomitante ao

Ensino Médio; e curso Técnico Integrado ao Ensino Médio na Modalidade de Jovens e Adultos (Proeja).

Quando assumimos o cargo de Pedagoga do campus, nós nos envolvemos com as questões complexas das ações cotidianas da escola, agregadas às vivências anteriores na educação (com as problematizações em temáticas curriculares e na formação de professores). Então, continuamos a perseguir esse campo como possibilidade de pesquisa sem saber o que chamaria a atenção dentro da temática híbrida (currículo e formação docente).

Imagem 1 – Ifes campus Venda Nova do Imigrante.

Em poucas semanas de trabalho, estando à espreita, ouvimos discursos que nos conduziram à primeira aproximação com o foco de pesquisa (falas emaranhadas e trançadas por professores, alunos, coordenadores dos cursos técnicos, colegas do “núcleo de gestão pedagógica” e outros servidores vinculados ao ensino), em diferentes momentos: “Os alunos do Proeja não conseguem aprender” (professor); “Eu jogo o currículo lá embaixo, mas o aluno do Proeja não aprende” (professor); “O noturno é diferente. Não temos algumas coisas que