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1.1 O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

1.1.1 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFEs)

Os IFEs são instituições especializadas em Educação Profissional com uma história de mais de 100 (cem) anos no cenário brasileiro, contudo, com diferentes nomenclaturas ao longo desse tempo, em consonância com as diferentes demarcações políticas e econômicas no país. Assim, dialogamos com alguns autores para trazer um breve histórico desse espaço centenário.

Em 23 de setembro de 1909, foram criadas 19 (dezenove) Escolas de Aprendizes Artífices (EAA), por meio do Decreto nº 7.566. De acordo com o documento da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) do Ministério da Educação (MEC) que trata das Concepções e Diretrizes para a modalidade da educação profissional (2010, p. 11), essa criação justificava-se pela necessidade de prover as classes proletárias de meios que garantissem a sua sobrevivência. Conforme Sueth et al. (2009) e Feitosa (2013), as escolas foram implantadas nas capitais dos estados brasileiros e na cidade de Campos de Goyatacases – Rio de Janeiro (cidade natal do presidente Nilo Peçanha, que institucionalizou a educação profissional no país).

Segundo Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009, p. 3-4), seria importante “prover os desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual [...]

prover as classes proletárias de meios que garantissem a sua sobrevivência, assim como levá-las a adquirir hábitos de trabalho profícuo que as afastassem da ociosidade, escola do vício e do crime”. Nesse contexto, buscava-se desenvolver na EAA estudos basicamente manuais, tais como: artesanato, manufatura e arte do ofício.

De acordo com Feitosa (2013, p. 22), o objetivo desse Decreto era oferecimento de educação para o trabalho para os menores entre 10 e 13 anos de idade, pertencentes às camadas populares, desprovidos do mínimo de recursos para a sua sobrevivência e sujeitos às contravenções legais. Além disso, as greves operárias estavam cada vez mais articuladas e as “classes dirigentes” tinham interesse em preparar mão de obra para o desenvolvimento industrial no país.

Nos anos 1930 a 1945, a economia brasileira passou por um processo de mudança da atividade agroexportadora para a industrial e, nesse direcionamento, com a vigência da Lei Federal nº 378, de 13 de janeiro de 1937 – conforme Ifes (2009) e Feitosa (2013) – as Escolas de Aprendizes Artífices foram transformadas em Liceus Profissionais.

Contudo, na década de 1940, a partir do Decreto-Lei nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942 – de acordo com Sueth et al. (2009), Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009), Documento de Concepções e Diretrizes da SETEC/MEC (2010), e Feitosa (2013) – as Escolas de Aprendizes Artífices tornaram-se Escolas Industriais e Técnicas, ofertando cursos de formação profissional equivalente ao nível secundário.

Dessa maneira, o ensino industrial estava vinculado à estrutura do ensino no país e os alunos formados nesses cursos estavam autorizados a ingressar no ensino superior (desde que em área equivalente a sua formação técnica). No âmbito da formação profissional, conforme Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009, p. 4) também foi criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), demarcando-se outro espaço de qualificação para o trabalho vinculado aos interesses do capital industrial.

Nos anos 1956 a 1961, segundo o documento da SETEC/MEC (2010), a indústria automobilística tornou-se um grande ícone na indústria brasileira com

o consequente investimento nas áreas de infraestrutura e na educação com formação de profissionais orientados para as metas do desenvolvimento brasileiro. Nesse contexto, conforme Sueth et. al. (2009), Brasil (2010), Feitosa (2013) e Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009), a Lei Federal nº 3.552, de 16 de fevereiro de 1959, regulamentada pelo Decreto nº 47.038, de 16 de novembro de 1959, transformou as Escolas Industriais e Técnicas em Escolas Técnicas Federais (ETFs), e estas se tornaram Autarquias (com autonomia didática e de gestão).

De acordo com o documento da SETEC/MEC (2010), o período de 1964 a 1985 foi demarcado pela modernização da estrutura produzida por meio do endividamento externo do país e, no meio desse processo, em 1971, surgiu o I Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (PNDE) com as prioridades: manter o alto nível do Produto Interno Bruno (PIB); combater a inflação; e equilibrar a balança comercial com melhor distribuição da renda. Considerando- se alguns programas específicos desse Plano Nacional, novos cursos técnicos foram implantados.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1971, transformou todo currículo de segundo grau em técnico-profissional e a década de 1970 foi marcada por uma formação de técnicos em regime de urgência, com um aumento expressivo de cursos e de matrículas nas Escolas Técnicas Federais. Com a elevação dos preços internacionais do petróleo e da recessão econômica mundial, o País optou pela aceleração do crescimento econômico caracterizado no II PNDE para os anos 1975 a 1979, com consequentes mudanças nas políticas da educação profissional (BRASIL, 2010).

De acordo com Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009) e Brasil (2010), em 1978, três Escolas Técnicas Federais (Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro) foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica. Dessa maneira, a Instituição passou a ter mais uma atribuição, em nível formativo mais elevado, ofertando graduação para engenheiros de operação e tecnólogos (anos mais tarde essa atribuição foi estendida às outras ETFs, também).

A década de 1980 foi caracterizada pela globalização, como processo de intensificação das telecomunicações, da microeletrônica e da informática, em um contexto de disparo da inflação e um descontrole da economia, contrariando-se a meta de formação de técnicos em grande escala no País com a promulgação da Lei nº 7.044/82 (que alterou dispositivos da Lei nº 5.692/71, quanto à obrigatoriedade da profissionalização) (BRASIL, 2010, p. 13).

Na segunda metade da década de 1990, algumas instituições federais, conforme Brasil (2010), vivenciaram reformas em seus currículos, com o objetivo de “extrapolar” o caráter eminentemente técnico e embasar uma construção de uma nova pedagogia institucional que considerasse também as demandas sociais locais e regionais. Ou seja, alguns princípios comuns norteavam as instituições, potencializando o surgimento de uma rede; no entanto, os documentos estabeleciam a necessidade de considerar as especificidades do território onde as IFs estavam inseridas.

Segundo Feitosa (2013, p. 25), em 8 de dezembro de 1994, as Escolas Técnicas Federais foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) e a Escola Técnica de Vitória passou a ser um Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (Cefetes) a partir de março de 1999, possibilitando novas formas de atuação e um novo paradigma de instituição pública profissionalizante, abrindo-se possibilidades do setor produtivo contribuir na gestão das instituições de ensino profissional. Isso significa que este setor passou a contar com o poder de opinar e até mesmo decidir na escolha dos cursos que seriam ofertados, de acordo com os seus próprios interesses, além de condicionar a expansão dos Cefets ao interesse do setor produtivo.

Conforme o documento da SETEC/MEC (2010), em 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº 9.394/96, foi aprovada e, com a regulamentação do Decreto nº 2.208, em 17 de abril de 1997, os artigos da “nova” LDB, que tratam especificamente da educação profissional, foram regulamentados. Feitosa (2013, p. 25-26) afirma que, inicialmente, o ensino “integrado” era oriundo da concepção dos reformadores que partiam do pressuposto que as vagas ofertadas pelas escolas técnicas estavam sendo

ocupadas por estudantes das classes médias, que se privilegiavam de um Ensino Médio gratuito e de qualidade que garantia a aprovação no vestibular. No entanto, segundo Pacheco, Pereira e Sobrinho (2009), esse Decreto separou a educação técnica do Ensino Médio, extinguiu os cursos técnicos integrados, priorizou os cursos superiores de tecnologia, transformou as Escolas Técnicas em Cefets e criou a Universidade Tecnológica do Paraná. De acordo com Brasil (2010), o governo brasileiro assinou convênio com o Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) para implantar o Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep), em 1999, repercutindo no processo (então em andamento) de transformação das Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais em Cefets.

Em 2004, o Decreto nº 5.154/04 substituiu o Decreto nº 2.208/97 (este continha várias restrições na organização curricular e pedagógica na oferta dos cursos técnicos). No mesmo ano, as instituições da rede federal tecnológica como um todo (Cefets, Escolas Agrotécnicas Federais, Escola Técnica Federal de Palmas – Tocantins e Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais) receberam autonomia para criação de cursos em todos os níveis da educação profissional (e tecnológica); e as Escolas Agrotécnicas Federais receberam autorização específica para oferta de cursos superiores de tecnologia, em nível de graduação (BRASIL, 2010).

Segundo Feitosa (2013), o Decreto nº 5.154/04 estabeleceu novamente a possibilidade da oferta do curso técnico integrado ao Ensino Médio; no entanto, permitiu também a continuidade da oferta concomitante do ensino técnico (curso para alunos que tivessem concluído o Ensino Fundamental ou que já estivessem cursando o Ensino Médio) ou de forma subsequente (depois da conclusão do Ensino Médio).

De acordo com Brasil (2010), a partir de 2003, a política do governo federal apontou um redirecionamento do “fator econômico como aspecto estrito, ou pelo menos primordial e preponderante nas lógicas pedagógicas das instituições federais” para “uma qualidade social que visasse a um desenvolvimento – local e regional – que contribuísse para o padrão de vida dessas regiões em um processo de inclusão social”. Nesse contexto, o número de escolas federais de

educação profissional e tecnológica no País (e de matrículas nessas instituições) foi consideravelmente ampliado.

A primeira fase dessa expansão, segundo o documento da SETEC/MEC (2010), teve início em 2006 com a implantação de escolas federais de formação profissional e tecnológica em estados que ainda não as tinham, nas periferias das metrópoles e em municípios do interior mais distantes dos centros urbanos (com oferta de cursos articulados às potências locais para o trabalho).

Em 2007, a segunda fase de expansão vigorou com o tema “Uma escola técnica em cada cidade-polo do país”, prevendo a implantação de 150 novas unidades de ensino (com criação de 180 mil vagas) e o projeto de uma expansão de 500 mil matrículas até o ano 2010, com possibilidade de pleno funcionamento proveniente dessa ampliação (BRASIL, 2010).

A Lei Federal nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, instituiu a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, criando os Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia ao agrupar: os 38 (trinta e oito) Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia (IFs); os Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) e de Minas Gerais (Cefet-MG); a Universidade Federal do Paraná; e as Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais na mesma rede.

Assim, essas Instituições Federais podem ofertar cursos em diferentes níveis (básico e superior); diferentes etapas (Ensino Médio dentro do nível básico, e no nível superior: graduação – licenciaturas, tecnólogos, bacharelados, engenharias; e pós-graduação – stricto sensu e lato sensu); e na “integração” da modalidade da “educação profissional” com outras modalidades, como a “educação de jovens e adultos”. Conforme expresso no artigo 2 dessa Lei, os IFs são: “instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino”.