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Canal de desvio temporário do córrego Fazenda Itaqui, escavado

na área de detalhe, antes das obras de remoção de solo.

O projeto de pesquisa foi modificado, mas foram aproveitados os dados iniciais obtidos já na pesquisa de doutoramento e previamente à escavação do canal de desvio do córrego Fazenda Itaqui. A partir deste momento, os estudos concentraram-se na intervenção representada pela remoção de solo contaminado e em sua destinação adequada.

A hipótese de tese, então adotada como alternativa de remediação das áreas contaminadas da RLSG, foi a viabilidade da remoção de solo contaminado e sua inserção no processo das indústrias cerâmicas do próprio pólo cerâmico de Santa Gertrudes, misturando-o, em pequenas quantidades percentuais, às massas cerâmicas tradicionalmente usadas pelas indústrias, compostas principalmente de pelitos síltico-argilosos da Formação Corumbataí. Essa hipótese leva em consideração pressupostos ou evidências prévias:

• o solo contaminado da RLSG, incluindo a área de detalhe, é resultado, mediante ação de processos supérgenos (erosão, transporte, deposição, assoreamento), amplificados pela ocupação humana local (supressão da cobertura vegetal, ausência ou deficiência de práticas conservacionistas de uso do solo; execução inadequada de aterros etc.), da mistura de solo de alteração da Formação Corumbataí (cujas rochas são mineradas e utilizadas como matéria-prima para confecção das massas cerâmicas das indústrias do pólo de Santa Gertrudes) e resíduos industriais das cerâmicas, dispostos inadequadamente sobre o solo (outrossim com contribuição de efluentes líquidos lançados sem tratamento prévio) e/ou retrabalhados por esses processos (BONACIN SILVA, 2001);

• em caráter operacional, as indústrias já estão usando o solo contaminado removido em seus processos produtivos, misturando-o “empiricamente” às massas cerâmicas, mas apenas em pequenas proporções de mistura, que segundo relatos verbais, não ultrapassam 2% em massa de solo contaminado. Esta alternativa de destinação do solo contaminado já havia sido aventada nas recomendações da dissertação de mestrado de BONACIN SILVA (2001), mas mediante prévia realização de estudos

sistemáticos de viabilidade, algo que ainda não existe, mas que faz parte da presente pesquisa;

• empresas da região de Rio Claro, que efetuam serviços especializados de reutilização ou reciclagem de resíduos sólidos gerados atualmente nas linhas de esmaltação (“raspas”) das indústrias do PCSG, passaram a oferecer serviços de preparação desse solo contaminado removido, na forma de um beneficiamento simplificado, para, em seguida, reintroduzi- lo no processo produtivo das cerâmicas, através de sua mistura às massas cerâmicas – novamente sem estudos prévios;

• são pertinentes estudos que sugiram soluções que, em caso da necessidade de remoção de solo contaminado, substituam a opção de destinação de grandes quantidades de materiais sólidos contaminados em aterros de resíduos, notadamente aqueles perigosos – classe I, o que, além de medida de elevado custo financeiro e de risco ambiental, diminui a vida útil dos poucos aterros licenciados existentes, que podem receber resíduos perigosos.

Para fins de tese e em consonância com os trabalhos de intervenção na RLSG, os estudos foram delimitados ao caso de remoção de solo da área de detalhe, pela sua elevada contaminação ambiental previamente diagnosticada (até o presente, a de maior grau da RLSG), embora outras áreas, como a encosta da antiga indústria Poliglass, localizada na Área II, também estejam sendo estudadas, mas não serão objetos de análise, por estarem com investigações em andamento.

Os trabalhos de pesquisa envolvendo a produção de placas cerâmicas (corpos de prova), geradas com adição de pequenas quantidades de solo contaminado removido da área de detalhe, iniciaram-se apenas em 2006, após autorização do acesso, por parte de uma das indústrias selecionada para execução de testes-piloto, e estão em andamento, devendo prosseguir após a conclusão dos trabalhos desta tese. No entanto, os resultados parciais serão aqui apresentados e discutidos.

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a RLSG apresenta contaminação ambiental comprovada em vários estudos (HIDROAMBIENTE, 1999; CETESB, 2005d; BONACIN SILVA, 2001; ASPACER, 2002 etc.) e contêm casos específicos de contaminação no contexto de cada um dos três conjuntos de lagos - áreas I, II e III, observados na Figura 3 – pág. 8 - e Foto 4 – pág. 12.

Outras pesquisas acadêmicas estão em andamento da RLSG, a exemplo de SOUZA (2002) e MOURA (2002).

De forma geral, pouco se conhece, de maneira sistematizada e detalhada, sobre o panorama atual da geração de resíduos sólidos das indústrias cerâmicas do pólo de Santa Gertrudes. Considerando-se apenas os dados históricos oficiais de produção e estimativas da geração de resíduos (CETESB, 2000, 2002b; ANFACER, 2003; ASPACER, 2006), supõe-se que haja expressivo passivo ambiental potencial por parte das empresas (indústrias), quer pelas áreas contaminadas já diagnosticadas2 na Região dos Lagos de Santa Gertrudes (“passivo ambiental passado”), quer pela produção atual de resíduos sólidos industriais (“passivo ambiental presente”), em alguns casos em estoque nos pátios dessas indústrias.

Urge, portanto, a busca por soluções integradas para este grave problema de passivos ambientais atrelados a resíduos industriais do maior pólo cerâmico do país, contexto no qual se insere esta pesquisa.

1.4. Histórico das obras de intervenção na área de detalhe

As intervenções na área de detalhe contemplaram: a) confecção de projeto executivo da obra de remoção e respectivo licenciamento ambiental junto ao Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais - DEPRN, com elenco de medidas compensatórias devido à supressão da cobertura vegetal no local; b) execução de obras prévias (acesso; instalação de drenos e poços de monitoramento; limitação da entrada de terceiros etc.) – Figura 6; e c) execução das obras de remoção de solo contaminado. Além destas ações, está prevista a execução de pequenas intervenções, de remodelação paisagística do local e arredores, e o plantio compensatório de 870 mudas de plantas nativas, como medidas compensatórias (ASPACER, 2003).

O projeto, o licenciamento ambiental e as obras de remoção de solo contaminado da área de detalhe foram executados por uma empresa contratada pelos ceramistas do pólo de Santa Gertrudes e foram baseadas

em levantamento técnico executado na área de detalhe, concomitantemente às investigações iniciais de campo desta pesquisa (ASPACER, 2002, 2003). As investigações prévias às obras levaram à identificação de dois “corpos” principais de solo contaminado (corpos 1 e 2, ou lilás e cinza, pela presença de resíduos destas colorações, respectivamente – Figura 6), os quais foram cubados, para fins de estimativa de volumes e massas (toneladas) a serem removidos, chegando-se aos seguintes valores (ASPACER, 2002):

• volume do corpo 1 ou lilás: 902,8 toneladas; • volume do corpo 2 ou cinza: 774,7 toneladas;

• volume total dos corpos contaminados: 1.677,5 toneladas;

• volume de solo inerte capeando (sobre) os corpos contaminados: 860,1 toneladas.

As obras prévias à remoção visaram dar melhores condições operacionais à intervenção na área de detalhe e incluíram a instalação de drenos para o isolamento hidráulico das porções mais contaminadas (Foto 7) e de quatro poços de monitoramento (PM-T-1 a PM-T-4) – Figura 6.