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Vista da área de detalhe e lago imediatamente a jusante (parte

direita da foto), na Região dos Lagos de Santa Gertrudes, em 2002, antes das obras de remoção.

A Tabela 1 apresenta uma síntese dos resultados de análises químicas em amostras de solo da área de detalhe, segundo BONACIN SILVA (2001) e CETESB (2002a, 2005d) e ASPACER (2002), e sua comparação com: a) aqueles encontrados em um local utilizado por BONACIN SILVA (2001) como referência ambiental local (“Área de referência”), por apresentar condições topográficas, pedológicas, litológicas e hídricas semelhantes àquelas da RLSG, mas fora da influência mais direta das indústrias cerâmicas - Figura 5; e b) aos valores orientadores da CETESB (CETESB 2001a, 2005c).

Esses resultados, somados aos dados de análises de sedimentos, águas superficiais e subterrâneas (HIDROAMBIENTE, 1999; BONACIN SILVA, 2001; CETESB, 2002a, 2005d), demonstram claramente a existência de não conformidades em relação à legislação ambiental e aos valores orientadores vigentes (CETESB, 2005c), demandando intervenção segundo premissas sugeridas pelo órgão estadual de meio ambiente (CETESB, 2001b, 2005d),

no sentido de remediar as áreas contaminadas. Estas premissas, embora úteis e corretas, são genéricas e, portanto, não especificam, necessariamente, as opções e formas mais adequadas de remediação ou recuperação, sujeitas a investigações de detalhe e estudos de viabilidade.

Tabela 1 - Resultados de análises químicas (Pb, B, Zn, Cd e pH) efetuadas

em amostras de solo coletadas na área de detalhe (RLSG), em relação a uma referência local e aos valores orientadores da CETESB.

Valores-limites (valores orientadores)**** VI (cenários) Parâmetro Valores - Área de detalhe (RLSG) ** Valores - área de referência local*** VRQ VP Agrícola/ APMáx Resi- dencial Indus- trial Pb (mg.kg-1) 15 a 34070 31 a 40 17 (17) 100 (72) 200 (180) 350 (300) 1200 (900) B (mg.kg-1) 12 a 2291 9,1 a 16,6 ... ... ... ... ... Zn (mg.kg-1) 53 a 2930 92 a 105 60 (60) 300 (300) 500 (450) 1000 (1000) 1500 (2000) Cd (mg.kg-1) < 0,5 a 4,2 < 0,5 < 0,5 (< 0,5) 3 (1,3) 10 (3) 15 (8) 40 (20) pH* 4,9 a 8,3 6,6 a 7,3 ... ... ... ... ... Notas: * extração com água e valores padronizados para 25oC; ** valores obtidos em BONACIN SILVA (2001), CETESB (2002a, 2005d) e ASPACER (2002); *** local com condições pedo-geológicas, topográficas e climáticas semelhantes à RLSG, escolhido como referência local (background local) por BONACIN SILVA (2001); **** valores orientadores, segundo CETESB (2001a), com valores atualizados de CETESB (2005c) entre parênteses, sendo: VRQ = valor de referência de qualidade; VP = valor de prevenção (ou valor de alerta, segundo CETESB, 2001a); e VI = valor de intervenção – esses valores serão comentados no Capítulo 3.3. APMáx = área de proteção máxima. “...” = valor não existente

Deve-se observar que, em 21 de fevereiro de 2001, foi criado o Grupo Técnico de Trabalho do Projeto Temático Corumbataí - Cerâmicas (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2001), cuja função principal é acompanhar e gerenciar os trabalhos de recuperação ambiental da Região dos Lagos de Santa Gertrudes. Este grupo é composto, basicamente, por representantes de diversos órgãos do sistema ambiental do Estado de São Paulo.

Figura 5 – Bacia hidrográfica do córrego Fazenda Itaqui, com localização da Região dos Lagos de Santa Gertrudes, a

“área de detalhe” e a “área de referência”.

N 1000 m 500 0 Curvas de nível (m) Lagos Cursos d'água Limite da bacia hidrográfica do cór- rego Fazenda Itaqui

Área de referência de BONACIN SILVA (2001) Córrego Fazenda Itaqui

Região dos Lagos de Santa Gertrudes

Área de detalhe Rodovia Washington Luís

Da parte dos ceramistas, foi criado um Grupo Gestor para questões ambientais, sob mediação da ASPACER e Sindicato das Indústrias da Construção, do Mobiliário e de Cerâmicas de Santa Gertrudes - SINCER. Também foi criado um fundo ambiental, sustentado pelas indústrias cerâmicas participantes do Projeto Temático Corumbataí – Cerâmicas, com a finalidade de financiar a realização de estudos e obras ambientais e de intervenção nas áreas contaminadas diagnosticadas na RLSG.

À luz do conhecimento existente, foi acertado, inicialmente através de um protocolo de intenções, entre órgãos ambientais e ceramistas, que a RLSG passaria por uma série de intervenções (CETESB, 2001b, 2005d):

• execução de ações de recomposição da cobertura vegetal, obras de drenagem, além do alargamento de margens e desassoreamento do córrego Fazenda Itaqui;

• remoção de solo nas porções mais contaminadas da área de detalhe (Área III) e sua destinação adequada;

• execução de estudos detalhados de caracterização ambiental nas demais partes da Área III e nas Áreas I e II e, se for o caso, remoção do solo nas porções mais contaminadas e sua destinação adequada; e

• finalizadas essas investigações e intervenções inicias, a realização de uma avaliação de risco na RLSG como um todo, com vistas à definição das intervenções complementares necessárias a sua recuperação, de acordo com os cenários de usos futuros idealizados para esta avaliação. Estas ações, em parte já executadas ou em andamento, foram ratificadas através da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, entre a CETESB e os ceramistas, em 01 de setembro de 2006 (CETESB & ASPACER, 2006).

1.3. Inserção da pesquisa no caso de Santa Gertrudes

Inicialmente, elaborou-se um projeto de pesquisa que visava ao aprofundamento dos estudos hidrogeoquímico-ambientais efetuados por BONACIN SILVA (2001) na área de detalhe, quanto aos mecanismos de mobilidade, fixação e transporte de contaminantes; interações solo – água – contaminantes; e visando à avaliação de alternativas de remediação in situ e atenuação natural monitorada para esta área contaminada.

Essa concepção inicial de projeto teve que ser alterada, pois, por determinação do órgão ambiental (CETESB), foi solicitada imediata remoção de solo contaminado da área de detalhe, devido a sua elevada contaminação previamente diagnosticada, implicando na indisponibilidade desta área para fins de pesquisa. Concomitantemente, houve, por engano, a escavação de um canal de desvio temporário do córrego Fazenda Itaqui, cortando toda área de detalhe (Foto 6), previamente ao início das obras de remoção – esta intervenção implicou na destruição de lisímetros e parte expressiva dos poços de monitoramento para fins de pesquisa ali instalados, além de modificar as condições hidráulicas locais.