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Principais contaminantes em Santa Gertrudes

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.4. Hidrogeoquímica Ambiental

3.4.2. Principais contaminantes em Santa Gertrudes

elevada concentração ambiental, notadamente no solo e sedimentos da RLSG. Com menor freqüência, também foram encontradas elevadas concentrações de zinco e cádmio no solo e sedimentos, além de boro, este não somente nas fases sólidas, mas também nas águas superficiais e subterrâneas (HIDROAMBIENTE, 1999; BONACIN SILVA, 2001; BONACIN SILVA e HYPOLITO, 2001; CETESB, 2002a, 2005d).

O chumbo, pouco móvel no ambiente, o zinco e o cádmio, comparativamente mais móveis, são metais pesados conhecidos por suas características tóxicas (KABATA-PENDIAS & PENDIAS, 1984; ADRIANO, 1986; ALLOWAY, 1995; EPA, 1989, 2000, 2006f, 2006g, 2006h, 2006i, 2006j, 2006l; ATSDR, 1997, 1999a, 1999b, 2005a, 2005b, 2005c, 2005d, 2005e; OGA, 2003; AZEVEDO e CHASIN, 2003).

O Quadro 1 apresenta os níveis de tolerância à exposição ao chumbo, cádmio e zinco, utilizados na indústria de placas cerâmicas de revestimento.

Quadro 1 – Níveis de tolerância à exposição dos elementos químicos mais

utilizados na indústria de placas cerâmicas de revestimento.

Concentração Limite (BTL/TLV)* Ele- mento Uso na Indústria Absorção Sangue Urina / 24horas AR/ 8horas Efeito tóxico - concen- tração Concentra- ção normal em pessoas não expostas Pb Corantes e esmaltes Via respira- tória, ingestão de água e alimentos contaminados 50µg/ 100mL 100mL 2,8µg/ 50µg/ m3 Anemia - sangue: 80µg/ 100mL Sangue: 30- 40µg/100mL

Cd Corantes e esmaltes Respiratória Via 5µg/L 10µg/g de creatinina mg/m0,05 3 - -

Zn Matérias- primas naturais, corantes e esmaltes Via Respiratória Soro: 2mg/L 700µg/ 100mL - - Soro: 0,56- 0,41mg/L. Urina: 75- 200µg/L (24h) Notas: * BLT = biologic threshold limit; TLV = threshold limit value. Fonte: FERRARI (2000) Nas indústrias cerâmicas, o chumbo é empregado como fundente (antimoniato de chumbo, carbonato básico de chumbo, cromato de chumbo, óxido de chumbo, tetraóxido de chumbo, silicato de chumbo, bissilicato de

chumbo e sulfeto de chumbo), mas também é utilizado como pigmento na forma de sulfato, carbonato e antimoniato de chumbo (FAGUNDES, 1997; AZEVEDO e CHASIN, 2003).

Devido a sua conhecida e elevada toxicidade, as indústrias do PCSG têm diminuído sua aplicação (CETESB, 2000; 2002b). No entanto, pelo seu uso em larga escala nas décadas passadas, os resíduos que contaminaram a RLSG apresentavam elevadas concentrações de chumbo, refletindo-se na contaminação ambiental (BONACIN SILVA, 2001; BONACIN SILVA e GÜNTHER, 2004, 2005).

Devido à ação antrópica, muitos solos, em diversos países, apresentam-se enriquecidos com chumbo, sendo que dados recentes mostram que nenhum outro elemento de características tóxicas ao meio ambiente tem sofrido maior modificação em seu ciclo biogeoquímico que o chumbo (HUTCHINSON e MEENA, 1987).

Diversos fatores influenciam na disponibilidade do chumbo no solo: presença, tipo e quantidade de matéria orgânica, argilominerais, óxidos e hidróxidos de Fe, Mn e Al; presença de agentes quelantes; pH do solo; capacidade de troca iônica; reações de óxido-redução; superfície específica; textura; alcalinidade etc. (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 1984; ALLOWAY, 1995; AZEVEDO e CHASIN, 2003).

Nas águas, sua presença e sua estabilidade acham-se estreitamente relacionadas às condições de pH e Eh (GARRELS & CHRIST, 1964; BROOKINS, 1988). Em meio redutor, o chumbo é pouco solúvel e bastante estável na forma de PbS (galena) e de PbSO4 (anglesita). Como PbCO3

(cerussita), ocorre em ambiente oxidante e meio neutro ou alcalino (FETTER, 1993).

Segundo ATSDR (2005c), nos Estados Unidos, a fonte de chumbo no ar resultante da queima de gasolina passou de 90% na primeira metade do século 20, para menos de 35% nos últimos anos. Em termos mundiais, atualmente 69,5% da produção de chumbo é utilizada para fabricação de baterias, 11,2% em pigmentos, 6,4% em laminados e o restante em outros

usos (ligas, material bélico etc.).

AZEVEDO e CHASIN (2003) citam que cerca de 40% do chumbo são usados como metal; 25% em ligas; e 35% em compostos químicos.

ALLOWAY (1995), CETESB (2001a), TAVARES (1996) apud ANJOS (1998) e ATSDR (2005b, 2005c) citam diversas fontes de poluição por chumbo: emissões a partir da moagem e transporte de minerais (PbS, PbO, PbSO4),

da exaustão de automóveis (halogenados como o PbBr2, PbBrCl, Pb(OH)Br

etc.) e incineradores, da queima de carvão; pigmentos e tintas; agrotóxicos, a exemplo do arsenato de chumbo (PbHAsO4), utilizado em pomares para o

controle de insetos daninhos; pesticidas orgânicos; baterias; material bélico; lodo de esgoto; liberação de chumbo de encanamentos e soldas na água a ser consumida; alimentos cultivados em áreas contaminadas; carne bovina, principalmente fígado; alimentos enlatados; cigarros; tinturas de cabelo; papel de jornal e anúncios coloridos; cosméticos etc.

A maior parte do chumbo é incorporada ao tecido ósseo, devido à semelhança entre as propriedades dos compostos de chumbo e cálcio. Por deslocar o cálcio dos ossos, processos degenerativos, como a osteoporose,

podem ser observados após uma exposição prolongada. Os sintomas agudos de intoxicação incluem dor abdominal, constipação, diarréia, linha escura na gengiva, fraqueza muscular, anemia, perda do apetite, náusea etc. (WHO, 1995; ATSDR, 2005b, 2005c).

Uma vez absorvido, o chumbo não é distribuído de forma homogênea no organismo, apresentando tempos de meia-vida distintos no sangue, ossos e tecidos moles. O sangue é considerado o compartimento mais lábil (meia- vida da ordem de dias) e os ossos, o mais estável (meia-vida da ordem de anos e décadas) (AZEVEDO e CHASIN, 2003).

Em adultos, aproximadamente 94% da carga corpórea do chumbo se encontra nos ossos, enquanto que, em crianças, apenas 73% do elemento acham-se nesse compartimento. Em face da meia-vida longa para o chumbo nos ossos, esse compartimento serve como uma fonte endógena do metal para outros compartimentos, muito tempo depois de cessada a exposição.

Em mulheres grávidas e lactantes, a mobilização de chumbo dos ossos para compartimentos sangüíneos (mais biodisponíveis) é de grande importância: o chumbo é rapidamente transferido da mãe para o feto em desenvolvimento, e a concentração de chumbo no sangue do cordão umbilical é de 85-90% da concentração do sangue materno (AZEVEDO e CHASIN, 2003).

Os efeitos do chumbo à saúde humana dependem da intensidade e da duração à exposição, sendo que, por razões de ordem neurológica, metabólica e comportamental, as crianças são mais vulneráveis que os adultos. Dentre os efeitos mais comuns, citam-se: decréscimo de quociente de inteligência (QI); efeitos sobre o sistema nervoso, com déficit nas funções cognitivas; diminuição das funções sensoriais motoras, nervosas involuntárias e renais; retardamento do crescimento e problemas na audição em crianças; possibilidade de partos prematuros e do nascimento de bebês com baixo peso etc. (WHO, 1995; ATSDR, 2005b, c).

Para a população em geral, a exposição ao chumbo ocorre, principalmente, por via oral, com alguma contribuição da via respiratória. Já na exposição ocupacional, a via principal é a inalatória, com pequena exposição oral (AZEVEDO e CHASIN, 2003).

A Agency for Toxic Substances and Disease Registry – ATSDR e a EPA, dos Estados Unidos, apresentam as "listas de prioridade de substâncias perigosas", que contêm aquelas substâncias consideradas de maior ameaça à saúde pública devido a sua conhecida toxicidade ou potencial de exposição humana aos principais sítios contaminados já diagnosticados (ATSDR, 1997, 2005a, 2006a, 2006b).

Segundo o ranking de 2005 da ATSDR (ATSDR, 2005a), que inclui 275 substâncias inorgânicas e orgânicas, o chumbo ocupa a segunda posição como maior ameaça (ATSDR, 2005a, 2005b, 2005c), o que evidencia a relevância da contaminação diagnosticada em Santa Gertrudes.

Outros elementos que ocupam posições prioritárias são: cádmio (8ª posição – ATSDR, 1999a, 1999b, 2005a) e zinco (65ª posição – ATSDR, 2005a,

2005d, 2005e).

O boro e seus compostos, largamente empregados em indústrias cerâmicas, apresentam vários estudos de seu comportamento associados a práticas e produtos agrícolas, mas poucos trabalhos associam-no a resíduos industriais (ADRIANO, 1986; ELRASHIDI & O’CONNOR, 1982; GOLDBERG et al., 1993, 2000; MOORE, 1989; ITC & AICE, 1992, GUPTA,1993; GREW, & ANOVITZ, 1996; FAGUNDES, 1997; ATSDR, 2002a, 2002b; EPA, 1989, 1995, 2006f; CUNHA, 2003; CAVE, 2004).

O boro não aparece nesta lista, mas a ATSDR apresenta seu perfil toxicológico em outros documentos de importância (ATSDR 2002a, 2002b), além de colocá-lo na 60ª posição da lista de candidatos a prioritários (ATSDR, 2005f).