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O crescimento urbano na cidade de João Pessoa, por apresentar muito tardiamente sua legislação de disciplinamento urbanístico – somente em 1975 com o primeiro Plano Diretor e seus códigos decorrentes – ficou à mercê da especulação imobiliária. É bem verdade que esse movimento também não foi organizado. Porém, desenvolveu-se suficientemente cheio de erros e vícios e produziu na maioria dos bairros arruamentos estreitos e sem qualquer hierarquização – esquecendo a belíssima possibilidade de dotar as vias principais com canteiros centrais arborizados, como era feito nos primeiros movimentos urbanísticos do início do século XX em sua área central. As calçadas acanhadas, na maioria dos casos com dois metros de largura, ladeiam as inúmeras ruas de oito metros de largura que se distribuem pela cidade, gerando uma ambiência mesquinha e sem possibilidades para novos arranjos.

Todo o processo de crescimento urbano que foi conduzido pela abertura da Avenida Epitácio Pessoa está eivado desse desejo de parcelar o máximo possível o solo das antigas propriedades rurais, legando um traçado ortogonal estreito e mínimo, sem resguardar as cotas de áreas verdes. De sorte que, todos os outros que ladeiam o seu percurso até as margens do Oceano Atlântico, não possuem áreas verdes representativas. Em alguns bairros como o dos Estados e Tambauzinho não existe uma única praça. Nos demais, áreas exíguas são destinadas para o convívio público. A própria avenida, apesar de ter sido o mais largo arruamento da cidade na época em que foi aberta, não foi ampliada ao longo dos anos para dimensões semelhantes, por exemplo, às da Avenida Getúlio Vargas, aberta em 1937, com pistas duplas – sendo três faixas de tráfego e duas de estacionamento – totalizando 50 metros de largura.

Por ser o caminho para o mar por excelência, a Avenida Epitácio Pessoa passou de local de moradia das famílias mais abastadas da Paraíba a avenida de negócios num período de pouco mais de cinquenta anos. Às alterações no uso do seu solo sobrevieram um intenso e crescente movimento viário que começa a se tornar incompatível com o seu dimensionamento. As consequências do volume de tráfego na saúde dos seus usuários ainda não foram estudadas de forma mais

abrangente. I nfelizmente não foi possível determinar o atual volume desse tráfego, nem a qualidade do ar resultante desse intenso movimento. Entretanto, as medições dos níveis de poluição sonora – nos cinco trechos estudados – chegaram a 60,22% das medidas anotadas acima de 70 dB(A), ultrapassando os parâmetros exigidos pela legislação brasileira. É bem verdade que a NBR-10152 – utilizada como referencial nesse e em vários trabalhos que abordam o assunto – data de 1987 e, como as outras normas, baseia toda a sua conceituação em definições internacionais, longe da realidade local.

Tanto o início da avenida, como o seu trecho final, próximo à orla marítima, apresentaram resultados menos preocupantes que os outros três intermediários. A tendência desse movimento viário é crescente, consequentemente os seus desdobramentos devem ser agravados, caso não haja um novo Plano Diretor de Transportes Urbanos que aponte para soluções de alternativas de percurso que diminuam as pressões sobre a Avenida Epitácio Pessoa.

Dos serviços que compõem a I nfra-estrutura, somente a drenagem das águas pluviais mereceu um destaque nesse trabalho. Durante os invernos e as chuvas tropicais de verão ficou patente o problema enfrentado pela população que precisa caminhar pelas calçadas. A atual rede de coleta está danificada em vários pontos, as guias foram rebaixadas para dar acesso aos veículos e a natural proteção às calçadas foi desfeita em vários momentos da avenida.

Foi constatada a não observância à legislação de controle nos chamados Pólos Geradores de Tráfego, definida pela STTrans. Assim, áreas de grande interesse comercial e de serviços que deveriam resguardar relações entre as suas funções e o número de vagas nos seus estacionamentos – bem como apresentar soluções projetuais que não intensifiquem os problemas existentes – se expandem sem o devido monitoramento pressionando cada vez mais o já congestionado trânsito da avenida.

Como consequência do desrespeito à legislação pode-se assistir a invasão dos espaços públicos por parte dos automóveis, especificamente os passeios. Surgem problemas de desgastes na pavimentação – inadequada para o tráfego de veículos – além de restringir o seu tradicional uso exclusivo de pedestres. A expansão de hábitos nefastos como esses só referendam o culto aos automóveis – que já dominam as vias – solapando direitos e gerando insegurança.

A falta de um nivelamento comum vem tornando o simples caminhar uma atitude difícil, afinal o número de obstáculos, além dos tradicionais desníveis, rampas e batentes, crescem a cada dia. A falsa idéia de propriedade da calçada por parte do proprietário do lote gera essa relação que vem criando o hábito da população caminhar no meio das ruas, dividindo o espaço com os veículos.

Por não atingir diretamente a saúde das pessoas ou a sua segurança, as questões relativas à qualidade da paisagem podem – no senso comum – ter importância menor. Porém, a fisionomia de um lugar reflete diretamente as relações sociais que ali são travadas. No caso da Avenida Epitácio Pessoa – bem como da cidade – é possível verificar que as interferências políticas no planejamento urbano começam a aparecer no desrespeito a decisões urbanísticas básicas como o resguardo do recuo frontal, por exemplo. A ampliação das taxas de ocupação e dos índices de aproveitamento gerando objetos construídos que causam problemas de impacto na vizinhança estão claramente caracterizados em edifícios como o Empresarial Epitácio Pessoa – cruzamento com a Avenida Amazonas – além do próprio supermercado Pão de Açúcar a pressionar o mesmo entorno.

A fragilidade da legislação pessoense de controle da publicidade torna-se preocupante, pois abre precedentes para a inserção de placas maiores que ainda não habitam o universo de uma cidade de porte médio – as pinturas de fachadas de edifícios e os outdoors dispostos no alto dos prédios. O disciplinamento correto e uma legislação baseada numa conceituação que contemple os valores culturais da população devem sempre prevalecer sobre as necessidades efêmeras da propaganda.

Até mesmo o título de cidade mais verde do país – muitas vezes questionado por especialistas – deixou de ser utilizado até como forma de propaganda política no principal eixo viário da capital paraibana. O hábito passado de dotar a malha urbana de uma intensa e variada cobertura vegetal é preservado unicamente com o plantio de palmeiras imperiais no seu canteiro central. Vêem-se condições inadequadas até para esse plantio – covas quadradas de cinquenta centímetros de largura para um tronco que atingirá, quando adulto, oitenta centímetros de diâmetro – além da sua manutenção parecer ter sido deixada a cargo da mãe natureza. Um dos poucos legados das gerações anteriores foi o gosto pela arborização da cidade. Não somente nos jardins e quintais, mas também nas praças,

calçadas e canteiros. Administrações anteriores como João Machado, Guedes Pereira e Hermano Almeida – para citar apenas três – sabiam da importância dos espaços livres para o convívio da população e investiam em projetos de planejamento e arborização.

A Avenida Epitácio Pessoa vem perdendo sistematicamente suas características originais devido ao intenso processo de alteração no uso do solo. Esse processo é inevitável, porém deve ser estudado por profissionais de variada formação, com sensibilidade para entender que a população é parte importantíssima desse movimento. O planejamento decorrente e o constante monitoramento devem fazer parte da rotina da municipalidade, a fim de evitar distorções como as que foram observadas durante essa pesquisa. A busca por uma ambiência própria que reúna as características culturais de um povo também deve ser perseguida e implantada no desenho de cada rua, cada avenida, cada praça, cada parque, cada loteamento.

O binômio Evolução Urbana e Qualidade de Vida muitas vezes parece inconciliável. Os reflexos da presença humana na natureza dão provas suficientes que para se atingir níveis excelentes de Qualidade de Vida é necessário antes de tudo, sensibilidade. Sensibilidade para perceber que as situações envolvidas pela vida humana passam diretamente pelo território onde esta se desenvolve. A permanência de posturas centradas em si próprio leva inevitavelmente ao esquecimento daqueles que estão ao lado – nisso pode-se incluir não somente as pessoas, mas também a natureza. A Qualidade de Vida poderá ser conseguida através da educação do indivíduo. Dessa forma surgirá a noção de cidadania, o limite inerente a tudo que existe. Poder-se-ão formular legislações mais amplas e o seu controle passará a ser uma rotina, pondo fim às constantes tentativas de fraude. Assim, naturalmente atinge-se a evolução, adotando uma postura de preservação onde quer que se esteja.