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O desenvolvimento de qualquer sítio urbano normalmente vai se tornando cada vez mais complexo ao passo que se incrementa a sua base produtiva. Quanto mais diversificadas forem as atividades desenvolvidas nesse lugar, maior a necessidade de maquinário e energia para garantir a sobrevivência da sua população. Esse sistema de crescimento urbano – dependente dos mais variados tipos de tecnologia – provoca consequências desagradáveis e por vezes de difícil controle. A poluição sonora ou ruído urbano, tão característico nas grandes e médias cidades é gerada pelas mais variadas fontes, o som se mistura e se propaga de forma complexa chegando a atingir níveis muitas vezes nocivos à saúde humana. Na grande maioria dos casos, o ruído urbano surge a partir do tráfego dos veículos e do funcionamento das indústrias.

A disposição da malha urbana e o respectivo crescimento da cidade poderão contribuir para a maior ou menor propagação do ruído. Assim, a grande maioria dos zoneamentos urbanos procura localizar essas fontes de ruído em pontos mais isolados e livres de agrupamentos residenciais. Essas ações podem ser bem sucedidas com relação aos aeroportos e às indústrias – talvez os maiores produtores de ruído de uma cidade – porém, tornam-se inócuas quando se fala do tráfego rodoviário. Aqui a poluição sonora é o resultado da superposição de vários tipos de

ruídos produzidos por automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas que trafegam nas mais variadas velocidades e acelerações. O ruído gerado por esses veículos é o somatório de uma composição de sons emitidos pelas diversas partes do motor, do sistema de escapamento, dos pneus sobre os vários tipos de pavimentação, do sistema de frenagem, da velocidade, do volume do tráfego etc. Os níveis de ruído dos veículos também são influenciados pelo tipo de projeto, a idade, o estado de conservação e a maneira de conduzí-los.

Talvez por surgirem a médio e longo prazo, os problemas causados pela poluição sonora não sejam levados tão a sério pela população e pelas autoridades. A perda da audição pela exposição constante ao ruído não é imediata e por isso mesmo traiçoeira, comenta Cremonesi (1984). De uma maneira geral os primeiros sintomas do ruído excessivo na saúde humana se apresentam sob a forma de interferência na comunicação verbal. Em seguida surgem sensações de incômodo e desconforto. O nível de estresse aumenta podendo ser associado às mudanças psicológicas. Por fim, ao longo dos anos surgirão as alterações irreversíveis no aparelho auditivo. Segundo Pimentel (1992), o quadro acima também pode provocar insônia nas pessoas expostas constantemente a níveis elevados de poluição sonora, afetando o equilíbrio psicológico, levando à apatia ou mesmo à agressividade. Problemas cardiovasculares, diabetes, infecções musculares, problemas nas articulações, hipertensão entre outras doenças, poderão ser desenvolvidas a partir desse quadro de instabilidade e estresse.

Com a promulgação da Constituição de 1988 as preocupações com o Meio Ambiente começaram a ganhar a devida importância, surgindo a Política Nacional do Meio Ambiente definida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). A Resolução CONAMA 1, de 08 de março de 1990 trata do controle da poluição sonora em todo o território nacional amparando-se nas normas NBR 10152 – que define os parâmetros máximos do ruído em áreas habitadas apresentadas na tabela 04 – e NBR 10151 – que define as formas de medição do ruído para efeito de verificação.

A partir da Resolução CONAMA 1 as cidades médias e grandes se viram obrigadas a treinar pessoal e manter brigadas para o controle da poluição sonora a partir de denúncias da população. Há bem pouco tempo surgiram as primeiras iniciativas de combate ao ruído urbano. As administrações municipais de

São Paulo e Belo Horizonte – no meado da década de 1980 – foram as primeiras a procurar definir uma legislação que coibisse a poluição sonora excessiva e suas graves consequências para a saúde e o bem-estar da população.

Tabela 04 – I ntervalos de conforto auditivo

Locais dB (A)

Hospitais

Apartamentos, Enfermarias, Berçários, Centros Cirúrgicos 35 - 45

Laboratórios, àreas para uso público 40 - 50

Serviços 45 - 55

Escolas

Bibliotecas, Salas de Música, Salas de Desenho 35 - 45

Salas de aula, Laboratórios 40 - 50

Circulações 45 - 55

Hotéis

Apartamentos 35 - 45

Restaurantes, Salas de Estar 40 - 50

Portarias, Recepções, Circulações 45 - 55

Residências

Dormitórios 35 - 45

Salas de Estar 40 - 50

Auditórios

Salas de Concerto, Teatros 35 - 45

Salas de Conferências, Cinemas, Salas de Multiuso 40 - 50

Restaurantes 40 - 50

Escritórios

Salas de Reunião 30 - 40

Salas de Gerência, salas de Projetos e Administração 34 - 45

Salas de computadores 40 - 50

Salas de Mecanografia 40 - 50

Igrejas e Templos 40 - 50

Locais para Esporte

Pavilhões fechados para espetáculo e atividades esportivas 45 - 55

FONTE: NBR-10152. Os intervalos se referem aos níveis de conforto e máximos aceitáveis por atividade.

O controle da poluição sonora faz parte do planejamento global da Prefeitura de Belo Horizonte através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente que vem desenvolvendo pesquisa sobre o tema conveniada com a Universidade Federal de Minas Gerais. Os estudos revelam que o monitoramento de diversas áreas da

cidade é extremamente necessário, objetivando melhores níveis de Qualidade de Vida. O trabalho de controle da poluição sonora está intimamente ligado ao sistema viário da cidade, pois vem se comprovando que o tráfego dos veículos é o principal produtor do ruído urbano. A pesquisa pôde ser sintetizada em um mapa da distribuição do ruído na capital mineira.

Figura 114- Mapa Acústico de Belo Horizonte. FONTE: Retirado do artigo “A Poluição Sonora em Belo Horizonte” do site: www.icb.ufmg.br/ lpf/ 2-2.html

Na Paraíba a questão do ruído urbano é atribuição da Superintendência do Desenvolvimento do Meio Ambiente (SUDEMA). O órgão estadual recebe denúncias da população e procede às medições no local e na hora da reclamação. Em um primeiro momento o infrator recebe uma advertência. Em caso de reincidência poderá ser aplicada uma multa que variará entre 01 e 500 UFI Rs/ PB. A suspensão das atividades – para os casos de uso comercial ou industrial – será a punição máxima para aqueles que insistem em produzir níveis de ruído acima do permitido. Por ser um órgão estadual e atuar em toda a Paraíba, a SUDEMA é muitas vezes inoperante por estar sediada na capital e não possuir

pessoal suficiente para os 223 municípios do Estado. Nesse sentido a municipalização de suas atribuições é preferível, pois o trabalho conjunto entre as Secretarias de Meio Ambiente e de Transportes geraria um controle mais eficaz da poluição sonora.

Como a SUDEMA trabalha isoladamente e concentra seus esforços em atender somente nas denúncias de possíveis abusos de poluição sonora, não há qualquer trabalho de monitoramento nem planejamento para o controle do ruído na capital paraibana. Dessa forma, o ruído produzido em João Pessoa está nos principais corredores viários e nas áreas de lazer noturno. O centro dessa discussão gira em torno do corredor viário da Avenida Epitácio Pessoa.

A distribuição do uso do solo – anteriormente exposta – aponta para uma crescente concentração de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços nos quatro primeiros trechos estudados. O quinto e último trecho, nas proximidades da orla marítima, reúne um número cada vez maior de edifícios residenciais mantendo um movimento bastante peculiar em relação aos demais.

Os dados relativos ao volume de tráfego da Avenida Epitácio Pessoa – com o seu cálculo muitas vezes questionado por especialistas da área – podem ser encontrados no Relatório Técnico de Estimativas de Viagens Futuras elaborados durante os estudos do Plano Diretor de João Pessoa em 1992 (SI LVEI RA, 1997).

As tabelas 05 e 06 seguintes, elaboradas a partir dessas informações mostram a evolução do volume de tráfego dos seis maiores corredores viários da capital paraibana são medições feitas em 1991 e projeções para 2000 e 2010. Revelam qual a capacidade máxima de cada corredor baseada em sua configuração física. Os valores em Unidade Carro de Passeio (UCP) são calculados tomando como base todos os tipos de veículos que trafegam pelas avenidas – carros, ônibus, caminhões e motocicletas – transformados em uma unidade comum.

Tabela 05 – Volume de tráfego UCP/ dia

Corredor Viário 1981( UCP/ dia) 1991 ( UCP/ dia) 2000 ( UCP/ dia)

Epitácio Pessoa 35.535 47.972 59.965

Dom Pedro I I 16.981 36.942 56.890

Cruz das Armas 19.388 26.174 32.979

Via Norte 0 25.500 33.100

Beira-Rio 20.550 27.743 34.956

Dois de Fevereiro 5.946 9.658 13.328

Tabela 06 – Volume de tráfego UCP/ h.

Corredor Viário 1991( UCP/ h) 2000( UCP/ h) 2010( UCP/ h)

Epitácio Pessoa 4599 5282 6002

Dom Pedro I I 3701 5771 7919

Cruz das Armas 2399 3682 5085

Via Norte 1701 2008 2327

Beira-Rio 1999 2441 2856

Dois de Fevereiro 600 847 1054

FONTE: Relatório de Estimativas de Viagens Futuras do Plano Diretor de João Pessoa, 1992.

A metodologia de coleta de dados adotada foi desenvolvida especificamente para medições do ruído do tráfego e é uma combinação da NBR 10151 e as recomendações da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Esse método foi utilizado pelos professores Pedro Souza Álvares e Fernando Pimentel-Souza do Laboratório de Psicofisiologia da Universidade Federal de Minas Gerais para produzir o Mapa de Poluição Sonora de Belo Horizonte em 1992. A partir da observação do movimento pendular – vinculado aos tradicionais horários de trabalho e intervalo de almoço – que ocorre diariamente na avenida, resolveu-se medir o ruído no meado da manhã e da tarde para efeito de comparação. Dessa forma, a poluição sonora foi coletada em cinco horários – 7:00 a 7:15; 9:30 a 9:45; 12:00 a 12:15; 15:30 a 15:45 e 17:45 a 18:00 horas. Em cada um desses horários foram anotados valores em intervalos de 10 em 10 segundos, totalizando 90 medições, de sorte que no final do dia havíamos anotado 450 medições para cada um dos cinco postos distribuídos ao longo de toda a Avenida Epitácio Pessoa. As medições foram feitas durante uma semana – 14 a 18 de outubro de 2002. Na segunda-feira 14 mediu-se no posto 01, na terça-feira 15 no posto 02 e assim por diante.

Todos os postos de medição estavam situados do lado norte da avenida – a fim de que os ventos dominantes do sudeste trouxessem o ruído produzido pelas seis faixas de rolamento. É importante colocar que no canteiro central dos três primeiros trechos e do último, não há qualquer vegetação arbustiva que pudesse alterar a distribuição do som. No trecho quatro, onde existem alguns locais com esse tipo de vegetação, observou-se o distanciamento adequado a fim de não sofrer quaisquer implicações. O aparelho foi colocado a uma distância mínima de 2,00 metros da calçada – na maioria dos casos revestidas com pedras graníticas ou blocos de concreto – e de qualquer superfície refletora. Utilizou-se uma altura de

1,20 metros e um afastamento de cerca de 50 metros para qualquer cruzamento ou semáforo para garantir o cumprimento das normas. Usou-se a escala de ponderação (A) – intervalo de audibilidade humana. Tomou-se o devido cuidado para evitar que o decibelímetro – um instrumento digital da marca LT- LUTRON SL-4001 – sofresse a ação direta de lufadas de vento que distorcessem o valor real medido. Durante a semana das medições não ocorreu qualquer precipitação atmosférica. Os dados foram trabalhados em planilhas e gráficos Excel 2000. No capítulo seguinte esses dados poderão ser apreciados com detalhes trecho a trecho.