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Os quinze anos seguintes (1970-1985) marcariam o período onde as primeiras modificações de porte começariam a se concretizar. O processo de Mutação da paisagem baseia-se em alterações mais rápidas, quando começam a surgir novos usos além de uma crescente substituição de residências – para outro uso ou por novos edifícios (MACEDO, 1987, p.72).

A construção dos primeiros supermercados – Comprebem e Bompreço – e do centro comercial – Rique Center – marcariam a chegada do uso comercial, que se tornaria hegemônico no período seguinte de consolidação da paisagem da avenida. Não por acaso, essas edificações se instalariam no Bairro dos Estados e do lado oposto – Expedicionários – respectivamente, onde já existia uma clientela que garantiria o bom funcionamento dos negócios. Nas quadras vizinhas foram se estabelecendo outros empreendimentos criando um pequeno pólo comercial nessa parte do percurso da Epitácio Pessoa que se expandiria nos anos seguintes.

Nesse momento inicial de alterações mais significativas, a ausência de parâmetros urbanísticos poderia causar graves problemas ao desenvolvimento da cidade como um todo e ao corredor da Avenida Epitácio Pessoa, em particular. Com o primeiro Plano Diretor, em 1975, o zoneamento proposto compatibilizava o uso comercial e de serviços com o ainda majoritário uso residencial. O ordenamento proposto pela municipalidade (Anexos 01 e 02) seria alterado quatro anos mais tarde – momento da revisão da legislação – quando se refletiria de forma mais profunda sobre as linhas mestras de organização da cidade.

Em 1979, os técnicos da Prefeitura, após contato com urbanistas paranaenses, perceberiam que o zoneamento, por si só, não seria capaz de moldar o crescimento urbano. Os condicionantes capazes de gerar as transformações na cidade são de tamanha amplitude que nem mesmo a elaboração de uma legislação – por mais ampla e refletida que seja – garantirão o seu sucesso. Esse rompimento com os preceitos da Carta de Atenas – que embasara teoricamente a formulação do pensamento urbanístico a partir da Segunda Guerra Mundial – se baseava em análises de experiências mal sucedidas em várias latitudes, e que passaria a fazer parte da agenda dos profissionais de arquitetura nas décadas seguintes. Como reforçaria Garcia Lamas anos mais tarde:

“A disciplina do urbanismo tem como objectivo dominar o território e seus mecanismos de transformação: construir, adaptar ou conservar o espaço.

Todavia, entre a ambição do arquitecto e a possibilidade real de controlo da cidade, vai uma grande distância, regida pelo jogo de forças econômicas, sociais, administrativas e outras que interferem na cidade “(GARCI A LAMAS, 2000, p. 112).

Figuras 81 e 82- O Estrela de Prata foi um dos primeiros exemplares que surgiram nesse período. O Camboriú, próximo à beira-mar foi o primeiro prédio de grande porte da Epitácio Pessoa. FOTOS: Marco Antônio Coutinho.

O crescimento urbano passou a ser encarado como parte da vitalidade social e econômica da sociedade, e esse movimento, no caso de João Pessoa, se dava de forma radial – do Centro para as demais regiões da cidade – preferencialmente em torno dos seus corredores. A Avenida Epitácio Pessoa já era o principal corredor da cidade, merecendo tratamento diferenciado e mais detalhado do que a legislação anterior de 1975. Como o adensamento seria inevitável, a municipalidade tratou de ampliar e disciplinar as tipologias e os usos, denominando a área de Zona Axial 01 (Anexo 02). Assim, de um lado a municipalidade ampliava as tipologias, fixando o índice de aproveitamento máximo em quatro para edificações de maior porte em todos os usos. Em contrapartida ampliava os recuos numa clara opção pela verticalização – figuras 81, 82 e 83.

Figuras 83 e 84- No trecho litorâneo, o Edifício Passárgada – elaborado pelo arquiteto Expedito Arruda – traz no seu programa uma novidade para a época, os primeiros apartamentos duplex da cidade. À direita uma residência planejada pelo arquiteto pernambucano José Amaral em Tambauzinho. FOTOS: Marco Antônio Coutinho.

Os grandes empreendimentos imobiliários só surgiriam no período seguinte, especialmente no trecho litorâneo. Devido ao intenso parcelamento do

solo, observado em quase toda a avenida, recrudesceria um movimento de substituição do uso residencial pelos usos comercial, predominantemente, e de serviços através de pequenas reformas – figuras 85, 86, 87 e 88. Na maioria dos casos prevaleceria uma intenção epidérmica, quando as fachadas ganham lambris de alumínio, ou estruturas semelhantes que pouco contribuiriam para a formação de uma identidade da paisagem – uma vez que os elementos introduzidos pouco ou nada tinham de especial, podendo estar em qualquer outro ponto da cidade. De uma certa forma, podemos identificar uma crescente pauperização nos elementos morfológicos uma vez que esse tipo de reforma, pelo seu caráter efêmero, não procura se apropriar das linhas arquitetônicas das antigas residências, e sim escondê-las por detrás desses elementos parasitários (GARCI A LAMAS, 2000, p. 108).

Figuras 85 e 86- Fruto desse processo de substituição de uso, tanto nos pequenos lotes com nos grandes, a transfiguração sofrida pelas residências nada acrescentam na paisagem. FOTOS: Marco Antônio Coutinho.

Figuras 87 e 88- Com adequações nas plantas das antigas casas para fazer funcionar um cartório e uma clínica médica, respectivamente, essas intervenções tiram partido das linhas arquitetônicas existentes procurando não alterar tanto a paisagem anterior. FOTOS: Marco Antônio Coutinho.

A exacerbação desse processo se daria a partir de 1985 com o surgimento, no trecho litorâneo, de uma série de edifícios residenciais de grande porte. Na década de 1990, essa movimentação da especulação imobiliária ganharia outras funções – edifícios de uso misto com comércio no térreo e serviços nos andares restantes. Mesmo assim, boa parte da Avenida Epitácio Pessoa permaneceria envolvida nessa rotina de pequenas reformas de antigas residências dando lugar ao comércio e à prestação de serviços.