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GEOGRAFIADACIRCULAÇÃO,DASCOMUNICAÇÕESOUDOS

TRANSPORTES?

 

Não se tratará aqui da circulação das águas, das geleiras, das correntesmarinhaseatmosféricas;nemdosseresorganizados, das espécies animais ou vegetais, mas da circulação dos homens,dosprodutosdesuaatividadeedoseupensamento. A geografia da circulação, assim compreendida, é um capítulo da geografia humana, um dos mais essenciais (CAVAILLÈS, 1940:170).



Anoçãodecirculaçãocomparecenahistóriadopensamentogeográficocomo um elemento constitutivo da ação do homem, uma função da produção, uma função política ou o mero movimento no espaço. Fato que se deve especialmente, mas não exclusivamente, à natureza corográfica da “Geografia Tradicional”,etambémaoprocessodeesvaziamentodageografiadacirculação em detrimento da geografia dos transportes em seu aspecto mais técnico/pragmático. Mesmo assim, estudos somente sobre os transportes não eramtãovolumosos,comosobreoutrosaspectosdarealidade.Ocrescimento urbano acelerado do século XX atraiu olhares dos geógrafos para as questões migratórias, analisando somente os fluxos e as razões ontológicas e epistemológicas de tais movimentos. Ao longo do século XX, os processos de urbanização e de relação cidadecampo, bem como o aumento do comércio mundial,contraditoriamente,nãomotivaramumgrandevolumedepesquisasa

respeito da circulação stricto sensu, somente de modo indireto e superficial dentrodoquadrodosenfoqueseconômicos,urbanoserurais.

Em2003,Silveira,analisandoocasobrasileiro,descreveuumpanoramaapartir das últimas décadas, afirmando que os estudos sobre a circulação1 vinham sofrendo uma diminuição bastante acentuada no Brasil, sobretudo a partir da década de 1960. Não realizamos um estudo para verificar tal situação, preferindo, neste momento, ficar com o levantamento feito pelo autor. No entanto, além da rarefação de estudos no âmbito da circulação, o que nos chamou a atenção no levantamento feito para esta tese, foi a ausência do debate epistemológico. Também chamounos a atenção a falta de critério na definição da melhor terminologia a ser empregada para designar os estudos sobre o movimento de mercadorias, pessoas, ideias, informações etc. Ora se adotouo“campo”deestudoscomo“GeografiadasComunicações”,oracomo “GeografiadaCirculação”eoracomo“GeografiadosTransportes”.

Pacheco (2004), ao desenvolver um estudo de planejamento para a região Nortede Portugal, com enfoque na“alteração das acessibilidades e dinâmicas territoriais”, apresentou um excelente panorama da produção científica no âmbito dos transportes. Para tanto, a autora fez um resgate histórico da produçãoapartirdaAntigüidade,mas,paraabordaraproduçãogeográfica“na viragem do século XIX” sobre o tema, se baseou em Potrykowski e Taylor (1984).OsautoresmencionadosporPacheco(2001)consideramaexistênciade quatrotendênciasnosenfoquessobretransportes:

x PaisagistaDelimitadapor“concepçõesdeantropogeografia”atravésda descriçãodarelaçãoentreostransporteseomeiogeográfico,sendoas comunicaçõesinfluenciadasporfatoressocioeconômicos;

x TécnicaDestacaa“importânciadosmeiostécnicosnaadequaçãodas comunicaçõesaomeiogeográfico”;

x Mercantil – Descreve as atividades comerciais enquanto fatores que desencadeiamanecessidadedeefetuardeslocamentos;

x Econômica – Também descritiva e que procura abordar a distribuição dasatividadeseconômicasnoespaçogeográfico.

Segundo Pacheco (2004), até a primeira metade do século XIX, o desenvolvimento e inserção territorial das redes de transportes ocorreu em meioa“contextosespaciais”demenorcomplexidade,sendobastantecomum, a realização de abordagens teóricas que levavam em consideração o reconhecimentoda(...)

[...]importânciadostransportesnofuncionamentodavidadas sociedades”, que passaram a assumir “perspectivas mais globais, nas quais as condições naturais e os padrões de distribuição da população e suas actividades permitiam a construção de ideias mais simplificadas, ou de certa forma padronizadas(sic)(PACHECO,2004).

No século XX, a autora dá mais ênfase às décadas de 1940 e 1950. Neste período, levando em consideração os autores que utilizam as palavras “geografia”e“transportes”(ououtrasassociadas),notousequeasabordagens são referentes principalmente aos “meios e infraestruturas de transportes de forma isolada e não tanto o sistema como um todo”, exceção feita “às geografiasdoscaminhosdeferro,aérea,fluvialoumarítima,àsquaisseassocia comelevadafreqüênciaapalavra‘circulação’”(grifonosso).SegundoPacheco, a noção de circulação estaria relacionada também às zonas climáticas e

botânicas, admitindose o “papel preponderante das condições naturais, mas considerasetambémqueanecessidadedeconstruirnovasestradas,advémda solicitaçãodaspopulaçõesoudeinteressespolíticoseestratégicos”.

Pacheco(2004),apartirdeEdwardUllman,defendeousodotermo“Geografia dos Transportes” em oposição ao termo “Geografia da Circulação”, por entenderqueaprimeiranomenclaturaremeteaumaabordagemmaisvoltada ao planejamento2. A partir de Mérenne (1995), Pacheco (2004) afirma que a palavra“circulação”éatribuídapelosautoresqueconsideram“atotalidadedos modos de transportes nas suas relações com os quadros naturais e humanos, sendo que as infraestruturas e meios de transportes servem para efectuar deslocações”. Já a palavra transporte, segundo Pacheco, referese a “uma concepçãomaisalargada,nomeadamenteatravésdaconsideraçãodeprocessos territoriais resultantes da sua evolução/alteração – conceito avançado por Ullman,masqueatéfinaisdosanos60nãoconheceumuitosadeptos”.Aautora expõe ainda que essas diferentes “nomenclaturas” têm uma matriz nacional. Desse modo, “Geography of Transportation” tem matriz norteamericana com EdwardUllman(1957),“TheGeographyofCommunications”teriamatrizinglesa comAppleton(1962)e“GéographiedelaCirculation”temcomomatrizaescola francesa(décadade1960).

2 Pacheco (2004) fez uma análise sobre a diferença entre Geografia dos Transportes e

GeografiadaCirculação,nocapítulo2desua“DissertaçãodeDoutoramento”(comoétratada otrabalhofinaldeumcursodedoutoramento),combaseemumabibliografiaampla,porém que não demonstra a preocupação histórica com os conceitos e temas inerentes aos transporteseàcirculação.Nessesentido,aautoraincorreemdiversosequívocoscomo,por exemplo, atribuir o pioneirismo da Geografia dos Transportes ao norteamericano Ullman a partirdeobrapublicadaem1957,maisdemeioséculodepoisdeHettnereRatzel.Todavia,a autora descreve um excelente panorama sobre a geografia dos transportes e economia espacial,sobretudonocontextodecrescimentodasanálisessobreostransportesapartirdos estudosdeUllman.

NoBrasil,ressaltamsealgunsautoresnadiscussãosobreotema.Começamos por Moacir Silva (1949) pelo fato do autor ter apresentado uma definição de circulaçãoeporterquestionadoaatribuiçãode“GeografiadasComunicações” para o ramo da Geografia queestuda o movimentode mercadorias e pessoas no território3. Segundo Silva (1949: 69) circulação é sinônimo de transportes, configurandose como a “movimentação de massas econômicas4 por um conjunto de vias (caminhos, estradas, rios, canais, etc.), utilizando os vários

meios adequados (animais, veículos, sistemas)” (grifos no original). O autor

alerta que os termos ‘transportes’ e ‘comunicações’ são confundidos. Isto aconteceriapelofatode,antesdascomunicaçõesàdistância(possibilitadapelo telégrafo, telefone, cabo submarino etc.), os meios convencionais de transportes também realizavam o papel de comunicar (informações verbais)5, popularizandoousodotermocomunicações.Noentanto,observamosqueeste termopassouasermaisutilizadonaGeopolítica.

Shiguenoli Miyamoto (1995: 146 et seq.), analisando a geopolítica dos transportes,entendequeparadominarumpaísénecessáriodeterosmeiosde comunicações, pois “os países que não possuem um sistema viário adequado encontramse tolhidos”. Miyamoto, apesar de reconhecer a importância econômicadasviasdetransporte,dáênfaseaoaspectodeocupaçãoterritorial edomíniodoEstadonosentidodasoberaniaesegurançanacional.

3 Neste item, não vamos fazer uma análise cronológica e periódica sobre os autores que

procuraramdiscutiranoçãodecirculação.

4 Segundo Moacir Silva (ibidem, baseado em Reis, 1939), massas econômicas são “tôdas as

coisas susceptíveis de utilidade, consumo, venda, ou de troca entre os homens de uma sociedadeporseremcoisasrelacionadascomassuasexistências”(grifosnooriginal).

5 Moacir Silva (ibidem: 6971) também demarca (baseado em La Blache e no IBGE – na

Ordenação Geral dos Assuntos da Estatística Brasileira) a definição de: transporte, via de transporte, meio de transporte, sistemas de transportes, rede de transportes, comunicação. Nestecaso,entendemoscomosendopertinenteassuasdefinições.

MarioTravassos,preocupadocomadefesadoterritório,desenvolveoqueele chama de “Geografia das Comunicações”. Segundo o autor (1942: 17), esta geografia “fixa as condições da circulação, que é a chave para a interpretação dosfatossociais,econômicosepolíticosdeprimeiragrandeza,tantoquantode sua força de projeção no domínio das realidades”. Travassos (1942: 178) considera a circulação externa às técnicas, interpretandoa como sendo um “fenômeno”,havendoum“processuscirculatório”queenvolveacirculaçãodos homens, ideias e mercadorias em relação ao meio, a partir da dinâmica morfológica dos territórios6 que formará “linhas de menor resistência ao tráfego”7.Amanifestaçãodesses“processus”éo“instintomigratórioqueexiste no mais fundo da alma humana”. Para Travassos (1942: 205), a circulação se

resume a “linhas naturais”, fisiográficas e permeáveis à ação humana. Desse

modo, as “linhas naturais de circulação” são resultados de sua morfologia (o fato geográfico), oferecendo “linhas de menor resistência” ao movimento. Assim,“nenhumoutrosetor”,maisdoquenousodessas“linhasnaturais”,põe em relação os “fatos humanos e as expressões geográficas”. A relação é estabelecidapelo“sistemadecomunicações”epelo“regimedostransportes”, que são os “termos da equação circulatória” necessárias para a garantia da

“unidade, o bemestar e a segurança” (grifos nossos). Estas seriam, no

entendimento de Travassos, as metas a serem atingidas pelas “políticas de comunicações”faceaodesenvolvimentodeuma“pluralidadedetransportes”, estado que congrega as possibilidades existentes de todos os meios de transportes,paraoserviçoaosobjetivospropostosapriori.Emsuma,osistema de comunicações são as vias construídas a partir de um planejamento e representaosentidopolíticodacirculação.Oregimedetransportesrepresenta

6Osentidodeterritórioutilizadopeloautortemaconotaçãodesolo/’chão’

7 Travassos demonstra a sua influência pela obra de Ratzel, todavia não o cita diretamente

parasereferiraostermosquesãodopróprioRatzel.Alémdisso,entendemosqueTravassos fazumaabordagemvulgarsobreosofisticadopensamentodeRatzel.

a “técnica” do “processus circulatório”. Travassos desenvolve sua pesquisa voltada aos interesses militares, até mesmo em função de sua formação de coronel do exército brasileiro e professor da ESG (Escola Superior de Guerra). Nesse sentido, a ideia de comunicações tem a conotação de controle sobre o território,istoé,“poremcomum”8esaber/conhecertudooquesepassa. Por outro lado, Moacir Silva, formado engenheiro geógrafo, teve sua atuação profissional no campo do planejamento em órgãos públicos desde o final da década de 1910. Silva pensou e executou o planejamento dos transportes no paísemváriosmomentos.Naobraemquestão,a“Geografiadostransportesno Brasil”,ainfluêncialablachianaénotóriaesuaanálisedarelaçãoentreaação dohomem,ostransportes(técnica)eomeio(ocupaçãodoterritóriobrasileiro) é eminentemente econômica. Enfim, Moacir Silva (1949) e Travassos (1942) propuseramanalisarostransportesearelaçãocomaocupaçãoterritorial. Fora do Brasil, um autor que também analisou os transportes e as comunicações sob o rótulo de “comunicações” foi A. E. Moodie. O autor faz umaanálisedacirculaçãorelacionandogeografiaepolítica.SegundoMoodie,os meiosdecomunicaçãosão:

Meios para a movimentação de pessoas, mercadorias e ideias estão,emgrandenúmero,àdisposiçãodogênerohumanonos tempos modernos e tomam parte importantíssima nas atividades humanas de todos os níveis; municipal, regionais, nacionaleinternacional.(MOODIE,1965:115)

ParaMoodie:

O valor das comunicações é demonstrado pela série global de serviçosabrangidospelotermo‘circulação’.Compreendemeles

8 A palavra comunicação é proveniente do latim “communìco,ás,ávi,átum,are” que significa

não somente as formas normais de transporte, tais como

terrestre, marítimo e aéreo, como também as

telecomunicações, linhas de abastecimento através de encanamentos que estão sendo grandemente utilizados para distribuiçãodeprodutoscomoágua,petróleoegásnaturaleo sistema decabos paraa transmissão deeletricidade (MOODIE, 1965:115).

O sistema de circulação é elemento fundamental para o exercício do poder. Desde os princípios da história, os povos que possuíam maior mobilidade detinhamumaposiçãosuperior.Nosantigosimpérios,ousomilitarepolítico das vias fluviais, marítimas e terrestres demarcava a íntima ligação entre a circulação e as estratégias de Estados (MOODIE, 1965: 1178). No desenvolvimento da circulação, quando os oceanos se tornaram “vias de comunicaçãodomundo”,novasterrasforamincorporadasparafinspolíticose comerciais. A ampliação das distâncias incentivou a ampliação dos meios de comunicações. As invenções do século XIX ligadas aos transportes proporcionaramaexistênciade“umavastaenovaredeglobaldecomunicações que deu lugar a um progresso sem rival no terreno da produção e à prosperidade material, criando também inúmeros problemas na construção e organização dos novos meios de circulação” (MOODIE, 1965: 119). Com isso, Moodietambémreconheceaproduçãocomofatorqueimpulsionaacirculação, sempreusandocomobaseaescalainternacionaleaacentuadaaceleraçãoda “concorrência”, o que preferimos chamar de competitividade. Todavia, a abordagem do autor se circunscreve ao ímpeto imperialista (Governos e iniciativa privada) na condução da dotação de infraestrutura para auferir “benefíciosàhumanidade”.

Independentementedafiliaçãopolíticoideológicadoautor,oquenosinteressa nasuaanáliseéasuaconstataçãodequeodesenvolvimentodascomunicações “resultou no estabelecimento de numerosas barreiras artificiais à circulação”,

quenadamaissãodoqueasnormas.Contudo,oautorfazumadefesadeque essas barreiras não devam existir para a “organização econômica”, pois ele comparaoEstadocomum“organismo”,mesmoreconhecendoascríticasaesta ideia. Nesse sentido, compara o sistema de comunicações do Estado, ao “sistema circulatório”. Barreiras não devem existir para o capital, porém defende que a centralização do poder deve ser feita com uma “circulação organizada”(1965:120).

Maisrecentemente,Raffestin(1993)foiumdosquetiverampreocupaçãocom anoçãodecirculação.AexemplodeMoodie,oautortambémtrabalhoucomo conceitodepoder,destilandoconsideraçõessobreacirculaçãoeacomunicação comoelementosdicotômicosfaceaoqueelechamade“idealdopoder”.Parao autor, circulação e comunicação “são duas faces da mobilidade” que se complementam e servem como base para “estratégias” desempenhadas pelos “atores”quealmejam“dominarassuperfícieseospontospormeiodagestãoe docontroledasdistâncias”.

Falaremosdecirculaçãocadavezquesetratedetransferência deseresedebenslatosensu,enquantoreservaremosotermo “comunicação” à transferência da informação. Ainda que, por maisútilqueseja,essadistinçãopareçaambígua,umavezque poderádaraentenderqueháapenasacirculaçãoouapenasa comunicação.Narealidade,emtodo“transporte”hácirculação e comunicação simultaneamente. Os homens e os bens que circulam são portadores de uma informação e, assim, “comunicam” alguma coisa. Da mesma forma, a informação comunicada é, ao mesmo tempo, um “bem” que “circula” (RAFFESTIN,1993:200).

Para Raffestin (1993: 201), a “tecnologia moderna” dissociou a rede de circulação da rede de comunicação que formavam uma única rede no século XIX.Ainformaçãoandavanavelocidadeeritmodoqueelechamadecirculação. A partir daí, o autor introduz também a noção de distância. De um lado,

teríamosapraticamentenulidadedasdistânciasemtemosdecomunicação;e, de outrolado, a diminuição das “distâncias temporais”, no caso da circulação. Se essas duas distâncias tendessem a nulidade, o poder seria praticamente absoluto,poiso“idealdopoderéagiremtemporeal”.

Claude Raffestin deu sua contribuição para o entendimento da circulação, dando ênfase ao papel das comunicações. Segundo Raffestin (1993: 202) os fluxos de comunicações são mais poderosos que a circulação, pelo fato de serem invisíveis. “O ideal de poder é ver sem ser visto. É o porquê de a comunicação ter adquirido tal importância na sociedade contemporânea: ela pode se dissimular”. Esse poder se torna ainda mais forte com o advento da informática:

O verdadeiro poder se desloca para aquilo que é invisível em grandeparte,quersetratedeinformaçãopolítica,econômica, socialoucultural.Acomunicaçãoocupamaisemaisocentrode umespaçoabstrato,enquantoacirculaçãoocupamaisemaiso centrodeumespaçoabstrato,enquantoacirculaçãonãoémais do que a periferia. Isso não significa de forma alguma que a circulação é menos importante, pois, ao contrário, é ela quem testemunhaaeficáciadacomunicação,masissosignificaqueo movimento da informação comanda a mobilidade dos seres e dascoisas.Oespaçocentraldacomunicaçãovampirizaoespaço periférico da circulação. A comunicação se alimenta de circulação:oterritórioconcretoétransformadoeminformação esetornaumterritórioabstratoerepresentado,istoemdeixa severtodososfenômenosparticulareseconfusoseescondese oessencialquesetornaorganizado(RAFFESTIN,1993:203).

Apesardeconcordarmos queas comunicações são importantes para ouso do territórioeseucontrole,entendemosqueacirculaçãoéumaaçãoqueabarca os transportes e as comunicações que são instrumentos de realização da circulação.Hoje,emmuitospropósitos,comunicações(comofluxosimateriais) e transportes (como fluxos materiais) são indissociáveis, como é o caso das operações logísticas; mas o fundamental na abordagem de Raffestin é

consideraracomunicaçãocomosendoumaformadepôremmovimento,fluxos imateriais. Contudo, o autor fetichiza a circulação e a comunicação ao considerar que esses elementos se realizam somente pela existência da “tecnologia moderna”. Isso implica em dizer, que a política de Estados, em períodos históricos pretéritos, dependia de tecnologias avançadas para controlarecircularpordiversospontos.

Raffestin (1993: 204) também fala em “estratégias”. A circulação e a comunicação estariam a serviços delas, além disso, as redes, a circulação e a comunicaçãocontribuempara“modelaroquadroespaçotemporalqueétodo território”.Essainterpretaçãopropostapeloautoréessencialnoentendimento dacirculação(comaressalvadequeentendemosquetransportes,tecnologias da informação e comunicações estão dentro desse “conjunto” intitulado circulação),poisestadeveserentendidacomomaisumelementonoprocesso de produção do espaço e não o único, aquele que causaria impacto e transformações por si só. Ademais, Raffestin afirma que as redes “são inseparáveisdosmodosdeproduçãodosquaisasseguramamobilidade”,queé fundamentalparaaempiricizaçãodosperíodoshistóricos,osquaisacirculação é filiada. Não menos importante é sua compreensão de que essas redes formariam “sistemas sêmicos materiais” que emergem juntamente com condições ideológicas: “enquanto são traçadas, enquanto são construídas e enquanto são utilizadas ou, se preferirmos, ‘consumidas’”. Entendemos, portanto, que a ideologia assegura o cumprimento dos objetivos dos agentes emformarredes.

A utilização do termo circulação ou comunicações não imputa aos autores citados, até aqui, uma reflexão fundamental sobre as respectivas noções. Em princípio,odebatepareceinócuoeousoindiscriminadodostermosaparenta não acarretar nenhum problema de ordem prática ou teórica. Contudo,

defendemosautilizaçãodotermocirculaçãoaoinvésdecomunicação.Otermo “transportes” também não é adequado para representar a logística. O transporteéoelementomaisimportantedalogística,masnãoéoúnico,pois armazenagem e controle de estoques, entre outras atividades, também a compõem.

Otermocomunicaçõesdesignaosconteúdosescritosefalados,transmitidose recebidos à distância, por intermédio de tecnologias (telecomunicações). Com exceção dos serviços postais, a transmissão é feita de forma imediata/instantânea. É neste sentido que abordaremos as comunicações, diferentementedoconceitodecomunicaçãoligadoaocampodeconhecimento acadêmico que estuda a comunicação humana e as suas interações em sociedade9.Atualmente,devidoàexistênciaeodesenvolvimentodossatélites e da informática, a  comunicações ganharam status de processadora de informações, compondo as chamadas TIC. Desenvolvimento que tem sua gestação entre 1855 e 1890, quando as comunicações se tornaram elétricas e comainvençãodotelégrafo,tornandosetelecomunicações

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10

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Enfim, este capítulo serviu principalmente para delimitarmos o campo de análise o qual nos propomos, procurando destacar a importância do uso do termo circulação para os estudos, grosso modo, sobre transportes e

9 “A comunicação social lida com as técnicas de transmissão da informação, o formato com

queainformaçãoétransmitida,eosimpactosqueainformaçãoteránasociedadeearelação entre os sujeitos em uma situação comunicativa”. Disponível em:

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