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Enfim,oqueécirculação?

 

[...] a forma abstrata, o “esquema”, relacionase à produção. Paraqueissoocorraéprecisoconsiderar,então,oprocessode produção e de circulação do espaço, que se manifesta na e

como forma aparente. Ambas referemse a um conteúdo

aparenteeaumconteúdoreal(SILVA,1986:1223).



Aquestãoqueintitulaestecapítuloparecemotivarumapretensiosadefinição decirculação.Noentanto,onossoobjetivonestecapítulo,ésintetizaroquejá foi apresentado e propor uma noção de circulação válida para explicar coerentemente o entendimento da logística enquanto forma histórica de circulação e a circulação como instância do espaço. Também é fundamental distanciarmos das analogias fisiológicas dos séculos XVII, XVIII, XIX e primeira metadedoséculoXX.

Antesdeapresentarmosnossaperspectiva,destacaremosaorigemdapalavra

“circulação”, cuja origem é do latim circulatione, que significa um movimento

contínuo e constante, além de ser circular, ou seja, aquele movimento que parte e retorna ao seu ponto de origem. No entanto, como bem demonstra Duarte (2006: 31), falar em circulação atualmente é falar da existência de continuidadesespaçotemporaisnessemovimento,masqueproduzemtambém o seu contrário, expresso nas descontinuidades: “pausas, acidentes,

interrupções,surpresas,retrocessos,obstáculos,proibições”.Inexoravelmente, portanto,acirculaçãoéumfatodacivilização(SORRE,1948:396).

Como uma ação humana e civilizadora, a circulação também deixa seus “rastros”aolongodotemponaformaderugosidades.Postoisto,podesedizer queacirculaçãoéumafunçãoespacialresponsávelporrealizarecristalizaras espacialidadesemergenteshistoricamente.Masacirculaçãonãoéapenasuma ação humana com uma função espacial, a circulação é também um dado temporal.Seacirculaçãoserveà“expansãodoecúmeno”comoafirmouSorre (1948: 394), também se faz com o domínio do tempo e não somente com o domínio do espaço como ele havia asseverado (em “a conquista do espaço”) (SORRE,1948:392).Aliás,ocontroledoespaçopassapelocontroledotempo. Podemosdizerentão,queacirculaçãoéaproduçãodareduçãodostemposde deslocamentonoespaçogeográfico.Entendemosquea“produção”pressupõe aquilo que Sorre observa como elementos objetivados por quem circula. Elementos que servem aos “movimentos que animam o ecúmeno” são: a regularidade,asegurança,“certograudeorganizaçãopolítica”ea“maturidade dasrelaçõesentreohomemeaterra”.AcrescentaríamosàpropostadeSorre, comoéprópriodatécnica,abuscaporpouparesforçocomconforto.

A ação de produzir (primeiro somente por meio de técnicas e depois também pelo estabelecimento de normas) a redução dos tempos de deslocamento no espaço geográfico ocorreu em praticamente toda a história, mesmo em períodos considerados lentos como é o caso da Idade Média. Le Goff (1997) advoga a ideia da existência, na Idade Média, de um “tempo da Igreja” e um “tempo do mercador”. Esses dois tempos contraditórios e antípodas movimentaram as formas de circulação no período “medieval”. O tempo da Igreja era moroso e sem sobressaltos, e o tempo do mercador era rápido (naquele contexto), submetido às trocas e ao mercado. Martín (2001: 192)

acrescenta as temporalidades ou categorias temporais, “o tempo dos humildes”,oslavradores,ospastores,osartesõesentreoutrosquesãoregidos pelotempolitúrgico.Comorenascimento,otempopassouaservistodeforma diferente por algumas categorias sociais, como foi o caso dos comerciantes (tempo como investimento), militares (tempo como estratégia) e políticos (tempocomoformadeadministraçãodopoder).

Com o passar dos séculos, a circulação foi ganhando maior conteúdo e mais densidades técnicas e normativas, complexificando as formas de circulação e distanciando cada vez mais as formas de circulação hegemônicas das hegemonizadas,pelasdiferentestemporalidadesdecorrentesdoprocesso.Essa distância tem a ver com a velocidade, mas segundo Santos (2004 b: 325), a “força é dos ‘lentos’ e não dos que detém a velocidade” elogiada por alguns intelectuais como Paul Virilio. Contudo, devemos advertir que essa “força” estaria nas grandes cidades, onde a proximidade se torna importante fator políticoedemobilização,assim,nessesentido,os“homenslentos”,apartirde suatemporalidade,têmcondiçõesdeenxergarmelhor“acidadeeomundo”1.

1Istotambéméumaquestãodeproduçãodeescala.NeilSmith(2000)construiuumateoria

sobre a produção da escala geográfica com base no “Homeless” e no “Poliscar”, veículos criados por um artista plástico novaiorquino. O primeiro é inspirado no carrinho de supermercado (amplamente utilizado pelos semtetos dos Estados Unidos) e proporciona, além do transporte de seus pertences entre outros objetos coletados nas ruas, “o sentar, o dormir,abrigarseelavarse”.

Nofinaldadécadade1980,quandoo“Homeless”foicriado,acidadedeNovaYorkpossuía umnúmeroestimadoentre70mile100milsemtetos(de1a1,4porcentodapopulaçãoda cidade). Muitas dessas pessoas utilizavam carrinhos de supermercado para carregar seus pertences,alémdelatas,garrafaseoutrosmateriaisrecicláveisparasertrocadosporalgoque mantivessesuasobrevivência,poisexisteumcompartimentodebaixodoveículoparacarregar os pertences. Sem dúvida alguma, “a mobilidade espacial é um problema central para as pessoasexpulsasdosespaçosprivadosdomercadoimobiliário.Semumlarououtrolugarpara guardarsuasposses,édifícilandarpelacidade,poiséprecisocarregartodososseuspertences consigo”(SMITH,2000:134).

Segundo Smith os ganhos de mobilidade possibilitados foram bastante significativos para aquelesqueaderiram,alémdealteraremasestratégiasindividuaisnoespaçogeográficopara essegrandenúmerodesemtetosresidentesemNovaYork.

Tal proposta nos remete novamente ao aspecto eminentemente político da circulação,sobumaperspectivanãoconsideradaporSorre(1948:4035).Cabe retomar o “debate” sobre circulação do ponto de vista político e do ponto de vista econômico. Sorre foi um dos poucos que reconheceu os dois pontos de vista.Paraoautor(1948:400),a“circulaçãodemassas”deveseranalisadado pontodevistaeconômico,mastambémvêuma“funçãopolíticaecivilizatória” da circulação2. Todavia, esta função política se circunscreve, assim como em outros autores, como uma função “geopolítica” e “estratégica”, não como políticasterritoriaisnoespaçobanal.

Além de Sorre (1948), Jean Gottman também entende a circulação como elementopolítico,econômico,alémdecultural:

A circulação é, naturalmente, criadora da mudança na ordem estabelecidanoespaço:aquelaconsisteemumdeslocamento. Na ordem política, ela move pessoas, exércitos e ideias; na econômica, significa deslocamento de mercadorias, técnicas, capitais e mercados; na ordem cultural, ela desloca ideias, movepessoas.Naunidadedomundoacessívelaoshomens,a circulação forma um todo, infinitamente fluido e ramificado. Localizar os fenômenos no espaço consiste em colocálos nos sistemas de relações que a circulação anima. A posição geográfica de um lugar ou de um território, condição fundamental para suas conseqüências políticas, resulta da circulação. E não é surpreendente que o exame dos fatores físicos em geografia política levounos a concluir que geralmente estes caracteres agiam pelo seu efeito sobre a circulação. Se é admitido que um determinismo de relações espaciaisexiste,énecessárioclassificaracirculaçãoàprimeira filadosfatoresdeterminantes.

Acirculaçãopermiteentãoorganizaroespaçoeénodecorrer doprocessoqueoespaçosediferencia(GOTTMAN,1952:214 5,grifosnooriginal).

2 Sorre (1948: 403) fala numa “circulação dos imponderáveis”, ou seja, aqueles fatores

relacionadosàdominaçãoeaoimperialismo,tecendoumalevecríticaàRatzel,dizendoque este,aoescreversobreacirculaçãoestimuloufatores“imponderáveis”.

Compreendemos acirculaçãocomo sendotambéma produçãodo espaçoem

movimento por intermédio dos sistemas de movimentos, de um sistema

técnico (característico de cada período) e de normas. Segundo Contel (2006: 357), os sistemas de movimento são o conjunto que envolve os sistemas de engenhariaeossistemasdefluxosmateriaiseimateriais.Essavisãosistêmicaé tributáriadopróprioJeanGottmann(1952:214).Segundooautor,asrelações entre a política e a geografia, sobretudo no que tange à análise das “regiões políticas”,“ditas”doEstado,devemservistasapartirdasnoçõesdesistemasde

movimentoedesistemasderesistênciaaomovimento.Asnoçõessereferema

umadialéticaquetêmnossistemasdemovimentoarepresentaçãodaagitação e da “circulação no espaço”, como diz o próprio Gottmann. Avançando um pouco mais, naquilo que tratamos anteriormente como o movimento para a valorização do e no espaço. De outro lado, os sistemas de resistência ao movimento, são representados pela iconografia3, que “facilita também a manutençãodealgumasestruturassociais”.

A iconografia tende a afastar da nação, de sua unidade e originalidade, os estrangeiros e mesmo as influências estrangeiras. Ela exerce uma ação limitativa aos contatos, portanto, à circulação. Concebese assim que ela seja o fundamento das cercas espirituais e políticas da grande dinâmicahumana[...]

3Iconografiavemdogrego"eikon",quesignifica“imagem”e“graphia",quesignifica“escrita”,

sendoumaformadelinguagemvisualqueutilizaimagenspararepresentardeterminadotema. A iconografia é uma arte ou técnica de representar por meio da imagem. A Iconografia. Enquantoconhecimentoartístico,estudaaorigemeaformaçãodasimagens,sendooestudo descritivodasimagens(fotos,desenhos,pinturasetc.)associadasaumtema,obra,épocaetc. Jean Gottman, provavelmente transpôs metaforicamente a noção de iconografia para expressaraquiloquenãosemovecomoéocasodaanalogiadecertoslugarescomimagens representativasdedeterminadotema.

Éassimqueaiconografiasetornanageografiaumamontanha deresistênciaaomovimento,umfatordeestabilizaçãopolítica (GOTTMANN,1952:221,grifosnooriginal).4

AbordadoaideiadesistemademovimentoapartirdeGottmaneaperfeiçoado por Contel, passamos à noção de sistemas de engenharia, que é parte dos sistemas de movimento. Conforme Santos (1991: 79), os sistemas de engenharia são formados pelo conjunto de fixos (instrumentos de trabalho e forçasprodutivasemgeral,comoporexemplo,asprópriasviasdetransporte) naturaisesociaise“sedefinecomoumconjuntodeinstrumentosdetrabalho agregados à natureza e de outros instrumentos de trabalho que se localizam sobreestes,umaordemcriadaparaepelotrabalho”.

Os fluxos materiais e imateriais são resultados das ações e da produção. Os primeiros são relativos aos fluxos de pessoas (como força de trabalho e como consumidoras)ebens(deconsumoedecapital).Ossegundossãoconcernentes aos fluxosde ideias,aos informacionais, aos financeiros, de serviços etc.Além dos fluxos de interação organizacional, de imagens, de sons e símbolos, mencionadosporCastells(2006:501).

Os fluxos materiais são conduzidos por meios de transportes: carros, caminhões, motocicletas, bicicletas, trens, barcos, navios, aviões etc. Todavia, emborapreferencialmenteseconduzapessoasebenspormeiodeveículosde transportes, é inegável que é cada vez mais difícil considerar que isso se faz isoladamente, sem o uso das telecomunicações e das tecnologias da

4Esteconflitopermanecerápormuitotempo.Nãotrataremosdeumavitóriadaglobalização

sobreasiconografias,masserelatahoje,umaaderência,umaaberturaumpoucomaioraos sistemasdemovimentoetodaasortedeelementostrazidosàsuaesteira,bastaobservaros casosdoIrã,China,Cubaetantosoutrospaísescomregiõesextremamenteiconográficasno queserefereaoselementosenumeradosporGottman.

informação,hajavistaanecessidadedeumcontrolecadavezmais“racional”e organizadodosfluxosdebensepessoas.

Atualmente, os fluxos imateriais dependem cada vez mais de estruturas materiais como satélites, servidores, computadores, redes de fibras ópticas, redesdecaboscontendofiosdecobreetc.,emoutraspalavras,atelemática.Os principaisconteúdosmovimentadossãooconhecimentoeainformação,além de dados que substituem imensas quantidades de papéis e espaço físico em escritórios e outras repartições. Ondas eletromagnéticas são realizadas por intermédio de antenas e satélites e compõe o conjunto dos fluxos. Os fluxos imateriais dependem muito mais das inovações tecnológicas que os fluxos materiais.

Toda a discussão que fizemos durante a construção desta parte, foi sendo apresentada a fim de evidenciar uma noção válida de circulação para este trabalho. Criticamos autores e apresentamos outros que representassem o nosso pensamento a respeito do tema. A sutileza nessa construção foi uma opção,poisnãoénossateseaanálisesobreoconceitodecirculação,masuma partefundamentalparaacompreensãodalogística.Transcreverlongascitações foi uma forma que encontramos de compartilhar com os leitores, alguns aspectosbastantesensíveisesingularesnospensamentosdosautores.

Seria muita pretensão de nossa parte definir circulação nesse momento de nossa carreira universitária, mas também não eximimonos da colocação e pontuaçãodosproblemasdestatese.

Enfim, o entendimento acerca da separação desta parte se dará mais claramente, ao longo da leitura desta tese e já se amarrará com a parte 2, a seguir.







 

PARTE 2



LOGÍSTICA:FORMAHISTÓRICADE

CIRCULAÇÃO

    

Capítulo8

UMAPROPOSTADEPERIODIZAÇÃODASFORMASDE

CIRCULAÇÃO

  Cadaperíodoéportadordeumsentido,partilhadopeloespaço e pela sociedade, representativo da forma como a história realizaaspromessasdatécnica(SANTOS,2004b:171).



Considerandoaepígrafequeabreocapítulo,oobjetivoaquinãoénarraruma históriadacirculação,masbuscarelementosparacompreenderacirculaçãona história, a partir do aumento da velocidade. Assim, empiricizamos o tempo a partir da circulação, apresentando como recorte a velocidade, principal aspiração da logística e maior veleidade da civilização. Com base nessa perspectiva, propomos uma periodização como recurso de método, a fim de confirmar as hipóteses apresentadas na introdução, quais sejam, a circulação como instância do espaço e a logística como forma histórica de circulação, podendoassim,analisarousodoterritóriopelosagentescorporativosapartir da logística territorial. Técnicas, normas e uso do território serão levados em consideração na análise para entender os seguintes períodos da história da circulação:Paradigmaempírico(dassociedadescoletorasaPrimeiraRevolução Industrial); Paradigma newcomeniano e eletromagnético (Primeira Revolução IndustrialatéofinaldoséculoXIX);Paradigmaautomotivoeeletrônico(Início do século XX até a década de 1950); Paradigma logístico e telemático

(globalização). Considerando a divisão territorial do trabalho, o Brasil sempre “participou”dessesprocessosaomododeumterritórioperiférico.

Velocidade,técnicas,normaseusodoterritórioseconstituemcomoelementos fundamentais que, postos em interação, possibilitam a compreensão da circulação.NãoabordaremososperíodostécnicoscomofazemSantoseSilveira (2006), tampouco uma periodização que contenha todas as determinações econômicas, políticas e sociais. Mesmo reconhecendo a sua fundamental importância, entendemos que boas periodizações já foram realizadas e são suficientes para a compreensão de processos sociais, econômicos e políticos1. Também não buscamos estabelecer uma epistemologia acerca de periodizações2.Enfim,parafinalizaroscomentáriosdeadvertência,assinalamos que seria uma tarefa impossível esgotar o número de fatos que marcou cada período.

Ostítulosatribuídosacadaperíodolevamemconsideraçãoosobjetostécnicos paradigmáticas de circulação, sem desconsiderar que eles atuam em conjunto além da periodização proposta. A telemática coexiste no mundo com formas

1SantoseSilveira(2006)traçamumbompanoramadessesestudosnoBrasil,assimcomofaz

Santos(2004)paraperiodizaçõessobreatécnicaemescalaglobal.

2 Respeitosamente, queremos adotar uma postura baseada na seguinte cogitação de Paul

Feyerabend(1977:19):“AHistória,demodogeral,eahistóriadasrevoluções,emparticular,é sempre de conteúdo mais rico, mais variada, mais multiforme, mais viva e sutil do que o melhor historiador e o melhor metodologista poderiam imaginar. A História está repleta de acidentes e conjunturas e curiosas justaposições de eventos e patenteia a nossos olhos a complexidadedasmudançashumanaseocaráterimprevisíveldasconseqüênciasúltimasde qualquer ato ou decisão do homem. Devemos realmente acreditar que as regras ingênuas e simplistasqueosmetodologistasadotamcomoguia?Nãoéclarosesãocapazesdeexplicar esse‘labirintodeinterações’que,emsetratandodeumprocessodessaespécie,sópodeter participaçãobemsucedidaumoportunistabrutalquenãoseprendaafilosofiaalgumaeque adoteadiretrizqueaocasiãopareçaindicar?”.

Issonãosignificaquesomos“contraométodo”,nemquenãoacreditamosnanecessidadede empiricização do tempo, através da elaboração de uma periodização para melhor pensar o objetoestudado.

naturais de circulação. Por outro lado, obviamente que algumas inovações solapam invenções importantes outrora, como é o caso da extinção do telégrafo, que cumpriu importante papel na transmissão da informação à distância.Ademais,namedidaemqueasinovaçõesocorrem,novasformasde circulação passam a ser elaboradas de maneira sistêmica. É importante frisar novamente, que a coordenação de fluxos passa pelo par transporte telecomunicação, por isto a opção em empiricizar a circulação na história a partirdosobjetos,pois,atualmente,osobjetostécnicossãoestabelecidospara seintegrarem.Alémdisso,objetivosoriginaisparadeterminadasinvençõessão modificados, adaptados ou mesmo ampliados conforme novas necessidades e outrostiposdeutilização.“Suaenergiaéainformação”(SANTOS,2004:220)3. A partir do capítulo seguinte, apresentaremos com bastante detalhe cada período enunciado. Assim, a fim de marcar que o “planejamento” não é o diferencial da logística, pois o “planejamento” existiu em várias formas de circulação ao longo da história, desenvolvemos amplamente o paradigma empírico, buscando evidências para a nossa afirmação, ao mesmo tempo em queconstruímosumreferencialdecirculaçãoparaoperíodo.

 

3 “O que conduz a esse envelhecimento rápido do patrimônio técnico que nos cerca é a

doutrina e a prática da competitividade. Esta induz a um uso acelerado, e rapidamente substituído,denovosnovosnovosobjetos,denovasnovasnovasformasdeorganização.Esse resultado imperativo da competitividade faz com que equipamentos e lugares se tornem rapidamenteenvelhecidosesejamdeclaradosincapazesouinsuficientesparafornecernovos esforçosúteis”(SANTOS,2004:222).

Capítulo9

PARADIGMAEMPÍRICO(DASSOCIEDADESCOLETORASÀ

PRIMEIRAREVOLUÇÃOINDUSTRIAL):VISCIDEZ

   

O homem primitivo serviase, de início, para transportar objetos,dasusasprópriasmãosedesuaprópriaforça.Jásob esse aspecto, levava ele uma grande superioridade sobre os representantes de outras espécies, por possuir um órgão especializado, naturalmente adaptado a esse fim. De fato, a mãohumana,possuindoumpolegarqueseantepõeaosoutros dedos, forma uma verdadeira pinça de apreensão natural, o queconstituiumprivilégiodaespéciehumana.

Pouco a pouco, o homem foi aprendendo, talvez imitando certos animais, a colocar a carga às costas, ao ombro, ou à cabeça. Na ilha de Madagascar, na Austrália e noutras partes do mundo, os nativos não conheciam senão esse meio de transporte,atéachegadadoseuropeusàsuaterra.

Segundo uns, por invenção natural, segundo outros, por imitação das formigas e outros insetos, os homens de certas regiõeschegaramàcompreensãodequeacargasetornamais leve, mais fácil de transportar, quando arrastada em lugar de carregada–atraçãohumanaconstitui,pois,umasegundafase dosmeiosprimitivosdetransporte(CASTRO,1969:108)



Duranteumlargoperíodoquevaidodesenvolvimentodassociedadescoletoras atéoadventodasferroviasedotelégrafo,poucosfatosforamsignificativosem termos de aumento da velocidade intrínseca do movimento de mercadorias e pessoas. “Não era somente pela velocidade, mas pela capacidade, ou tonelagem, segundo a expressão moderna, que se distinguiam os meios de transporte nas regiões” (LA BLACHE, 1954: 3012). As técnicas de circulação

guardavam forte relação com a região, principalmente relacionado às possibilidades existentes em termos de recurso1. Vidal de La Blache, por exemplo, nas várias páginas dedicadas à circulação no livro Principes de

GeographieHumaine,descrevedesdeamobilidadedosnômades,dosbárbaros

edetribosàutilizaçãodetécnicaseformasdecirculaçãodoiníciodoséculoXX, estabelecendo uma comparação entre lugares e admitindo diferenças profundasemrelaçãoaoestágiodastécnicas.

Assim, nestes modos rudimentares de circulação e de transporteestáimpressaamarcaimperiosadosmeiosfísicose mostrase já a superioridade de certos domínios quanto à transmissão de produtos e aos movimentos de homens e de coisas.Desenhaseumadiferenciaçãoderegiõesassazgrande, de molde a influir no comércio, nas relações e até nas formaçõespolíticas(LABLACHE,1954:3112).

Em La Blache o tema circulação é, sobretudo, uma discussão sobre o desenvolvimentodatécnica,masoautornãodesconsideraosfatorespolíticos. La Blache também analisa a gênese das estradas como um elemento técnico fundamentalparaoentendimentodacirculação.Oautorconsideraqueasvias

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