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CAPÍTULO QUATORZE

No documento O processo criativo e seus caminhos (páginas 83-87)

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO QUATORZE

Resolvi encarar a sério a Escrita. Vou mandar um e-mail pra um professor que conheço. Pode ser que tenha vaga em alguma Oficina Literária. Hope so.

Aí, vou com tudo. Se não for na obriga, acabo não escrevendo. E não escrevendo, vou só trabalhando... e só trabalhando, fico deprê.

Lyna Luck, você é uma usina de ideias. Resta focar e construir. Nova fase sem distração de Celebs da vida. Vai render muito mais.

Tô tãooooooooo feliz que preciso dançar.

Que é isso? Ah! meu app avisando que é hora de tomar água.

Summer (Calvin Harris)

Depois do dancing, vou fazer um inventário de todos os textos que não terminei e escolher um pra seguir até o fim. E preciso finalizar, pelo menos UM.

Aí, vou providenciar um enterro virtual de todos meus fofis (foda fixa) e rumar pra solidão optativa.

Serei boa. Serei uma escritora conhecidíssima. John Green vai querer me conhecer. Serei uma medusa imortal.

Terei qualidade literária e quantidade de leitores. Pera: Tô tendo um embrião de ideia.

Vou às aulas de oficina e cada dia vou montando um relatório de atividades. Seguindo as aulas, posso já focar os exercícios pro novo livro.

Aí ...

que história é essa no insta??? Como assim, Celeb com a Verônica? Não acredito. O cara tá zoando com a minha, só pode!

- Renata: Viu o Celeb com a Verônica no insta?

- Vi. O cara é um pegador. Tá numas de pegar mocreia pra chamar de minha linda.

E ainda tem a lata de me chamar pra sair. - Ele te chamou?

-Ontem, acredita? - E vc?

- Falei q eu tava busy. -Ele?

-Botou uma carinha de triste... - Mané

E agora tá de qquer coisa p cima dessa baranga. -q ódio d ter dado mole p este cara.

-t saindo bj. -bj.

Semana seguinte. Aula experimental da turma de terças e quintas pela manhã da Oficina do Herrb. Chego na aula vinte minutos atrasada e sento do lado de uma senhora. Vejo que no quadro está escrito:

Três maneiras de começar um romance -Pela personagem

-pelo conflito -pela especificidade Copio.

O professor pede para eu me apresentar para os demais (odeio isso)

Meu nome é Lyna e sou produtora de eventos. Gosto de escrever e esta já é minha segunda investida em Escrita Criativa. Ainda não tenho um bom livro publicado. Só um pequeno de poemas.

Aí o professor entrega uma cópia de um material pra mim (os outros já tinham) e diz que vamos trabalhar nisso hoje.

Muy bien.

Construção da personagem -Vaga ideia

- aspectos físicos

-dois ou três traços definidores

-cores preferidas, caminhar, postura habitual, perfume... - aspectos sociais

-aspectos psicológicos: vida sexual, normas morais, religião, ambição... -elemento paradoxal

-aprofundamento -traços únicos -conflito

-aspectos literários: em que parte da obra ela aparece, o q faz dentro da obra, o q sentem os demais em relação a ela, qual o objetivo máximo, causa dano ou benefício a alguém...

Então:

*vaga ideia: será uma empregada doméstica com ambição de ser governanta à moda antiga (uma dama de honra). Ela gostaria de ter cultura como a patroa. Vou chamar ela de Tilma.

*Aspecto físico: baixa, semi-gorda, cabelo ondulado e castanho, com lábios finos. *Traço definidor: ai, meu Deus... traço definidor?

Hum...o sotaque carregado de Mogi das Cruzes e jeito de mexer os ombros. *Cores preferidas: sei lá... azul claro. Não. Quem sabe prateado. Isso. Prateado. Caminha movendo os ombros como se fossem as pernas.

*Aspectos psicológicos: viúva, mãe de duas filhas ou três, não é muito religiosa. Ambição: ser uma excelente governanta.

*Elemento paradoxal: ai, não sei direito. Que será que é pra botar? Tipo: o contrário ou o diferente dela. Talvez o fato de querer ser muito culta?

Tô achando que esta minha personagem tá ficando inorgânica. Estereotipada, estranha. Como é difícil.

Olho os outros colegas. Tá todo mundo concentrado no seu computador. Só eu tô parada... ai, socorro...

Gostei daquele cara ali da esquerda. Beeem bonitinho. Pena q usa óculos. Volta Lyna, volta...

*Aprofundamento. Putz grila. Q porra é essa? Tá ficando complicado. Como é que vou aprofundar uma coisa que nem nasceu ainda?

*Traços únicos: piorou...não sei mais o que colocar.

Daí o Herrb chama o bonitinho da esquerda para ler o dele. Ainda bem que não me chamou.

- Rafael, leia o seu personagem.

*Vaga ideia: proprietário de uma rede de funerárias. Ex-advogado que tem dois sérios envolvimentos com morte por acidente.

*aspecto físico: alto, magérrimo, com cabelos grisalhos e sobrancelha infantil.

* Dois ou três traços definidores: Fala mansa e baixa. Usa gravata com camiseta Hering sempre.

- Interessante - observa o professor. * Cores: qualquer tom de marrom.

*Caminhada ligeira e passos gigantes. Perfume de mulher. Vida sexual - qquer terreno.

(Risadas de alguns da turma) prof. Herrb sério.

*elemento paradoxal: aparência de mais velho, mas personagem muito mais jovem. Curte baladas fortes e detesta igreja.

Aí, o Rafael bonitinho diz pra turma que só fez até aí.

Herrb passa os olhos por mim (eu rezo em silêncio pra ele não me chamar). Ele desiste de nomear alguém e diz: Alguém mais quer mostrar?

Uma menina de vinte e poucos anos começa a falar.

*vaga ideia: dona de uma pousada para cachorros chamada: Rainbow Dog. Ela é loira com mechas escuras na ponta e tem uma tatuagem de um cachorro de perfil no pulso direito,

mas o relógio é grande e tapa um pouco. Usa franja e o traço definidor é o jeito descolado e engraçado de se portar diante do perigo. Em vez de chorar de medo, ela ri. A cor preferida dela é amarelo. Caminha de um jeito mole e solto e...

e depois de alguns apresentarem, inclusive minha colega- a senhora do lado, que colocou o arbusto do canteiro da esquina como narrador (rsrsr), o prof Herrb foi encerrando a aula e mandou fazer o resto de tema de casa. Pediu pra eu ficar um pouco mais, pois queria falar comigo.

Foi breve:

- Lyna, você pode ficar neste grupo mais avançado por causa do horário. Como você já fez um ano e meio de outra oficina, acho que podemos fazer um bom trabalho. Depois me mande por e-mail a sua ideia de projeto ou romance. Gostaria de ler algo que você já produziu, digo, algo de mais fôlego.

E assim fui pra casa, me achando a it-escritora.

Clap Clap pra mim, eu que consegui voltar à Oficina e que não vou mais procurar a Wally à toa.

No documento O processo criativo e seus caminhos (páginas 83-87)