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CAPÍTULO VINTE E SEIS

No documento O processo criativo e seus caminhos (páginas 124-127)

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO VINTE E SEIS

A aula começa com Herrb anunciando que vai escolher os três melhores alunos para indicar para o mestrado de Escrita Criativa do ano que vem. A seleção será baseada nas três melhores notas em todos os trabalhos e quem tiver interesse em participar que coloque o nome na lista que está passando.

Fiquei olhando a folha passar e a maioria colocando o nome. Quando chegou minha vez, assinei também. Por que não?

Quando eu acabo de escrever meu nome, a porta da sala abre e entra um cara absolutamente divino. Todo mundo parou. Herrb disse:

Esse é o Gabriel, novo colega que veio de São Paulo para estudar com vocês. Ele é jornalista e tem pós-graduação em informática e cinco livros publicados.

Uau! O Gabriel, sério, entra na sala e senta do lado da Tati. A tempestade bioquímica que aconteceu dentro de mim deve ter ficado explícita porque eu não passei a folha adiante nem ouvi o Herrb dizendo:

Claro, sorry. – respondi.

Quixote e sua Dulcinéia (leia-se “eu”) se entreolharam e não pararam mais. Minha nossa, o que me deu? Eu não conseguia me mexer, nem pensar, nem falar. Só me faltava agora o Herrb me fazer ler o texto do curta-metragem. Ia ser meu fim já no “antes do inìcio”.

Quem sabe se na aula que vem não me entra o Michael. Aí fico cheia de anjos guardiões e o Celeb que se proteja. Tô amando essa Oficina. Amém.

A Tatiana do lado dele já estava me incomodando. Peguei meu ódio e coloquei no bolso. Eu não podia perder o controle. Não agora.

Por fim, o Herrb seguiu a aula e pediu para uma menina de cabelos ruivos, que sempre senta perto da porta, ler o texto dela. A menina é tão tímida que eu nem lembro de conhecer a voz dela.

O curta-metragem dela foi curto e aí o professor pediu pro Alberto ler o dele. Depois, todos ficaram com suas fichas de avaliação sobre curta-metragem em silêncio para anotar os devidos “conselhos”. De vez em quando, eu via que o Gabriel me olhava. Ele não tava nem aì pra essa Tati bonitinha “sefazol” de facebook. Ainda bem. Porque eu já tava fazendo todos os hologramas possíveis com o Gabriel. Minhas projeções são rápidas, possantes e infalíveis, vocês sabem!

E volta e meia estou fadada a sofrer a melancolia de todos os futuros que eu não tive. Tentei me concentrar e nada. Não escrevi nada. Minha ficha de avaliação estava em branco. Nem o item 1 eu tinha feito. Ainda bem que veio o intervalo.

E no intervalo, o Gabriel veio falar comigo, ou melhor, oferecer ajuda:

- Quer uma ajuda aí pra comprar o café? (ele viu que eu estava atrapalhada com as muletas)

- Não, obrigada. Valeu!

- Sabe que eu acho que te conheço. Não sei bem de onde. Você tem irmã? - Ah! Tinha.

- Como assim? - Ela morreu.

-Ah! Vou voltar pra sala. Tenho que falar com o professor antes de a aula recomeçar. Prazer então.

- Prazer, sou Lyna Luck.

A aula acabou trinta minutos mais cedo. Descobri que o Gabriel tem o apelido de IEL porque ouvi a Tati chamando ele assim. Descobri também que ele é primo-irmão dela- o que

aliviou um pouco meu ciúme - mas me lembrei de que o Vargas Llosa casou com a prima. Anotei o tema de casa: fazer um poema – de dez a vinte linhas.

Passei os três dias seguintes ansiosa porque o raio de Celeb nunca mais respondeu uma mensagem minha. É um babaca mesmo. Tive que voltar ao médico sozinha, mas pelo menos ele me diminuiu a tala e devolvi as benditas muletas Barbie. Comprei uma botinha ortopédica que terei que usar por pelo menos mais três semanas. Com dois colegas “possantemente lindos” com nomes de anjos na aula, quem precisa de um mané chamado Celeb? Ele qué vá contar carneiro no Pampa.

Ontem à noite, fui pra casa da Debby pra discutir mais uns detalhes do aniversário dela de 15 anos. Ainda bem que ela concordou em não fazer aquelas festas de cartilha em que as meninas trocam de vestido, dançam e fazem declarações no telão.

Pensei demais no IEL. Parece que meu cabinho de USB tava o tempo tooooodo conectado no dele. Achei até uma trilha sonora, quer ouvir?

Counting stars - One republic.

Tentei fazer o tal poema para não deixar para o último dia mas, tava mais para assitir TV ou baixar clipes no computador. Meu poema não tinha nem nascido ainda e já tava lento que nem morte súbita de baiano, que dura 10 dias. Como é que os colegas conseguem fazer sempre o tema de casa? E tão rápido?

Será que não trabalham?

Quando fui dormir, levei o I pad pra cama e vi que o IEL tinha me mandado um convite pra ser amiga dele no face. Antes, dei uma geral no face dele e descobri umas coisinhas bem interessantes.

Mariana me chamando no whats? Que estranho, será que ela tá aqui na cidade? Ela tava em Barcelona, ué?

- Oi? E aí? Tá aki?

- psé, cheguei ontem e vou embora amanhã pro Rio, bora sair? - Já tô de pijama, deitada e indo dormir.

- ashuasuas

- Te pego aí daki 20 min, tô com o carro da tia. - Mari, vamos almoçar amanhã, eu prefiro.

- Não posso, amiga. Eu tbm t cansada, mas vou almoçar com a tia. Tô passando aí.

- ok

E foi assim que não fiz o poema e nem dormi cedo. Cheguei em casa por volta de 1:30 da manhã, e levei um tempão para conseguir dormir. Se eu soubesse que o dia de amanhã ia ser tão complicado, eu teria bebido os hormônios.

No documento O processo criativo e seus caminhos (páginas 124-127)